quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Vida de cão #42: As minhas figuras tristes...



Continuo a stressar como tudo quando nos cruzamos com cães soltos. Então quando estes não estão na companhia dos donos é o histerismo total.
Há muito boa gente que me diz que se o cão anda solto por aí então é porque não faz mal. A esses só me apetece esfregar na cara a última notícia sobre o pit bull que matou, em plena via pública, um caniche. Atenção que eu não descrimino os animais por raça, para mim qualquer animal à solta é uma potencial ameaça. É claro que, maior a bocarra maior a dentada. Mesmo que seja um cão normalmente amável, há sempre a hipótese de acontecer algo, afinal nem nós humanos, com toda a nossa racionalidade e modos gostamos de todos os que nos rodeiam, e é um risco que eu não quero correr. Gosto demasiado do meu Kikinho e seria um tremendo choque para mim se não o conseguisse proteger de uma desgraça.

Gosto igualmente de cães e gatos, mas acho que tenho uma felina maneira de ser. Olho para um gato, mesmo que não o conheça, e consigo lê-lo e comunicar. Os cães ainda são para mim uma incógnita. Quando um cão vem na nossa direcção não consigo mesmo descodificar a sua postura, então aplico sempre a mesma resposta: evitar os encontros, optando por outro caminho, ou enxotá-los.

Prefiro sempre a primeira hipótese, porque se tiver que enxotar um animal é certinho como o destino que farei uma figura triste, e uma bastante pública.
É que já me apercebi que os cães não se sentem intimidados por mim, muito provavelmente nem me respeitam. Normalmente sentem-se atraídos pelas minhas figuras, o que é uma maçada.

Ao longo do tempo tenho improvisado algumas "técnicas" que não aconselho a ninguém:

1- O suborno:
Saio sempre com o meu saquinho de treats à cintura. Na primeira vez em que aconteceu passar por uma rua e haver um cão que saltou o portão para vir ter connosco, a minha reacção foi correr rua acima com o Kiko, ainda bebé, ao colo. Simultaneamente ia soltando uns guinchinhos enquanto atirava ração na direcção do outro cão.
Por sorte resultou, mas não aconselho.


2- A Exorcista:
 Quando me sai um vernáculo tipo "Xô! Vade retro! Vai-te embora, cão do demo! Oh criatura, xô!


3- Edição Especial Gandalf:
A regra que arranjámos é que enquanto um leva o Kiko à trela, o outro na aproximação de um cão desconhecido à solta, mete-se à frente e evita a aproximação.
"Não passas!" - é coisinha para me sair pela boca.


4- A Ave de Rapina:
Basicamente a última vez que me tive que meter entre o marido, que levava o Kiko, e um cão, calhou abrir os braços e abaná-los, qual ave prestes a levantar vôo. Porquê? Não faço ideia.
Acho que o outro cão parou porque achou a cena muito estranha. Não foi o único.


5- A Mandona:
Quando tenho a esperança que o outro cão obedeça a comandos tipo "Casa! Vai para casa!"


6- A versão "passada" ou "todo o mundo me deve e ninguém me paga":
"Oh puta de vida! Mas agora tenho que levar com esta merda sempre que saio?! Se o filho da puta do teu dono fosse pró caralho, pá! Raios partam esta gente que só pensa em si! Filhos de uma grande puta, pá! Ai que nervos!"


7- A "ainda mais" Histérica:
Esta foi a mais recente. Quando os "xô", "não", "vai-te embora" não resultaram e o cão se aproximou de nós, eu que sabia que o dono estava na esplanada do final da rua, comecei a gritar a plenos pulmões: "Importam-se de chamar o cão?". Resultou.


8- Salvos por uma unha:
Depois de um cão nos perseguir estávamos no ponto em que eu servia de barreira ao Kiko, a tentar afastar o outro. Este continuava a aproximar-se devagarinho, a rosnar e eu já via a nossa vida a andar para trás. "Vá lá cão, vai-te embora. Não sejas mau. Por favor, não me obrigues a fazer algo que eu não quero! Olha que se nos atacas levas um biqueiro que eu viro-te do avesso!"
Continuava a rosnar e a aproximar-se. O Kiko entrou no registo de "protector da mãezinha" e começa a ladrar, e eu no meio. Quando paniquei por completo, naquela rua deserta de onde via o meu prédio, comecei aos berros a pedir socorro e a chamar pelo meu marido. É óbvio que era impossível ele ouvir-me. Valeu-nos uma das vizinhas de outro prédio, que ao dar pela algazarra, abriu os estores o que serviu para assustar o outro cão.

9- Em fuga:
Um dos muitos motivos porque gosto de ir passear o Kiko para o pé da clínica veterinária é que posso sempre fugir lá para dentro.
Às vezes consigo disfarçar, e depois de cumprimentar toda a gente, pergunto se posso pesar o Kiko.




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