domingo, 31 de agosto de 2014

cromices #37: Há mulheres com mais sorte que outras, é o que é.



Sempre que vejo aquele anúncio aos tampões em que a menina decide mergulhar desnuda na piscina a meio da noite, faço uma careta e rosno um "deve ser deve!".


Sou um bocadinho mais indulgente com os anúncios tontos aos pensos higiénicos da famosa marca espanhola. Se por um lado me parece bem que se fale do período recorrendo a muito non-sense, cor e tolice, pois a realidade já é chata q.b., não consigo evitar uma espécie de comentário sarcástico quando estou para aí virada.


Hoje estou para aí virada. É um daqueles dias, e por azar um dia muito mau.


Tão mau, que se alguém me confessar, vis-à-vis, que tem uma vida mar-de-rosas neste aspecto, avanço para a violência.


Sempre sofri muito com este lado da feminilidade: o pior sendo dores verdadeiramente agonizantes mesmo sob o efeito de analgésicos. Alguns episódios foram tão terríveis que já cheguei a perder a força nas pernas e estive quase a perder os sentidos, para além de vómitos e outros miminhos.


Faço parte daquela minoria para quem este facto da vida tão natural causa um verdadeiro transtorno, e impede de prosseguir uma rotina quotidiana dita "normal".
Não sendo por escolha própria nem por "mariquice", se há coisa que me tira do sério são aqueles comentários vazios de empatia e compreensão, mas cheios de ignorância, tipo "já devias estar habituada", "ai, eu não sou nada assim".


Ainda hoje de manhã comentava com o meu marido, que adoraria que medissem os níveis de dor a que estou sujeita, (pelos vistos inventaram uma máquina capaz de o fazer), para que pudesse andar com uma maquineta a dar choques eléctricos ao pessoal com a mesma intensidade.


Tendo em vista que hoje acordei às 6h da manhã, porque o efeito do santo analgésico tinha passado, que andei a ler a bula para ter a certeza de quantos comprimidos podia enfiar de uma só vez, se há algo que me conseguiu desenhar um sorriso no rosto foi a ideia de andar por aí a electrocutar gente a torto e a direito.


Sim, funciona. Já estou a sorrir outra vez.

coisas de pensar: Na minha altura, era a Ragazza...





Durante a adolescência, eu e a R., uma das minhas melhores amigas, tinhamos um prazer quase secreto: a revista Ragazza.


A Ragazza era (não sei se ainda existe) uma revista mensal feminina, cujo target eram as jovens adolescentes.


A adolescência é uma idade fulcral no que toca à auto-imagem e auto-estima. É uma idade complicada por tanta coisa, avassaladora, também quando se fala na necessidade de validação, da comparação que se faz entre si mesmo e os outros.


Ora bem, eu e a R, tinhamos como ritual juntarmo-nos as duas para ler e analisar cada edição desta revista.
A nossa parte favorita era a secção em que se apresentavam modelos ou actrizes famosas, conhecidas também pela sua beleza, em fotos ao natural daquelas tipo paparazzi, sem qualquer tipo de maquilhagem ou retoques.


Se os editores fossem conscientes sobre o bem que isso pode fazer à auto-estima das raparigas que estão na idade em que é mais difícil manter uma noção positiva e realista de si próprias, teriam muito mais cuidado na edição das imagens que escolhem publicar.


O bem que me fez, miúda com questões de insegurança por causa de usar óculos e ter acne, de ter acesso a imagens de uma Claudia Schiffer, de uma Kate Moss ou uma Linda Evangelista com borbulhas, olheiras, cabelo mal amanhado, e até umas banhas ali e acolá.
Isso permitiu-nos comparar com as imagens mais comuns destas mulheres, onde estas aparecem perfeitas. Rir, comentar que afinal a maquilhagem e outros truques fazem mesmo milagres, que assim "também nós", que não somos tão diferentes.
Acima de tudo, essas imagens permitiram-nos ser mais condescentes, tolerantes com o nosso reflexo no espelho, ajudaram a aumentar a nossa auto-estima.


E esse deve ser acima de tudo o objectivo deste tipo de publicações!


Chegam-nos cada vez mais exemplos de mulheres que se opõem à edição da sua imagem, ao abuso do uso do Photoshop, que querem chegar ao mundo como são, e isso é saudável.


Não há nada de errado na beleza real, naquilo que nos torna únicos, de nos apresentarmos ao mundo ao natural, sem filtros nem retoques.
Essa é a mensagem que deve chegar a quem se está a desenvolver enquanto indivíduo!









sábado, 30 de agosto de 2014

Coisas de pensar: De como as estatísticas sobre a diminuição do desemprego em Portugal são falaciosas.





O nosso ritual de pequeno-almoço enquanto casal inclui debater as notícias do dia.


Hoje, grande parte da nossa atenção incidiu sobre as parangonas que anunciam a descida da taxa de desemprego para 14%, registando-se em comparação homóloga, (ou seja, quando se compara com mesmo período do ano passado), uma quebra de 2,3%.
Estatística que nos coloca em quinto lugar, no pódio dos países da União Europeia, dos bem sucedidos e comportados no combate efectivo ao desemprego.


(podem ler mais aqui )


Se fosse isto fosse verdade seria óptimo. Mas não é, por dois motivos:


Em 1º lugar, nem todos os desempregados estão inscritos no IEFP.

Em 2º, o próprio IEFP é o responsável por estas ondulações nas estatísticas sobre desemprego, que em boa verdade não reflectem uma real diminuição do número de desempregados, mas sim uma incorrecta e falaciosa forma de manipular os dados.


De certa forma, a manipulação de dados parece ser prática comum na função pública. Alegadamente existem até centros de saúde que usam dados de antigos utentes, até dos que já faleceram, para embelezarem os resultados.
Nada de novo, um cidadão morto sempre foi de grande utilidade, até para participar "activamente" em eleições várias.
Esperem! Falta a palavrinha mágica quando se fala destas coisas: alegadamente. Pronto, já está!
Adiante.


Para quem não saiba, um cidadão inscrito no IEFP é forçado a participar em acções de formação. Se se recusar corre o risco de perder o direito ao subsídio de desemprego.


Os utentes quando estão inscritos num qualquer curso ou acção de formação deixam de estar inscritos no IEFP, deixando temporariamente de existir enquanto desempregados. Então os números que nos são apresentados não são per se de pessoas bem sucedidas no seu objectivo de retomar uma carreira profissional, mas de indivíduos que continuam desempregados, mas a receber formação.


Esta realidade não é segredo. Aliás, só a desconhece quem nunca esteve desempregado, ou quem nunca teve um conhecido, amigo ou familiar nessa situação. Coisa tão rara hoje em dia, diga-se de passagem.
E era que comentávamos hoje ao pequeno-almoço.


Então chego a casa, ligo o pc, e dou de caras exactamente com um artigo em que uma corajosa formadora denuncia esta exacta situação:


"Carla, nome fictício, é uma das formadoras, disse à Renascença que os dados são manipulados. “Quem está a frequentar acções de formação não é contabilizado como desempregado. Portanto, isso vicia toda a lógica de contabilização do desemprego em Portugal”, esclarece."



Podem ler o artigo na totalidade aqui.




Para concluir avanço com o seguinte:

Sempre defendi a importância da formação ao longo da vida.
Acho muito bem que, especialmente a quem se encontra em situação de desemprego, seja dada a oportunidade de se munir de melhores ferramentas que lhe possibilitem o regresso ao mundo laboral. Acho que a formação pode preencher lacunas de conhecimento e tornar o utente do IEFP um melhor profissional.


Contudo, e com todo o respeito possível, as formações do IEFP são para encher chouriços.
Deveriam existir para servir a pessoa desempregada, por tudo o disse no parágrafo anterior, e não o faz. São, na grande maioria dos casos, uma imensa perda de tempo e de recursos.


Sei de casos bastante reais e verídicos de pessoas a quem uma formação específica, por exemplo, em Inglês ou Informática, faria a diferença do mundo para conquistar um novo emprego na sua área, naquela que conhecem, que dominam e têm experiência. E que, como tantas outras, foram empurradas, obrigadas a escolher entre as únicas opções de Geriatria, Agricultura ou Talhante, sem qualquer interesse pelo que são, o que fazem ou fizeram, o que lhes é útil e o que querem.


A questão mais importante que devemos levantar é, quem lucra com esta situação?


Não serão propriamente as pessoas que dão formação, se estas auferem mil euros brutos e a recibos verdes.


Então, a que nomes sonantes pertencem as empresas de formação, contratadas pelo Estado para prestarem este serviço no IEFP, e a quem lhes chega o dinheirinho que vem de Bruxelas? Esse é o cerne da questão!











sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Coisas da minha terra: O potencial do betão inacabado





Numa das ruas principais da minha localidade, existe um terreno de grandes dimensões onde se queda uma placa de betão enorme, vestígio de uma obra há muito inacabada.


Passo por essa rua inúmeras vezes, numa frequência quase diária.


Não sei o que pensavam fazer daquilo. Já me ocorreu que poderia ser mais um condomínio privado, embora sem grande convicção devido à configuração daquele chão em betão. Já me disseram que aquilo se destinava a um centro comercial. Enfim...


A única coisa certa é a minha reacção sempre que por lá passo. É raro que não me quede por ali durante um minuto ou dois, a lamentar silenciosamente que, das milhares de ideias que poderiam ser postas em prática num terreno daquela dimensão, a escolhida fosse um centro comercial.
E isso entristece-me mais do que alguém possa adivinhar. E adivinho eu, mais do que alguém possa entender.


Olho para aquele espaço e imagino. E usando a imaginação, vejo-lhe o potencial, e é tanto!


Ao contrário de um centro comercial, vejo um espaço verde, polivante, um pulmão para a localidade.
Com espaço e condições para a prática de exercício físico para pessoas de todas as idades.
Imagino aulas ao ar livre: venham as iogas, e as zumbas, e o diabo a sete!


Onde o próprio jardim e os seus canteiros poderiam, só pela sua existência, dar origem a um clube de jardinagem e horticultura.


Onde poderiam acontecer arraiais, com música num coreto e tudo, e inúmeros outros eventos como um mercado de produtos agrícolas, do agricultor ao consumidor, de quinzena a quinzena por exemplo. Haja criatividade.


Onde sobraria ainda espaço mais que suficiente para uma infraestrutura que albergasse o que realmente fazia falta por aqui, (que não é, garanto-vos, mais um centro comercial): porque não uma incubadora de empresas, um centro de dia, um gabinete médico, um ATL, uma biblioteca com acesso à internet e uma sala para formações e workshops, onde cada membro da comunidade/ localidade poderia ensinar o que sabe melhor.


Sim, entristece-me que no meio de tanta coisa escolham um centro comercial, e que nem isso saibam terminar.

Por outro lado, ver aquela obra inacabada alimenta-me a esperança de ver por lá outra coisa, quem sabe algo que vá de encontro ao que desejo e imagino.



Quem avisa amigo é: a burla da lata de leite para bébé.





Um dia, no estacionamento do Retail Park, fomos abordados por uma mulher, que implorava por dinheiro para uma lata de leite em pó.


Gosto de ajudar, quando me é possível e quando sinto empatia e confiança para com as causas. Embora acredite que a solidariedade é um dever, confesso que não sou fã de dar dinheiro, porque o dinheiro custa a ganhar e não estou para sustentar vícios alheios.


Por causa dos muitos que abusam da boa vontade alheia, uma pessoa acaba por se sentir intrujada, que foi no conto do vigário uma e outra vez, e desenvolve um mecanismo de defesa, que assenta na desconfiança e na capacidade de dizer que não.
A quem acha que está na disposição de nunca criar tal imunidade, posição onde estive um dia, só vos digo, ide trabalhar para Lisboa, a serem abordados de dois em dois passos, depois falamos.


Lembro-me de uma situação particular desses meus tempos, algures para os lados da Avenida de Roma, de uma vez em que fui abordada por um vendedor da Cais. A figura, razoavelmente bem vestida e com uma aura de pompa e arrogância, aborda-me para que lhe dê almoço. E eu, apressada, afianço-lhe que, no caminho de regresso ao escritório, lhe traria uma sandes e um sumo.

A figura replica que ele próprio está cheio de pressa, que lhe desse 10, 15 ou 20 euros, para ir buscar uns frangos assados e ir para casa, almoçar com a família.
Passei-me dos carretos!
Disse-lhe várias coisas, uma delas que fixasse a minha cara, porque da próxima vez que se se atrevesse a abordar-me, fosse para o que fosse, tinhamos o caldo entornado, e eu chamaria a polícia e o denunciaria à Cais. Ouviu tudo com ar de enfado, mas nunca mais me interpelou.


Adiante.
Naquele dia, acedemos ao pedido. E largámos 15 euros para que ela fosse comprar a lata de leite para o suposto bébé, na esperança que houvesse realmente ali verdade. Porque a fome é uma coisa muito feia, então com uma criança ao barulho...


Mais tarde informaram-me que é prática comum, os toxicodependentes que andam a pedir, usarem esta burla da lata de leite para bébé, porque é aceite pelos traficantes como moeda de troca.


Foi uma informação que nunca mais esqueci, e hoje partilho este conhecimento convosco. É claro que a decisão é vossa, são livres de dar o que entenderem a quem entenderem, longe de mim querer influenciar isso. Só acho de valor que saibam o que se passa.


Voltei a lembrar-me disto, porque há dias numa esplanada fomos abordados por um vendedor da Cais, que veio com a mesma história da lata de leite, a pedir os 15 euros.
Recusei. Disse-lhe que se tivesse fome, lhe pagava um saco de pão para levar para casa. Não quis. Disse que outro estabelecimento daquela zona lhe dava comida.
Comprámos-lhe uma revista, e demos-lhe um par de euros.
Entre nós comentámos que se for honesto, dá-lhe para almoçar uma sopa e uma sandes ali na zona, se não, o estrago também não é muito.














quinta-feira, 28 de agosto de 2014

cromices #36: Uma das consequências de ter memória de passarinho...





... é emprestar coisas e ficar totalmente dependente de que quem as leva se lembre de as devolver.


Hoje deu-me para ouvir Black Crowes e de repente lembrei-me do seu álbum "Amorica".


À alminha que o levou emprestado, provavelmente no tempo da Maria Cachucha, pede-se encarecidamente que o devolva. A dona não se importava nada de o ter de volta.











coisas de ver #38





"Bully Beatdown"












quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Gadgets e traquitanas #1: Bastões de caminhada e a prática da caminhada nórdica



A actividade física que pratico com maior regularidade, sendo também aquela que até ao momento é a que me dá maior prazer, é a caminhada.


Há dois momentos na vida em que me sinto excepcionalmente bem, que me sinto "onde pertenço", onde o mundo faz realmente sentido para mim: em casa, e na Natureza, em caminhadas.


Sem qualquer exagero posso afirmar que os bastões de caminhada mudaram a minha vida.


Sempre odiei as aulas de Educação Física. Sempre me achei trapalhona, desengonçada, sem coordenação nem equilíbrio. Enfim, um caso perdido sem qualquer futuro nas lides atléticas!

Só em adulta é que tive um daqueles momentos "aha!",  durante uma primeira e demorada consulta de oftamologia com um novo médico da especialidade, visto que o habitual se tinha reformado, e encontrei a correlação entre o meu problema de saúde visual e muita da minha "falta de jeito", e da insegurança que esta implica e multiplica.


Sem entrar em grandes explicações científicas, como consequência da minha pitosguice, tenho imensa dificuldade em calcular distâncias e profundidade.
Na vida real, isto significa que posso estar em cima de um "calhauzinho" a exigir ajuda ao marido para descer, a garantir-lhe que não quero tentar sozinha, que tenho a certeza que vou cair, que aquilo vai acabar mal. Tudo porque, lá de cima, não tenho mesmo a noção do tamanho, da distância.


Então, pouco tempo depois de começarmos a praticar caminhada com regularidade, achei por bem munir-me de uns bastões. E esse acessório veio mudar tudo!


Com os bastões, cada caminhada trouxe novas vitórias. Pequeninas, até insignificantes aos olhos de muita gente, mas para mim e para outros com as mesmas limitações, significam o mundo a abrir-se para novas possibilidades!
Agora até recuso ajuda para descer ou subir trilhos mais íngremes e complicados.
Quando não tenho a certeza da profundidade e/ou distância apalpo o terreno com os bastões, espeto-os na terra para que possa ultrapassar declives acentuados com segurança, etc.


E eu que abominava as aulas de Educação Física, considero experimentar novas coisas.


Mais segurança, maior independência, e também ajudam a postura, a utilizar maior número de músculos na prática da caminhada e a queimar mais calorias, na prática de caminhada nórdica.


Deixo aqui dois vídeos. Um sobre as vantagens dos bastões em trekking, outro sobre a caminhada nórdica.


















Um violino e dois elefantes












terça-feira, 26 de agosto de 2014

Cromices #35: Eu e os insectos





A minha reacção a insectos, (e bichezas assim), sempre foi visceral, irracional, acima de tudo, desproporcional.




Tirando as joaninhas e os caracóis que observava em pequena com curiosidade, brindando o pobre bicho com a cantilena "joaninha voa voa" ou "caracol, mete os corninhos ao sol", o histórico dos meus chiliques ainda alimentam momentos de risota em família.


Foram tantos ao longo dos tempos!

Desde o meu hábito de ir acordar os meus pais, de mansinho a meio da noite, caso estivesse um bicho no meu quarto. Hábito que se prolongou por mais de vinte anos.
Ou de optar por dormir no sofá caso não os quisesse acordar. De os meus pais me apanharem nessas ocasiões pela manhã, e desatarem-se a rir os dois por já saberem que se tratava de uma "situação-bicho".
Do cagaço que apanhei quando uma vez, depois de carregar no interruptor para acender a luz, mesmo a centímetros de distância estar uma centopeia maior que a minha mão, que tinha vindo do jardim.
De como desatei a correr de uma esplanada, deixando os meus interlocutores atónitos, porque havia uma vespa que não me largava.
De o marido já saber também o que são "situações-bicho", que passam por me ouvir aos berros, a correr pela casa, a pedir que me salve, entre "socorros" e "ai ca nojo!".






Mas, já lido um bocadinho melhor com estas coisas. Já estou muito mais tolerante para com as aranhas, por exemplo. Apanhamo-las com um papel e devolvemos-lhes a liberdade, mas fora de casa, e sabe bem fazê-lo.


Quem sabe um dia não ultrapassarei a repulsa que outros insectos me causam?
















segunda-feira, 25 de agosto de 2014

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Coisas que gosto #13: Memórias de framboesa





Hoje de manhã, enquanto pedia o habitual galão, olhei para o televisor mudo e vi uma senhora a colher framboesas. Em segundos viajei até ao passado, aos Verões da minha infância, até aos tempos em que também eu colhia framboesas para a sobremesa, mandada pela minha Avó.







quinta-feira, 21 de agosto de 2014

coisas de pensar: Um hábito nacional que gostaria de ver mudado.







Acredito que em Portugal se bebe demasiado, de forma irresponsável e pouco consciente.


Acredito que existem muitos mais casos de alcoolismo, de verdadeira dependência, do que aqueles que são contabilizados.


Acredito que esta dependência não é levada tão a sério quanto se deveria. Observo uma tendência em tapar o sol com a peneira, fazer de conta que é tudo muito normal e nada preocupante quando se trata do consumo excessivo de álcool. Da mesma forma que o bullying era visto como "coisas de miúdos", ou a violência doméstica um tema silenciado, porque "entre marido e mulher não se mete a colher". E olhem que existe uma tremenda associação entre abuso de álcool e violência doméstica!


E a mim entristece-me verdadeiramente, porque pior que este vício, só a dependência de "drogas duras" como a heroína ou as metanfetaminas.


Não quero que este discurso tenha um tom fundamentalista, ou de julgamento. Faço sempre os possíveis para fugir de ambos. Sobretudo estas linhas servem para expressar a minha genuína preocupação com esta espécie de hábito nacional que persiste há muito, e prejudica muito mais do que a saúde de quem bebe sem moderação.


Também eu já apanhei a minha quota parte de pielas, nos tempos em que era mais jovem, fisica e mentalmente, em que saía à noite com regularidade e até altas horas.
Depois os meus hábitos alteraram-se, como tenho a certeza que acontece com tantos outros.
Veio a casa própria, a vida profissional, a vida a dois, responsabilidades várias, um acréscimo de maturidade.
Vieram à tona também outros gostos, em que passámos a preferir o ambiente de alguns bares, esplanadas e restaurantes às grandes confusões de outrora. O querer aproveitar o fim de semana ao máximo, não o querer desperdiçar com saídas nocturnas de grande azáfama e a consequente recuperação que ocupa toda a manhã seguinte.
Deixar de ter paciência para estar num bar mais de uma hora ou duas. Ficar por um par de copos, ou se apetecer, uma opção não alcoólica, (que as há bem boas e bem mais criativas do que uma coca-cola!), sem qualquer pejo, nem ver em nada diminuída a capacidade de nos divertirmos, de conviver, de fortalecer laços. Pelo contrário!


Na verdade a grande consequência de se saber que o álcool é um ingrediente facultativo na vida, nas reuniões sociais, assim como o saber beber moderada e responsavelmente, fez-me mais observadora, crítica e certamente, mais anti-social.
A paciência para aturar bebedeiras fica reduzida a zero, nem por parte de conhecidos, então de desconhecidos muito menos!
Hoje em dia, mais do que nunca, evitamos, tanto quanto possível, frequentar locais em que estejam presentes pessoas em estado visível de embriaguez. Já não seria a primeira vez que ao entrar num bar, por exemplo, ao constatar o ambiente déssemos meia-volta. Nestes casos, damos sempre meia-volta.


Não aprecio a presença de bêbados, deixam-me desconfortável, num sentido de alerta constante à espera do pior. Porque um ébrio é uma caixinha de surpresas: tanto lhe pode dar para ser o bobo da corte, o tolo da aldeia com os seus exageros e palhaçadas, o inofensivo bêbado da aldeia que dança sozinho nos arraiais, como pode tornar-se alguém bastante inconveniente, abusador e chato, estragar o ambiente, ou no pior dos casos, alguém violento.


Quantas tragédias incontáveis já aconteceram pela mão de alguém alcoolizado?! A última parangona da imprensa sendo a história abominável do pai que matou o seu bébé de quatro meses com pancada e água a ferver!


Observo pessoas, e por vezes tenho que me recordar que algo não se torna correcto pelo facto de ser comum.
Observo como é comum haver quem comece bem cedo o dia a ingerir álcool.
Como é comum haver quem beba em copiosas quantidades, todos os dias.
Como é comum haver quem conduza após ter estado a beber, independentemente da quantidade.
De haver quem beba imoderadamente durante o horário de trabalho.
De haver quem tenha como profissão conduzir e mesmo assim, se coloque a si e mais importante, a outros em situação de risco, por beber durante o expediente.
De haver quem coloque crianças em risco, por transportá-las num estado de embriaguez ao volante.
E acham que é correcto, que não faz mal nenhum, que sabem perfeitamente o que estão a fazer.


A solução começa por se falar abertamente deste tema, sublinhar que este tipo de comportamentos não são aceitáveis. Reconhecer a doença, os sintomas do vício, e encaminhar as pessoas para tratamento.


Conheço uma empresa que tem uma regra bastante explícita quanto ao consumo de álcool por parte dos seus colaboradores: o consumo deste durante o horário de trabalho, (pausa para refeição incluída), é absolutamente proibida e o não cumprimento desta directiva pode levar ao despedimento por justa causa.
Acho que a solução passa também por aí. Há que implementar esta regra em todas as empresas, especialmente estatais.




E visto que esta questão tem uma maior expressão masculina, gostaria que as mulheres aceitassem, para o seu próprio bem, o consumo excessivo de álcool como um "relationship deal breaker", um factor suficientemente negativo que as fizesse perder o interesse naquele parceiro ou potencial parceiro.
Porque, senhoras, juro-vos a pés juntos que saber beber moderadamente e com responsabilidade é um atributo essencial!








coisas de ver #37





"Sítio do Picapau Amarelo"












coisas de pensar: Sobre isto dos baldes de água gelada








P.S: A parte importante começa aos 2 minutos.









terça-feira, 19 de agosto de 2014

coisas de ver #35







"The Vicar of Dibley"












coisas de ver #34







"Two Fat Ladies"












Adenda ao post anterior, ou se preferirem, a oráculo das férias





Agora que penso nisso, encontro um padrão.


É que já tive uma vontade voraz, inspirada também pelo Tom Sawyer, pela cultura cajun, de conhecer ali os lados do Louisiana, terminar em grande em New Orleans. Assim como já tive grande vontade de ir até ao Japão.
Deu no que deu.


Também já tive uma vontadinha de visitar Pompeia e Herculano. Felizmente não causou grande mossa, talvez por ter sido apenas uma "vontadinha", e ainda bem, que o Vesúvio impõe respeitinho!


Temo pelo dia que os meus apetites se virem para Veneza. Acho que será dessa que a cidade se afunda de vez.


Portanto, joguem pelo seguro. Confessem-me os vossos destinos de férias, e pelos vistos, se eu não estiver para aí virada, é sinal que estarão seguros.





cromices #33: Será um sinal divino?





De cada vez que me dá vontade de ir fazer férias à Islândia, um vulcão entra em erupção. É que não falha!


Em 2010 foi o Eyjafjallajökull. Nessa altura andava a fazer lavagem cerebral ao marido sobre como férias na Islândia é que era! Que aquilo é que eram cenários naturais para as nossas caminhadas, que por sorte ainda me cruzava com a Bjork! Que seria épico!


Há um par de dias o assunto voltou à baila, depois de ele ter visto um documentário bem interessante que lhe inflamou o interesse.


E então o que é que acontece? Notícias sobre como está para breve mais uma erupção em terras islandesas, destas vez o vulcão de Bardarbunga.


Perdoem-me a linguagem, mas bardamerda para o Bardarbunga!













segunda-feira, 18 de agosto de 2014

cromices #32: Às vezes, a vida é isto, e há que ter paciência...












Impossível não sorrir!





No outro dia assisti a uma cena que me desarmou totalmente. Por vezes os miúdos têm umas saídas fantásticas, para as quais não existe imunidade.


Um casal ensinava a jovem filhota a brincar às escondidas.


A miúda cobria os olhos. Devagarinho, a mãe contava até cinco, enquanto o pai procurava um esconderijo.


No fim da contagem a pequena saía-se com um sonoro e empertigado "Quem é?", como se estivesse a atender a porta.


Após algumas tentativas desistiram de lhe explicar que não era assim que se jogava. Foram vencidos pelo riso.









sábado, 16 de agosto de 2014

cromices #31: A família "mijona"





Ontem, ida ao Guincho bem cedo pela manhã, quase no pico da preia-mar.


A oito mãos, em brincadeiras na areia, construímos uma "mega piscina" com todos os preceitos, incluíndo uma muralha circundante, decorada pela pequenita do grupo com as pedrinhas que ia recolhendo no seu balde.


Não tardou muito que tamanha construção chamasse a atenção de todos os pequeninos em redor.


Da minha toalha apreciava sorridente o cenário. 


Chegaram a ser à meia dúzia de uma vez lá enfiados, felizes da vida a chapinhar. E os pais igualmente encantados a fotografar os petizes.


Uns passos à direita uma mãe e dois filhos esforçavam-se por escavar a sua piscina. Coisa impossível aquela hora, visto que a maré já tinha vazado, e não havia pedaço de mar em redor, que se pudesse aprisionar.
Obervava-os e perguntava-me porque não se juntavam eles às outras crianças.


Num momento em que a "nossa" piscina estava vazia, a mulher desloca-se até lá e senta-se, julgando-se discreta. Não se demora muito, levanta-se e volta para o pé dos putos.


A seguir vai o miúdo, deita-se de barriga para baixo, também não se demora. E por fim a miúda, que imita os gestos da mãe.


Se desconfiei do que se estava a passar quando vi a mãe, tive a certeza quando vi os miúdos: aquela família de imbecis mentecaptos foi urinar à "piscina". 
Perfeitamente conscientes de que aquela construção estava a ser uma fonte de prazer e brincadeira para as crianças mais pequenas da praia, que as atraía como um imã, e mesmo assim decidiram conspurcá-la!


"Ah, mas coitadinhos, tinham vontade!" - Não há justificação no mundo que possa justificar tamanha imbecilidade e falta de civismo, especialmente quando existem bares e esplanadas a dezenas de metros com wc's à disposição, e asseados.




A sério, odeio gente desta!








quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Quando as mulheres falam de sexo #30












cromices #30: Não me venham dizer que não faço exercício todos os dias!



Posso não assistir às aulas de Zumba no fundo da rua, mandar o marido ir dar uma curva quando me fala em BTT, gargalhar quando uma querida amiga me convida para escalada, ter usado o ginásio só para ir à sauna, ao jacuzzi e ao banho turco, fazer birra com a personal trainer, ter desistido do ténis depois de um par de sessões a correr atrás das bolas, usar a bola de Pilates como acessório decorativo, ficar na areia feita lagarto enquanto eles vão para a água com as pranchas de surf.


Mas, acabei de vir do supermercado, numa caminhada de quase 2km com 10% do meu peso em cada mão! Ah, tomem lá!


Cheguei estafada, sedenta, e com as mãos marcadas das asas dos sacos de plástico, mas isso são detalhes.



terça-feira, 12 de agosto de 2014

cromices #29: Moda Tpm



Estou a pensar seriamente mandar imprimir umas t-shirts, pensadas para as mais diversas ocasiões, como ir às compras, ao banco, a todo o lado!



" Se consegue ler isto, é porque invadiu o meu espaço pessoal. Afasta-te criatura!"


" Passas-me à frente e eu passo-te por cima."


"O tempo não tem preço, mas o meu não é de borla. 
  Usou? Paga!
  Factura com ou sem contribuinte?"


"Quem não tem dinheiro não tem vícios. Vai cravar outro."


"Tocas. Morres."


"Não dou beijos nem apertos de mão. Não é falta de educação, é excesso de germes."


"Se é para ouvir um monólogo, prefiro ir ao teatro."


"Use magia: Abracadabra. Bom dia. Por favor. Obrigada. Shazam."


"Nem que fosses o último homem na Terra."




Também querem?











coisas de ver #33



Quem se lembra?


Big Trouble in Little China











caixa de ressonância












segunda-feira, 11 de agosto de 2014

coisas que gosto #12: As rosas da minha Avó



Quando era miúda, no caminho entre casa e escola, passava por uma quinta cujos muros estavam totalmente cobertos de arbustos, de onde despontavam pequenos botões de rosa que me encantavam.


Um dia, ao fazer o caminho para casa na companhia da minha avó, parámos ali mesmo, a admirá-las.


Disse-me que eram rosas de Santa Teresinha, que eram as suas favoritas.
Como a minha avó também se chamava Teresa, passaram a ser, para mim, as rosas da minha Avó, da minha Teresa, e também as minhas favoritas.


Hoje, sempre que vejo uma destas roseiras, páro para apreciá-las. É que as pessoas nunca partem totalmente deste mundo, e para mim as rosas são a minha Avó.









Quando os homens falam de amor #32












Quando as mulheres falam de sexo #29












domingo, 10 de agosto de 2014

Sabedoria dos intas em 10 segundos #32





Todos caimos. É inevitável.
É um lugar comum falar-se sobre o acto de levantar depois da queda, do seu significado, da sua força, dignidade e poesia.
Pouco se fala da importância de saber cair, de como não devemos criar resistência, e de como tantas vezes se sacrificam os membros para proteger os orgãos vitais. É que há muitos que, depois de uma queda mal dada, não chegam a ter a hipótese de se levantar.





coisas de ver #32





Where the trail ends










quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A Agricultura e a Bolsa de Valores





Tenho um imenso apreço pela Agricultura.


É um apreço tal que o meu pensamento se alinha com o de Thomas More, na medida em que todo o Homem deveria, em primeiro lugar, ser agricultor, e só depois médico e professor, comerciante e artista, e tudo o mais.




Respeito os agricultores. Não é uma vida fácil e considero injusto que, no ciclo das coisas, sejam eles a desempenhar uma das mais primordiais funções e dos que menos auferem por isso.


Contudo, não consigo deixar de fazer uma careta quando apanho na tv pessoal a clamar por subsídios porque choveu, porque não choveu, porque choveu demais ou não o suficiente.


É que tendo em conta que a prática da Agricultura data de há uns bons milhares de anos, quem a pratica já deveria estar ciente dos riscos. Visto que sempre existiram, seria de esperar que o ser humano soubesse, por esta altura, aceitá-los, precaver-se e adaptar-se. Enfim, saber para o que vai.


Ocorreu-me há dias exactamente o mesmo sobre os investidores.
Estes últimos acontecimentos em redor da Banca criaram um pânico generalizado, e os accionistas já se queixam ao Banco de Portugal, contactam advogados, e haverão muitos que culparão terceiros pela sua decisão de investir.




Aos gestores de conta de todos os bancos, por favor eduquem melhor os vossos clientes!


Quando repararem naquele brilhozinho nos olhos de deslumbramento com que a maioria fica depois de ler "Investimento de Alto Rendimento", acordem-nos e apontem com persistência para a parte que diz "Alto Risco".
Lembrem-lhes que há razão de ser para se dizer "apostar na Bolsa", e que qualquer semelhança com "apostar na roleta" não é coincidência.


Antes de aceitarem investidores façam-lhes um teste, e quem não souber na ponta da língua o que é uma obrigação subordinada entre muitas outras coisas, mandem-nos para casa com um porquinho mealheiro e um panfleto sobre depósitos a prazo, por favor! Pelo bem de todos!











quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Coisas de pensar: nós e os lobos






Conhecer o mundo dos animais ditos irracionais ajuda a perceber muito da psicologia humana.


Numa alcateia os lobos dividem-se em três categorias: os alfas, os betas e os ómegas.


No topo da hierarquia lupina encontra-se o casal alfa: são os maiores, os dominantes, os mais fortes, os primeiros a comer.


Na base da pirâmide estão os ómegas. São estes os underdogs, os últimos, os que não geram conflitos porque aceitam a sua posição.


Entre ambos, estão os betas. Os segundos que vivem em maior proximidade com os alfas. Fossem culpados de algum pecado, e seria o da inveja, pois a sua vida é marcada pela ânsia de tomar o lugar dos alfas, embora lhes sejam subservientes.


Adoro animais e adoro lobos. Também por todos estes paralelismos com a psique humana, que são uma fonte de conhecimento inesgotável.


Por isso vos digo: não são os alfas deste mundo que temo, são os betas.





cromices #28: Anda qualquer coisa no ar...



Nesta última semana tenho andado com mais sono do que é habitual.


A camada de sono é tão grande, que me sinto capaz de me enfiar na cama e acordar lá para Setembro.


Será que anda por aí uma nova raça de mosquito tsé-tsé?!







sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O prazer da solidão





Às vezes, dou por mim a ter que explicar porque não temo a solidão.


Talvez ser filha única me tenha ajudado a compreender que não há que a temer.


Que a solidão não implica o vazio. É mais como estarmos na nossa própria companhia. E se há exercício de valor é o de aprender a apreciar genuinamente estes momentos. Dá-nos um tremendo poder saber que nos bastamos a nós próprios.


No início lida-se com a solidão por falta de alternativa, porque tem que ser. Porque num determinado momento, por um qualquer motivo trivial, não há a companhia de um amiguinho para brincar, e temos que fazer por nos entretermos sozinhos. Comigo foi assim.


Depois passei a apreciar a solidão e a companhia de igual modo. Ambas me trazem momentos de grande satisfação e alegria.


Acredito que nem todas as pessoas saibam encontrar prazer no recolhimento, na companhia de si mesmos. Isto porque nunca tive que justificar o facto de gostar de estar na companhia de alguém, mas poucos me entendem quando me refiro com o mesmo entusiasmo à solidão.


Gostar da solidão não é doença, não é tristeza nem depressão. Não quando se encontra um ponto de equilíbrio entre esta e a interacção social com outros.


Para mim ter momentos em que abdico de companhia recarrega-me as baterias, renova-me a tão necessária paciência, dá-me tranquilidade, paz de espírito e contentamento.
É também sinónimo de tempo de liberdade, de soltar a imaginação.


Mas tudo em doses saudáveis. Não me imagino 24 horas totalmente sozinha, mas abomino a ideia de passar 24 horas acompanhada. E se me derem a escolher, garanto-vos que quase sempre preferirei estar livre e sozinha, do que numa ocasião social em que tenha que estar a aturar o frete de alimentar conversas de chacha e circunstância.


Portanto, quando inquirida sobre este tema, até costumo responder: Eu, incomodada com a solidão? Porque haveria de me sentir incomodada ou menos feliz?! Se afinal até estou na companhia de alguém inteligente, interessante, e com quem tenho imensos pontos em comum?!