segunda-feira, 27 de junho de 2016

Do registo onírico #3: Do sonho para a recordação, ou a mulher de barbas falsas.



Há umas semanas tive um sonho assim um bocado para o estapafúrdio: era repórter de guerra, e lá estava eu, na companhia do meu repórter de imagem, em pleno coração de uma qualquer cidade do Médio Oriente a fazer um directo. Envergava roupas de homem e umas barbas falsas, e a reportagem começava comigo a explicar que, por uma questão de segurança, tinha que andar disfarçada. Foi algo cómico e fez-me recordar o icónico "It is I, Leclerc" do " Allô, Allô".

O resto do sonho foi tipo um filme de acção com violência à mistura. A adrenalina e o medo eram palpáveis.
Para além de todos os riscos que alguém presente no centro de um cenário bélico enfrenta, sentia que o nosso pavor residia em sermos jornalistas ocidentais, com a agravante de um ser do sexo feminino, e o que nos aconteceria se fossemos capturados pela facção radical. A nossa sobrevivência dependia directamente da nossa capacidade de sermos discretos, portanto não envergávamos nada que nos identificasse como repórteres, optando pelo que disfarçasse ao máximo tudo o que pudesse atrair atenções indesejadas sobre nós, como a nossa ocidentalidade.
Após a recolha de imagens e a transmissão do directo à frente do tradicional cenário de tempestade balística, o grande desafio era regressar à base, que partilhávamos com mais uns quantos jornalistas: um abrigo subterrâneo cuja entrada era por um alçapão escondido nas traseiras de um edifício. O bunker estava ligado por um sistema de túneis cuja entrada era através de alçapões disfarçados em vários pontos da cidade. Para não sermos descobertos ninguém usava duas vezes seguidas a mesma entrada.

O nosso grupo de jornalistas, ao contrário do que é esperado, andava armado e tinha treino militar.
No caminho para o bunker, pelas vielas apertadas, entre paredes cor de areia, matei um soldado. Espreitei antes de dobrar aquela esquina, e vi a forma como se aproximava, armado, de uma rapariga de burka que choramingava, sentada no chão, costas encostadas à parede, encurralada. Levava a metralhadora a tiracolo. Aproximava-se, mãos a tocar na fivela do cinto. Confiante e desprezível. Aproximei-me por trás. Golpeei a carótida. Mal este caiu de joelhos no chão e olhos muito abertos, o repórter de imagem lançou-se sobre a rapariga. Com um indicador encostado à boca pediu-lhe silêncio. Ela meneou a cabeça afirmativamente. Ajudou-a a levantar-se e mandou-a para casa na Língua dela.
Arrastou o corpo para o interior de algo parecido com uma tulha, e prosseguimos caminho antes que aparecesse a próxima patrulha.



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