terça-feira, 4 de novembro de 2014

coisas da casa #11: A casa de meio milhão de euros





Como muitas outras pessoas, presumo que na sua maioria mulheres, de vez em quando dão-me umas ganas de visitar imóveis que estejam assim à mão de semear, em exposição, de porta aberta...


A última vez que o fiz foi aqui pelo burgo já há uns tempos. Tratava-se de uma casa novinha, com um preço que se aproximava do meio milhão de euros.


Eu, que adoro Arquitectura e Design, e que não moro numa casa de meio milhão de euros, quis ver o que haveria de fabuloso lá dentro que justificasse tal valor.


Como gosto muito de Arquitectura, tenho ideias próprias, muito bem definidas, sobre a minha visão de uma "boa casa", do que esta deve comportar, ainda mais para custar tamanha exorbitância, (embora seja tremendamente fácil encontrar casas bem mais caras, eu sei), e estava sobretudo curiosa para ver se os meus conceitos estavam de acordo com os parâmetros seguidos naquela construção.


Para mim numa "boa casa" encontra-se um bom casamento entre forma e função, um uso inteligente do design. Acredito que uma casa pode e deve ser altamente funcional e bonita, e que ambos os conceitos devem estar presentes, pois se o primeiro nos dá conforto e nos facilita as rotinas, o segundo inspira-nos e eleva-nos.
Funcionalidade e estética, quando bem trabalhadas, aumentam em muito a qualidade de vida de qualquer pessoa, acredito piamente nisso.


São-me especialmente importantes as seguintes particularidades numa casa, que considero basilares: construção de elevada qualidade (em caso de se ter que optar, prefiria sempre sacrificar o orçamento dos revestimentos, pavimentos e decoração, mas nunca cortar na qualidade dos materiais de construção), intemporalidade, eficiência energética e ecologia, aproveitamento da luz natural, design inteligente, praticidade, polivalência e carácter.


Por meio milhão de euros, esperava a existência de duas salas. Uma formal, e a outra familiar e aberta, na qual poderia estar presente uma cozinha tipo americana. Se estivessem divididas por enormes painéis de correr ao invés de uma parede, poderiam transformar-se numa enorme e única sala sempre que desejado e necessário.
A cozinha deveria ter como apoio uma copa, a chamada "butler's pantry", uma despensa e idealmente, uma mud room (em breve falar-vos-ei em detalhe de todas estas divisões).


Por meio milhão de euros, esperava uma "master suite" com closet. Ficaria positivamente surpreendida se o quarto pensado para as crianças pelo construtor/ engenheiro /arquitecto também tivesse closet, mesmo que pequeno, pois denotaria uma grande compreensão pela necessidade, raramente correspondida, de espaços pensados para a organização.


Por meio milhão de euros esperava, em algum ponto da casa, encontrar um pormenor arquitectónico bem executado que lhe atribuísse carácter, que seduzisse.




Por meio milhão de euros, encontrei uma casa de vários andares, (pois o lote não era muito grande), onde a escala era 8 ou 80. Uma enorme sala e varanda a combinar, (desculpem, "sun deck"como me disseram, que estava muito bem), e uma garagem, no nível mais inferior da casa, do tamanho de todo o piso.
Para contrastar, tudo o resto era à Portugal dos Pequeninos: cozinha minúscula, despensa nem vê-la, casas de banho miniatura, os quartos idem.
O quarto ensuite não era excepção, era micro mesmo. Tão, mas tão pequeno que é bom que o casal que a compre não se imagine numa cama maior que 1,40m, que não se zanguem por terem de partilhar o roupeiro embutido de duas portinhas, que também não havia espaço para qualquer cómoda ou outra peça. Para quem goste de se exercitar logo pela manhã, podem sempre guardar a roupa na enorme garagem e descerem dois lances de escadas sempre que precisarem de algo.
Ah, e que consigam tomar duche sem descolar os bracinhos do corpo, pois seria a única forma de lá caberem.
Não me agradou. Achei-a pouco funcional e nada memorável. Tivesse eu essa quantia para gastar num imóvel, (quem me dera!), e não seria aquela a minha nova casa.






Esta é a minha opinião, e esta é o produto de uma percepção bastante subjectiva.
Mas serei a única a pensar que quem desenha estas casas perdeu um bocadinho o tino?!





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