terça-feira, 26 de dezembro de 2017

cromices #157: Nada como um post altamente sexista dentro da quadra natalícia



Não passa um único dia em que não seja noticiado mais um qualquer estudo, com mais ou menos credibilidade, mais ou menos importância, mais ou menos palerma, mais ou menos óbvio, sobre preferências, insights, o que faz bem e o que faz mal, etc.

Dia 18, a revista Visão, noticiava um destes estudos num artigo intitulado "Mulheres sofrem mais de problemas mentais do que os maridos a vida quase toda. Até que eles morrem..."

Fiel à croma que sou, foi inevitável lembrar-me de todo um compêndio de piadas e historietas alusivas ao tema e desbragar-me a rir.
Da entrevista a uma senhora que, já tendo ultrapassado as cem primaveras, com uma invejável saúde e lucidez, em que esta confessava que o segredo para tal longevidade era fugir do álcool e dos homens.

Da graçola que "eles" costumam dizer sobre "elas" falarem muito, ao que "elas" respondem que isso só acontece porque têm que repetir a mesma coisa meia dúzia de vezes até serem ouvidas.

Das milhentas piadolas feitas por mulheres sobre o seu quotidiano em que comparam os maridos a mais um filho, ao facto de nunca saberem o lugar de nada nas próprias casas, de precisarem quase sempre de assistência mesmo quando supostamente estão a executar uma qualquer tarefa sozinhos...

Do bizarro e cómico episódio que, por ser tão inusitado, a minha mãe nunca esqueceu, mesmo tendo-se passado quando esta era uma pequena criança, numa aldeia do interior, e que é mais ou menos assim:
Após o velório de um idoso da aldeia, a minha avó e a minha mãe tiveram que retornar à casa da família onde este tinha decorrido, porque se tinham esquecido de algo. Foram dar com a velha viúva  a dançar e a cantar.

Clichés, piadas, e toda a minha cromice e sentido de humor retorcido à parte, existe realmente a conclusão do tal estudo divulgada pelo citado artigo, efectuado pelo serviço nacional de saúde britânico, com uma amostra de 8 mil pessoas, em que a saúde mental das mulheres começa a melhorar por volta dos 65 anos, mas atinge o seu auge a partir dos 85.
A explicação para tal parece ser a ausência de responsabilidades domésticas e de ter que cuidar dos outros, sejam filhos, netos, familiares idosos, maridos. A influência mais que positiva que a ausência destas preocupações tem na saúde dá-nos material para reflexão.


sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

caixa de ressonância





coisas sobre mim: A primeira coisa comprada



Ainda se lembram da primeiríssima coisa que compraram com o vosso primeiro salário?

Eu lembro.

Anos 90. Na loja de música que havia (há?) no Túnel do Tamariz, o album "K" dos Kula Shaker - o título que iniciou a colecção musical adquirida com o meu próprio dinheiro. O segundo e terceiro álbuns que adquiri foi dos Led Zeppelin e dos The Cult.

Ainda hoje adoro esses álbuns e bandas.





Um par de calduços para... #1: A "velha chata" e a distribuição de calduços.



O meu marido profecia que irei ser uma velha chata, uma daquelas muito difíceis de aturar, senão impossíveis.
Eu digo-lhe que está a ser simpático, pois já nasci assim, e é uma condição que piora exponencialmente de ano para ano.

Não há tratamento possível. É uma condição genética que herdei sobretudo do meu pai. Está-nos no sangue a incapacidade de ficarmos impassíveis, de não demonstrar, quando algo nos mexe com os nervos. Até não seria nada de especial, não fosse gigante a lista daquilo que nos enerva.

Como tal, e porque não tenho qualquer desejo de ser a pessoa que anda a distribuir brutas festinhas nas nucas de estranhos por este país fora, mais vale satisfazer este ímpeto de forma virtual e somente imaginada, através desta nova rubrica.

O primeiro par de carinhos no cachaço vão para as pessoas que, estando a transitar numa berma estreita, mesmo quando se cruzam com mais alguém, preferem continuar lado a lado, para não perder um minuto de conversa, do que se colocarem em fila indiana e cederem de forma cívica metade do passeio para quem também faz dali o seu caminho naquele momento, obrigando muitas vezes o outro peão a contorná-las pela estrada.

Encontro muitas destas. Ainda há uns dias me deparei com duas mulheres que vinham, lado a lado, na palheta, e não demonstravam qualquer intenção de se desviarem de mim. Páro mas não me movo do meu pedaço de calçada. Recuso-me a ceder todo o passeio a quem não demonstra ter problemas de idade, locomoção, ou qualquer motivo que realmente o justifique, como ir com um carrinho de bebé.
Fico ali quieta, especada, em protesto silencioso. Mentalmente ecoa "Oh minha besta, ou ganhas asas e passas por cima ou desvias-te!"


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Vida de peixe: Dos móveis para aquários


Desculpem-me os apreciadores, mas se há peça de mobiliário com a qual embirro são os típicos modelos de móveis à venda em lojas da especialidade para servirem de suporte aos aquários.

Não questiono de forma alguma a sua utilidade. Para além da função de sustentação, foram pensados para guardar não só todos os produtos e acessórios do aquariófilo, e todo o equipamento como filtros externos e afins, de forma a ficar tudo arrumadinho e longe da vista.

Portanto não é com a "função" que embirro, mas com a "forma". Não há maneira simpática de o dizer: acho-os feios, ponto.
Sobretudo porque me fazem lembrar mobiliário de escritório, daquele chapa 5. Desde as linhas, à escolha dos tons do folheado, aos puxadores, tudo me faz lembrar algo que se encontra num qualquer canto de uma empresa com uma impressora em cima. Não me traria prazer algum ter um desses na sala e ter que olhar para ele a toda a hora.

Como se diz, gostos são gostos, e não se discutem.

Depois de levar com tanta careta da minha parte sempre que apontava para um desses móveis, o marido aquiesceu que talvez o melhor fosse dar um saltinho à Ikea, para ver se encontrávamos algo que pudesse servir de base ao aquário, e que fosse mais de encontro ao nosso gosto.

A nossa escolha foi a cómoda Brusali pelo toque de rusticidade, naquele branco escovado a contrastar com os puxadores negros.
Todos os cabos do aquário entram por um orifício nas costas do móvel, (que felicidade das felicidades, já vem pensado assim, não foi necessária qualquer bricolagem para além da montagem), para a primeira gaveta, que alberga confortavelmente e esconde da vista todos os interruptores e fichas. A segunda gaveta serve para guardar todos os produtos ligados ao hobby e sobra espaço com fartura.




Vida de peixe: Um guppy chamado Calígula, ou como nos metemos nisto.


Meses atrás o marido finalmente convenceu-me que talvez fosse giro termos um aquário. O sucesso esteve muito relacionado com o facto de ele ter acordado que toda a manutenção da coisa seria unicamente da sua responsabilidade. Que eu posso alimentar os bichos e dar-lhes atenção, e até dar-lhe uma mãozinha, mas que não conte comigo para mudas de água, limpezas de filtros e afins. Simplesmente não é tarefa que me cative, nem considero ter paciência e jeito.
Felizmente ele já demonstrou ter todos os requisitos: gosta de todas essas tarefas, e sai-se bem.

Decidimo-nos por um kit de iniciante: uma coisinha pequena com capacidade para 17 litros, que já trazia luz, termóstato, e filtro. Escolhemos o areão para o fundo. Um par de anubias, que são plantas anfíbias naturais e das muitas espécies existentes as de mais simples manutenção, portanto indicadas para alguém sem experiência. Uma gruta para que a bicharada tivesse um esconderijo, um par de produtos para o tratamento da água - um anti-cloro e umas gotinhas que ajudam à formação de "bactérias boas", essenciais à criação de um bom ecossistema, e o essencial termómetro.

Sei que o meu marido estava de olho em aquários não tão pequenos quanto aquele, mas deu-me razão quando argumentei que sem termos a certeza que iríamos gostar da experiência, ou até se teríamos jeito para a coisa, não valia a pena investir num maior ou mais complicado.

Passadas três semanas com o aquário montado - o chamado ciclo de maturação, - finalmente pudemos ir buscar os seus primeiros habitantes: um par de corydoras bronzeadas, cinco néons e um caracolito, que são espécies pacíficas, dão-se bem em aquários comunitários, e pequeninos, logo adequados a um aquário de reduzidas dimensões.
As corydoras como andam no fundo são excelentes para ajudar a manter o areão limpo, e o caracolito é o limpa-vidros de serviço, pois vai-se alimentando das algas que vão aparecendo.

O meu encanto e interesse aumentou exponencialmente quando os vi em casa, dentro do aquário que lhes havíamos preparado, enérgicos, e até curiosos em relação a nós. Desde o início que os alimento sempre por volta da mesma hora, e acho mesmo giro que saibam que é hora de jantar, que se agrupem e fiquem todos excitados.

Após um par de semanas, quando tivemos que ir comprar pastilhas para o filtro, aproveitámos para trazer mais alguns peixes. Os peixes não devem ser todos colocados ao mesmo tempo, foi-nos indicado que seria mais seguro ir adicionando-os em várias fases. Voltámos com um guppy macho e duas fêmeas (este rácio existe porque os machos são muito chatinhos), e mais um caracolito.

Passado pouco tempo decidimos investir num filtro melhor. É que nos primeiros dias um pequeno néon fez a impensável proeza de se enfiar dentro de um tubo, (ainda ninguém percebeu como), e quando demos por ele já estava morto. Deixámos de confiar no equipamento quando tivemos que ajudar o jovem guppy a desencostar-se das ranhuras do mesmo, e não perdemos tempo em trocá-lo por algo de maior qualidade e que nos parecesse à prova de acidentes.

Devo confessar que houve uma altura em que ambos nos arrependemos de nos metermos nisto da aquariofilia. É que para além daquele pequeno néon, perdemos também o guppy macho, uma fêmea e um caracolito, e ficámos muito desanimados com a perda dos bichinhos.

Respirámos fundo e trouxemos um par de platys e mais um guppy, para que a, agora fêmea, não ficasse sozinha.

Pelo que havia lido em sites e fóruns da especialidade, escolhi um peixinho pequeno, para que fosse jovem, e que fosse activo, como indicador de boa saúde. Um lindo guppy com uma enorme barbatana azul, com subtis traços amarelos e pintinhas negras, muito pequenino mas todo vivaço e enérgico. Aliás, o mais mexido de todos! Acho que os outros guppies devem ter feito uma festa quando se livraram daquele espalha-brasas.

Nunca tivemos a intenção ou sequer esperança de vermos crias. A verdade é que há um par de dias dei conta que já vamos na 3ª geração de guppies nascidos por cá: no total 4 juvenis que ainda não consigo discernir o género.

Mas desde que foi pai, o pequeno guppy para além de continuar a ser incrivelmente chato, passou a perseguir e a investir contra todos os outros peixes. Por essa atitude ganhou o nome de Calígula, e um apartamento de solteiro: uma maternidade onde o colocamos de castigo, para dar algum tempo de paz e sossego a todos os outros.

















domingo, 3 de dezembro de 2017

coisas de jogar: Este acessório vale a pena.


Depois de investir num suporte para o portátil que ajudasse à sua refrigeração - (lembrem-se que um dos mantras no que toca a tecnologias é "refrigerar é prolongar a vida dos equipamentos"), - ocorreu procurar algo do género para a consola.

Encontrámos um suporte para ps4 que, para além da função refrigeração, permite também ter lá os comandos arrumadinhos, e ainda os carrega.

Para além de todas estas óptimas funcionalidades, o que me deixa mesmo encantada, é dizer adeus a ter andar a saltar por cima do fio do comando, para entrar e sair da sala, (sempre que este ficava com pouca bateria havia que se ligar à consola), e que era coisinha para me andar a dar dos nervos.






sábado, 2 de dezembro de 2017

cromices #156: Anacronismo, multitasking ou déficit de atenção?



Quando estou em frente do pc, esta tela não é muito diferente de qualquer secretária que alguma vez ocupei, pelo caos que lhes imponho. As resmas de papéis, blocos e pilhas de livros foram trocadas, (nem que seja momentaneamente), por uma filinha de separadores no topo da tela, onde vou pululando num ritmo algo frenético, que para mim é normal, entre redes sociais, blogue, outros blogues, youtube, uns quantos artigos, um ou outro livro, e sabe-se lá o quê que me apeteça. Num ritmo onde se misturam entre os verbos ler, ouvir, ver e escrever.

A internet é um maravilhoso advento por conseguir acompanhar mentes que pululam, estas chatas que já estão a transitar para outra dimensão ainda nem acabaram um parágrafo ou refrão.

Acho que é sobretudo por isso que não consegui encontrar o entusiasmo necessário para integrar as videochamadas no meu dia-a-dia. Guardo-as para ocasiões pontuais, especiais, agendadas.
Estas impedem-me de pulular, tornam-me refém, e se me impedem de pulular fico inquieta. Uma mente inquieta por muito tempo, travada, obstruída, torna-se rapidamente uma mente maçada.
Uma mente não encontrando prazer em determinada acção simplesmente abstém-se repetir a acção que a maçou. Simples.

(É que na época do velhinho telefone fixo, uma pessoa sempre ia fazendo uns rabiscos no bloco de notas que lhe fazia companhia. Com a imagem nem isso nos é permitido. Congelamos a expressão e ai que nosso senhor dos bons modos e cortesias nos poupe de dar a entender que aquele tema não é o mais interessante do mundo.)

Impedem-me, (ao contrário das conversas, trocas de opiniões e cumprimentos através da palavra digitada que tanto aprecio), de andar a saltitar por outros universos, obrigam-me a abdicar da música de fundo, de deixar à fome os apetites de tanto fazer e pensar ao mesmo tempo, como se numa base quotidiana a comunicação fosse mais rica por estarmos especados a olhar uns para os outros através de um monitor.

Outra das vantagens da comunicação escrita, pelo trabalho que dá, (sim, vivemos na era em que as pessoas consideram que escrever é penoso e uma carga de trabalhos), faz com que nos esforcemos um bocadinho para que cada frase seja aproveitável.









terça-feira, 28 de novembro de 2017

Vida de cão: O primeiro milagre do Natal.



Desde há uma semana para cá que o Kiko se deita calmamente no sofá, totalmente descontraído, para uma rápida passagem com o secador após a lavagem de patinhas e "partes" que ocorre a seguir aos passeios.

O secador é um instrumento sazonal, usado com regularidade somente com a chegada do frio.

Até à data, o comum era vê-lo em grandes corridas pelo sofá, a ladrar para o secador.
Como não houve qualquer acção da nossa que motivasse esta mudança de atitude, então só pode ser milagre natalício.

Como a cavalo dado não se olha o dente, obrigada, Pai Natal.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

cromices #155: Já há muito tempo que não fazia uma destas...


E com isto refiro-me a uma imensamente constrangedora "figura de ursa". O contexto, é claro, só poderia ser as caminhadas com o Kiko.

Vá, confessem, já estava a ser estranho passar tanto sem uma destas, né?

Na verdade, tem andado tudo pacífico por aqui. Vive-se uma harmonia feita de cedências de todos os lados: eu esforço-me por ser menos paranóica; talvez seja impressão minha, mas parece-me que as pessoas também parecem preocupar-se mais em não deixar os seus cães ao deus dará, pelo menos com a frequência que antes acontecia, etc, o que só me faz sentir não só muito mais descontraída e feliz, como grata pelo respeito.

O que não impede que pontualmente não ocorra uma daquelas situações caricatas. E na realidade, "caricato" é algo com que eu lido extremamente bem. "Caricato" é um desfecho maravilhoso, mil vezes melhor do que trágico, desagradável, infeliz.

Então hoje quando íamos a subir a rua do costume vejo ao longe um/a boxer à solta a trotar na nossa direcção. Olho, olho, e não vejo humano algum nas proximidades, o que faz com que o meu cérebro accione o botão de alerta vermelho.
Antes que dessem um pelo outro agarrei no Kiko ao colo, e fiz uma "inversão de marcha", com a atitude mais calma e leve que me foi possível.
A meio da rua deparei-me com um vizinho que havia cumprimentado há minutos. Calculei que aquela velocidade, mesmo com algumas paragens para chichis, não tardaria muito a ter o outro bicho colado aos calcanhares.
O vizinho tinha o portão aberto - estava a dar uma mangueirada no carro. Com uma grande lata perguntei-lhe se lhe podíamos invadir o quintal, e o porquê. Simpático como sempre deixou-nos à vontade. Felizmente bastou um par de minutos para que o outro cão perdesse o interesse e voltasse para trás.


Quando os homens falam de amor #80




terça-feira, 21 de novembro de 2017

Coisas de pensar: Existe alguma fórmula para um salário justo?


A justiça salarial é uma causa que vale a pena, por todo um mundo de motivos.
A necessidade de reflectir e agir sobre este subsistirá enquanto o salário mais baixo praticado no nosso país tiver um valor que não permite ao assalariado uma vida independente e digna.
O que se quer, para começar, é que quem aufere o salário mínimo tenha a capacidade de se sustentar plenamente através do fruto do seu trabalho, sem a necessidade de receber ajuda de terceiros, seja a cara metade, família ou Estado.
Sem desigualdades salariais motivadas por diferença de género ou quaisquer outras que não fazem sentido, já agora. Diminuir o fosso entre os salários mínimo e máximo praticados também seria de valor.

No entanto, a justiça salarial não se conquista pagando o mesmo valor a todas as pessoas, mas usando uma fórmula composta por vários factores, aplicando-a caso a caso, para encontrar o valor mais adequado a cada um.

- O primeiro factor é demasiado óbvio, mas mesmo assim deve ser referido: o horário. Quem trabalha 40 horas há-de receber mais do que alguém que trabalha 20.

- O segundo factor é a experiência, o tempo já investido no desempenho daquela função. Há palpáveis e importantes diferenças entre quem só agora começou num qualquer emprego e alguém com anos de experiência no mesmo posto, e isso tem que ser expresso numericamente.

- O terceiro factor recai sobre a diferença entre horário diurno e nocturno. A ciência defende que trabalhar durante a noite causa o caos no metabolismo, e caso seja uma situação prolongada, pode derivar em problemas de saúde, como aumento da probabilidade em se sofrer de diabetes tipo 2, obesidade e ataques cardíacos. Nada mais justo que compensar adequadamente quem labora à noite.

- O quarto factor tem a ver com risco e desgaste. A forma mais simples e sucinta de explicar este ponto é através de exemplos. Um locutor de rádio não corre profissionalmente os mesmos riscos que um bombeiro, um polícia, um repórter de guerra, um profissional de saúde que lide com doenças infecto-contagiosas, etc.
Da mesma forma, um nutricionista não terá um profissão considerada de desgaste, por não implicar uma exposição a um grande nível de stress, como acontecerá a um militar em cenário de acção ou um corretor de bolsa;  não está sujeito às condições ambientais de um mineiro ou pescador; não tem que esforçar a vista como uma bordadeira; não tem que forçosamente passar o dia em pé, ou sentado, ou numa constante repetição de gestos e manipulação de pesos que acabam por dar origem a problemas de saúde como acontece com uma imensa massa de profissionais desde operários fabris, funcionários de comércio, escritórios, hotelaria, restauração, desportistas, bailarinos, entre outros.

Cabe também nesta alínea o sentido de responsabilidade acrescido inerente a várias profissões, devido à exigência destas, e aos riscos podem existir para o profissional e terceiros caso este não esteja capaz de uma boa performance. Para clarificar, os cirurgiões são um exemplo, assim como os pilotos de aviação, motoristas de transporte de pessoas, etc.


- O quinto ponto relaciona-se com a preparação do indivíduo para exercer determinada função, com o conhecimento que teve que adquirir, com quanto da sua vida e da sua energia investiu para tal.
Bastará dizer que um barista, mesmo que prepare o melhor café do mundo, saiba tudo e mais um par de botas sobre o tema e seja a pessoa mais simpática no atendimento ao cliente, nunca poderá auferir tanto quanto um neurocirurgião, simplesmente porque este estudou 12/14 anos para alcançar o estatuto de médico especialista, e continua a ter a necessidade de se manter ao corrente.

- O sexto e último ponto tem que a ver com mérito, com recompensar o indivíduo que destaca pela excelência, o brio, a qualidade, a paixão, aquele que consegue fazer muito bem dentro do seu horário. Incentivar às boas práticas, motivar a existência de bons desempenhos e boas qualidades humanas, motivar, não deixar passar despercebido o que é bem feito.
As empresas não se podem ficar pelos habituais discursos em que exigem melhorias, aumentos de produtividade, mais empenho e melhores resultados. É obrigatório, por 1000 motivos, dar um feedback positivo a quem o merece.


Acredito que esta meia dúzia de pontos quando combinados perfazem de forma pertinente a tal fórmula para esmiuçar um salário justo.



segunda-feira, 20 de novembro de 2017

caixa de ressonância






coisas que me irritam: Um par de manias que dão comigo em doida


Ninguém é inocente no que toca a hábitos e manias. Todos fazemos coisas que conseguem irritar alguém, dependendo de qual seja o seu ponto sensível.

Quais são as manias alheias que mais vos irritam?

Assim por alto ocorre-me imediatamente um par.

Uma delas tem a ver com o meu marido, e o seu hábito de pousar as coisas à beirinha das bancadas, mesas, prateleiras ou qualquer que seja a superfície, qualquer que seja o objecto, desde copos, a telemóveis, etc. É algo que me dá cabo dos nervos porque dá-me aquela sensação de desconforto, de acidente prestes a acontecer.

Mesmo assim esse está longe de ser o que mais me irrita. A medalha de ouro vai indubitavelmente para aquelas pessoas que não sabem respeitar o espaço pessoal, que quando estão a conversar com alguém se vão aproximando do interlocutor até ficarem quase colados, tipo siamês. Então se também forem daquelas com a mania de tocar, agarrar e mexer em nós enquanto falam... ui, credo!


domingo, 5 de novembro de 2017

coisas de comer: Solas de sapato nunca mais!



Para garantir que todos os bifes são servidos tenros, independentemente do tipo de corte, adquiri o hábito de quando os retiro do frio para fiquem à temperatura ambiente antes de serem cozinhados, rego-os com vinagre de fruta, e ali os deixo ficar cerca de 15 minutos a meia-hora.

Os ácidos reagem com a estrutura molecular da carne e acabam por amaciá-la, torna-la mais tenra.

Enquanto a frigideira aquece, (porque deve estar bem quente antes de receber a carne, alguma gordura ou qualquer coisa), rego os bifes com algum azeite, alho em pó, uma pitada de sal, pimenta, e qualquer erva aromática que me apeteça e massajo-a.
A frigideira não tem nada a não ser uma pitada de orégãos (por exemplo) e uma folha de louro. Quando começo a sentir o aroma destes é sinal que está quente.

Viro os bifes somente 2 ou 3 vezes. Depois de selados de ambos os lados, adiciono um pouco de manteiga, um pouco de sumo de limão e esfrego com as costas de uma colher um pouco de mostarda na superfície destes antes de os virar a última vez. (Esta é somente uma das muitas sugestões possíveis).
Viro-os somente uma vez mais para que fiquem envoltos nesse molho, retiro-os para o prato e se for necessário deixo o molho engrossar por mais uns segundos.

Não aprecio o sistema de martelar a carne. Aliás a suposta crença que martelar a carne vai torna-la mais tenra não passa de um mito, e um erro culinário. Ao fazê-lo estamos somente a destruir as fibras da carne e retirar-lhe os sucos, logo a ajudar a que esta fique mais seca e rija.

Também gosto de usar vinho tinto em carnes para assar porque tem o mesmo efeito. Para o sabor não ficar assoberbante resulta bem uma marinada que consiste em sumo de laranja com vinho tinto, ervas e alho. Quiçá até um pau de canela que acrescenta uma nota de alguma complexidade e calor bastante agradável ao paladar. E esta pode ser aproveitada para regar a carne e dar origem a um bom molho. Esta marinada também resulta muito bem com seitan, quando o queremos assar.

A regra do uso dos vinhos em marinadas é simples: brancos para carnes brancas, tintos para carnes vermelhas. E se não for suficientemente bom para beber, então decididamente não é bom para cozinhar.

O uso de sal também requer cuidados: a carne deverá somente ser temperada momentos antes de ser cozinhada ou durante este processo. Adicionar sal antes apenas vai contribuir para que a carne perca a sua humidade, seque.



quinta-feira, 19 de outubro de 2017

coisas de pensar: Da bipolaridade lusitana



Um destes dias andávamos nós, humana e cão, perdoem-me a redundância, nas andanças do costume.
O canito decide finalmente aliviar-se. Para tal escolhe um pedaço de terra paralelo ao passeio que não sei adjectivar de melhor forma. Tem uma árvore e algum verde, mas não é canteiro porque não está tratado. Está pejado de trampa de outros cães e lixo humano.
Mas não se pode ser esquisito quando queremos que sua Excelência finalmente ganhe o ímpeto de se aliviar, para podermos ir descansados para casa. Então lá vou, pé ante pé, de saquinho na mão para apanhar a trampa do meu cão, quando pelo nesga do olho vejo uma das senhoras com que por vezes nos cruzamos.

Esta pára para nos cumprimentar, enquanto eu continuo no meu movimento contínuo e faço o que tenho a fazer.

Parece surpreendida pela minha acção, (como se não fosse algo que repetisse todo o santo dia), e diz-me que deixe estar, que não apanhe, que ali não faz mal e que até faz bem às plantinhas (onde andam estas?!). E eu uso da maior síntese para responder que faço questão de apanhar, que não gosto, e que não , não faz bem às plantinhas, e quem me dera que todos cumprissem com o seu dever.

Senhora apressa-se a concordar, com um enfático sim, que somos muito porcos, que na Suiça é que é!

Assim passámos, em 10 segundos, de apelar ao não cumprimento da lei, ao deixar andar, para o discurso do lá fora é que é, eles são perfeitos enquanto por aqui somos uma turba que não cumpre.

Vim para casa segura que me tinha cruzado com a personificação da nossa sociedade.



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

coisas da casa: Introdução aos telhados vivos


Estou apaixonada pelo conceito de telhados vivos.
Parece-me bem introduzir este tema por aqui através das palavras de Maria Amélia Martins-Loução, professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e do seu artigo de opinião publicado no Público a 23 de Janeiro de 2013.

Aqui se segue:

"Na Avenida do Padre Cruz, em direcção ao Campo Grande, em Lisboa, sobressai um prédio coberto de verde, como se tivesse um jardim suspenso.
A imagem é tão diferente que nos obriga a chegar perto para perceber se é cobertura viva ou pintura. Qual terá sido a ideia dos arquitectos para cobrir integralmente um prédio com vegetação? Como conseguirão manter tal estrutura? Terá sido pelo aspecto paisagístico? Será sustentável?
O elevado investimento necessário para a implementação de coberturas ajardinadas é um dos principais argumentos contra esta solução paisagista. Pelo contrário, os benefícios ambientais e estruturais são sempre esquecidos e nunca contabilizados. Do ponto de vista global para o ecossistema urbano, a presença de telhados verdes aumenta o sequestro de carbono, facilita a circulação atmosférica e, consequentemente, dispersa o calor acumulado das cidades.
Absorve a poluição atmosférica, filtrando o ar e permitindo reduzir as doenças alérgicas respiratórias. Aumenta a retenção da água das chuvas, impedindo as escorrências fortes e os riscos de inundação. Contribui ainda para a diversificação de nichos ecológicos, devolve a natureza à cidade, aumentando a diversidade vegetal e animal.

Para os edifícios, tem papel relevante, porque permite um isolamento acústico, reduz as oscilações de temperatura, prolongando a vida útil da estrutura e, consequentemente, os gastos de manutenção. Este tipo de coberturas faz com que os edifícios fiquem menos sujeitos às agressões atmosféricas, criem um sistema de impermeabilização e, como atenuam os extremos de temperatura, permitem a redução significativa do consumo energético.

O edifício junto à Avenida do Padre Cruz, em Lisboa, sede da empresa MSF (Moniz da Maia, Serra e Fortunato, Empreiteiros, SA), é uma estrutura modelar e modular. Isto é, serve de modelo para evidenciar que é possível, em plena cidade de Lisboa, construir-se um edifício cujas paredes e telhado estão cobertos de vegetação. É modular porque se trata de peças de puzzle que se ajustam e se podem substituir de acordo com a necessidade de renovação.

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) pretende desenvolver um estudo-piloto experimental, instalando uma cobertura extensiva de 150 metros quadrados. Este primeiro projecto pretende ser emblemático. Por um lado, mostra que a FCUL está disposta a contribuir para a maior sustentabilidade. Por outro, possibilita o desenvolvimento de projectos de investigação em parceria com a empresa NeoTurf. Desenvolver e testar novos substratos, experimentar novas plantas e monitorizar a relação entre substrato e eficiência térmica no interior dos edifícios são alguns dos desafios propostos.

O tipo e a espessura dos substratos usados são fundamentais. Isto porque a limitação funcional de adaptação de um edifício à implantação de um telhado vivo é a sustentação. Usam-se, preferencialmente, materiais leves e reciclados. Novos substratos podem ser “redescobertos” na natureza, como as crostas onde, por exemplo, líquenes e briófitos podem crescer. O desafio é conseguir oferecer um tipo de vegetação que necessite entre três a cinco centímetros, o que constitui um ganho de investimento para o mesmo benefício ambiental.

As espécies vegetais mais usadas estão dependentes de rega para criar uma cobertura verde permanente. Exigem elevada manutenção e investimento. Mas podem ser substituídas por plantas mediterrânicas, que oferecem elevada economia de água, contribuindo para a maior diversidade de espécies e de habitats. Há toda a necessidade de educar, de explicar às pessoas que, no Verão, como nos campos, não é a cor verde que impera, mas antes um mosaico de verdes e de castanhos. É uma perspectiva sustentável de ecologia urbana.

Portugal carece de normas legais para este tipo de coberturas e não possui uma política ambiental urbana que incentive promotores e diversifique o mercado. Este é um trabalho que requer uma equipa multidisciplinar, como a que se pretende desenvolver e que pode culminar na criação de um documento normativo de referência.
Portugal necessita de diversificar o mercado e inovar a oferta sem reproduzir o que se faz lá fora. A capacidade de produzir ciência, tecnologia e inovação é um elemento central da universidade. A sua ligação a empresas e a transmissão de conhecimentos adquiridos em prol da sociedade são os novos paradigmas assumidos, com vista a aumentar o nível de conhecimento dos profissionais da área."


imagem do telhado vivo da ETAR de Alcântara






segunda-feira, 9 de outubro de 2017

coisas da casa: "As casas de Hobbit", ou tenho a impressão que encontrei a nossa futura casa



Desde o dia em que fomos ao cinema, há muitos anos atrás, ver o primeiro "Senhor dos Anéis", já perdi a conta às inúmeras vezes que verbalizei entre suspiros que o Shire é que era sítio para mim, e que me imaginaria perfeitamente feliz na casa dos Baggins - "Bag End". Portanto não é de estranhar que quando apareceu no feed da minha rede social de eleição algo com um título onde "casas de hobbit" faziam parte, tive que satisfazer a curiosidade. Curiosidade em dupla dose, graças também ao meu crescente interesse sobre arquitectura, ecologia, engenharia, sustentabilidade e inovações tecnológicas que abracem estes campos.
E foi nesse momento, num casual e fortuito click que me levou a um artigo numa qualquer e-zine que tive o primeiro contacto com as Green Magic Homes.

Ao longo dos últimos anos tenho sentido uma presença cada vez maior e mais significativa de empresas que apresentam soluções alternativas à construção convencional, com base numa filosofia onde a preocupação ambiental é um dos alicerces. É uma tendência que me inspira e me alegra, embora não sinta a mesma afinidade por todos os projectos e conceitos que já visualizei, como é natural - é o lado humano e subjectivo em acção.

O conceito das Green Magic Homes é, de uma forma resumida, serem casas compostas por módulos pré-fabricados, em que na sua composição 80% são plásticos reciclados, o que é uma óptima forma de ajudar o planeta a ver-se livre desta praga ambiental, e simultaneamente reduzir ao mínimo a pegada ambiental porque não se retiram do planeta novos materiais para a construção. Este compósito/ polímero feito destes plásticos e resinas é um material muito mais resistente e durável que o tradicional betão, não apresentando problemas de rachas, infiltrações, humidades, e dispensando manutenções.
Os materiais utilizados são totalmente seguros, inclusive a nível de emissões.
Em conjunto com os seus arcos característicos formam uma estrutura capaz de suportar sismos, tornados e outras catástrofes naturais, assim como são ideais para qualquer clima, do deserto à neve.
A cobertura de terra não só permite que a temperatura no interior ronde todo o ano os 17º celsius, como é esteticamente apelativo a colocação do telhado vivo "living roof" com espécies adequadas ao local, ou até usar esse espaço para plantar alimentos.

Mais algumas características que me agradam sobremaneira:

- Em primeiro lugar, a vertente financeira - porque sem ilusões e com toda a franqueza, o custo associado à aquisição de habitação há-de ser sempre, para a grande maioria das pessoas, não o único, mas certamente o maior obstáculo. Então obviamente que se tornam apelativas as habitações que para além de apresentarem preços competitivos em relação aos praticados no mercado imobiliário, afirmam não precisarem de manutenção como acontece com um edifício em betão, poupando-se também por aí. Só aí temos uma tremenda vantagem, especialmente quando nos lembramos, por exemplo, que a reparação/ reconstrução de um telhado "tradicional" ronda os 100 euros por metro quadrado, para além do que se poupa em chatices e preocupações.

Quão competitivos os preços? Na minha aldeia o preço ronda, neste momento, os 300/ 350 mil euros, por moradias que necessitam de renovações quase totais. O preço de uma magic home com uma área de quase 190m2, 4 quartos, 4 casas de banho, cozinha, sala de estar e de jantar, adquirido no sistema "chave na mão" fica por cerca de 161 mil euros mais iva, (se não estiver em erro, este é de 6%).
Obviamente não inclui os custos de aquisição de um terreno, mas mesmo assim...

- O segundo ponto que nos atrai é o tempo. A ideia de construir casa é agridoce: se por um lado é um sonho ver nascer algo em que foi possível opinar e decidir sobre as mais diversas características, o tempo que isso demora, (anos por vezes!), em combinação com flutuações de orçamento, e um mundo de chatices de toda a ordem a que ninguém escapa quando se mete nessas empreitadas assustam-nos e causam-nos stress.
Esta empresa afirma que entre encomendar a casa à fábrica, a sua viagem e montagem são cerca de 55 dias.

- O terceiro ponto que me agrada é o facto de existir um representante da marca em Portugal, assim como existem muitos outros distribuidores por vários países. Essa proximidade é mais que importante, é essencial, e faz com que qualquer conceito/ produto / serviço pareça imediatamente mais possível, menos abstracto. Há-de haver com certeza pessoas mais aventureiras que eu, mas para mim o acompanhamento presencial, a presença de profissionais pelo menos no mesmo país, é uma das minhas exigências. Nunca na vida teria coragem de encomendar uma casa como quem encomenda ração para o cão.
Mal posso esperar para a primeira destas casas estar concluída em território nacional para a visitar.

- O quarto aspecto é o design. Por ser modular é uma casa que pode facilmente ir sofrendo acrescentos ao longo do tempo. Embora a marca ofereça uma boa variedade de plantas pré-definidas, parece ser igualmente simples elaborar uma casa personalizada. O seu exterior e interior são apelativos, bonitos, confortáveis, -  nada a ver com as casas pré-fabricadas de há muitos anos atrás.

Este texto já está enorme - é o quanto estou entusiasmada por ter encontrado este conceito, portanto vou acabar isto com alguns vídeos. Depois, se vos apetecer, digam-me se se imaginam, ou não, numa destas casas.



GMH-Awesome from REVOLUTIONARY TECHNOLOGIES on Vimeo.











quarta-feira, 4 de outubro de 2017

coisas sobre mim: Viver com dor, ou a provável necessidade de aulas de sociabilização para humanos



Sou péssima com cronologias, em ter que dar ordem temporal às coisas, dizer com acuidade há quanto foi isto ou aquilo.

Tenho 38 anos e uma dose de caruncho em cima que quase todos os dias me faz acreditar que alguém algures meteu a pata a poça, trocou os números e os registos lá no departamento das Cárites, e fez com que as três irmãs Moiras que fiam o destino de humanos e deuses me andem a confundir com alguém de 83.
Ao longo dos últimos tempos - lá está, não me peçam para quantificar, fiquemos por mais de 2 meses e menos de 1 ano - contam-se pelos dedos de uma mão os dias que passei sem qualquer dor. Todos os outros têm a presença crónica e constante dessa sombra que sente, mais ou menos, mas sempre lá, nas pernas, nas costas, nos braços...

O ponto positivo é que nunca tive tanto tema em comum para com algumas das amigas com quem me vou cruzando nas caminhadas com o Kiko, essas verdadeiramente octogenárias.

O lado negativo de viver com o ruído branco omnipresente da dor é que esta, embora tolerável e possível de ser domada, impossibilitada de ocupar o espaço central do plateau, através da presença de espírito e autodisciplina, e pronto, analgésicos de vez em quando, (gosto de pensar que quem se cruza comigo não faz a mais pálida ideia que está a receber um sorriso da parte de alguém que está com dores desde o minuto em que acordou), é acima de tudo a diminuição de tempo e atenção que temos para os outros.

É o estar a ouvir a intervenção de um vizinho na reunião de condomínio e, passado alguns minutos não captar nada do que é dito, porque o caralho do velho não vai ao cerne da questão e decide aproveitar as luzes da ribalta para uma introdução histórica ao problema desde os tempos do Marquês de Pombal; é o desligar o chat do facebook como medida preventiva porque se se ouve mais um daqueles avisos sonoros e vai-se a ver é o enésimo contacto que decide andar a partilhar daquelas caganeiras com mensagens correntes, apelos, e merdinhas do género - uma pessoa não quer andar aí a partilhar póias com quem nos manda corações; é o já não conseguir não revirar os olhos, nem deixar de bocejar, ou ficar de olhar perdido no horizonte quando as conversas são uma seca; é o deixar para mais tarde a resposta a mensagens, mails e afins; é o não atender o telefone a um familiar porque leva-se muito a sério a regra de não nos levantarmos por algo tão menor quanto um telefone, e se ainda conversámos há poucos dias, foda-se, o que é pode haver para dizer de novo em tão curto espaço de tempo, há alguma maneira simpática de dizer que devíamos agendar as conversas para de mês a mês, de dois em dois meses?!



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Vida de cão: A dificil arte de enganar um cão


Quando digo que o Kiko entende tudo, é porque ele entende mesmo tudo. Garanto-vos que é uma afirmação que não tem por base o tremendo afecto que lhe tenho, mas antes as surpresas e as provas que ele próprio providencia quotidianamente.

Aliás, da minha experiência com animais de estimação ao longo dos anos, dos peixinhos de aquário, ao coelho, aos gatos e agora ao fiel canino, sobressai sempre a impressão de que seja qual a for a espécie, estes amiguinhos são muito mais inteligentes do que por vezes pensamos.

Uma das muitas provas, no caso do Kiko, é a trabalheira que dá tentar enganá-lo.

Este é um dos exemplos mais recentes:

Quando queremos ir dar um passeio maior com o Kiko, gostamos de sair uns minutos com ele à rua para que este se alivie antes de o enfiar no carro. Só para irmos mais descansados, já que ele gosta tanto de andar de carro, que vai numa constante excitação até chegarmos ao destino.

Se o sacana perceber que é dia de passeata, (o que não lhe é nada difícil), mal saia à rua vai procurar o carro e teimar naquela direcção tipo cão de trenó, e qualquer tentativa em puxá-lo para outro lado para que foque em fazer pelo menos um par de chichis é uma tarefa penosa.

Então, numa destas ocasiões, experimentámos uma estratégia em que consistia em fingir que era somente um dia como os outros, daqueles em que a voltinha se dá somente pela aldeia. Já havia combinado com o marido - "esperas 10/15 minutos e depois "coiso", ok?" - sendo a palavra "coiso" código para "preparas-te e encontramo-nos no estacionamento, até lá não dá pistas, não mexe, não respira, não nada.
Funcionou lindamente!

No fim de semana seguinte decidimos repetir a estratégia vencedora. Mas eis que houve um deslize no momento em que estávamos, ( eu e o cão), a sair de casa para a voltinha, e o marido comete o deslize de dizer "já vou ter convosco ao carro".  Foi o suficiente para o miúdo perceber a marosca e transformar-se num possante husky do Alasca.



quinta-feira, 21 de setembro de 2017

cromices #154: Um ritual de claridade



Não sei viver sem música. Sempre senti a necessidade de acompanhar todos os momentos com uma banda sonora, sem esquecer de dar alguns momentos ao silêncio, já que este é em si um bálsamo, um ritual de higiene para a mente, tal como o duche é para o corpo.

Nada disto é pouco usual ou peculiar. Acho que a maioria das pessoas gosta de ouvir música em variadíssimas ocasiões, e até a usa como uma ferramenta auxiliar enquanto trabalha, enquanto descontrai, e em outros momentos.

Talvez o que mude de pessoa para pessoa seja a escolha de repertório, o que cada um ouve em cada situação.

Sendo algo que já que fiz inúmeras vezes, mas em piloto automático, ontem apercebi-me conscientemente que quando quero/ preciso entrar num estado de acuidade mental, essencial à análise e resolução de problemas objectivos, a minha escolha recai no heavy metal. E nada como começar com um dos hinos de guerra dos Manowar, é que lá por ser uma batalha travada no campo do intelectual e do burocrático, não deixa de ser uma.



sábado, 16 de setembro de 2017

coisas da casa: Ventosas rulam!



Se passarem pela Ikea, na secção de apetrechos para casa de banho, nas proximidades das cortinas de duche e afins, encontrarão uma secção de linear com acessórios com ventosas, de cestos a toalheiros.

Quando os encontrarem notarão que uma das suas características é o seu design. Sim, estão longe de serem a coisinha mais bonita e estilosa, mas como se costuma dizer a beleza não é tudo, especialmente quando há outros atributos que a suplantam. Neste caso a função ultrapassa em muito a forma.

Se forem como nós, pessoas que detestam sequer a ideia de andar a furar paredes, especialmente as revestidas a azulejo, encontrar acessórios com ventosas (daquelas que funcionam, e não andam a descolar-se por dá cá aquela palha, que é o principal motivo porque não comprava coisas com ventosas há uma vida) é tipo a invenção da pólvora.

Optámos por alguns itens da gama Stugvik : uns toalheiros que ainda possuem a vantagem de serem extensíveis, (que é outro conceito ao qual me rendi com o varão da cortina de duche, que sim, cai muito de vez em quando, mas quando isso acontece é algo que se resolve em menos de um minuto e não implica ficar com uma parede estragada), uns ganchos para panos de cozinha, pegas e luvas, copo para escovas de dentes e um cesto.

Encontrámos um segundo propósito para o cesto. Não serviu para a ideia original de suportar shampoos e gel de banho, mas está a funcionar lindamente na cozinha, para colocar o detergente da louça e esfregões.

Agora gostava de encontrar exactamente o mesmo conceito, mas aplicado à serventia de pendurar quadros e outras peças decorativas nas paredes.


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

cromices #153: Eu, a pior cábula do mundo.


No total devo ter recorrido a cábulas não mais que meia-dúzia de vezes. Todas após o ingresso no ensino superior.

Aliás, se há coisa que me arrependo foi de não ter usado cábulas durante todo o meu percurso académico. Justifico-o com dois motivos:

1) O ensino de qualquer matéria há-de ter, (a meu ver), como principais objectivos a compreensão da mesma, a apetência para aprender mais, e o desenvolvimento da autonomia que permita a busca solitária pelo conhecimento ao longo da vida. Não há argumentos que justifiquem a validade da prática de decorar matéria de vários volumes, para depois chegar a um exame e debitar os mesmos para uma folha.

2) Tivesse eu adquirido prática nessa bela arte da cábula, não me teria sentido tão desajeitada e à rasca quando cedi à sua necessidade.

Deixo o meu agradecimento aos professores, que perante a minha falta de jeito e atrapalhação, ao nível de um Mr. Bean, optaram por fechar os olhos.

Deixem-me então partilhar um episódio para que percebam o porquê de me intitular a pior cábula de sempre.

1) Sala de aula cheia. Turma preparada e à espera que chegassem os professores para iniciarem todo o processo de exame. Eu, muito mais nervosa que o costume porque levava cábulas, sentia uns calores tremendos, e por causa dos nervos deu-me um ataque de riso quase histérico. Simplesmente não conseguia parar de rir.
Solta um colega: " O que se passa com a Ana?"
Retruca outro: "Está nervosa, trouxe cábulas". - "Ahhhhh, ok!"
Um mais próximo, passa-me a mão no ombro: "Respira fundo, vai correr bem."

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Lições da minha infância: A freira, os doces de alcaçuz, e a lição aprendida ao contrário.



Sempre que o meu pai regressava a casa do seu trabalho além-fronteiras, aproveitava a espera no aeroporto para se abastecer nas lojas duty free.
Se era obviamente uma ocasião feliz ter o meu pai em casa, saber que ele regressava com um carregamento de chocolates e outras coisas boas era ouro sobre azul.
Isto é mesmo o mundo através dos olhos de uma criança de dez anos.

Numa dessas ocasiões, houve uma novidade que me despertou mais a atenção que qualquer outra coisa: um saco de doces de alcaçuz, rolinhos numa miríade de cores gulosas com um recheio escuro.
Mal vi o rótulo reconheci o termo "liquorice" de o haver ouvido na tv, o que aumentou o meu interesse. Afinal ia experimentar algo de outra cultura, e isto há quase trinta anos não havia a oferta que temos hoje, em que em quase qualquer loja se encontra quase tudo de todo o lado.

Experimentei um, dois, e talvez o terceiro, e concluí que infelizmente alcaçuz não era para o meu palato. Os meus pais foram da mesma opinião.

Pensei que poderia haver quem gostasse. Que lá por eu não gostar, não significava que não fosse bom. Então lembrei-me, na ingenuidade própria da minha idade e na melhor das intenções, de levar aquele saco de doces para partilhar com a minha turma. Achei que seria positivo os meus colegas experimentarem algo de novo, quer gostassem ou não. Se pelo menos um deles gostasse do sabor era missão cumprida, bem melhor que os deitar fora só por não sermos apreciadores lá em casa.

Este episódio, historieta tão pequenina, desinteressante e irrelevante, ficou-me somente na memória por ter dado mote a duas lições: a que me tentaram ensinar, e a que realmente aprendi.

Confrontada pela rambóia de vinte e tal crianças a fazerem caretas com bocas cheias de alcaçuz, a Irmã achou por bem transmitir-me a lição que gesto bonito, assim mesmo bonito e de valor, é dar aos outros aquilo que mais gostamos, aquilo que consideramos que temos de melhor.

Ouvi caladinha. Abri os ouvidos, mas os dois, que é para aquilo poder entrar a cem e sair a mil.
Em primeiro lugar, porque claro que não gostei da desvalorização da minha boa intenção. Não esperava palminhas, mas um "olha, não gostei, mas obrigada na mesma" fica sempre bem.

Em segundo, porque mesmo só com dez anos, achei que a mensagem que me tentava incutir era do mais hipócrita que há.
Que era mesquinho exigirem-me, de certa forma, que eu partilhasse as minhas coisas favoritas, com um grupo de pessoas que nunca trouxe nada para partilhar.
Que ninguém, por exemplo, compra roupa nova e a doa, ficando a servir-se daquela que já tinha por casa, e que já nem lhe serve.

A lição que apreendi resume-se no velho adágio "nenhuma boa acção fica sem punição". Nunca mais levei nada para partilhar.






quarta-feira, 23 de agosto de 2017

coisas de jogar #10


Horizon Zero Dawn





Vida de cão: sumos para cães



Qualquer coisa que tenha adição de açúcares não deve ser dada aos animais. Nem sequer são uma boa opção para a nossa saúde, muito menos para a deles, por causa do seu metabolismo.
De vez em quando, como miminho, damos um bocadinho de sumo ao Kiko, mas daqueles que são são somente fruta espremida, sem qualquer corante nem conservante. Ele adora o de melão.

É uma escolha mais saudável quando em comparação com qualquer néctar ou sumo, que lhes sabe tão bem quanto a nós, especialmente em dias de calor. Mas sem exageros, nem na dose nem na frequência.

Coisas que me irritam: Da irresponsabilidade...



Temos por ritual, mal o marido chega a casa, de nos sentarmos na varanda a tomar um café e a falar sobre o nosso dia, aproveitando o bom tempo e aquele recanto que se tornou agradável graças às plantas, que cheiram bem, e que tanto cresceram, providenciando-nos assim alguma privacidade.

Não fosse esse hábito não teríamos dado conta que houve, durante o dia, um qualquer condutor incauto que embateu no candeeiro de iluminação pública.
Não seria nada de mais, nem motivo para alarme, não estivesse, graças ao embate, aquele grande globo de vidro e metal inclinado e prestes a cair no chão, somente apoiado numa extremidade da lâmpada.
Isto numa praceta bastante movimentada, onde passam constantemente veículos, pessoas, (muitas crianças), e animais. Agora imaginem aquele enorme apêndice cair em cima de alguém, que pelo estado da coisa seria algo para não tardar muito a acontecer.
Contactei imediatamente com a linha de avarias da EDP e comecei a exposição com "houve um otário...", e nunca senti que alguma vez o adjectivo me tivesse servido tão bem na comunicação.

Porque, meus amigos, bater toda a gente bate. Pode acontecer a qualquer um, e a isso chama-se aselhice, inexperiência, distracção, azar até. Mas ser irresponsável ao ponto de se causar o dano e não requisitar a intervenção da EDP, estando-se nas tintas para os outros, e para a desgraça que a queda daquele globo poderia causar... A alguém assim é até elogioso e caridoso ficar-me pelo otário.

O atendimento foi impecável, e por sorte o piquete estava nas proximidades, o que ajudou a que viessem resolver a situação em tempo recorde.

Agora só queria identificar a pessoa para lhe soletrar a palavra "O" na cara.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Vida de cão: Da diarreia...



Desde ontem que o Kiko anda com diarreia.
Felizmente não demonstra sinais de qualquer má disposição, nem apatia, nem perda de apetite, nem diminuição da vontade de brincar, nem alteração do consumo de água. Pronto, nada diferente do habitual, não fosse o que anda a defecar.

Ontem, como era bem cedinho, não me dei conta que ele se tinha aliviado no escritório. Voltei preocupada da nossa caminhada, porque como era possível passada toda uma noite aquele miúdo não ter vontade de fazer?!
Afinal já tinha feito. Em casa.

Antes da volta do almoço, idem. Hoje, voltou-se a repetir, tanto de manhã, como mesmo há pouco.

Nunca lhe ralho nem o castigo por fazer em casa. Pelo contrário, digo-lhe que não faz mal, que está tudo bem, e que ele é lindo.
Em primeiro lugar, porque não o faz por hábito mas somente quando se sente mal, doentinho, quando não o pode evitar.
Em segundo, porque na urgência de se aliviar que qualquer ser vivo sente durante uma diarreia, ele é incrivelmente inteligente e asseado ao escolher o chão da divisão onde menos circulamos, ao invés de o fazer em cima ou ao lado da cama, do sofá, etc.

Neste momento está a arrefecer uma canjinha de peito de frango, arroz e cenoura, que será o seu almoço, seguido de umas rodelas de banana.






quarta-feira, 9 de agosto de 2017

cromices #152: Do não sair de casa...



Em criança era muito "caseira". Lembro-me que por vezes os meus pais tinham que insistir comigo para sair de casa, nem que fosse só até à praceta para brincar com os miúdos da vizinhança.

Com a mudança de idade, especificamente quando estava em plena adolescência e nos inícios da idade adulta, a situação reverteu-se completamente. As queixas eram sobre o quão pouco parava em casa. E eu encolhia os ombros naquela do: "Afinal em que ficamos? Decidam-se!"

O meu marido costumava queixar-se que eu andava sempre a melgá-lo para sair, muitas vezes com a desculpa de ir beber um café algures, por vezes tarde e a más horas. Para me dissuadir, um dia apareceu com uma máquina de café.

Agora queixa-se que nunca quero ir a lado nenhum, que não quero sair de casa.

Confesso que desde que o Kiko entrou nas nossas vidas voltei a dar muito valor aos momentos do dia em que posso estar em casa. Porque, em minha defesa, há que dizer que na verdade saio muito de casa.
Lembro que tecnicamente, basta estar-se do lado de lá da porta para ser considerado como tal.

Ainda hoje, que me calhou a volta matinal do Kiko, cheguei às 8h da manhã com 4,5 km de caminhada feitos.
Quando for  ao supermercado aqui do burgo, mais 3km. Se incluir as voltinhas quotidianas pelas lojinhas de comércio tradicional e serviços, mais uns 3 ou 4, e é porque tenho tudo aqui ao lado.
Mais a voltinha pós almoço do miúdo, que nunca é menor que mais outros 3km.

Portanto, para alguém que supostamente não sai de casa, num dia normal, até às 18h, já conta com cerca de 14 km feitos. Excluindo todos os passinhos que damos dentro das lojas, e dentro de casa, que pensando que não eram mais uns pózinhos.

Junte-se um dos dias em que faço bingo por ter o cartão totalmente cheio, juro que não é difícil atingir ou superar a marca dos 20km. A saúde e forma física agradecem, mas se me querem convencer a sair (mais) de casa o truque reside em atraírem-me com programas que metam "pés pró ar" em cenários bonitos, muito dolce far niente, e comida.
Para alguém com a minha rotina convites para ir caminhar, ou exercer outra qualquer actividade que implique esforço físico, ou que seja basicamente passear o cão num cenário diferente, é meh.

Não é que não acabe por apreciar, mas a atitude com que aceito alinhar é muitas das vezes mais de resignação do que propriamente entusiasmo.


terça-feira, 8 de agosto de 2017

coisas de ver #65



Maluco Beleza

Nas últimas semanas, tem sido o Unas e os seus convidados a servirem-me de companhia aos serões que passo em frente à maquineta. Primeiro com uma frequência algo esporádica, agora a um ritmo diário. Cativou-me. É uma boa demonstração do quanto vale a pena embarcar em projectos independentes, pelo gozo e a teima de se ser livre, de se fazer o que a real gana nos dita.
Com uma boa, diversa e já completa lista de convidados, só desejo que este projecto tenha uma longa vida, pelo puro egoísmo do gozo que me anda a dar.
Atenção aos sensíveis e fraquinhos que usam de linguagem sem filtro.

Ficam aqui uns exemplos:











segunda-feira, 7 de agosto de 2017

cromices #151: A minha pessoa, uma influência nefasta para criancinhas desde mil novecentos e troca o passo...



Na recta final do nosso passeio, (meu e do Kiko),  há uma menina na sua bicicleta que nos olha fixamente.
Dirijo-lhe um olá, ao que ela responde com um "quem és?", que é uma questão à qual nunca soube responder objectivamente porque me lembra sempre o "quem sou, de onde venho, para onde vou."
Consegui travar a tempo o comboio do pensamento filosófico: - "Como assim? Sou uma pessoa daqui, que não conheces".
Retruca a menina, inquisitiva sobre o facto de a ter cumprimentado se não a conheço. E a mim pareceu-me desadequado explicar a uma miúda dos seus 9/10 anos que é o meu mecanismo de defesa contra o constrangimento, o desconforto que emana do momento em que duas pessoas se entreolham na rua, (um momento que derivado da relatividade do tempo parece durar eternamente), e decidem por fim prosseguir caminho, ou desviar o olhar, optando por fingir que não deram pela presença do outro.
Não mata, mas mói de tão estranho que é. É-me muito menos doloroso o reflexo de distribuir olás e sorrisos a torto e a direito.
Disse-lhe o fazia por ser educada, e por estarmos numa aldeia.

Passados alguns minutos em que a menina esteve a abraçar o Kiko, aparece uma amiga minha.
A menina não a conhece, mas vocalizou um olá na sua direcção.

Espero que isto de andar a cumprimentar meio mundo, com a justificação de ser por boa educação, não lhe mereça duas nalgadas.


coisas da casa: Shangri-La, a filosofia do bliss e a casa de hóspedes pt.1

(Disclaimer: as fotos utilizadas para ilustrar este texto foram retiradas da internet. Gracias.)



Será mais por vício, ritual de escapismo, ou até mera curiosidade em ver se existe no mundo real a materialização daquilo que considero a casa ideal, o meu Shangri-La,  que me leva, volta e meia, a esmiuçar todo e qualquer site de mediação ou promoção imobiliária que me ocorra.
Lembro-me de um quarto motivo: é que existindo, não se deseja que esta escape. Até pode escapar, mas que seja por um motivo sólido, que por desatenção ou desconhecimento seria realmente um infortúnio.

Até à data nunca me deparei com um anúncio que me indicasse existir a materialização fiel do produto imaginado.

O mercado apresenta-me casarões em lotes minúsculos, e eu procuro exactamente o oposto: uma casa de menor área num lote que se pode considerar de generosas dimensões quando se compara com o que há por aqui.
O mercado apresenta-me casas com uma grande área total mas divididas em minúsculas divisões, que perante as minhas necessidades e gosto se tornam redundantes, inúteis e pouco práticas.

Imagino uma casa térrea, em rústico tradicional português, daquelas com bons ossos, boa estrutura, como aquelas pessoas que atingem o auge da beleza após algumas décadas, num feliz amadurecimento. Duas ou três colheres de sopa de carácter, não mais, para deixar espaço a uma nova e pessoal interpretação. Porque sei que algumas obras são inevitáveis, não gostaria é que isso implicasse uma total reconstrução do espaço. Algumas modificações, melhorias, inclusão daqueles pormenores que entram no campo do gosto pessoal e são necessários para transformar algo em nosso, sim, mas não acredito ter a tolerância e stamina necessárias para passar por todo um processo com início numa demolição.


Um pé direito não abismal, mas algo generoso: dizem que tectos baixos oprimem a psique, que limitam os sonhos e as aspirações, já os demasiado altos dão dores de costas a quem não delega as tarefas domésticas.
Ainda dos tectos, variedade: abóbodas, abobadilhas, lisas ou revestidas a tijolo burro, tectos com vigas de madeira recuperada, sólidas, robustas, e de preferência exalando aquele perfume a cedro que tanto gosto.






Janelas assumidas, mais do que simplesmente buracos que cumprem a função de deixar entrar luz. Uma ou outra com bancos de pedra embutidos como nas casas de antigamente, as chamadas namoradeiras; um par de vitrais que pinte com várias cores a luz que entra. Nada de motivos palacianos, eclesiásticos ou modernistas.
Vestidas com portadas, (quem sabe até daquelas com pequenos corações recortados), e parapeitos com floreiras. Portadas de madeira nua, ou pintadas de qualquer cor que me apeteça. Talvez amarelo luminoso, azul celeste, verde floresta, ainda não me decidi.


Janelas eficientes e estrategicamente colocadas: dos chamados túneis de luz ou janelas cúpula, que permitem a entrada de luz natural pelo telhado, a serem usadas sem parcimónia. Porque permitem aproveitar a luz natural para iluminar todo e qualquer recanto, durante todo o dia sem acréscimo na conta da electricidade. Aliás, até ajuda à poupança, (nas vertentes financeira e ecológica), e permite o luxo de se observar o céu nocturno no conforto de casa.
Obrigatoriamente uma na casa de banho - de vez em quando quererei banhos de imersão iluminados pela lua cheia.




Só porque sim, apetece-me uma janela em frente à sanita: soa-me a felicidade suprema ir à casa de banho enquanto se contempla um cenário de idílicos verdes, mas em total privacidade.
Pode parecer estúpido, mas conhecem a expressão "bliss"? O grande objectivo é mesmo esse: aplicar a filosofia em que se transformam todos os recantos da casa e actos mais básicos da existência em momentos prazeirosos.

Cantarias, aduelas e todos os rodapés em granito bujardado, que eu gosto do aspecto rústico, genuíno, com textura e um aspecto intocado. Se der para reaproveitar pedra antiga, melhor ainda.

O mercado apresenta-me casas de vários andares e mais divisões que aquelas que preciso ou quero, em lotes ridiculamente pequenos e a preços estapafúrdios filhos da especulação, muitas a precisarem ainda de uma modernização ou até renovação total. Nada disso me serve ou tenta.

Não preciso de uma casa enorme - demasiado grande só servirá para dar mais trabalho e despesa, tanto em impostos como em manutenção. Com vários andares corro o risco de não ser apropriada para a velhice - escadarias não são amigas do séniores, e eu faço questão de só mudar, (se mudar), de casa mais uma vez na vida. Também por isso não pode ser "uma" casa, mas "a" casa.
Nem grande, nem demasiado pequena. Aconchegada sem ser acanhada, soa-me bem.

Para duas pessoas e um cão basta um único quarto - mas que seja um bom quarto, com walking closet, (que eu teimo em não dispensar porque entre roupa, sapatos, roupa de cama e atoalhados há muito que arrumar e eu prefiro uma divisão quase espartana, clean, sem armários à vista).
O meu marido, (e há-de haver mais pessoas como ele), revira os olhinhos quando falo de walking closets como se fosse fruto de caganças. Pelo menos até ao momento em que lhe expliquei que a base de um bom walking closet é simplesmente espaço, alguns metros quadrados. Que com alguma criatividade e engenho fica-se com uma coisa bonita e funcional pela fracção do preço de um bom armário, com muito mais arrumação e que se pode ir modificando de acordo com as nossas necessidades.

Um quarto sobretudo com espaço de circulação suficiente em redor da cama para circular confortavelmente uma cadeira de rodas ou qualquer outra geringonça geriátrica, (ou tão simplesmente para andar com o aspirador sem desancar o bicho nas esquinas dos móveis).
Porque desconhecendo o que a vida nos trará, penso na velhice. Não só penso como planeio, tal é a minha natureza.

Gosto que seja a cor ou textura a encher o espaço ao invés de traquitanas, por isso a paleta usada aqui poderia bem ser azul meia-noite com uns toques de verde pavão e caramelo, ou não. Ou um quarto com paredes de pedra. Apetites... Não devíamos ter receio de brincar com a cor e materiais.


As habitações normalmente não estão pensadas para acompanhar as pessoas em todos os estágios da vida e é pena, para além de ser insensato e estúpido. Quero uma casa que nos possa servir bem em todas as idades e condições.

Assim sendo, e seguindo a mesma filosofia, também nos basta uma única casa de banho, juntando num amplo e luminoso espaço um duche de boas dimensões, banheira, e restantes sanitários. Linhas limpas, tudo muito funcional, pragmático e minimalista. Escolha de peças, revestimentos e afins com base na intemporalidade. Preocupação com uma boa circulação de ar para evitar acumulação de vapores e humidades. Escolha de materiais de pavimento e revestimento de grandes proporções para ter o mínimo de juntas possível - há coisas melhores na vida onde gastar o tempo do que andar com uma escovinha a esfregar mil juntas de azulejos.



Cozinha de fusão: rústica em dois terços do seu dna, o resto simples mistura daquilo que se gosta, quer tenha por base o industrial, minimalista, ou qualquer outro estilo.

Não gosto de exaustores, mesmo daqueles que nos cativam pela beleza das suas linhas depuradas e ultra-modernas. Aquele barulho, embora variável de modelo para modelo, mas constante e inevitável tira-me a tesão para cozinhar. Tornar inaudível aquele "plop... plop... plop" que sai da panela, que nos indica que se está a atingir aquele ponto de espessura e depuramento desejado, por aquele "vuuuuuuuuum". Epá, não!
Gostaria de uma chaminé grande, teatral. Larga o suficiente para que debaixo da mesma tenhamos espaço suficiente não só para a placa, como para uma zona de preparação e ter à mão especiarias, colheres de pau e mil outras coisas da arte dos tachos.
Se precisarem de uma referência para perceber melhor do que falo, lembrem-se das chaminés das cozinhas palacianas / conventuais ou das antigas casas pombalinas.
Acho-as lindas e só de as ver dá-me vontade de ir para a beira do fogão!



Uma ilha nas mesmas proporções, com tampo em mármore branco. Espaço onde qualquer receita poderá ser confeccionada a duas, quatro ou muitas mãos.
Base de armários em alvenaria, portas que passam despercebidas.
Um par de armários altos -  louceiro e despenseiro encastrados.


Abdicar dos tradicionais armários de cozinha de parede em nome da harmonia. Demasiados estímulos ao nível dos olhos, especialmente quando desinteressantes esteticamente, dão a sensação de poluição visual, de claustrofobia, de se estar rodeado de tralha e de que o espaço se comprime.
Preferia usar esse espaço para mais janelas, um pequeno jardim vertical de aromáticas, um par de objectos decorativos como umas cerâmicas Bordallo Pinheiro ou aqueles potes antigos de farmácia...

Comunicação com a sala através de uma grande porta de correr tipo celeiro, dando a opção de se ter um todo um espaço comum, ou divisões separadas conforme a necessidade, vontade, momento.



As refeições tomadas sobre uma mesa com um tampo feito de um disco de árvore, absolutamente perfeito na sua natural imperfeição. Iluminada por lâmpadas Edison.



Frigorífico, máquinas de lavar, secar, detergentes, objectos vários de limpeza, e afins tudo encontra o seu lugar numa divisão adjacente à cozinha, - um misto de despensa, com lavandaria, com mud room - que por sua vez tem a sua porta para o exterior, e seria o local perfeito de entrada em casa nos dias chuvosos, quando se vem com sapatos sujos, ou acompanhados de um cão que precise urgentemente de um banho.


Falar da que seria a minha casa ideal é acrescentar-lhe obrigatoriamente uma torre. Com janelas em toda a volta para que se possa acompanhar toda a viagem do sol, do nascer ao ocaso. Para ver as estrelas, com ou sem telescópio.


Com varanda em seu redor, e uma porta de acesso a um pequeno terraço. Voltando à filosofia do "bliss", porque não perder um bocadinho a cabeça ,e colocar lá um jacuzzi para banhos de bolhinhas ao pôr do sol?
 

Tentar praticar ao máximo a autonomia e eficiência, a começar pela energética, através de painéis solares fotovoltaicos, uso de leds, candeeiros solares, aparelhos eficientes...
Usar de um bom número de boas práticas ecológicas. Ter um contentor de compostagem onde os resíduos orgânicos possam ser reaproveitados como fertilizante natural. Quando falo de resíduos falo das sobras da cozinha. Acho que não me estou a ver a usar uma casa de banho seca.
Em matérias de casa de banho sou muito cocó - é o lado virginiano picuínhas: de tal forma que nem me imagino confortável numa casa desligada da rede de esgotos, com fossa séptica. É bom cultivar o desapego, e parece-me muito mau feng shui viver paredes meias com um contentor de merdum. Nheca, nheca, nheca!


(continua...)


segunda-feira, 31 de julho de 2017

coisas sobre mim: Diz-me quem te rodeia...



Sinto-me no meu melhor quando noto que estou rodeada de pessoas que considero melhores que eu. Mais sábias, mais serenas, mais ponderadas, mais organizadas, mais inteligentes, sobretudo mais correctas.
A energia que emana dos outros afecta-nos... afecta-me. A qualidade dessa energia inspira ou "desinspira", e tem sem dúvida o condão de despoletar uma resposta, na maioria das vezes, ao mesmo nível.
Para mim não existe maior e melhor motivador que sentir boas energias em meu redor. Não há melhor combustível que sentir a necessidade de dar o que tenho de melhor e mais luminoso para estar ao nível daqueles que me circundam. E não se trata de competitividade, a sede de ser "prima inter pares", mas simplesmente do fruto da reciprocidade, de pagar com bem o bem que me fazem.


sexta-feira, 21 de julho de 2017

coisas de opinar: Até à próxima, Chester, ou os sapatos dos outros.


Não demonizo o suicídio, nem quem se suicida. Aliás, sempre me chocou como os suicidas são ostracizados pelas religiões, por quem clama ter uma linha directa para com o divino e que teriam a obrigação de ser a candeia do amor incondicional.
Obviamente que também não o celebro nem o incentivo, - a vida deveria ser uma benção, uma vitória e um motivo de celebração. Mas, haverá algo pior e mais digno de ser lamentado do que estar cá, estar vivo mas só aparentemente?

Portanto entendo, empatizo e respeito. E sobretudo por isso não teço juízos de valor, mas sinto a necessidade de vir para aqui, (e desculpem a falta de humildade), abordar este tema pouco simpático, porque sinto que é necessário esclarecer que quem parte nunca o faz abruptamente, que não o faz por desamor à vida, mas sobretudo, presumo eu, pela urgência urgentíssima de um novo começo, uma nova vida, uma nova encarnação, na esperança de uma nova oportunidade, da mesma forma como se faz reset ao computador.

Sim, lamentemos todas as partidas. Mas troquemos o julgamento pela compaixão. Diz um ditado que nunca poderemos saber como é a vida de alguém até andarmos nos seus sapatos. Se isto fosse realmente fazível, acho que chegaríamos à conclusão que todos os sapatos são diferentes, e se há quem pareça ter um andar fraquinho, desajeitado, diferente, se calhar é porque a vida lhe serviu sapatos de chumbo.

A todos aqueles que decidiram partir mais cedo, desejo-vos que realmente existam novas oportunidades, e que a vida nunca mais vos dê dores de pernas.

A nós que ficamos, vamos lá construir um mundo onde possamos andar descalços, sim?






terça-feira, 18 de julho de 2017

Sabedoria dos intas em 10 segundos #43


Por cá não mora gente ciumenta. Por cá mora quem não tem pachorra para com gente ciumenta.

Não me canso de dizer que ciúme não é uma qualidade afectiva, mas um nariz ranhoso, uma dor de cabeça, uma obstipação. Ou seja, um sintoma que demonstra que se sofre de um, dois ou dos três seguintes males:
1) Imaturidade emocional;
2) Doença psicológica;
3) Presença de pessoas tóxicas;

Não vale a pena aprofundar as duas primeiras alíneas.
Quanto à terceira, a cura passa por uma dieta. Tão simples quanto isto:
- Se sentem que têm motivos para ter ciúmes porque a pessoa com quem estão não é efectivamente de confiança, então porque estão com alguém em quem não podem confiar?
- Se no vosso círculo social existe aquele/a cromo/a que se esquece do mandamento fulcral que dita que pessoa comprometida passa a ser assexuada, e gosta de mandar charme a torto e a direito, qual barro contra a parede, não acham que já têm idade para saber escolher melhor os/as amigos/as?

O mundo divide-se também na perspectiva que se tem sobre os ciúmes. Há quem diga que é especiaria que apimenta a relação, eu digo que não é mais nem melhor que pimenta no cu.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

cromices #150: Arigato, merci, thank you



Uma pessoa adapta-se a tudo, inclusive a contornar situações que só sucedem a quem vive numa zona considerada turística.
Em passeata nocturna com o Kiko pela zona do centro histórico, (onde as ruas não são ruas, mas vielas estreitas de declive acentuado, forradas numa calçada portuguesa tão luzidia e encerada pelos milhares de pés que a atravessam que são um autêntico escorrega, cuja travessia com cão exige já um nível proficiente de destreza se o objectivo não for derrubar turistas aos magotes, como numa partida de bowling humano), a pessoa vê a alguns metros de distância que a estreita via está intransitável. Bloqueada por um tampão de gente, de dezenas de turistas, que não andam nem deixam andar.

Uma pessoa ainda fica ali parada uns instantes, com a esperança que alguém perceba que tem que se desviar. Mas não, é pedir muito.

Como uma pessoa quer e tem que passar, pois quanto mais tempo na descida encerada aumenta em muito a probabilidade de perder um par de dentes, há que ser despachada. Então quase sem qualquer esforço da minha parte para fazer uma voz sonante, que tenho bons pulmões e devo ter engolido um microfone, solto um "com licença, excuse me, excusez-moi, dá um jeitinho" - assim mesmo, de rajada, enquanto vou furando a multidão.


quarta-feira, 5 de julho de 2017

sabedoria dos intas em 10 segundos #42: Quando em Roma, sê como Nero, ou as filhas de Marte.



Há tempo para a paz, e há tempo para a guerra. E mesmo que pareça o maior dos contra-sensos, momentos há em que não há nada como a guerra para nos trazer paz.
Um dos erros mais grosseiros das pessoas comuns é a fatal húbris em contar que seja sempre o mesmo a aparar as falhas, a chegar-se à frente quando quem o deveria fazer não o faz. Pensam que quem é correcto nunca o deixará de ser, porque é um apelo maior da sua natureza, mesmo que quase sempre isso implique sair lesado.
Nem nunca se imagina que a pessoa do costume mude de jeito, de maneiras, de coração. Aliás, qualquer mudança seria levada muito a mal, especialmente por aqueles que são sempre parte do problema, e nunca da solução.

Até que há um dia, em que se cheirando o fumo e adivinhando o fogo, a pessoa do costume decide ser como Nero, e deixar arder. Burn, motherfucker, burn!

E o que pode ser entendido como loucura, é da lucidez mais profunda.






segunda-feira, 3 de julho de 2017

Vida de cão: Auto-controlo



A três meses dos 3 anos, o Kiko está um menino crescido e já dá lições de auto-controlo.

Marido coloca-lhe à frente o prato onde repousavam dois suculentos bifes. Estoicamente, nem por um segundo ameaçou ir contra o comando que o "paizinho" lhe havia dado de "só cheirar".

Não fosse o espanador a rodar a 100 à hora, ninguém diria que ele gosta de bife.

coisas do condomínio: coisas que me custam horrores...



Acabei de colar no átrio mais um "recadinho". Desta vez sobre o não pagamento de quotas.
Se há coisa que me custa horrores é esta, por dois grandes motivos.

Primeiro, exaspera-me a sensação de ter que andar atrás de pessoas adultas, como se de crianças se tratassem, para que cumpram o mais básico dos deveres para quem habita em condomínio - o pagamento das quotas a tempo e horas. Com a agravante de todos terem passado pelo papel de administrador, logo terem sentido na própria pele o stress de ter que lidar com esta mesma situação.
Repetirem os comportamentos de que se queixavam é o cúmulo do non-sense, para não dizer outra coisa, e é algo que me faz muita confusão.

Em segundo, não tenho feitio nem à-vontade, não aprecio e causa-me um enorme desconforto ter que falar de dinheiro com as pessoas. Soa mal, fica mal, é horrível e grosseiro, ponto.
Desconforto elevado ao expoente máximo quando tenho que abordar pessoas que vejo todos os dias por serem devedoras. Catástrofe total quando uma dica subtil não repercute qualquer efeito, e não existe alternativa senão ser frontal, sem papas na língua.

Até me dá um nó no estômago só de imaginar que o texto exposto no átrio possa não ser ainda assim suficiente. Se assim for terei que recorrer a cartas registadas com aviso de recepção para informar da dívida, para que sirva de prova num tribunal, e/ou bater às portas tipo cobrador de fraque.

Ai vida!

sábado, 24 de junho de 2017

coisas que gosto: Weeee, saldos para geeks!



Entrar no Steam, e ver que começaram os mega saldos de Verão. Abrir a wish list, e todos os jogos que havia selecionado estão com desconto! Weeeeeeeee!

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Pessoas de quem gosto: "A terra a quem a trabalha"



O sr. P. é um septuagenário aqui da aldeia.
Pertence ao cada vez maior grupo de pessoas que conheci, ou fui conhecendo melhor, graças ao Kiko e aos nossos passeios diários pelas ruas da localidade.

Cruzámo-nos num dia de Inverno, e lá fomos conversando rua acima, ao ritmo do Kiko e das suas deambulações pela relva.
O sr. P. tem um semblante amável, e uma postura escorreita que não deixa revelar a sua idade ao primeiro olhar.
Fala-me sempre da sua horta, com as nuances próprias de cada estação, e eu gosto de o ouvir, sobretudo pelo entusiasmo que coloca em cada frase, esteja a falar de couves tronchudas ou dos tomates que em meados de Junho já estão "deste" tamanho - e usa as mãos abertas para demonstrar o quão grandes são. De como uma boa meia dúzia deles já repousam no parapeito, a amadurecer ao sol.
Mal o conheci pensei cá para mim estar diante da prova viva de como o constante contacto com a terra, desde que seja genuinamente por paixão, gosto e prazer, é uma espécie de elixir da juventude. Que a Natureza retribui, com juros, a quem dela cuida.

O sr. P. mora numa das ruas limítrofes da aldeia, num aglomerado de casas abraçadas a montante por um vale. Algures nessa extensa linha de mato, fica a sua horta, num terreno - apressa-se a esclarecer - que não é seu, mas que não fosse este seu "passatempo", como lhe chama, estaria destinado ao silvado, embora tenha dono.
A última vez que me cruzei com este amigo, ainda não se adivinhava a enorme e dantesca tragédia de Pedrógão Grande, confessava-me a sua preocupação, partilhada por alguns vizinhos octogenários, perante a negligência dos legítimos donos dos terrenos que lhes circundam as habitações. Terrenos por limpar, com mato denso e silvas do tamanho de gente. De como uma sua vizinha, senhora idosa, lhe dizia que não fosse o sr. P. a passar com o trator e a limpar algum desses espaços, por sua iniciativa, usando do seu tempo e meios, o cenário seria pior.
Sublinhava que num desses espaços havia passado o trator fazia dois anos, e esse tempo bastou para que surgisse um verdadeiro matagal. Que era necessário voltar a limpar, e que não se vendo qualquer interesse por parte dos proprietários se sentia tentado a fazê-lo novamente, pensamento que leva ao justo desabafo da sua mulher: "Sempre os mesmos! Calha sempre aos mesmos!"

Contrapus que esse era o eterno dilema das pessoas íntegras e cumpridoras: ou se faz no lugar daqueles que teriam o dever de o fazer mas que nada fazem, ou se permite que o descalabro e o caos imperem com consequências para todos.

Nunca me fez tanto sentido o adágio propagandista que diz "a terra a quem a trabalha".


sexta-feira, 9 de junho de 2017

coisas de comer: Não foi amor à primeira garfada, mas hoje sou fã do conceito.



Falo dos restaurantes de buffet livre. Aqueles onde por um preço fixo e normalmente convidativo, os comensais podem servir-se sem restrições de todos os pratos, doces ou salgados, apresentados pelo restaurante.
A única regra, com a qual concordo plenamente, existe para evitar o desperdício alimentar: a quem tiver mais olhos que barriga é cobrado um extra. No último restaurante deste género a que fui o valor residia nos 18€/kg.
Este conceito veio para ficar e já existem locais que se especializaram em comida asiática, sushi, brunch, brasileira, tradicional portuguesa, etc.

Como é normal e esperado existem restaurantes melhores que outros. Os melhores serão, sem dúvida, aqueles que investem na qualidade dos alimentos e da sua confecção, na variedade, num bom serviço e no espaço. Se o conseguirem, o sucesso é garantido.

Tornei-me fã deste conceito porque este satisfaz muito mais critérios que aquela coisa de ser "enfarta-brutos". 
Penso que de todos é o que permite a fruição de uma refeição verdadeiramente casual e descontraída, sem aqueles compassos de espera que chegam a roçar o ridículo e o doloroso: aquele ritmo "senta- espera - trazem ementa - espera - fazer pedido - espera - trazem entradas - espera - trazem bebidas - espera - trazem prato - pedir carta de sobremesas - espera - trazem carta de sobremesas - espera - pedir - espera - trazem sobremesas - acaba-se de comer a sobremesa e tenta-se pedir um café - espera - pede-se café e já agora a conta - espera - trazem café - espera-se pela conta..."

No total acho que visitei um pouco menos de meia-dúzia deste tipo de estabelecimentos. O que visitei ontem na companhia dos meus pais passou directamente para o primeiro lugar da minha curta lista.

Basicamente a experiência foi irrepreensível:

- o espaço era giro, bem decorado, imaculado (inclusive as casas de banho), espaçoso (as mesas estavam à distância certa uma das outras, para que ninguém incomodasse ninguém nas constantes movimentações de e para o buffet);
- tinha estacionamento próprio;
- o serviço era organizado e rápido (havia sempre alguém preocupado em recolher os pratos sujos das mesas e a cuidar do buffet);
- muita variedade de enchidos, queijos, pratos quentes (peixes, carnes e vegetariano), saladas frias, doçaria regional e fruta;
- qualidade ( tudo o que provei, o que não foi mais que uma pequena fracção do que havia por lá, estava muito bem confecionado, o que é claramente um sinal que estes locais já não são só para quem dá valor à quantidade, mas sim também para quem valoriza a qualidade).