terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Vida de cão: É tão bom quando a minha "maluquice" serve para algo...



Há umas semanas, durante um passeio nocturno com o meu marido, o Kiko foi atropelado numa passadeira. Felizmente foi "só" uma pancada. Felizmente o carro vinha devagar, e o Kiko não ficou com nenhuma mazela física do sucedido, como foi comprovado na clínica.

Digo "só", porque quando nessa noite os dois chegaram a casa num estado de nervos que só visto, o marido mais pálido que um fantasma, e eu só conseguia pensar em como o desfecho poderia ter sido bem pior. Como poderia ter ficado sem o meu filho-cão, ou até ambos, e senti-me incrivelmente grata por os ter ali comigo. Porque infelizmente há histórias assim, com finais infelizes, porque por um motivo qualquer um condutor decide não parar na passadeira. E eu cruzo-me com dezenas desses indivíduos por dia.

Na altura, quando desabafei o sucedido no meu face, fui sincera na minha expressão de gratidão, e em alguma compreensão para com os condutores. Afinal só se é perfeito em alguma coisa não a fazendo, porque na prática não há ser humano que não cometa erros. A civilidade requer alguma indulgência e empatia, sobretudo se a prioridade é inspirar a fazer melhor.

Para ser totalmente franca, a minha relação com os condutores que não param nas passadeiras é ambígua: obrigo-me à tal postura compreensiva e flexível, mas é muito difícil manter-me nessa frequência zen quando todos os dias atravesso n ruas, e lá ficamos, eu e o Kiko, parados à frente da passadeira, mostrando a nossa intenção de atravessar e a grande maioria dos condutores simplesmente opta por nos ignorar e seguir.
Sendo como sou, enquanto não aprendo a ser melhor, é claro que coloco o sorriso, o apelo ao cuidado e à concórdia e o zen no bolso e desato aos berros: "Oh filho de uma grande puta, a passadeira não é só para enfeitar, otário!"

E isto não é nada! Porque no dia que eu me fartar de vez começo a fotografar ou a filmar as transgressões e a fazer queixa na polícia. Da mesma forma que acharia muito bem que fizessem o mesmo aos peões que se atiram para a estrada impulsivamente sem qualquer respeito pelas regras de segurança, ou que ficam na converseta em frente às passadeiras, deixando os condutores na dúvida e em sobreaviso.

Retomando o fio à meada...

O meu Kiko não ficou com mazelas físicas, felizmente, mas este episódio traumatizou-o.
Daí também tanta hostilidade da minha parte para com os infractores. Porque há muito boa gente que considera não parar numa passadeira uma coisa menor, algo sem importância, mas por causa da distração, da preguiça em parar, da pressa, ou seja lá qual tenha sido o motivo daquele condutor, agora somos nós que temos que lidar com a batata quente. Algo tão fácil de evitar se meterem na cabeça que as regras foram definidas com um propósito claro e em nome da segurança de todos há que segui-las.
É uma lição de vida que se aplica a muita coisa: a irresponsabilidade de uns sobra sempre para terceiros.

Para começar, o Kiko quando levou a pancada, (que não tendo deixado marcas magoou-o, e não deve ter sido pouco), estava a olhar para o meu marido, então na sua cabecinha associou o evento ao paizinho.
E embora saibamos que com carinho, treino, tempo e persistência a coisa voltará ao normal, é muito mas muito triste lidar com um cãozinho que nos primeiros dias após o evento mostrava algum receio do seu paizinho, e a natural tristeza do meu marido, que tal como eu o adora como um filho.
Que especialmente à noite, (por ter sido o período em que ocorreu), saía à rua sempre assustado, com pavor da rua onde se sucedeu e a querer voltar para casa após menos de dez minutos na rua.

Semanas depois temos ainda muito trabalho pela frente.

As brincadeiras com a bola num dos jardins da aldeia com o meu marido ajudaram bastante, assim como muitos dos passeios nocturnos terem passado para mim.
Levo sempre um saquinho com bocadinhos de ração com que o suborno para seguirmos caminho, e uso a minha "maluquice", que quem diria, nos tem ajudado tanto.
O que chamo "maluquice" não é nada mais que ir falando com o Kiko durante todo o passeio, em voz alta e com o tom mais efusivo e alegre que sou capaz. Celebro tudo o que ele faz, desde os chichis, ao cocós, aos comandos que ele obedeça, ao manter-se calmo e feliz, etc, como se o Kiko tivesse ganho um Nobel mas com a energia própria de um concerto dos Rolling Stones:
"Bravo! Que lindo pipi"; "Que cocó maravilhoso, Kiko"; "Que corajoso! Que lindo! Que forte!"; "Uau! Boa Kiko!"; "Yeah! Maravilhoso! É assim mesmo!".

A cada elogio feito, o Kiko empina a cauda e o peito, e segue todo pimpão enfrentando medos.








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