terça-feira, 29 de setembro de 2015

vida de cão #31: Qualquer dia o homem morre do coração!


Por norma sou a última a adormecer. Os membros masculinos cá do clã são mais susceptíveis aos poderes do João Pestana, especialmente após o jantar.

Não é preciso dizer que ambos adoramos o Kiko e de que maneira! Existe reciprocidade e é algo tremendamente bom de se sentir. Mas há uma pequena diferença: o Kiko gosta muito de mim, mas adora o meu marido. Não há humano no mundo como o paizinho! É uma adoração, um amor, um êxtase que só visto!

Um dos efeitos secundários de sermos objecto de tamanha adoração é que é coisa para nos dificultar o sono. Isto porque o Kiko sobe para o sofá e depois de o impedir, em surdina, que suba para cima da cara do seu "adorado paizinho", agora adormecido, lá acede deitar-se mas num estado híper alerta. Não desvia os olhos uma única vez do meu marido e eu sei que mal este mova, o que eventualmente acontecerá, será atacado pela fera à lambidela.

Mal este se moveu a resposta foi imediata, o que resultou numa mistura de cão totalmente eléctrico e uma pessoa a acordar sobressaltada, atacada em pleno sono.

Se eu podia ter evitado? Claro! Mas não era a mesma coisa.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

vida de cão #30: O chamamento da matilha



Marido liga-me, como de costume, quando sai do emprego. Desde que temos o Kiko estas são mais do que chamadas telefónicas. São autênticas teleconferências vividas a três.

Pergunto-lhe se posso ir tirando o café da praxe, com que o recebo em casa num ritual de descompressão que serve também para partilharmos algo sobre o nosso dia.

Hoje o café teria que esperar mais um pouco. Culpa do trânsito, essa grande maleita da nossa era!

O puto, sempre atento à conversa, desata a uivar, no seu modo ainda meio desajeitado de quem ainda não domina totalmente a coisa.

Dizem que o uivo serve para chamar membros da matilha que estejam longe, o que tendo em conta o contexto não poderia ter sido mais bem metido! E só prova que o Kiko percebe muito melhor o "humanês" do que nós o "canês".



quinta-feira, 24 de setembro de 2015

vida de cão #29: O acessório mágico que facilita dar banho ao cão




O patinho de borracha faz magia na hora do banho, já dizia o Egas.

De nada. ;)

caixa de ressonância







cromices #89: A Maya dos estacionamentos



Dizem que todas as mulheres são feiticeiras, que há um pouco de bruxa em toda a gente.

Comigo, esse adágio revela-se na hora de estacionar, de tal forma que já temos um jogo para quando estamos a chegar a casa.

- Achas que temos lugar? - pergunta o marido ainda a uma boa distância do destino.

Respondo, totalmente convicta e segura. Ele duvida. Duvida sempre - "tens a certeza? Já estou a ver tantos carros estacionados! Sabes que a esta hora...". E eu asseguro-lhe que sim. Ele torce o nariz mas nunca resiste a ver se acertei na minha previsão. Confesso que nem eu resisto.
E geralmente acerto, em cerca de 90% das vezes o que me parece uma média brutalmente boa. Como ontem que lhe disse que estaria o "nosso lugar do costume" à espera e lá estava ele, o único na praceta.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

cromices #89: Sobre as tampas ou visita ao passado



Nada mais justo do que falar também sobre as tampas que levei. Sobre estas o que tenho a dizer é que deveria ter levado muitas mais, ao quadrado, ao cubo!

É que passados todos estes anos não são as tampas que recordo - aliás, ou estou a ficar totalmente esclerosada ou estas acabam por ser tão irrelevantes que preciso de um esforço hercúleo para recordar e mesmo assim sem grande sucesso.
O que me vem à cabeça é um ou outro nome de quem, enquanto miúda, nunca tive coragem de convidar nem sequer para um café.

Eventualmente ultrapassei o medo das tampas. Um medo, que como qualquer outro, depois de ultrapassado torna-se risível.

Mesmo assim, imagino-me a viajar até ao passado, numa visita aquela jovem estudante de liceu de cabelos longos, botas da tropa, jeans justos, camisa de flanela aos quadrados e blusão à motard, tipo e.t. a entrar-lhe pelo quarto dentro no meio da noite, ao melhor estilo sci-fi.

Assegurar-lhe-ia que não se deveria ralar com o futuro, que o futuro vai de boa saúde, risonho e até vem com marido e cão incluídos, os melhores do mundo.
Que trate melhor do seu presente, o meu passado. Que boas notas e decidir uma carreira profissional acabam por ter, com o passar dos anos, uma importância menor que aquilo que nos define como pessoa. Que não há que ter medo algum de levar uma tampa, quando muito esta ensina-nos a ser mais gentis com quem no futuro estiver no mesmo lugar que um dia ocupámos e, que eu saiba isso é tremendamente positivo.
Que a partir da manhã seguinte fosse corajosa que convidasse "aquele alguém" para um café e aproveitasse a oportunidade para o conhecer melhor, os seus gostos, sonhos, ambições, o que têm em comum e as diferenças. Que fizesse o mesmo, todos os dias, até conhecer todos os colegas de turma, todos os outros alunos do liceu. Que escrevesse sobre a experiência, que a abraçasse como um projecto. Todas as pessoas são genuinamente interessantes a partir do momento que as olhamos com genuíno interesse.
Garanto-te, miúda, que será incrível! - diria eu, com um piscar de olho, enquanto voltaria para a minha máquina do tempo.






segunda-feira, 21 de setembro de 2015

cromices #88: O grande papel de Platão na vida amorosa.



Quem é que nunca levou, ao longo da vida, algumas tampas e deu outras tantas?!

Teria eu cerca de dezasseis anos quando um amigo se declarou. Longe de me achar a última bolacha do pacote disse-lhe que daria a resposta no dia seguinte. Não porque precisasse de reflectir sobre os meus sentimentos em relação à pessoa que, tão simplesmente não existiam no plano por ele pretendido, mas precisava de ganhar tempo para pensar como haveria de descalçar aquela bota.

Dar tampa é fácil. Mas fazê-lo sem ferir susceptibilidades é uma arte que ainda muitos desconhecem e não dominam. Ao longo da vida olharemos e seremos olhados amiúde com interesse passional, romântico, sentimental. Nem sempre os planetas se alinharão para dar origem a uma história de amor portanto devemos cultivar modos gentis também nestas ocasiões.

Chegado o dia seguinte e como já é costume na minha vida, salvar-me foi uma questão de improviso.
Lembrei-me de Platão. Mais precisamente do conceito de amor platónico e desato, também eu, numa declaração amorosa. Que sim, também eu gostava muito dele, mais do que ele poderia imaginar... mas como irmão. Pois se me imaginasse tendo um irmão seria como ele, ou melhor, ele. Sim, ele seria o irmão perfeito! Olhá-lo com olhos que não o do amor fraternal, beijá-lo, seria algo de incestuoso. Impossível! (Sim, a dramatização e a lábia é um dos meus poucos dons inatos). Que não era ele, mas eu. (Sim, o velho chavão já vem de há muitos anos atrás).

A verdade é que me safei, (pelo menos suficientemente bem para alguém tão verde), da bota e de ferir um amigo. Ganhei um novo amigo: Platão. Recomendo.
Foi-me útil em mais ocasiões e despoletou em mim uma veia criativa nesta arte dos desenlaces.






caixa de ressonância






Vida de cão #28: Oh puto, larga a erva!



Perdoem-me os mais sensíveis o linguajar mas, o cabrão do puto, que por vezes não merece outro nome, (começo a achar que os cães quando completam o 1º aniversário transformam-se em adolescentes com tudo o que isso implica!), hoje arranjou-nos um trabalhinho bem jeitoso.

Ora Sua Excelência anda com a mania, em quase todas as manchas de verdura que encontra, de cheirar e regar as ervinhas. Até aqui nada de estranho. Aliás, até faz parte do que se espera do comportamento de um cão. A questão é como o faz e, com isto refiro-me à parte olfactiva da coisa: não vai de modos e enfia lá o focinho sem qualquer pudor e com uma intensidade como se quisesse aspirar este mundo e o outro pelas narinas.
De vez em quando isso resulta em alguma coisa agarrada ao focinho.
Para nosso azar - meu e dele - hoje apanhou as ervas mais chatas de todo o sempre. Não sei dizer que ervas são, mas parecem-se com espigas verdes cheias de muitas dezenas de bolinhas que se agarram ao pêlo e o embaraçam de uma maneira que parecia que o puto tinha ninhos de ratos ao lado do nariz.

Foi mais de meia hora só para conseguir tirar os caules e conseguir desembaraçar e libertar um dos lados. Levou recompensa por me deixar mexer no pêlo, embora não estivesse totalmente quieto, mas mesmo assim mereceu-a porque sei que, mesmo com o máximo de cuidado, ainda lhe deve ter doído um bocadinho.
Agora uma pausa bem merecida para ambos e daqui a nada vamos tratar do outro lado.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Hoje o Kiko faz 1 ano!



Bastou, naquela manhã de Novembro, olhar para o Kiko durante um par de minutos para ambos o reconhecermos como nosso.
É que uma família é uma espécie de Alma Maior, uma junção de várias Almas, um sol com muitos raios. E é como este puto de quatro patas tivesse nascido com o propósito de fazer parte da nossa, como se estivesse predestinado.

Esperavam-nos, numa pequena cerca, três pequenos Jack's - dois meninos e uma menina. Eléctricos, felizes, a transbordar de vida e a quererem interagir connosco.

O Kiko era o único de pêlo cerdoso, o mais rechonchudo, o com a mancha à pirata no olho, o mais calado e o único que não tinha a cauda cortada, simplesmente porque o elástico tinha caído. Para nós era importante não ter um cão com cauda cortada porque somos contra este e outro qualquer tipo de mutilação. E salvo situações específicas em que o veterinário aconselhe o procedimento, se se fizer algo do género com fins estéticos, há-de ser sempre visto, por nós, como uma mutilação, e não alinhamos nisso.
Tomámos esse sinal como a certeza que aquele era o nosso Kiko. Como não entender assim se durante a viagem havíamos falado desse pormenor, e ali estava, cão de cauda e alma inteiras por uma casualidade?! É que coincidências não existem.

A partir dessa manhã de Novembro, todos os dias nos reconhecemos, raios do mesmo sol, fragmentos da mesma Alma Maior, Família.

Hoje é o teu 1º Aniversário, meu filho de quatro patas e um coração do tamanho do Mundo. Amo-te!







terça-feira, 15 de setembro de 2015

coisas de opinar: As minhas 5 palavrinhas sobre o futuro da Síria


Existe um cartoon escrito por Audrey Quinn e ilustrado por Jackie Roche que tem corrido mundo.
Intitula-se "Syria's Climate Conflict" e explica de uma forma sucinta e clara as origens de todo o conflito sírio e de como escalou ao ponto de se tornar uma crise com implicações tão extensas.

Já não me recordo como, ou através de quem, tomei conhecimento deste cartoon mas, foi-me de uma tremenda serventia para ficar a saber um pouco sobre um país, o seu povo e este conflito.

Há traços que nos distinguem enquanto pessoas. Um dos meus traços é que não resisto a pensar numa solução quando me deparo com um problema. Infelizmente não será tão útil quanto ser alguém que avança e mete as mãos na massa, mas é assim que sou.

Fiquei a remoer no tal cartoon, em toda aquela informação. Quando se fala em mais de 4 milhões de sírios que procuram refúgio noutros países, e dos mais de 7 milhões que se movimentam dentro das fronteiras sírias na tentativa de fugir da violência, temos uma ideia da proporção de todo este horror, da urgência da necessidade do apoio das restantes comunidades internacionais no tempo presente mas, também, na necessidade de pensar no futuro, de forma a poder devolver aos que tiveram que fugir, aquela que é a sua terra.

Sem mais delongas, as 5 palavrinhas que definem o processo de um melhor futuro para a Síria são:

Paz - o essencial primeiro passo.

Democracia - como já disse alguém, não perfeita, mas bate aos pontos um qualquer ditador.

Dessalinização - Mais uma vez o Mar Mediterrâneo teria um papel determinante nesta história, mas desta vez como fonte de água potável, (obtida através deste processo), possível de ser usada para consumo humano, animal, para irrigação de culturas. O sal obtido no mesmo processo poderia ser comercializado, quiçá mesmo exportado, e ser mais uma fonte geradora de emprego e rendimentos.

Florestação - Plantar árvores numa zona árida pode parecer um contrassenso, mas é um gesto que pode ajudar e muito a transformar totalmente um ecossistema, a regredir a desertificação, a combater a seca.
Um exemplo de que isso é possível é a história de  Yacouba Sawadogo, o homem que plantou uma floresta no deserto do Burkina Faso. Fica aqui o link.

E por último, Hidroponia. Conceito que aqui já falei como sendo uma das coisas que realmente gosto, por ser, também, uma solução perfeita para o cultivo de alimentos em zonas áridas, pois precisa de uma pequena fracção da água normalmente utilizada na agricultura.


Esta é a minha visão.










quinta-feira, 10 de setembro de 2015

cromices #87: Pavlov e a noiva ou ainda bem que hoje é o meu aniversário



Ontem, na caminhada da praxe pelas falésias, vimos, um pouco mais além na praia, um casal de noivos trajados a rigor acompanhados do fotógrafo em busca do enquadramento perfeito.

Ver uma noiva composta no seu vestido como manda o figurino provoca-me uma reacção pavloviana: dá-me umas ganas de comer bolo de tal maneira que parece que encarno o espírito da Maria Antonieta.

Ainda bem que hoje é o meu aniversário, o que me dá a melhor das desculpas para abusar de doces.