quarta-feira, 29 de julho de 2015

Vida de Cão #26: Nunca foi tão fácil dar-lhe o remédio!



A rotina do Kiko é marcada, este mês, também pela toma do Leishguard, para a prevenção da leishmaniose.

Dar medicação a um cão é infinitamente mais fácil do que fazê-lo a um gato. Mesmo assim optámos por lhe dar a colherzinha de remédio imediatamente antes do jantar, porque facilita as coisas ter ali à mão de semear uma recompensa que ele adora.
Mas a coisa deve ter um sabor tão repugnante que mal o miúdo fareja o líquido amarelo vira o focinho.

Numa das últimas encomendas de artigos para o Kiko havíamos mandado vir uma embalagem de pasta Kong geralmente utilizada para rechear o tão famoso brinquedo. Não me cativou muito a ideia de o ter aos pulos pela casa a espalhar aquela nhanha por todo o lado, mas descobrimos que se juntarmos uma nozinha de recheio Kong ao remédio a percepção que o Kiko tem deste muda do dia para a noite.

Agora mal me vê pegar na embalagem do Leishguard abana a cauda e lambe-se, o que nos facilita a tarefa.

Para quem desconhece o que é o brinquedo Kong e o tal recheio, fica um vídeo.







terça-feira, 28 de julho de 2015

Chá e bolachas não puxam carroça, ou as paragens de digestão.



Este é o segundo dia em que ando a recuperar de uma paragem de digestão.

Há quem nunca tenha passado por uma destas. Pois a esses só digo: seus sortudos!

Comparo o estômago a um qualquer corpo de água - lago, rio, ribeiro - a quem o movimento é primordial. Água que se move é saúde, é vida. Água estagnada é lodo, doença e podridão.

Já não é a primeira vez que tenho uma paragem de digestão e não é por isso que se torna mais fácil, simplesmente identifica-se com maior facilidade.

Aquela sensação, horas após a refeição, que alguma não está bem, de parecer sentir na boca o sabor do jantar. Depois aparecem os sintomas que podem ser naúseas, vómitos, fraqueza, quebra de tensão, cansaço, calafrios, suores, dores de estômago, torções e até perda de consciência.

Já aprendi que o melhor a fazer, por mais desagradável que seja, é induzir o vómito. O que será geralmente fácil e rápido pois o organismo está mortinho para se ver livre de todo aquele conteúdo que repousa no estômago, inerte e ainda por digerir.

Depois a hidratação é fundamental. Beber muitos líquidos, em especial água e chás doces. A Camomila e a Cidreira são duas óptimas opções pois ajudam a acalmar e são indicadas para problemas digestivos.

Logo que se possa é tentar comer alguma coisa, como uma bolacha de água e sal. E é incrível a quantidade de tempo que se demora e o quanto custa comer aquela amostra de bolacha.

Gradualmente, a par com a ingestão de líquidos e repouso, é ir comendo um pouco mais: umas torradas com pouca manteiga, uns caldos leves com pouco tempero e sem gordura.

Conforme a situação, a idade e o estado de saúde da pessoa, há quem se recupere em horas, e há quem precise de dias.

domingo, 26 de julho de 2015

A Princesa Emília



Raro é o dia em que não passe pelo Facebook, essa amálgama de mil coisas tão dissonantes entre si em valor.

Nem sei explicar muito bem o porquê de ter desperdiçado um par de minutos num "quiz" sobre princesas da disney, tive melhor sorte quando apanhei a partilha do vídeo sobre Emily, a pequena miúda que quis doar o seu cabelo a crianças que dele precisassem.

E pensei que não há cá Elsa, Rapunzel, Mérida, Tiana ou Ariel que cheguem aos calcanhares da Princesa Emília. Que se tivesse descendência levavam com este vídeo no intervalo dos desenhos animados.



quarta-feira, 22 de julho de 2015

coisas sobre mim #1: Maria



Chamo-me Ana. Ana Maria.

Em miúda odiava o meu nome. A parte da Maria.
Haviam sempre muitas Anas. Ana Sofia, Ana Filipa, Ana Rita, Ana Claúdia, Ana Cristina and so on...
Tantas combinações possíveis e haveria de me ter calhado Maria na rifa, pensava eu. As únicas Anas Marias que conheci durante a infância eram da geração dos meus pais ou dos meus avós.
"Deram-me nome de velha!" - queixava-me eu aos meus pais. - "Não há ninguém da minha idade que se chame Ana Maria" - o que fazia de mim, de certo modo, única, que é das coisas que mais se detesta quando se está na adolescência e se sente um desejo maior de integração, de pertença, de aceitação por parte dos pares, de não querer sobressair. É por estas e outras que é a tal idade do armário.

De um momento para o outro parei de me queixar do meu nome. Aceitei-o, passei a gostar dele, a acarinhá-lo, a senti-lo ainda mais meu por ser incomum.
Bastou-me saber que havia sido escolhido pelo meu pai, o nome que havia sido de uma irmã que não sobreviveu para além da primeira infância. Que o anúncio do meu nome junto da família gerou comoção. Em nome da ternura e do amor foi-me passado em testemunho o nome que hoje é tão meu que nem imagino possível ser outro.

Portanto, se me quiserem chamar Ana Maria, estejam à vontade.




coisas de pensar: Anita, a Eurocéptica



12 de Junho deste ano ficou marcado pelo 30º aniversário da adesão de Portugal à CEE.

Na época eu estaria com cinco anos de idade. Todo este processo, tirando um ou outro pormenor, uma outra expressão captada das conversas entre adultos, me passou ao lado. Lembro-me de simpatizar com o Mário Soares. Achava-lhe piada às bochechas e para uma miúda de cinco anos esse é um motivo tão bom como qualquer outro.

Passados trinta anos as coisas mudam um bocadinho.

Ao contrário do que diz o título deste post, não sou exactamente uma eurocéptica, na teoria. Na teoria o conceito de Comunidade Europeia agrada-me. Afinal, carrega em si um potencial tremendo para o Bem Comum. Na teoria.

Na prática, o que observo e deduzo, apesar da possível falibilidade da minha percepção já que a esta estará sempre inerente a subjectividade, é que a entrada de Portugal na então CEE era inevitável.

Hoje olho para o resultado da crise que vivemos, das suas graves implicações, e que na realidade ninguém consegue explicar de forma simples e coerente que crise é, a que se deve. A questão é que um dos atributos da Verdade é que esta é possível de ser concisa e directa, fácil de explanar. Quando se fala da "crise" todos enrolam a língua num interminável novelo, e fica-se na mesma, sem claridade sobre a matéria.

Hoje com quase 36 anos e correndo o risco de ser adjectivada de maluquinha das teorias das conspirações, olho para o passado e não acho coincidência que o pedido de adesão à CEE por parte de Portugal em 1977, e que a assinatura do Tratado de Adesão em 1985 tenham coincidido com visitas do FMI ao nosso país.

O FMI sempre foi uma ave de mau augúrio. A sua presença sempre serviu para enfraquecer francamente as nossas estruturas, as condições laborais, a qualidade de vida dos cidadãos. Em 1977 reduziu-se a produção nacional, aumentou-se as importações, surgiram os contratos a prazo, aumentaram os impostos, por aí fora.

Olho para os resultados obtidos em 30 anos de Comunidade Europeia e para além de me ocorrer o termo teoria da conspiração, vem-me sempre à mente os estrategas militares. Aqueles tal como Sun Tzu que são encarados como grandes inspirações e modelos a seguir no estudo do mercantilismo, que é também a minha área de estudo.

Nós, Portugal entenda-se, temos a mania que somos pequeninos. É uma mania que nos tem servido extremamente mal, mas sido de grande valor e serventia para com todas as soberanias estrangeiras com quem temos lidado desde sempre.

Então em 1985 a nossa entrada na CEE era inevitável. Para além de pequeninos estávamos entalados graças a Carlucci e ao FMI.
A livre circulação de bens e pessoas em espaço comum europeu era uma das características mais antecipadas deste novo modelo.

Mas o que é uma vantagem, tem também outra face:
Imagino-me mosca durante as negociações dos acordos de adesão e pinto uma qualquer figura à mesa de negociações a soltar algo como "Olhe que a vidinha vai ficar muito mais difícil para os não-membros. Os membros da Comunidade podem, a qualquer altura, decidir não aprovar qualquer troca comercial ou dificultar a entrada de pessoas dos países não-membros em território da Comunidade." Imagino então o negociador português a pensar nos PEC's impostos pelo FMI, nos cinco milhões de portugueses pertencentes à Diáspora, a pensar "agora é que me fodeste!" enquanto saca da caneta e assina diligentemente o que lhe metem à frente. Se terá levado consigo alguma compensação pessoal para ajudar a sarar o dói dói, isso é uma interrogação para outro dia.

Durante parte deste 30 anos houve sempre em mim uma vozinha que se questionava se "aquilo era o chouriço, o que seria o porco?"
Remeto-me é claro para o adagio popular que afirma que ninguém dá um chouriço se não receber em troca um porco.

Quando era miúda, o país andava num frenesim com a histórias dos fundos a fundo perdido que chegavam de Bruxelas. As inaugurações de estradas e pontes passaram a ser mais que muitas. Não havia batata com dois olhos, um qualquer candidato à freguesia de santa coina do agrião que não tivesse uma fitinha para cortar e aparecer no noticiária da noite em época de eleições.
Não é que seja padecimento ou coisa má para os habitantes de santa coina do agrião estarem ligados ao mundo por meio de uma via rápida.
Mas, enquanto isso, o nosso sector primário ficou k.o.. Só se falavam de quotas, do quanto se tinha ultrapassado as ditas quotas na pecuária, na agricultura, na produção de leite, na pesca... Que ultrapassar as tais quotas significariam pesadas multas para os produtores e sanções aplicadas a Portugal por Bruxelas. Que o espaço marítimo português era cobiçado e dos muitos que nos exigiam uma fatia do mesmo. Que no que toca à negociação das tais quotas, se éramos "pequeninos" então assim deveria ser a nossa fatia. Que o grosso da coisa pertence aos "grandes".
De saber, pelos noticiários, das toneladas de alimentos que eram deixados a apodrecer, que eram deitados fora, enquanto nos pontos de venda começavam a proliferar os mesmos alimentos mas de origem não portuguesa, o que sempre me pareceu das coisas mais estúpidas e contraproducentes.

De como parte dos fundos a fundo perdido eram utilizados para não se produzir, para se deixar quieto, ao abandono, tornar estéril o que havia sido fértil.
De como deixámos de ter agricultores para ver explodir em número e grau uma nova raça de engenheiros agrónomos. Pois agora que as pessoas eram pagas para não produzir, a Agricultura deixava de ser trabalhosa e plebeia para ser "bem", para estar na berra.

Os tais fundos pagavam jipes topo de gama, à socapa, naquela boa maneira do chico espertismo. Jipes e mais umas quantas coisas, que de repente o Alentejo e uma boa parte da geografia provinciana portuguesa passou a estar na moda. Nunca houve tanto lisboeta a possuir herdades, a vestir oleados e a calçar botas de equitação, mesmo que continuassem a não praticar nem a entender um caralho de Agricultura.

Este tipo de situações eram conhecidas por todos, pois por todo o lado haviam uns quantos borra botas que se enfiavam nos cafés a gabarem-se, para quem quisesse ouvir, da nova prosperidade que havia sido subsidiada por Bruxelas, através dos tais métodos menos convencionais.

E eu, que já desde miúda nunca gostei muito de chicos-espertos, achava que se os "outros europeus" eram assim tão mais avançados e sofisticados que nós "os pequeninos do sul", que afinal o grande objectivo de entrarmos na tal CEE era conseguirmos atingir o mesmo patamar de brilhantismo, não tardaria que os pelintras fossem apanhados e obrigados a devolver tudo o que foi arrecadado ilicitamente.
Nunca ouvi que tal acontecesse e também por isso multiplicou-se a população de pulguinhas que já faziam ninho atrás da orelha.
A tendência da subsidio-dependência proliferou como um fogo selvagem em mato seco. Como exemplo lembro-me também das micro e pequenas empresas de formação e consultoria, entre outras, que chegaram a ser mais que as mães, não tendo a maioria qualquer serventia nem estrutura fiável nem viável, pois muitas não foram fundadas com qualquer outro propósito que não mamar nas tetas de Bruxelas. Mal estas secassem desapareceriam as mesmas na neblina da falência e insolvência.

Proibidos e incapacitados de produzir em quantidade, obrigados a importar exactamente os mesmos tipos de bens que agora não podiam ser gerados em território nacional senão dentro de um intervalo estipulado pelas benditas quotas, (alimentos criados por países membros que recebiam subsídios nesse sentido conseguindo assim preços mais competitivos que os do mercado interno), estava também a ser alimentada, através dos tais "fundos", a semente da incapacidade, indolência e corrupção que, sejamos honestos, existe em todos os países do mundo, e que assim encontrou condições ideais para se frutificar.

Jipes, estradas e subsídios fazem-me lembrar as bugigangas, missangas e armamento em desuso que todos os colonizadores (não só os portugueses atenção!) trocavam pelas valiosas especiarias, ouro, prata e afins. Digo isto porque acredito que retirar a capacidade para a auto-suficiência a uma qualquer nação, entidade ou pessoa é dar-lhe uma das mais limitativas deficiências. Que não interessa o que se dê em troca, nada vai suplantar a ausência dessa capacidade. Que é um pilar absoluto e imprescindível na construção da sustentabilidade e da liberdade.

O segundo acto desenrola-se com a implementação da moeda única: O Ecu que virou Euro.

Acreditei, ou tinha esperança, na inocência do meu positivismo, que a troca das divisas de cada país por uma moeda única europeia faria desaparecer qualquer desigualdade monetária, que um euro em Portugal valeria exactamente o mesmo que um euro em qualquer outro país membro. Esperava igualmente, e quero acreditar que não era a única, que isto da moeda única significaria a implementação de um salário minímo único vigente em toda a Comunidade Europeia.
Que no meu léxico "única" e "comum" derivam do conceito Igualdade. Então nada poderia ser mais contrário à ode europeia de comunidade do que separar os vários estados membros dotando o Escudo, o Dracma, a Peseta, o Marco, a Libra de valores diferentes.
Onde existe a Igualdade e a União se os salários, os preços, a inflação se fazem distinguir?!

Na realidade, como bem sabem não aconteceu nada disto. A minha memória em relação à introdução do Euro, é que na véspera pagávamos 50 escudos por um café, e no dia seguinte passámos a pagar 50 cêntimos.
Foi necessária uma tremenda campanha e tempo para que a população entendesse o valor do euro e aprendesse a fazer a conversão do Escudo para a nova moeda, em especial a população envelhecida.
Uma chavena de café foi um pequeno exemplo entre muitos outros. Basicamente o poder de compra foi cortado ao meio, pois um quilo de qualquer coisa que custasse 100 escudos passou a custar 1 euro, um papo seco que custasse 5 escudos passou a custar 5 cêntimos e por aí fora.
Basicamente os responsáveis pela estipulação de preços só não se faziam de estúpidos quando era para converter o valor dos salários. Esses mantiveram-se iguais, a anos-luz da média europeia. Estávamos então em 2002 e ainda "pequeninos" e entalados.

O terceiro acto inicia-se com a terceira visita do FMI a Portugal. Com a crise cujos preâmbulos poucos entenderão, porque deriva da abolição do padrão ouro, da economia especulativa, de uma realidade imaginada por poucos, imposta sobre muitos.

São as cantigas de intervenção de outrora a tornarem-se intemporais, pelo desemprego, a pobreza, o fosso entre ricos e pobres que nunca foi tão profundo a não ser em épocas de feudalismo e fascismo. A perda de direitos, de segurança, de esperança, ambições. A crise que justifica o pagamento de uma qualquer dívida que nos assenta como grilhões, que havemos de andar a pagar durante toda a vida sem que ninguém explique, com clareza e verdade, o que se deve, a quem e porquê.
Este novo chicote que nos faz andar cabisbaixos, sem mandar prá puta que os pariu aqueles que mais lucram com a existência de estágios não remunerados, de recibos verdes, de voluntários à força oriundos do IEFP, de eternos contratos a prazo, de assalariados que recebem o salário minímo, dos que acham tremendamente natural que não exista segurança no trabalho, que o normal é sermos saltimbancos, e ainda os escroques vis que oferecem salários abaixos do minímo justicando-se com o "há mais quem queira".

A Saúde e a Educação atingem minímos históricos na sua qualidade. O capital estrangeiro invade-nos para comprar ao desbarato as empresas ligadas aos transportes, às telecomunicações, à energia, querem privatizar a água e dar-lhe o mesmo destino...
Li há poucos dias uma notícia sobre um aeroporto em Espanha que havendo custado 450 milhões foi agora vendido por 10 mil euros. E de repente fez-se luz e pareceu-me haver descoberto finalmente o "porco"!

Não existe uma Comunidade Europeia. Existe é uma Europa liderada por um Cérbero, o cão demónio de três cabeças. No centro, a Germânica, ladeada pela Inglesa e Francesa.

Que o que aconteceu ao longo destes 30 anos começando pela diminuição da capacidade produtiva que resulta que a auto-suficiência seja impossível, à dívida que aumentou exponencialmente com os empréstimos e com o aumento (tantas vezes redundante) de importações, às crises cíclicas e aos sacrifícios impostos à população que serviu para a enfraquecer, talvez não seja mais da implementação metódica e paciente de uma estratégia que, quem sabe, não culminará agora com o grupo dos "pequeninos" no qual nos enquadramos, a pagarem ad eternum tributos feudais ao triunvirato que se auto-proclamou cabeça da Europa, e a ficarmos despojados de todo e qualquer património por uma simbólica fracção do preço de custo?







segunda-feira, 20 de julho de 2015

Vida de cão #25: Kiko na Feira Quinhentista



Durante a semana passada, entre Quinta e Domigo, ocorreu mais uma edição da Feira Quinhentista em S. Pedro de Sintra.
É um evento que, para meu agrado, se vem repetindo todos os anos, pois adoro Feiras Medievais.

Do que mais gosto desta feira medieval é que, em todos os anos, há sempre um pormenor que a torna melhor que o ano anterior.

Gosto de todo o conjunto formado pela animação de rua - os actores trajados com laivos de caricatura que se vão metendo com os visitantes, os malabaristas que brincam com fogo, os músicos; com as barraquinhas de artesanato, especialmente aquelas onde se demonstram os ofícios, como no caso do cesteiro. Dos comes, ou não fosse eu daquelas pessoas que se atraem pelo estômago. Se bem que este ano dei pela falta do cantinho das Filhós de Antigamente.
Dos animais: da rapariga que passeava um bando de gansos amestrados, que a seguiam como um rebanho, obedientes ao som do apito.

Este ano levámos o Kiko connosco. Por toda a profusão de estímulos já sabiamos que iria ser uma experiência excitante. Não gostou muito do barulho, mas em compensação adorou os cheiros que chegavam dos grelhadores e fornos de pão, assim como a quantidade de pessoas em seu redor.
O ponto alto da tarde foi um momento que nem nós poderiamos antecipar: tornou-se amigo de um porco. O porco Simão que pensa que é cão.
Sim, um porco! Daqueles cor de rosa com nariz de tomada. Cheiraram-se e deram ambos à cauda. O Kiko com a sua cauda espanador, e o Simão a abanar o saca-rolhas.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

sabedoria dos intas em 10 segundos #37



Ontem, quando fui a um dos estabelecimentos de comércio local aqui do burgo, mãe e filha eram as únicas clientes para além de mim. O casal de comerciantes comenta que em breve haverá mais comércio na rua, com a abertura de uma nova loja. Focam os comentários no quão será bom para todos os comerciantes haver mais um ponto de atracção, e quão mais cómodo para os clientes a existência de mais oferta.
Será uma peixaria que ocupará o lugar do que foi, já por duas vezes, também uma peixaria, mas obviamente sem grande sucesso.
Os comentários da filha centram-se unicamente nas trombas e antipatia de uma funcionária do antigo espaço. Acho piada à forma como o faz: usa exactamente o mesmo tom e trejeitos que tão critica em fulana.
A mãe vai buscar, sabe-se lá porquê, a história da vizinha sicrana que, no outro dia e em cinco minutos lhe contou mais da sua vida do que em vinte e cinco anos de vivência a paredes meias. A dupla criticava a abertura da mulherzinha em contar-lhes pormenores da sua vida - tanto que falava Sicrana! Conhece Sicrana? - sem se coibirem de enunciar os mesmos fragmentos da intimidade da outra.
Ai, tanto que falava Sicrana! - queixavam-se. Enquanto isso a fila não andava, pois mesmo com os víveres já aviados, mãe e filha não se calavam.
A audiência forçada não tossia nem mugia, em constrangimento, a não ser para soltar um "pois", um "ai, sim?", que são como os sorrisos amarelos das expressões.

Enquanto caminhava para casa lembrei-me de quanta verdade há na expressão que diz que quando apontamos um dedo a alguém, ficamos com quatro apontados a nós. Que o que dizemos dos outros revela muito mais sobre nós mesmos.
Que conhecemos tão pouco de nós próprios que é fundamental que o próximo sirva como espelho. Que aquilo que mais nos pica e nos incomoda em pessoa alheia, que temos tendência a criticar, são exactamente as nossas maiores falhas. Que assim sendo, criticar o próximo é acima de tudo um exercício de autocrítica que todos nós, sem excepções, fazemos.


segunda-feira, 13 de julho de 2015

cromices #82: Paprika, paprika, imensa paprika!



Ora bem, estava eu à volta dos tachos, a cozinhar para o povo cá de casa, e dou por mim à procura da paprika.
De repente senti-me tão parecida com esta "senhora".





sexta-feira, 3 de julho de 2015

coisas de opinar: Mães, mais do que nunca, sinto-me solidária convosco!



Por uma imensidão de afectos, de cuidados, de responsabilidades sinto-me muito mais "mãe" do Kiko, do que dona, (termo com que nunca simpatizei, para dizer a verdade).
Bem sei que ter focinho, cauda e quatro patas fá-lo diferente dos vossos miúdos. Especismos e mil diferenças à parte, tenho descoberto e vivenciado uma imensidão de paralelismos. Uns deliciosos, outros nem tanto.

Um exemplo particularmente chato, (e que tenho a certeza absoluta que o vão reconhecer e concordar com o quão chato é), é que a partir do momento em que passei a ter um cão descobri que estou rodeada de experts em cães, todos muito opiniosos e seguros da validade e certeza das suas opiniões.

E eu, que nunca tinha tido um cão na vida, dou por graças a Deus ter dois dedos de testa e verdadeiras profissionais e entendidas na matéria a quem posso e devo recorrer para retirar dúvidas como a nossa treinadora e veterinárias. Ou seja, como o pessoal docente e pediatras dos vossos miúdos.

Geralmente gosto que as pessoas partilhem comigo as suas experiências. Na maioria das vezes retira-se sempre um ensinamento de valor, mais que não seja para retirar uma elação sobre o que não fazer, e por isso fico grata pela disponibilidade dos outros em partilhar as suas vivências.
Ou, para dizer a verdade, tento em todas as vezes lembrar-me de ser grata e gentil. Sorrir sempre mesmo quando por dentro penso "Sim, sim! Deve ser deve, isso e sopas!"

Depois há dias, como hoje, em que o pavio anda curto, em que não há mais que uma migalhinha de pachorra. Em que despedirmo-nos e prosseguir caminho sem mandar ninguém à merda é um feito extraordinário. Em que não há capacidade para sorrir ao ouvir disparates.
É que o Universo vive em constante equilíbrio e por tal, por cada coisa de valor que repartem connosco temos de aguentar com uma monumental laracha.


Imediatamente lembrei-me das minhas amigas mães, de como parece impossível sair à rua sem que sejam interpeladas por alguém que faz tudo por lhes impingir pontos de vista e verdades absolutas sobre como se criam filhos. Que são tão experts na matéria que olhar a criancinha de relance vale mais do que meses ou anos de convivência diária por parte da família ou que a opinião dos profissionais que as acompanham.


Como ainda tenho que levar o Kiko à rua mais umas quantas vezes e já estou com os azeites até me benzo. Googlei e descobri que a Santa Padroeira da Paciência é a Santa Rita. Vou já fazer umas rezas e pelo sim, pelo não, hoje escolho passar só por ruas em que não haja vivalma.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

coisas de pensar: "Cada Animal Preso no Circo tem uma Cara"












sabedoria dos intas em 10 segundos #36



Repousa ali na estante um livro sobre centenas de formas de cozinhar bacalhau. E eu que gosto de bacalhau sem o adorar, receio precisar de várias vidas para tantas receitas, portanto retiro dali outras lições. Que existem muitas formas de lidar com os bacalhaus que a vida nos dá. Que é tudo uma questão de gosto pessoal.
A grande lição do bacalhau reside em facilmente entendermos que seria uma imensa tolice iniciar-se uma qualquer picardia ou guerra entre quem o prefere à Gomes de Sá e quem se convence que não há bacalhau como o à Narcisa. Talvez um dia essa tolerância se estenda para além do prato.

Quando os homens falam de amor #58