sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

coisas de pensar: EDP - a partir de que limite são as margens de lucro imorais?





Todos os dias, desço até à mesma esplanada e, enquanto tomo o pequeno-almoço aproveito para ler as notícias.


É um dos rituais que fazem parte de uma rotina que me é aprazível e da qual muito dificilmente abdico.


Hoje, deparei-me com esta parangona:
"EDP reduz lucros em 0,7% para 1.005 ME em 2013".


(podem ler o artigo aqui )




Não posso deixar de pensar nesse número. Mil milhões de euros é um senhor número!


Sim, ter lucro é bom. Aliás, espera-se que todas as empresas o sejam capaz de gerar, caso contrário estará em causa, não só a sua sobrevivência, mas a sua raison d'être.


De todas as categorias que podemos utilizar para compartimentar bens e serviços, escolho agora uma: a que separa os essenciais dos não-essenciais.


A energia eléctrica é um bem essencial de consumo, tão indispensável a qualquer cidadão como é a água, a habitação, a mobilidade (seja através de transporte próprio ou público), o acesso à educação ou à saúde, e por aí fora.


Em Portugal, (em comparação com os restantes países da UE), aufere-se dos mais baixos salários, (quer numa perspectiva de salário minímo ou médio), mas o preço que pagamos pela eletricidade é o 4º mais elevado.


E é por isto que falar em mil milhões de lucro, deixa um sabor amargo na boca, uma sensação de imundície e palavrão.


Fossem números de uma qualquer empresa de bens ou serviços de luxo, uma Ferrari, uma Rolls Royce, a coisa era diferente. Continuaria a ser uma demonstração grosseira do quão profundo é o fosso entre as diferentes classes, e o seu desigual poder de compra, mas mesmo assim, não tão mau, como um astronómico lucro realizado à conta de um bem de consumo essencial à sobrevivência.




Portanto, senhores accionistas da EDP, proponho que escolham uma das seguintes opções:


a) Reduzem em 50% o preço da electricidade. Os consumidores agradecem, (eu bem que ficaria feliz com a minha factura reduzida em metade!), e ainda se podem lambuzar com uma perspectiva anual de lucro de 500 milhões, seus lambões!


b) Ou investem metade dos vossos lucros, todos os anos, em coisas de real valor e interesse para toda a sociedade - como na saúde, na educação, com quem realmente precisa.


Bale?








segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

sabedoria dos intas em 10 segundos #25



Diz-se que não há escola como a Vida. Que um dos grandes papeis da Existência é permitir-mo-nos a Evolução.
Que esta escola não é como as outras: não existem cadernos, manuais, aulas agendadas, horários e programas pré-definidos com objectivos e conteúdos como existe para o Português ou a Matemática.


Nesta Escola, existimos nós e os outros, simultaneamente ocupando o papel de aluno e professor. Onde a imperfeição de todos, apresenta a cada erro, uma lição, repetida uma e outra vez, tantas quantas forem necessárias à aprendizagem.


Na maioria das vezes, aqueles que nos trazem a oportunidade de aprender, estão longe de incorporar os traços dos guias espirituais que esperaríamos para tal tarefa. Não são monges simpáticos e serenos, nem velhotes curandeiros, sorridentes e desdentados, de um qualquer destino exótico.
São as pessoas do dia-a-dia, iguais a nós: as que erram connosco, que nos tiram do sério, que nos causam desconforto, que nos fazem recorrer aos padrões de comportamento menos benignos que vivem em nós, (porque são mesmo esses que precisam de ser notados e corrigidos), que nos levam a reagir como furacões.


E, após o furacão, vem a Consciência. E isso é não é bom, é excelente!

É o primeiro grande passo: perceber que estamos perante uma lição. Que esta é, invariavelmente sobre, em e para nós. Obriga-nos a parar, a reflectir, a reviver o sucedido como observadores de nós próprios, não para nos censurarmos, (devemo-nos Amor e Compaixão), mas entender a razão do nosso comportamento, das nossas acções.


É partir do fruto e navegar por folhas, ramos e tronco, até alcançar a raiz.
Tantas vezes, ao longo da vida e das vidas, quantas forem necessárias, para que a nossa árvore só beba da mais pura e cristalina fonte. E aí... o potencial é infinito!










sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Você abusou...





Há anos, tive que estar em frente a uma câmara de vídeo, a falar sobre o que mais me irritava. Talvez fosse efeito do close-up, mas senti-me tão pouco à-vontade, que respondi algo sem nexo.
Hoje diria que, se me quiserem elevar à quinta potência da exaltação, basta demonstrarem falta de bom senso, e abusarem da boa vontade.


São princípios que me foram incutidos pelos meus pais de tal forma que se tornaram numa espécie de movimento reflexo, automático.


Para que percebam melhor, um exemplo:


Quando entrei para o liceu, o pai de uma amiga, que tomava o mesmo caminho para o emprego, tinha disponibilidade para levar a filha à escola de manhã. Havendo espaço no carro, teve a gentileza de extender a cortesia a mais miúdas. Entre elas, eu.
Os meus pais agradeceram-lhe e deixaram bem claro que se porventura um dia me atrasasse a chegar ao ponto de encontro, não deveriam esperar por mim. Que "amigo não empata amigo". Que chegar atempadamente e não pesar a quem nos faz uma gentileza é um dever que não deve ser descurado. Que quem abusa da boa vontade não é merecedor de favores.
Por acaso, eram eles que se atrasavam. Mas lá está, segundo os meus pais, isso não interessa nada, porque devemos ser cumpridores, independentemente do que os outros façam.
E que como favores nunca serão obrigações, se assim preferisse, a Rodoviária Nacional nunca deixava de ser uma belíssima hipótese.


Isto ilustra o ambiente em que cresci. Fez de mim uma pessoa tão imperfeita quanto outra qualquer, mas quiçá, um bocadinho mais consciente.




Ora, há dias, poucos minutos depois de acordar, tocam à porta. Era um vizinho.
Com os sentidos ainda turvos, qualquer conversa me soa a  "blá blá blá whiskas saquetas".
Fui conseguindo apanhar alguns vocábulos como: carro... reboque... viatura de substituição... coisa rápida... blá blá blá... um favor.
Com muito custo, e a pensar que não percebo nada de mecânica, inquiri: "favor?".
"Sim... blá blá blá... crianças". Aí foi como se tivesse tomado um primeiro café. "Quê? Olhar pelas crianças? Eu?! Quando?!"
"Agora." - disse ele. E eu posso jurar que soltei um guinchinho. Não me ter saído um "fo...go!" ou um "c'um carago!"...


Reticente, argumentei que a minha experiência com crianças era nula, (ao longo da minha vida vi amigas a trocarem fraldas, prepararem biberões e noutros rituais com as suas crias, uma dúzia de vezes, o que faz de mim alguém tão entendida na matéria como em física quântica), que nunca tinha mudado uma fralda, que era uma enorme responsabilidade. E pensei para com os botões do meu pijama "demasiada responsabilidade, para se entregar a quem não se tem intimidade para além da usual troca de cumprimentos quando nos cruzamos".


Não desarmaram, e num espaço de dez minutos tinha uma mãe a deixar-me duas crianças, um menino de 1 ano e uma menina de 5, em casa.
Sorri-lhes, ainda atordoada, e pensei para mim mesma "respira fundo, vai tudo correr bem, afinal é só por um par de horas".


Começámos por cumprir o meu ritual de ir tomar o pequeno-almoço ao sítio do costume. Sim, portei-me bem e pedi um ucal e uma sandes mista para a miúda, mesmo após a insistência desta sobre como preferiria um gelado ou chocolates.
Já em casa, meti-os a ver um daqueles canais de tv infantis. Fui buscar papel, lápis de cor e de cera.
Tudo tranquilo. Até que...


... as horas começaram a passar, as coisas começaram a fazer falta, e dentro das mochilinhas que tinham vindo com os miúdos não havia rigorosamente nada mais do que fraldas e toalhetes!


- "O que é que o mano papa?" - "Leite no biberão."
- "Está onde? Na mochila?" - "Não. Está em casa."


O primeiro de muitos momentos de apoplexia nervosa.
Valeu-nos a experiência de vários amigos, que foram respondendo às minhas dúvidas através do facebook, e a carne picada que tinha no frigorifico, pensada para o jantar dessa noite, acompanhada com arroz branco, e creme de legumes. Por precaução, com pouco tempero.
Tudo servido em pratos de sopa e colheres para evitar acidentes, e uma oração minha pedindo a quem me ouvisse que nenhum dos petizes tivesse alguma alergia a algum dos ingredientes.


Na hora de mudar a fralda, faltava o creme para passar no rabiosque. E onde estava este? Em casa, pois claro!




- "Tens algum telemóvel para ligar à mãe?" - "Sim. Em casa."


Pois, que entre o meu estado sonolento e surpreendida, e a pressa da mãezinha de aproveitar o ocorrido para ir laurear a pevide com a cara metade e sem putos atrás, (que eu entendo, a sério que entendo! Mas há maneiras mais correctas de agir!), nem trocámos contactos.


O périplo durou 7 horas. Teria durado mais certamente se, por obra do acaso, não encontrasse quem me desse o número deles.


- "Daqui fala ... Como é?! Já viram as horas?!"
- "Ah... Olá... Já não demoramos muito, ainda temos de..."
- "Pois, isso não me interessa. Não estava preparada para ficar com os miúdos tantas horas. Tenho coisas para fazer. Quanto tempo demoram?"
- "Já só falta blá blá blá... 40 minutos."
- "40 minutos? Certo. Então, prestem atenção, os 40 minutos começaram a contar agora."


Desliguei.


Apareceram a horas. Os miúdos estavam cobertos de migalhas do lanche, sorridentes. É uma imagem gira ver um miúdo de 1 ano a rir-se com uma bolacha em cada mão, ou apanhados a pintar a cara com lápis de cera. Tive direito a abraços e beijinhos. Vários durante o dia, que retribui e soube-me bem.
A experiência com eles foi boa, teria sido exponencialmente melhor se não fossem os pais.
As atitudes próprias de quem quer agarrar o braço e o corpo todo a quem oferece uma mão.
Talvez o problema seja também meu, porque me abespinho com essas coisas, fico ofendida e olho para as pessoas com outros olhos.
É mais forte do que eu deduzir que quem age assim, fá-lo em muitos outros contextos.




O casal agradeceu, diversas vezes. Mas não colocou nenhuma questão. Iniciei eu a vomitar o relatório, o que comeram, quando, quem dormiu a sesta.
Teria ficado bem se me tivessem perguntado se me deviam alguma coisa. Não que tivesse aceite, mas teria gostado de ouvir. É uma questão de educação.


Para além dos agradecimentos, repetidos muitas vezes, só uns comentários sobre como o miúdo em casa não dorme a sesta, que significa que gostaram de ficar comigo. Que deveriam voltar mais vezes!


Não reagi. Quando fechei a porta, fechei todas as portas.
Gastaram todos os cartuchos de boa vontade de uma só vez.


Repeti entredentes, só para mim, que à primeira todos caem, à segunda só cai quem quer.
















sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

cromices #8: Superstições...





Há uma vida atrás era tão, mas tão supersticiosa, que quando me vinham com conversas sobre casamento, noivado, união de facto, conhecer a família, ou qualquer outro tirado do capítulo "compromisso", pelo sim, pelo não, batia três vezes na madeira, fazia figas e murmurava "vade retro".
Se conseguisse ser discreta q.b., pelo meio, ainda era capaz de me benzer e atirar sal sobre o ombro.












Quando os homens falam de amor #15












Quando as mulheres falam de sexo #14












terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

cromices #7: Bingo





"ASAE fez detenções em festa secreta Rebel Bingo" - E é esta a parangona de uma das notícias do dia.


A questão é que, nunca na vida, pensei chegar o dia em que o bingo fosse descrito como "hardcore".
E é isto.








segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Faça-se luz...





O sonho é algo transversal. Todos sonhamos, todos temos uns quantos sonhos que são também ambições, objectivos de vida, e pelos quais somos mais ou menos obstinados.


Um desses meus sonhos é ter uma pequena quinta. Com uma casa, não luxuosa, mas esteticamente agradável, cujas características correspondam às nossas necessidades e hábitos, e que espelhe as nossas personalidades. Sobretudo, que seja sustentável e energicamente autónoma, através do uso de energias renováveis.


Eu sei que é um sonho algo comum, mas isso não lhe retira o valor. E dias como hoje, só acrescem uns quantos pontos percentuais na minha obstinação.


Eu explico:


Hoje, durante umas horas, nesta zona, não houve electricidade para ninguém. Eu só me apercebi quando terminei o pequeno-almoço na esplanada.


- Fui ao banco, mas as máquinas multibanco estavam em baixo, (e foi aí que me apercebi).


- Comprar cigarros? Impossível, visto que a máquina não funciona.


- Ir às compras? Sem electricidade, torna-se uma missão impossível.


- Continuar na esplanada para queimar mais algum tempo? Não, quando não é possível pedir café.


- Ver o planeamento para o dia ir por água abaixo: já não será possível fazer uma máquina de roupa, nem aspirar, ou passar a ferro, nem sequer ligar o pc para trabalhar um pouco, ou até deambular pela internet.


E dou por mim a suspirar: Meus ricos painéis solares...