Dita a lógica que quanto menor for a área de uma divisão, mais esforço deve ser despendido em aproveitar o espaço existente. Já que não podemos, por artes mágicas, acrescentar alguns metros às divisões, podemos imaginar formas de aproveitar os "espaços mortos", aqueles cantos que à partida parecem impossíveis de aproveitar.
Ontem dei por mim a olhar para um dos "espaços mortos" da nossa cozinha, e a imaginar como o poderia aproveitar.
Refiro-me especificamente ao espaço que fica por trás da porta quando esta está aberta, que nunca foi propriamente utilizado porque nunca me ocorreu que realmente coubesse lá algo que fosse funcional, que servisse as minhas necessidades, e não bloqueasse a circulação.
Essa mesma parede tem uma particularidade estrutural: uma reentrância ao longo de dois terços do comprimento da cozinha, com treze centímetros de profundidade e quase dois metros e trinta de altura. E pela primeira vez ocorreu-me que poderia tirar partido dessa assimetria. Que naquele "espaço morto" poderia muito bem caber um armário alto.
Peguei na fita métrica e comecei por medir a distância entre a tomada e o início da reentrância, o que deu sessenta e quatro centímetros. A esses sessenta e quatro centímetros de largura, juntem-se duzentos e vinte e sete de altura, e trinta e três de profundidade - estas são as medidas, ao centímetro, do espaço que poderia ser ocupado pelo tal armário, sem tapar qualquer tomada, ou causar incómodo na circulação.
Fiquei realmente surpreendida com as medidas: onde parecia não haver espaço algum, até há muito. O suficiente para um armário generoso, e com muita arrumação se pensado ao pormenor, e mandado fazer à medida.
E eu que até gosto de desenhar móveis, comecei de imediato a rabiscar.
As laterais do móvel teriam ter furinhos ao longo de toda a altura, preenchidos com aqueles pequenos suportes para prateleiras, para que estas sejam fáceis de mudar de posição.
A capacidade de armazenamento poderia ser aproveitada ao máximo se se usar também o lado interior da porta do armário para arrumação. Tanto poderia servir para as vassouras, esfregonas, panos e detergentes, como para especiarias, garrafas, enlatados e outras mercearias.
O potencial é imenso e o limite é a imaginação e a necessidade: poderia ser um despenseiro, de forma a ter todos os mantimentos próximos mas escondidos; poderia organizar todos os tachos, caçarolas, tabuleiros, frigideiras e tampas, ou toda a louça de servir - pratos, travessas, copos; ou todos os tupperwares, ou ainda todos os pequenos electrodomésticos. Ou ainda para ocultar os baldes de lixo e de reciclagem, guardar todos os produtos de limpeza.