quinta-feira, 21 de agosto de 2014

coisas de pensar: Um hábito nacional que gostaria de ver mudado.







Acredito que em Portugal se bebe demasiado, de forma irresponsável e pouco consciente.


Acredito que existem muitos mais casos de alcoolismo, de verdadeira dependência, do que aqueles que são contabilizados.


Acredito que esta dependência não é levada tão a sério quanto se deveria. Observo uma tendência em tapar o sol com a peneira, fazer de conta que é tudo muito normal e nada preocupante quando se trata do consumo excessivo de álcool. Da mesma forma que o bullying era visto como "coisas de miúdos", ou a violência doméstica um tema silenciado, porque "entre marido e mulher não se mete a colher". E olhem que existe uma tremenda associação entre abuso de álcool e violência doméstica!


E a mim entristece-me verdadeiramente, porque pior que este vício, só a dependência de "drogas duras" como a heroína ou as metanfetaminas.


Não quero que este discurso tenha um tom fundamentalista, ou de julgamento. Faço sempre os possíveis para fugir de ambos. Sobretudo estas linhas servem para expressar a minha genuína preocupação com esta espécie de hábito nacional que persiste há muito, e prejudica muito mais do que a saúde de quem bebe sem moderação.


Também eu já apanhei a minha quota parte de pielas, nos tempos em que era mais jovem, fisica e mentalmente, em que saía à noite com regularidade e até altas horas.
Depois os meus hábitos alteraram-se, como tenho a certeza que acontece com tantos outros.
Veio a casa própria, a vida profissional, a vida a dois, responsabilidades várias, um acréscimo de maturidade.
Vieram à tona também outros gostos, em que passámos a preferir o ambiente de alguns bares, esplanadas e restaurantes às grandes confusões de outrora. O querer aproveitar o fim de semana ao máximo, não o querer desperdiçar com saídas nocturnas de grande azáfama e a consequente recuperação que ocupa toda a manhã seguinte.
Deixar de ter paciência para estar num bar mais de uma hora ou duas. Ficar por um par de copos, ou se apetecer, uma opção não alcoólica, (que as há bem boas e bem mais criativas do que uma coca-cola!), sem qualquer pejo, nem ver em nada diminuída a capacidade de nos divertirmos, de conviver, de fortalecer laços. Pelo contrário!


Na verdade a grande consequência de se saber que o álcool é um ingrediente facultativo na vida, nas reuniões sociais, assim como o saber beber moderada e responsavelmente, fez-me mais observadora, crítica e certamente, mais anti-social.
A paciência para aturar bebedeiras fica reduzida a zero, nem por parte de conhecidos, então de desconhecidos muito menos!
Hoje em dia, mais do que nunca, evitamos, tanto quanto possível, frequentar locais em que estejam presentes pessoas em estado visível de embriaguez. Já não seria a primeira vez que ao entrar num bar, por exemplo, ao constatar o ambiente déssemos meia-volta. Nestes casos, damos sempre meia-volta.


Não aprecio a presença de bêbados, deixam-me desconfortável, num sentido de alerta constante à espera do pior. Porque um ébrio é uma caixinha de surpresas: tanto lhe pode dar para ser o bobo da corte, o tolo da aldeia com os seus exageros e palhaçadas, o inofensivo bêbado da aldeia que dança sozinho nos arraiais, como pode tornar-se alguém bastante inconveniente, abusador e chato, estragar o ambiente, ou no pior dos casos, alguém violento.


Quantas tragédias incontáveis já aconteceram pela mão de alguém alcoolizado?! A última parangona da imprensa sendo a história abominável do pai que matou o seu bébé de quatro meses com pancada e água a ferver!


Observo pessoas, e por vezes tenho que me recordar que algo não se torna correcto pelo facto de ser comum.
Observo como é comum haver quem comece bem cedo o dia a ingerir álcool.
Como é comum haver quem beba em copiosas quantidades, todos os dias.
Como é comum haver quem conduza após ter estado a beber, independentemente da quantidade.
De haver quem beba imoderadamente durante o horário de trabalho.
De haver quem tenha como profissão conduzir e mesmo assim, se coloque a si e mais importante, a outros em situação de risco, por beber durante o expediente.
De haver quem coloque crianças em risco, por transportá-las num estado de embriaguez ao volante.
E acham que é correcto, que não faz mal nenhum, que sabem perfeitamente o que estão a fazer.


A solução começa por se falar abertamente deste tema, sublinhar que este tipo de comportamentos não são aceitáveis. Reconhecer a doença, os sintomas do vício, e encaminhar as pessoas para tratamento.


Conheço uma empresa que tem uma regra bastante explícita quanto ao consumo de álcool por parte dos seus colaboradores: o consumo deste durante o horário de trabalho, (pausa para refeição incluída), é absolutamente proibida e o não cumprimento desta directiva pode levar ao despedimento por justa causa.
Acho que a solução passa também por aí. Há que implementar esta regra em todas as empresas, especialmente estatais.




E visto que esta questão tem uma maior expressão masculina, gostaria que as mulheres aceitassem, para o seu próprio bem, o consumo excessivo de álcool como um "relationship deal breaker", um factor suficientemente negativo que as fizesse perder o interesse naquele parceiro ou potencial parceiro.
Porque, senhoras, juro-vos a pés juntos que saber beber moderadamente e com responsabilidade é um atributo essencial!








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