terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sabedoria dos intas em 10 segundos #11


A "Pessoa Feliz" é facil e erradamente subestimada.
Confunde-se a ausência de queixume, a presença de Luz pessoal e sorrisos, com ausência de dor ou dificuldade. Que a sua felicidade nasceu da sorte, da coordenação perfeita e aleatória das circustâncias que parecem rodeá-la. Que há-de ter nascido com o "cu virado para a lua" e assim qualquer um seria feliz!
Mas, a Felicidade nunca deriva da inércia. É fruto da auto-disciplina.
A "Pessoa Feliz" assumiu um compromisso pessoal. Honrá-lo implica mudar o seu íntimo, em todos os planos de existência em que se desdobra o ser humano. Isso demonstra uma grande capacidade de adaptação, sobrevivência, força de vontade, disciplina, coragem.

Porque quando chove, todos se molham. A diferença está sobretudo na atitude.






segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Caderneta de cromos #1 - Podes tirar o rapaz do ghetto, mas...



Diz-se que a auto-descoberta é uma viagem individual, solitária.
Eu acredito que, também, é ao contacto com os outros que devemos muito do que vamos descobrindo sobre nós.


A meio de um qualquer ano lectivo, um colega cai de pára-quedas no nosso grupo de trabalho.
É claro que o facto deste ser alto, espadaúdo, moreno e de olhos verdes não teve influência nenhuma na decisão da colega que decidiu ser boa samaritana. Pois...

Um dia, estava eu sozinha, na companhia do colega alto-espadaúdo-moreno-de-olhos-verdes, num qualquer patamar de escadas. Partilhávamos um silêncio incómodo que parecia durar uma eternidade, enquanto esperávamos pelas restantes colegas.
Enquanto eu sorria, assobiava, olhava para o tecto, ou via que horas eram pela centésima vez, o colega decide quebrar o silêncio.

Referiu a namorada, onde esta trabalhava e depois desta conversa de circunstância, largou uma pérola:

- Que namorada dele, se queria sair com ele, tinha que andar sempre impecavelmente vestida, maquilhada e perfumada, ou então nada feito. Que a perfeição era um requisito. Que o comportamento tinha de ser irrepreensível.


A minha reacção deve ter sido mais ou menos esta:


Acho que o rapazito deve ter ficado desnorteado com o meu look jeans, ténis, t-shirt, rabo de cavalo e cara lavada.
Porque pode-se tirar o rapaz da Quinta da Marinha, mas não se tira a Quinta da Marinha do rapaz não é? E todos os ghettos parecem nutrir o mesmo efeito na personalidade, independentemente do código postal.

Lembrei-me automaticamente do namoradinho-louro-de-olho-azul dos tempos de liceu. De este me ter dito que não gostava que eu fumasse ao pé dele, e de como passei a acender, religiosamente, um cigarro quando este se aproximava de mim.

Também não se pode tirar o mau-feitio...







domingo, 20 de outubro de 2013

Os Direitos da Criança



Ainda sobre o tema "natalidade" e o post anterior (este):

Agora que já falei um pouco, (porque haveria tanto mais para dizer), sobre esta questão num contexto mais individual, posso passar para uma abordagem que considero muito mais interessante.

O objectivo, ou pelo menos um deles, do tal estudo, referenciado aqui, é conhecer quais os principais factores que levaram ao decréscimo da taxa de natalidade, e talvez concluir sobre o que pode ser feito para reverter esse processo.

E este é um assunto que me é caro. Porque providenciar as melhores condições possíveis para aumentar o número de nascimentos, é igualmente avançar na construção de uma sociedade com maior qualidade de vida, mais igualitária e evoluída, capaz e feliz.

Porque no que toca à natalidade é desejável que todas as pessoas sejam livres nas suas opções. Ou seja, que ter ou não ter filhos, ou ainda quantos, seja uma expressão do seu desejo e bom senso, e não fruto das condicionantes impostas pela vida em sociedade. Assim o vejo.

Acredito igualmente que, ser pai/mãe é assumir o papel de Guardião da criança, garatindo-lhe os seus direitos, e de seu Guia, incuntido-lhe os princípios, os valores, os ensinamentos necessários para que aquele Ser se torne na melhor pessoa possível, por si próprio e pelo mundo.

Logo aqui, começam os entraves.
Num país com tamanha taxa de desemprego, onde aqueles que trabalham são cada vez mais a fazê-lo em situações de precariedade, onde as fileiras daqueles cujo salário é demasiado baixo para fazer face à sobrevivência engrossam todos os dias, quem pode, em boa consciência e sem medos, assumir-se enquanto Guardião?

Numa sociedade que retrocede à mesma velocidade em que aumenta o fosso das desigualdades que separam os muitos que têm pouco, dos poucos que têm muito, em que os espécimes sobreviventes da classe média estão colocados numa corda bamba sobre o abismo. Em que essas desigualdades notam-se sobretudo na qualidade dos direitos basilares da Democracia, que já foram para todos, como a Saúde e a Educação, e que agora se apresenta para uns e outros de forma tão distinta. Aí, como podemos garantir, em boa consciência, a todas as crianças os seus Direitos?

Numa época em que se luta por um novo paradigma, em que se levantam tantas questões e estamos num barco sem rumo certo, em que se luta também para que a pobreza não seja sobretudo de espírito, é preciso recomeçar, redesenhar tudo isto que nos rodeia.


Começar por onde?













sábado, 19 de outubro de 2013

Nós, um case study...



Há uns dias, a Sónia do "Cócó na Fralda", publicou um post intitulado Natalidade, através do qual se procuravam voluntários para um estudo sobre os baixos números da natalidade em Portugal.
Um dos alvos do estudo, casais sem filhos, residentes em Lisboa ou arredores, de idades compreendidas entre os 35 e os 45 anos.

Nós, um casal sem filhos, com 34 e 37 anos, quase, quase que nos enquadramos na perfeição no target deste case study.

Pareceu-me um excelente motivo para soltar por aqui o meu ponto de vista sobre esta matéria.
Igualmente, da próxima vez que indagarem sobre a estranheza de sermos o que somos, posso sempre poupar a paciência e a saliva, e mandá-los vir ler aqui ao blog.


Não. Não temos filhos.
Sim, é por opção.

Não sei se quero filhos, e acreditem que é a resposta mais verdadeira e honesta que posso dar. E uma bastante pensada e com muito peso, de alguém que anda há mais de uma década a ser interrogada por familiares, amigos, e todo o gato e cão que sabe-se lá porquê, acha perfeitamente normal ultrapassar os limites razoáveis do que a falta de intimidade permite e não permite, para questionar e mandar bitaites quando o tema é este.

Sim, mais de uma década a levar com isto, e por vezes com uma frequência absurda levou-me à exaustão. E, se há uns anos atrás conseguia disfarçar o meu desagrado com um sorriso e uma certa graciosidade, hoje não tenho problemas em mandar à merda as pessoas realmente chatas.

Porque, senhoras e senhores, já passei por cada uma! Que mandar à merda é eufemismo!


Continuando...

Não sei se quero filhos. Existem momentos em a balança pende inequivocamente para o não, assim como momentos em que pende, embora mais timidamente, para o sim.


Em pequena, questionava porque é que os adultos faziam mais crianças, se haviam crianças por adoptar.

Diziam-me que as coisas não são assim, lineares. Que quando fosse grande, ia ver.

Cresci e continuo a pensar da mesma forma.
Anos depois, ouvi a expressão "é preciso uma aldeia para criar uma criança", o que ainda fez crescer mais em mim essa forma de pensar. Que até nós, pessoas sem filhos, temos um importante papel a desempenhar no desenvolvimento de todas as crianças, nem que seja como "tios emprestados", que o facto de serem filhos dos outros é um pormenor.
Que amar verdadeiramente uma criança é estar na disposição de amar todas as crianças.

No direito de mandar bitaites à vida dos outros, porque amor com amor se paga, já que há casais que pensam em múltiplos filhos, que tal nem todos serem biológicos? Tipo um adoptado, por cada um parido?

Já houve quem me respondesse que "ah, adoptar é muito bonito e tal, mas não é a mesma coisa". Quase certamente que são as mesmas pessoas que me consideram egoísta por não ter filhos, e que tal deve ser um subproduto do facto de ser filha única. Pois, que os filhos únicos são, sem sombra de dúvida, egoístas.

Quando ouço algo assim, penso num dos dias mais marcantes da minha vida, há anos atrás, quando fui com um grupo de amigas, passar o dia com as meninas de um orfanato. O brio com que nos mostravam como tinham feito bem a caminha, ou que era ali que brincavam, que tinham boas notas, e que apesar de tudo, eram felizes. Das mãozinhas, tantas, que procuravam as minhas. De como voltei a brincar às escondidas e à apanhada. De como tudo era pretexto para me abraçarem, e de como retribuí esses abraços. As trancinhas e as bochechas, os sorrisos. Da vozinha que me pediu para a trazer para minha casa. De como viemos embora, em silêncio. De como passei o resto do dia a chorar. De ter sabido mais tarde, que não tinha sido a única. De ficar emocionada ainda hoje quando penso nisso. De ter a certeza que seria capaz de chamar filha a qualquer uma daquelas meninas, e senti-lo, mesmo não a tendo parido.


Não sei se quero filhos.

Logo se vê.

Aos que se preocupam com o avançar da minha idade, mais do que eu, digo-vos que nunca senti aquele apelo biológico irrefreável de passar os genes. Que, para quem tem imensa curiosidade sobre a aparência dos petizes, já existem app's para ver como saíria a mistura dos traços do pai e da mãe.
Que se a vontade despertar após a menopausa, a adopção é uma opção.

Aos que se preocupam com a nossa felicidade, garanto-vos que ela existe vivida a dois, e é linda.

Aos que ponderam quem cuidará de nós quando formos velhos e inválidos, eu respondo, provavelmente a mesma enfermeira que cuidará de vocês. Talvez nos encontremos todos no mesmo centro de dia ou lar.

Aos que se preocupam com números e crescimento da população, eu respondo: somos mais de 7 mil milhões! Não chega?! Eu até acho gente a mais.

Aos que continuarão a olhar-nos com estranheza, eu respondo que sou fruto da Natureza, essencial ao equilíbrio. Se a todos os casais lhes desse para andarem a conceber equipas de futebol, a vida no Mundo já teria deixado de ser viável há muito, muito, tempo.

E ainda que, sejam democráticos. Não indaguem somente sobre a natureza dos casais sem filhos. Sejam inquisitivos também com aqueles que procriam. Levantem o véu sobre os motivos que levam as pessoas a terem filhos. Conhecerão filhos do amor, e de muitas outras coisas, menos felizes e pródigas.
Façam-no, mais do que pela curiosidade, pelas crianças dos diversos institutos e orfanatos.






quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Figuras de urso(a)



Algumas das minhas melhores memórias nasceram de momentos em que a prioridade foi divertir-me, e saciar apetites, deixar aquela faceta mais excêntrica, louca e feliz apanhar ar, ter o seu momento de ribalta. Ter a consciência que o preço seria fazer figura de ursa, e mesmo assim achar uma pechincha!



A lista incluí, entre outros:
- cantar num bar acompanhada de uma banda de jazz, (mesmo sem saber cantar);
- ter usado uma boneca insuflável (daquelas das sex shops) como adereço na apresentação de um   trabalho na universidade, tendo recitado o mesmo em verso;
- achar que outro professor estava a ser picuínhas sobre os atributos do trabalho a ser entregue, e em vez de formato A5, ter aparecido com uma impressão quase do meu tamanho;
- ocupar o centro da pista de dança, praticamente vazia, e dançar de olhos fechados como se não houvesse amanhã...


E o fantástico, é que quando abrimos os olhos, a pista de dança está cheia de pessoas que optaram por dançar connosco.



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Do meu armário #1



Apresento-vos o outfit para caminhadas, versão Outono-Inverno.




Blusão impermeável, sobre-calças também impermeáveis. Ambos da Decathlon. As calças foram encontradas na secção de golfe, batem todas as outras em conforto, e depois de várias tentativas, acredito ser o único modelo simpático para a silhueta.
Ambos passaram no teste com distinção.

Não esquecer a mochila térmica, porque a hidratação é fundamental.


E assim caminhar à chuva é um prazer. Sentir o cheiro da terra molhada...



sábado, 12 de outubro de 2013

coisas que me irritam #9 - A ganância



É muito importante para mim sentir que, enquanto consumidora, estou a pagar o preço justo. Independentemente do serviço ou coisa a ser adquirida.

Ênfase no "justo".

Odeio gente gananciosa, (ênfase no "odeio"), logo ofende-me sobremaneira quando o valor cobrado por algo vá muito além do sensato. Trata-se de um motivo para que determinado estabelecimento entre na minha "lista negra".

Mais do que uma questão económica, é uma questão de princípio.

Para quem possa confundir justiça com avarice, nas ocasiões em que me cobram um preço inferior aquele que eu considero justo, faço questão em pagar mais. Nem que seja através de uma gratificação mais generosa.
Um bom exemplo é quando vou aos mercados e feiras, e compro vegetais e frutas directamente ao produtor. Muitas das vezes, o que estes cobram pelos seus produtos é uma fracção do preço praticado em hipers, supers ou mercearias.
Faço questão de pagar mais, porque por cá achamos que o produtor deveria receber justamente pelo seu trabalho, e que a ausência de ganância deve ser recompensada.


Há uns dias, estávamos ambos com o bichinho da leitura. Decidimos que o Parque da Liberdade, com as sombras das árvores, o sossego, o verde, seria o local ideal.

Nova esplanada no local: pequenina, de aspecto simples mas mimoso.
Poucas mesas, pouca gente. Alguns turistas de cabelo grisalho agarrados a livros e a copos de vinho branco.
A ideia de tomar um café e uma água pareceu-nos bem.
Dois cafés e uma garrafa de água pequena: 4 euros.

Preço justo?

Nessa noite passei os olhos pelos panfletos publicitários que enchiam a caixa do correio.
Um desses era de uma loja de electrodomésticos e comunicava, entre muitas outras coisas, uma máquina de café universal. O maior argumento de venda é que cada café ficaria a 3 cêntimos.
Igualmente uma garrafa de água de 50 cl, custa numa grande superfície, cerca de 30 cêntimos.
De 36 cêntimos a 4 euros vai uma grande distância.

Na nossa esplanada favorita, de localização próxima da praia, edifício bem mais requintado, serviço impecável e estrutura sujeita a mais custos para os proprietários, por 3,70€ bebemos café, água e partilhamos uma fatia de bolo até demasiado generosa, de deixar água na boca.

Entristece-me que esta atitude de ganância seja generalizada entre os comerciantes, especialmente em localizações consideradas de interesse turístico. Os preços são altamente exagerados e não traduzem realmente o valor do serviço ou produto. Este, em qualidade, fica geralmente aquém do valor cobrado.

Havemos de voltar ao Parque, mas provavelmente sem passar pela esplanada uma segunda vez.




domingo, 6 de outubro de 2013

Rota dos Intas: Luso - onde as andorinhas são felizes (I)



Existem pessoas para quem as férias não acontecem em Agosto, nem envolvem, obrigatoriamente, destinos de praia.

Nada contra Agosto nem contra praia. Mas, existe uma miríade de prazeres que se estende ao longo das quatro estações.
E quem se predisponha a conhecer o nosso país, não ficará certamente desapontado com a multiplicidade de destinos aliciantes.

Férias são férias, e sabem sempre bem. E Outubro, mês outonal, tem os seus méritos.
Para além da beleza bucólica da estação, os destinos turísticos já não estão a abarrotar de gente , (o que arruinaria o nosso conceito de busca de sossego), e a cereja no topo do bolo é, pagar preços de época baixa, que se inicia na maioria das unidades hoteleiras no mês de Outubro.


Para estas férias a escolha recaiu sobre a Vila do Luso.
Para nós, que partimos em busca de contacto com a Natureza, de sossego e serenidade, de boa gastronomia, com o intuito de recarregar baterias, garanto-vos que foi uma escolha feliz.

Esta pequena vila turística do concelho da Mealhada, distrito de Aveiro, fica a cerca de 250km de Lisboa, cerca de 100km do Porto, e a 30km de Coimbra.



Li algures, durante a nossa estadia, que Saramago, o "nosso" Nobel da Literatura, terá dito que "não existem palavras que descrevam o Luso".

A Vila do Luso é de todos os locais que já visitei, aquele em que encontro mais semelhanças com a Vila de Sintra. Em ambas encontramos o verde exuberante, o traçado arquitectónico de alguns edifícios e villas que cativam o olhar.





É a Vila que dá nome à conhecida água mineral, onde existem as Termas de Luso.

O edifício do Grande Hotel de Luso, obra do arquitecto Cassiano Viriato Branco, datado de 1940, é visível de qualquer ponto da Vila, qual esfínge do modernismo da primeira metade do séc. XX.




Estar no Luso, é sentir a tranquilidade a apoderar-se de nós, a transformar-nos os gestos, a noção de tempo. É encontrar prazer nas vistas, degustá-las. Fazer por imitar as pessoas da terra na brandura e calma. Trocar palavras, e saber que há quem não trocaria a vida ali por coisa alguma.
Que há gente que nunca se apaixonará pelas cidades, que olham meio condoídos para quem vem das urbes e, que de alguma forma, transparece nos gestos a vocação de querer curar as maleitas urbanas dos turistas.




Estar no Luso, durante a semana, é passear na maior avenida e precisar somente dos dedos de uma mão para contar os carros que a cruzam simultaneamente.



É estar sempre a dois passos de um jardim, onde os locais se dirigem para praticar exercício físico, onde patos grasnam alegremente na nossa direcção à espera de uma qualquer guloseima.
É olhar para o relógio e perguntar como será possível já ter passado uma ou duas horas, quando foi somente há instantes que nos sentámos na esplanada.



É ver alguns edifícios espalhados pela Vila, de bonita traça, fechados, que já foram pensões ou outra coisa qualquer, e ficar feliz por estar a haver obras de melhoramento. Porque o Luso fez-nos bem, queremos que continue a existir, próspero e sossegado, porque havemos de voltar.


Porque afinal, em lado algum vi andorinhas tão felizes, em acrobacias prodigiosas, entre as varandas do hotel.



(nos próximos posts, onde ficar, o que visitar, e onde comer)