sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

coisas de jogar #8



Beholder

Este jogo passa-se numa sociedade totalitária, num cenário distópico inspirado por vários autores como Orwell, ("1984").

Aqui assumimos o papel do personagem principal - Carl. A saga de Carl e da sua família inicia-se com uma carta do governo, em que este é informado do seu novo papel: o de porteiro de um prédio.
O seu papel é saber tudo sobre todos, e reportar através do mítico telefone vermelho, o ministro.
Aqui, não há escolha que não tenha consequências.




cromices #145: As pessoas são como o caviar, ou todas as moedas têm duas faces.



A minha Mãe tem vários apelidos carinhosos com que me trata. O meu favorito foi sempre, de longe, o de "bruxinha". Sem saber deste pormenor, o meu marido também me trata por um cognome muito semelhante, e a ambos respondo "bruxinha não, bruxa má da floresta, faz favor!", antes de me desmanchar a rir.

Agora lembrei-me que também gosto de "ursa na gruta" de tal forma que estamos perante um empate.
De qualquer modo, são ambos petit noms que me assentam que nem uma luva, e que uso ao peito como um crachá com um desmedido, e talvez exagerado, prazer.
Para além de lhes achar piada acho que revelam parte da minha natureza, especialmente a parte relacionada com introversão e o meu afincado gosto por passar tempo comigo própria, em casa de preferência, perdida em leituras, projectos e pensamentos ou até num estado de graça de dolce far niente.

"Credo! Mas és assim, tão... tão anti-social?!" - perguntarão. Ao que eu responderia, "tem dias". Ou melhor ainda, "tem momentos".

Nada define melhor o meu lado lunar de que a memória de quando li pela primeira vez o "Assim falou Zaratustra". Estava a meio da minha adolescência e a primeira coisa que me ocorreu foi uma inveja do personagem: "Cabrão do velho! Sortudo do caraças! Desce à aldeia só quando lhe apetece mandar uns bitaites e depois volta para a gruta, onde ninguém o chateia!"
Também quero viver numa gruta, pensava eu. É claro que esta teria que ter todos os confortos, do wc ao wi-fi.

Ou ainda uma memória de quando teria uns 3 ou 4 anos, e ia com a minha mãe às compras pela mão, e volta e meia encontrávamos uma senhora na rua, e esta insistia no "dá cá um beijinho", o que era uma autêntica maçada para mim, e eu escondia-me atrás das pernas da minha mãe. E mesmo assim o raio da mulher não se calava com a trampa do beijinho, o que resultou numa espécie de reacção pavloviana, comigo a queixar-me que não queria beijinhos e que ela era chata mal a topava no fundo da rua.
Na verdade comecei a enfadar-me tanto, mas tanto, com a insistência geral em relação a isso dos beijinhos a toda a hora e a todo o momento, que um dia passei-me dos carretos e mordi a bochecha de uma menina, depois de minutos com a minha ama, a mãe da menina e até esta a instar na coisa. E eu, truncas, toma lá! Uma espécie de grito do Ipiranga, de "deslarguem-me a braguilha!"

Não é que não gostasse ou goste de beijinhos, apenas nasci a dar valor à liberdade de os dar quando e a quem quero. Aqueles que eu poupava na rua, levava-os para casa e para sofrimento do meu pai, dava-lhos todos de uma virada. Sentava-me no seu colo, prendia os meus bracitos à volta do seu pescoço, e dizia-lhe "Papá, vou-te dar cinquenta beijos", e o desgraçado do meu pai não se livrava de mim nem um beijo antes.

Quanto aos tipos sociais eu quedo-me exactamente no meio, qual equilibrista na linha que separa a introversão da extroversão que ora pende para um lado ou para o outro.
Há quem só conheça o meu lado mais cordial, simpático, empático, sorridente, conversador, paciente e atenta ao próximo q.b.. Há momentos em que consigo ser tão faladora e maçadora como qualquer outra pessoa, e até demonstro uma comum tendência para a repetição e uma particular incidência nas piadas secas.
São os momentos em que consigo e quero canalizar a minha energia para o mundo exterior, tão genuínos e parte de mim quanto os instantes em que a minha atenção se vira para dentro, para o mundo interior, para mim mesma, e se fecha ao que vem de fora.

São faces da mesma moeda, um não existe sem o outro. Em mim, com tudo o que isso implica, não existe lado solar sem lado lunar. Quando não respeitam o meu lado lunar, a face solar eclipsa-se.

Quando tenho que interagir gosto especialmente de o fazer com a minha faceta solar. Gosto genuinamente de pessoas e é igualmente verdadeiro o sorriso que ponho na cara para todos. Existe um esforço da minha parte para dar o meu melhor nessas ligações, para prestar mesmo atenção às conversas, e demonstrar real interesse mesmo que o tópico não seja dos meus favoritos, ou que já esteja a ouvir pela segunda ou terceira vez o mesmo discurso. Obrigo-me a estar disponível, presente, a ser tão positiva quanto consiga, porque acho que é assim que tem que ser, que tanto eu como as outras pessoas merecem essa qualidade, essa intenção, aquando os nossos contactos. Não se trata de fingimento, mas de canalizar o melhor que temos para oferecer naquele determinado momento.

E há quem só me conheça assim: basicamente são as pessoas que me permitem apreciá-las como caviar, ou qualquer outra iguaria especial que preste à metáfora por se dever degustar com parcimónia, uma colherzinha de cada vez.

São as que entendem que não devem insistir em mais chamadas quando desligo a primeira, porque depois da segunda tentativa, especialmente se for de seguida, sou bem capaz de desligar o telemóvel durante uma semana. Que quando digo não ter disponibilidade para vídeo chamadas naquele momento, e voltam a insistir, fazem com que me desligue de qualquer chat por tempo indeterminado. Que quando se cruzam comigo saberão que há dias em que não dá para mais que a troca de um cumprimento, e não insistem em despejar-me um monólogo em cima, para o qual não terei naquele momento nem tempo nem paciência. Especialmente se for às 7h da manhã, por Deus! Que querendo obrigar-me a sujeitar-me à sua vontade ignorando a minha, obrigam-me a ser descortês, o que me desagrada igualmente.
São as que entendem que para pessoas como eu a existência de afectos não depende de se falar todos os dias, ou todas as semanas, ou até todos os meses. Que não querer estar sempre a conversar não é, de todo, o mesmo que estar zangado, ou doente, ou mal. É simplesmente ter uma personalidade e necessidades diferentes. O que a uns energiza e dá prazer a outros cansa.
Uma colherzinha de caviar pode ser uma iguaria, para alguns, mas se vos fizerem comer toda uma tigela de enfiada, não será mais que algo gelatinoso e salgado.







segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

coisas de jogar #7



Stardew Valley

Falar de Stardew Valley é começar por falar de Eric Barone, ou melhor ConcernedApe, que desenvolveu o título completamente sozinho, durante 4 anos, o que implicou frequentes jornadas de 10 horas. ConcernedApe dedicou-se à elaboração de todos os componentes do jogo, em todas as suas fases, desde a programação, à pixel art, ao som.
Não só é fantástico ser uma só pessoa a abraçar a colossal tarefa que é o desenvolvimento de um jogo, como não estamos a falar de um profissional com carradas de experiência e um currículo extenso, mas de alguém que não tendo encontrado emprego na sua área quando terminou o curso, dedicou-se a este projecto também como forma de afinar as suas capacidades. Igualmente incrível é que em 2016, aquando o seu lançamento, foi um sucesso imediato, (ultrapassando em meses um milhão de vendas), como foi nomeado para vários prémios, inclusive o do melhor jogo indie do ano.

História à parte, é um bom jogo, e recomendo-o!








quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

caixa de ressonância






coisas que gosto: Billions in change e a bicicleta que produz energia



Manoj Bhargava é um bilionário indo-americano que fez fortuna com uma bebida energética.
Em 2015 juntou-se à campanha The Giving Pledge, iniciada por Bill Gates e a sua mulher em 2010, que consiste numa lista crescente de pessoas que se comprometem a doar a maior parte da sua fortuna, ainda em vida ou após a morte, a causas filantrópicas.

Com o apoio financeiro de Manoj surgiu a Billions in Change - um movimento que visa desenvolver soluções simples nas áreas da energia, água e cuidados de saúde, com o objectivo de tirar biliões de pessoas em redor do mundo da extrema pobreza, e assim melhorar de toda a população global - pobres e ricos.
A crença desta organização é que facultando soluções tecnológicas simples que satisfaçam necessidades básicas como água potável para consumo e agricultura, energia limpa e gratuita para as habitações, escolas e negócios, e o acesso a cuidados de saúde cuja filosofia é a prevenção, é o caminho correcto para retirar cerca de metade da população mundial de uma situação de extrema pobreza e desigualdade para com a outra metade.

Uma das maiores apostas da BiC é a Hans Free Electric, uma bicicleta estacionária que segundo afirmam, basta pedalar durante uma hora para produzir electricidade para um dia inteiro para uma habitação.
Existem muitos engenhocas pelo mundo que apresentam variações desta tecnologia, as opiniões diferem sobre as possibilidades, o melhor caminho, etc. Mas, embora todo o produto possa ser afinado para ser melhor, gosto do conceito, da mudança que este modelo representa já para a paupérrima população da Índia rural.

Sobretudo aprecio o potencial: quantas bicicletas estacionárias existem por este mundo fora, não seria fantástico se aproveitássemos todo esse movimento para produzir energia, gratuita e não poluente?

Pois eu cá adoraria ter uma em casa: imagino-me a pedalar enquanto estou aqui convosco, por exemplo, aproveitando para poupar na conta da electricidade.









segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

cromices #144: Do marketing...



Demorei anos para perceber que gosto imenso de Marketing, e não só de Publicidade.
Demorei ainda mais tempo para concluir que talvez tenha sempre gostado de Marketing, e que a minha crença anterior não teria passado de um equívoco.

Sabem, é que é muito fácil acreditar que não se gosta, neste caso, de Marketing, quando muitas empresas que supostamente procuram alguém para esta área, na realidade procuram é um pau para toda a obra, que acaba por fazer de tudo... menos Marketing.

Quando vivemos livres dessas empresas, o amor regressa.

Aqui há dias, de uma forma totalmente casual e inesperada, no meio das minhas rotineiras deambulações, regresso a casa com um contacto de uma empresa, dada em mãos pelo próprio.
"Preciso de alguém nessa área" - diz-me, em inglês.
Pergunto-lhe a área de actuação. Responde-me com o site da empresa, e pede-me que lhe envie depois o meu mail.

Chego a casa, e pesquiso a empresa. Uma simples pesquisa revelou alguns elementos. Para mim, mais revelador e determinante que qualquer informação institucional, foi a descoberta de um par de anúncios de emprego já com alguns anos.
No primeiro anúncio esta mesma empresa procurava alguém a tempo inteiro, um(a) funcionário(a) de limpeza. Até aqui tudo bem.
O problema reside na secção onde se descreve os requisitos e perfil que se procuram no candidato: tinha que ter viatura própria, conhecimentos de inglês, de informática... Ou seja, que seja pau para toda a obra, capaz de imensas coisas que excedem os conhecimentos necessários para a execução de limpezas, mas pago somente como tal, como é de prever.

Os outros anúncios não diferem muito deste.

Para mim, este tipo de anúncios dizem-me mais sobre uma empresa que qualquer outra coisa. E mal.
São o tipo de empresas, com as quais aprendi por experiência própria, que o único lugar que têm na minha vida, é na minha lista negra.
Mesmo assim, enviei o meu mail, embora não tenha obtido até ao momento qualquer resposta.

Começaria por lhe pedir uma descrição exaustiva e transparente das funções que esta pessoa imagina incutir neste alguém que procura "para o marketing". Receberia depois da minha parte uma lista de serviços a que o Marketing se presta e um preçário, uma estimativa de orçamento, e o contacto de algumas agências especializadas.
Até tenho pena de não ter recebido o tal contacto. Teria todo o gosto em lhe dar, absolutamente grátis, a lição que o trabalho paga-se condignamente, e que há que respeitar todo o especialista, seja médico, advogado, arquitecto, ou marketeer.




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

coisas de opinar: Um aumento de imposto com o qual concordo.



Trata-se do recém criado Imposto sobre açúcares.

Este determina que às "bebidas adicionadas de açúcar ou edulcorantes" como é o caso dos refrigerantes será cobrado um imposto adicional.
Este divide-se em dois escalões, dividindo os produtos quanto à quantidade de açúcar adicionado: às bebidas com até 80 gramas de açúcar por litro, o imposto cobrado será de 8,22 euros por hectolitro (100 litros). Se a quantidade de açúcar for superior, o imposto passa a ser 16,46 euros. Ou seja, por cada litro de refrigerante o valor do imposto será 8,22 ou 16,46 cêntimos.
Para além dos refrigerantes, esta medida englobará também bebidas de baixo teor alcoólico (de 0,5% a 1,2%) como as sidras e o hidromel.
As bebidas doces à base de leite, assim como os néctares e sumos de fruta não estão incluídos neste imposto.

Os comerciantes devem contabilizar o seu stock destas bebidas e comunicar os dados ao fisco, pois terão até 31 de Março para vender os produtos adquiridos antes da promulgação desta nova taxa, sem a pagar. A partir de 31 de Março, pagarão imposto mesmo sobre o stock antigo.

Cabe às empresas do sector a decisão sobre se o imposto será pago por estas ou pelo consumidor.

Obviamente que as empresas do sector não estão satisfeitas porque esperam uma descida no consumo. Mas, o objectivo desta medida por parte do Governo é exactamente essa: diminuir o consumo de bebidas açucaradas pelo simples facto que estas prejudicam a saúde.
Por esse motivo sou totalmente a favor deste imposto, e também me agrada sobremaneira que as receitas geradas por este sejam direccionadas para o orçamento do ministério da Saúde. Estamos a falar de uma previsão de cerca de 80 milhões de euros.

Espero que a maioria das pessoas já esteja ciente dos malefícios para a saúde do consumo de açúcar em excesso, e que todas as bebidas contempladas pelo imposto usam na sua composição quantidade completamente abusivas e aberrantes e que devem ser, se não riscadas dos hábitos pelo menos consumidas com moderação. Aliás, já tínhamos abordado este tema por aqui, em 2013.

Este é um passo evolutivo, é um imposto com raíz numa boa causa.  As empresas do sector que se adaptem aos novos tempos, que invistam no desenvolvimento de produtos amigos da saúde. Da mesma forma que não se usa amianto na construção de casas modernas porque se chegou à conclusão que este é cancerígeno, isto não é diferente.

Só lamento que tenha faltado a coragem para estender este imposto às bebidas alcoólicas. O lobby é forte, afinal somos um país de bêbados, mas um dia chega-se lá.
Frustra-me, choca-me e indigna-me que em qualquer café, uma cerveja, por exemplo, seja vendida quase ao preço de um café, seja mais barata que uma garrafinha de água, (que deveria ser a bebida mais barata do mundo), e bastante mais barata que um sumo de fruta ou néctar, ou até chá. E quando falamos de um sumo de laranja natural a comparação é tremenda: pelo preço que alguns estabelecimentos cobram por este dá para comprar 3, 4 , 5, 6 cervejas...