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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Lições dos intas #2: Este Halloween ficará na História...



Não na História do Mundo, mas na minha, com toda a certeza.

Passo a explicar.


Começo por vos colocar uma questão: que tipo de pessoas são vocês enquanto consumidores? São daquelas pessoas capazes expressar no momento o vosso desagrado com o produto ou serviço, ou ficam calados, e ficam a remoer no descontentamento, a pensar que deveriam ter dito ou feito algo, mas que sentem que não possuem feitio para tal?

Pois bem, nós por cá sempre pertencemos ao segundo perfil. Ficávamos aborrecidos quando a coisa não corria bem, às vezes ao ponto de riscarmos determinado estabelecimento da nossa lista, mas não tínhamos em nós o à-vontade para expressarmos a nossa insatisfação com a clareza desejada, naquele exacto momento. É acima de tudo uma questão de feitio.
Mas as pessoas mudam com o tempo, e tornam-se capazes de gestos que nunca pensaram ser possíveis. E ainda bem.

De vez em quando vamos dar uma volta diferente com o Kiko e aproveitamos para passar na pizzaria do costume, para encomendar o jantar.

A rotina é sempre a mesma: o marido fica na rua com o cão enquanto eu vou fazer o pedido. Dão-me o talão e informam-me que em 10-15 minutos o pedido estará pronto. Tempo que usamos para dar mais voltinha antes de regressar à loja.

Às vezes as coisas atrasam-se. Por vezes são pequenos atrasos, outras, atrasos monumentais. Daí ser algo que normalmente não fazemos em dias de grande afluência.

Embora o restaurante estivesse quase às moscas, pelos vistos havia um grande número de encomendas ao domicílio, o que desnorteou por completo a equipa.
Lá fiquei eu ao balcão, sempre amável e serena, (porque estas coisas acontecem, e não seria a ausência de serenidade que faria as nossas pizzas aparecerem mais rapidamente), durante o que foi, no total, uma hora, ou quase.
Entretanto já a gerente tinha tido a amabilidade de me pedir desculpa pelo atraso, explicar-me que tiveram que refazer todos os pedidos, porque entretanto haviam perdido o fio à meada sobre a quem pertencia cada pizza.

É claro que fui compreensiva. Mas, paralelamente, deu-se um clique: sim, - pensei para com os meus botões - tenho empatia e compreensão por eles, mas isso não faz com que tenha que desvalorizar o facto de estar há uma hora à espera. Uma coisa não anula a outra. Não quero sair daqui chateada, nem ficar a remoer no assunto, portanto sinto que tenho que ser compensada. O consumidor não tem culpa da desorganização, por mais compreensivo que seja.

Então, pela primeira vez na minha vida, saiu-me algo que nem eu estava à espera.

Quando a gerente me veio entregar o pedido, perguntou se estava tudo, se era necessária mais alguma coisa, ao que eu respondi com a maior da latas: "Sim, uma bebida de oferta caía muitíssimo bem!"
Assentiu com um "claro!" e perguntou-me qual era a minha preferência.
Despedimo-nos amavelmente.

E como não me caiu nenhum raio em cima, nem fiquei com nenhuma dor, nem algo que se pareça, percebi que afinal não é difícil como julgava esta postura de ser clara, logo no momento e no local. Sobretudo que esta passará a ser a minha postura.




quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lições dos intas #1



Demorei mais de 30 anos a aprender (e a apreender) que quando um conhecido nos aborda, mesmo que amavelmente, para uma qualquer conversa que começa com "a única coisa má no tempo do Salazar...", a coisa mais inteligente a fazer é engolir o café, ao balcão, mesmo que me escalde as beiças, e despedir-me o quanto antes.



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A melhor empresa do Mundo #5: O empresário Armindo Borges de Penamacor ou uma exemplar lição de gestão em 3 minutos.



"Espera aí que eu dou aqui uma ajuda"- diz Armindo Borges a um dos seus colaboradores, durante esta entrevista. Vira as costas à câmara e lá vai meter as mãos na massa.
 "Não há patrões nem há empregados. Há colegas. Eu tenho a minha função e a minha função é conseguir trabalho para esta gente, conseguir matérias-primas para esta gente e conseguir que esta gente seja feliz. Estar atento às suas necessidades." - continua a reportagem.

Esta empresa tem um ginásio nas suas instalações para uso livre de quem lá trabalha, o que agrada sobremaneira aos colaboradores. A par disso, todos os anos Armindo leva para férias os 30 empregados, com viagem e estadia paga: "Eu não ofereço as viagens. Eles é que ganham as viagens. É gratificante e, aqueles oito dias que passamos juntos é unificador. A família fica mais unida."

Quanto aos salários que, nesta empresa de fabrico de sacos de ráfia, são acima da média, podendo chegar aos 1200€ e são pagos a tempo e horas, Armindo remata: "Toda esta gente está mal paga. Esta gente devia ganhar, pelo menos, o que ganha um ministro do nosso país. Assim é que se justifica que um trabalhador trabalhe oito horas no duro como eles trabalham! Esta gente levanta-se às 5 da manhã e vem trabalhar com um sorriso nos lábios. Merecem tudo! Tudo!"


Preferi transcrever algumas das palavras proferidas por este empresário durante a curta, mas rica, reportagem da Sic. Considero-as muito mais valiosas que qualquer vocábulo que eu acrescentasse. Em cada uma destas frases encontra-se, se aplicada em cenário real, mais experiência, sapiência e bom senso do que numa enciclopédia dedicada à gestão.

Isto é liderança.


O link para o vídeo da reportagem aqui.


terça-feira, 22 de setembro de 2015

cromices #89: Sobre as tampas ou visita ao passado



Nada mais justo do que falar também sobre as tampas que levei. Sobre estas o que tenho a dizer é que deveria ter levado muitas mais, ao quadrado, ao cubo!

É que passados todos estes anos não são as tampas que recordo - aliás, ou estou a ficar totalmente esclerosada ou estas acabam por ser tão irrelevantes que preciso de um esforço hercúleo para recordar e mesmo assim sem grande sucesso.
O que me vem à cabeça é um ou outro nome de quem, enquanto miúda, nunca tive coragem de convidar nem sequer para um café.

Eventualmente ultrapassei o medo das tampas. Um medo, que como qualquer outro, depois de ultrapassado torna-se risível.

Mesmo assim, imagino-me a viajar até ao passado, numa visita aquela jovem estudante de liceu de cabelos longos, botas da tropa, jeans justos, camisa de flanela aos quadrados e blusão à motard, tipo e.t. a entrar-lhe pelo quarto dentro no meio da noite, ao melhor estilo sci-fi.

Assegurar-lhe-ia que não se deveria ralar com o futuro, que o futuro vai de boa saúde, risonho e até vem com marido e cão incluídos, os melhores do mundo.
Que trate melhor do seu presente, o meu passado. Que boas notas e decidir uma carreira profissional acabam por ter, com o passar dos anos, uma importância menor que aquilo que nos define como pessoa. Que não há que ter medo algum de levar uma tampa, quando muito esta ensina-nos a ser mais gentis com quem no futuro estiver no mesmo lugar que um dia ocupámos e, que eu saiba isso é tremendamente positivo.
Que a partir da manhã seguinte fosse corajosa que convidasse "aquele alguém" para um café e aproveitasse a oportunidade para o conhecer melhor, os seus gostos, sonhos, ambições, o que têm em comum e as diferenças. Que fizesse o mesmo, todos os dias, até conhecer todos os colegas de turma, todos os outros alunos do liceu. Que escrevesse sobre a experiência, que a abraçasse como um projecto. Todas as pessoas são genuinamente interessantes a partir do momento que as olhamos com genuíno interesse.
Garanto-te, miúda, que será incrível! - diria eu, com um piscar de olho, enquanto voltaria para a minha máquina do tempo.






sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Lições do meu pai #4




Viva o Cante Alentejano, Património Cultural Imaterial da Humanidade!
(mais aqui )






segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A lição dos quatro patas





Um dia quando morrer, e digo-o sem qualquer morbidez, (e que seja daqui a muitos e bons anos!), imagino-me perante uma plateia, que assiste comigo ao filme da minha vida e me questiona, curiosa, sobre o que andei por aqui a fazer.


Não me é difícil imaginar que a maioria das cenas a que assistiremos nesse grande ecrã celestial, me deixem meio embaraçada, de mão na testa, corada, e a soltar um repetido "tótó do caraças!" entre risinhos nervosos.


E a multidão rirá comigo, benevolente, porque saberão que a cada vida que recomeça há que reinventar a roda, partir sempre do zero.


Também no meu filme haverão momentos em que o constrangimento de não ter sabido fazer melhor é trocado por um sorriso.
Alguns dos momentos não existiriam sem os patudos.


Alimentar um animal que não era "meu" foi das coisas mais decentes, correctas e "de jeito" que já fiz na vida.


Quando o comecei a fazer, fi-lo sem pensar em nada. Somente reagi, nada mais. Pensei na possível fome daquele par de animais, e reagi. Não foi nada de extraordinário, não foi feito para ser notado nem reconhecido, para ficar "bem na fotografia", nem coisa alguma. Estava totalmente estéril de pensamentos, não fosse um único, o de fazê-lo sempre, pois a confiança de um animal não deve ser defraudada, não se pode começar a dar e depois parar de o fazer.
Descobri nessa altura que ao fazê-lo, me incluia num grupo alargado de pessoas que sem se conhecerem inicialmente, concertavam os seus hábitos para ajudarem os mesmos animais, e isso é coisa de alimentar a nossa fé no próximo, e de que maneira!


E quando pensava que a lição residia nisso mesmo, fiquei siderada com o que ainda havia por vir.


A lição maior veio em forma de um pequeno cão amarelo, um velhinho charmoso de dentes tortos, baptizado de Kamala por uns, de Pirilampo por outros, que no fim de cada refeição vinha ao meu encontro. Fechava os olhos e ficava de cabeça encostada às minhas pernas, numa expressão de gratidão incondicional que era avassaladora, tocante e palpável, de deixar um nó na garganta.


Veio em forma da sua companheira, a Preta, uma cadela sénior, em todas as suas expressões de genuína alegria e companheirismo.


Veio em forma de um gato. Cabeça enorme para aquele magro corpo. Fugídio e desconfiado. Que após duas semanas de lhe levar alimento, e de me ter habituado a manter a distância enquanto ele comia, ignorou a gamela e dirigiu-se a mim. Decidido e alegre como nunca o tinha visto, veio roçar-se em mim, ronronando.
Aquela reciprocidade, que nunca esperei, em forma de extrema confiança e meiguice, tocou-me imensamente. Fiquei imóvel. Durante um par de minutos não consegui ter qualquer reacção. Fiquei muito comovida e as lágrimas escorriam-me pela cara.


Aprendi a ser grata por todos os meus amigos animais, que de uma forma ou outra vão aparecendo na minha vida. Que a nossa troca é desigual, ou começa assim. Em troca do que lhes levo, eles dão-se, a si próprios, sem meias medidas. São eles que me alimentam, me matam uma fome que eu nem sabia que tinha.











terça-feira, 16 de setembro de 2014

As lições de Setembro ou se preferirem, este país tropical chamado Portugal





Pertencemos ao grupo de pessoas para quem as férias nunca são em Agosto.


Aliás, para mim Agosto, mesmo na época em que era estudante nunca teve sabor a férias. Primeiro, porque os meus pais como todos os trabalhadores da área de Hotelaria e Turismo nunca tiraram férias em plena época alta, como é óbvio.
Depois eu próprio passei muitos Agostos a trabalhar, mesmo em miúda. Sempre era melhor do que andar a queixar-me constantemente do facto de não haver nada para fazer, nem companhia, visto que a maioria dos amigos e colegas haviam partido para férias.


Agosto não é melhor que Setembro, nem Setembro melhor que Agosto. É tudo uma questão de hábito, necessidade e gosto pessoal.


Eu cá prefiro Setembro, sobretudo porque detesto a sensação de me ver rodeada de um mar de gente onde quer que vá.
Já me habituei à ideia que Agosto é sobretudo para os pais, que são obrigados a ajustar a vida à rotina escolar, e outras pessoas que por motivos profissionais e/ou familiares são obrigadas às férias nessa altura.


Agosto é bom para trabalhar pelos mesmos motivos que Setembro é excelente para férias. Há menos trânsito, menos confusão, e aquela sensação que é "tudo nosso", sem grandes estorvos.


Mas há uma lição a aprender com Setembro, e todos os dias até agora têm sido uma oportunidade para tal: há que ignorar o tempo feio, o prenúncio de tempestade, os aguaceiros, e avançar sem medos para a praia, para a serra, para onde apetecer.


O tempo está estranho, os olhos e a pele registam realidades distintas. É simultaneamente tempo de romãs e melancia. Talvez seja o nascimento de um novo estado, o clima "tropical" mediterrâneo.


Temo-nos forçado a ignorar o aspecto feio do clima, e na verdade temos colhido bons frutos com essa atitude. Temos feito praia e tudo o que poderiamos fazer em Agosto. Só é preciso é a coragem de não ficar por casa.










sábado, 19 de julho de 2014

As minhas lições: Nullius in verba!





Uma das grandes demandas da minha vida tem sido a busca de conhecimento. Se preferirdes, podeis chamar-lhe uma espécie de busca pela iluminação.


Tal não me distingue de nada ou ninguém, pelo contrário. É um trilho que, a cada passo percorrido, nos aproxima, independentemente de todas as diferenças que nos pareçam separar.


Na minha "caixa de ferramentas" não poderia faltar, naturalmente, a curiosidade. Nada se aprende sem curiosidade. E claro, a liberdade, crucial para se ser curioso.


A minha levou-me também ao estudo das grandes religiões mundiais, de filosofias.


Na medida da minha humanidade, fiz os possíveis para evitar julgamentos fundados em preconceitos. A minha consciência seria a minha bússola. O meu objectivo, apreender o que na minha percepção era "trigo", deixar de parte "o joio".


Em resumo, a grande conclusão, (a minha, cada um deve buscar a sua), a que cheguei é a "essência de todas as coisas", chamemos-lhe assim. Existe uma centelha na raíz de tudo o que existe, um ponto comum, uma espécie de coração universal que nos une.


Como explicar?!


Como estamos a falar em religião, quando procuramos a essência das mesmas, o fundamental, o basilar, a sua centelha divina, verificamos que não existem diferenças, apenas semelhanças. É que o coração de todas as religiões bate pelos mesmos princípios elevados, como o Amor, a Compaixão, a Solidariedade, etc. E o mesmo coração bate em todas as coisas vivas.


Apenas a "forma" nos distingue, não a "essência". Este é o primordial elo de ligação entre tudo e todos.


A "forma" das religiões foi construída em redor da "essência", como as paredes de um templo, ou as camadas de uma cebola, em volta do sanctum sanctorum.
E ao longo do tempo, "a mensagem vem-se perdendo com a tradução": a "forma" não honra a "essência".


Para mim, neste contexto, a "forma" é religião, a "essência" é espiritualidade.
Pessoalmente considero-as díspares. Sou pela espiritualidade.


A espiritualidade, é pura, atemporal, é a demanda pessoal e livre de todos pelo reconhecimento desses princípios raíz do qual o Amor é pedra basilar.


A religião é, no seu pior, um produto dos homens para controlar os seus semelhantes. Muitos dos seus aspectos não nos honram. Talvez tenha começado como uma boa intenção.


Não demonizo as religiões, nem quem nelas se encontra. (Guardo isso para o fanatismo.)  Encontrei tanto de valor em cada uma delas, ensinamentos e pessoas!
Porque há-de sempre haver gente de bem, em todo o mundo e em todas as crenças, que consegue conciliar numa expressão harmónica e luminosa a forma e a essência. Ainda bem. Serão estas gentes os seus guardiães.


Não sou religiosa, sou espiritual. O meu amor pela liberdade não me deixa abdicar do meu poder pessoal, aceitando cegamente que me digam em que acreditar, o que fazer e como, nas questões da alma; que me sirvam uma versão já mastigada do que é certo e errado, que existam hierarquias em matérias de espírito. Não consigo.
Para mim não existem dogmas: Nullius in verba!
Esse é por enquanto o meu caminho, nem melhor nem pior que o vosso.














sexta-feira, 18 de julho de 2014

As minhas lições





Se tivesse que partilhar um conselho de valor com o mundo, seria o seguinte:


- Ouçam sempre o vosso instinto.




Todos temos a tal vozinha interior, o chamado "sexto-sentido". A grande lição reside em aprender a não ignorá-lo. E é uma lição que se aprende à nossa própria custa, garanto-vos eu.


Todos sabemos que o senso comum e a inteligência são grandes aliados na vida, mas junte-se o valioso instinto, e seremos ainda mais bem sucedidos.
Essa "vozinha" é uma grande aliada, e pode evitar-nos alguns dissabores, grandes e pequenos.


Deixem que vos conte um episódio, em que a minha "vozinha" me salvou do que poderia ter sido um acontecimento grave.


Um dia, a pedido do meu chefe, fiquei no escritório até mais tarde do que o habitual.
Saí para apanhar o comboio já passavam das 20 horas.


Não ia contente, (isto de ser mulher, andar sozinha de transportes públicos depois de escurecer, linha de Sintra, vocês sabem...), mas relaxei mal vi que a composição ia cheia de gente, homens e mulheres, com roupa normal de trabalho.


Sentei-me num lugar junto à janela, e saquei do mp3 como de costume. Ouvir música depois de sair do escritório era a minha forma de me despir do stress laboral.


A minha estação de saída era a Portela de Sintra.


De estação em estação o comboio descarregava pessoas, praticamente ninguém entrava. Após passar por Rio de Mouro e Mercês a carruagem ficou definitivamente vazia, não fosse eu e um fulano que havia entrado nessa estação.


Naquela longa carruagem, com tantos lugares à disposição, o fulano sentou-se exactamente atrás de mim.
A minha nuca eriçou-se. Não sou paranóica, mas já tinha aprendido a ouvir o meu instinto, e se este me gritava que algo se passava ali, eu não iria cometer o erro de duvidar.


Aproveitei o facto das janelas reflectirem o interior da carruagem para o mirar, discretamente, usando a minha visão periférica. O seu aspecto não reflectia nada de extraordinário, mas estava decidida, mesmo assim, a jogar pelo seguro.


Fingi-me descontraída, trauteando vagamente a música que ouvia (quase sem som, pois já tinha baixado o volume), fazia de conta que não estava atenta à sua presença. Tratando-se de uma ameaça, acreditei ser importante que me julgasse distraída.


Comecei a levantar-me lentamente e a dirigir-me a uma das portas na outra extremidade da carruagem. Com a cabeça a mil, tentei antever os possíveis cenários. Mentalmente, tentei acordar o meu corpo, (sempre discretamente, a fingir que ia "curtindo" a minha música), afastar o cansaço, chamar toda a adrenalina e pôr-me alerta, no caso de ser preciso reagir.




 Pensei que se ele fizesse o mesmo, seria um sinal claro de más intenções. O fulano, também lentamente, levantou-se do lugar e seguiu-me.


Neste segundo agradeci ao meu instinto, e numa pose ainda o mais discreta possível, prendi o casaco em volta de um dos braços para o caso de me ter de defender de um ataque com arma branca, e chamava toda a minha energia para as pernas, para que se chegássemos a vias de facto, eu lhe desse um pontapé nos genitais com a maior força possível.
Fui ainda recordando outros possíveis golpes como usar a palma da mão para lhe empurrar a cana do nariz para dentro, ou até dedos nos olhos, pisar os dedos do pé com toda a força ou uma joelhada no plexo solar.
É o que dá ver muitos filmes de acção, mas foi o que me ocorreu. E o comboio que nunca mais chegava à Portela!


A estação da Portela estava mais próxima. Mal as portas se abriram saí a correr, primeiro para a direita, depois travei bruscamente, e desatei a correr para o lado contrário.
Fiz bem. Quando o fiz, olhei para o fulano de relance e pareceu-me haver efectivamente uma arma branca, para além que ele estava a ter a reacção de me seguir para a direita. O facto de ter mudado subitamente de direcção fez com que ele voltasse para o interior do comboio.


Os nossos olhares cruzaram-se brevemente. Fiz-lhe cara de má e o olhar mais intimidante que consegui. Estava nervosa, muito mesmo, mas tive que lhe passar a mensagem de que não sou uma presa!


Em muito graças à minha vozinha interior!











quarta-feira, 16 de julho de 2014

As lições da crítica gastronómica





Há muito tempo atrás, num outro blogo-tasco (abençoada cabeça que pensou nesta deliciosa expressão!) resolvi comentar sobre os restaurantes que me deixavam feliz.


Revelou-se uma má ideia, porque pouco tempo depois deixei de ser feliz nesses restaurantes.


É que a "crítica gastronómica" tem uma armadilha. Assim como no linguajar legalmente correcto se deve aplicar a expressão "alegadamente" a torto e a direito, também no campo dos comes se deve ter a precaução de precisar que se comeu "adicionar descritivo qualitativo" naquele determinado dia, naquela determinada ocasião.
Não vá ser como a passagem de um cometa , e tal não se repetir durante uma vida!


Não me vejo como uma comensal picuínhas. Não procuro o excelente, mas insisto no bom!
Para mim, um bom restaurante há-de ter bom ambiente, boa comida, bom atendimento, bom rácio preço/ qualidade.
Ah, e bons ouvidos. Porque se especifico querer que me tragam café com a sobremesa, é isso que espero que aconteça.


Há dias voltei a um desses restaurantes, e dei por mim a matutar sobre como fui e deixei de ser feliz por ali.


A comida continua boa, simplesmente boa, nem mais nem menos.
Lembrei-me que o problema era, e continua a ser, o atendimento. Caso peculiar aquele, dado o sucesso do estaminé, especialmente não sendo um local particularmente barato.


Lembrei-me que éramos clientes assíduos na época em que era permitido fumar no interior. Depois, impedidos de puxar do cigarro, apercebemo-nos do quão doloroso era o ritmo do serviço, mesmo em horários mortos.
Que não admirava que entre os pratos devorássemos meio maço entre os dois. Que era do mais irritante a dificuldade em conseguir atenção, e o facto daquele empregado de mesa nunca mostrar boa cara foi a gota de água.
Aliás, acho que nunca o tinha visto sorrir até o ver atender uma famosa actriz da nossa praça...


Noutro caso, em outras paragens, tudo era bom, inclusive o serviço e tinhamos a certeza que haviamos finalmente acertado na escolha. Tornámo-nos clientes regulares.
Depois a cozinha começou a abusar da gordura e do sal. O dia em que abusaram também do tempo, (mais de uma hora para servirem um bife), foi o dia em que cortámos relações.


Também já lá voltámos. Ao contrário do primeiro caso, estes voltaram ao caminho da redenção.




Conclusão: A felicidade em mesa alheia não é certa nem segura.













segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

sabedoria dos intas em 10 segundos #25



Diz-se que não há escola como a Vida. Que um dos grandes papeis da Existência é permitir-mo-nos a Evolução.
Que esta escola não é como as outras: não existem cadernos, manuais, aulas agendadas, horários e programas pré-definidos com objectivos e conteúdos como existe para o Português ou a Matemática.


Nesta Escola, existimos nós e os outros, simultaneamente ocupando o papel de aluno e professor. Onde a imperfeição de todos, apresenta a cada erro, uma lição, repetida uma e outra vez, tantas quantas forem necessárias à aprendizagem.


Na maioria das vezes, aqueles que nos trazem a oportunidade de aprender, estão longe de incorporar os traços dos guias espirituais que esperaríamos para tal tarefa. Não são monges simpáticos e serenos, nem velhotes curandeiros, sorridentes e desdentados, de um qualquer destino exótico.
São as pessoas do dia-a-dia, iguais a nós: as que erram connosco, que nos tiram do sério, que nos causam desconforto, que nos fazem recorrer aos padrões de comportamento menos benignos que vivem em nós, (porque são mesmo esses que precisam de ser notados e corrigidos), que nos levam a reagir como furacões.


E, após o furacão, vem a Consciência. E isso é não é bom, é excelente!

É o primeiro grande passo: perceber que estamos perante uma lição. Que esta é, invariavelmente sobre, em e para nós. Obriga-nos a parar, a reflectir, a reviver o sucedido como observadores de nós próprios, não para nos censurarmos, (devemo-nos Amor e Compaixão), mas entender a razão do nosso comportamento, das nossas acções.


É partir do fruto e navegar por folhas, ramos e tronco, até alcançar a raiz.
Tantas vezes, ao longo da vida e das vidas, quantas forem necessárias, para que a nossa árvore só beba da mais pura e cristalina fonte. E aí... o potencial é infinito!










segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A lição das formigas



Todos os dias aprendo algo. Aprendi através de um incontável número de pessoas ao longo do tempo, por vezes através das pessoas mais insuspeitas.
Mas, no lugar pioneiro de toda esta pirâmide de professores, estão os meus pais.
São deles que recebemos as nossas primeiras lições, e entre estas estão algumas das mais importantes que poderemos aprender ao longo da vida.
Hoje, com a maturidade que a minha idade me permite, dou valor redobrado ao que me transmitiram.

Hoje partilho um pouco do que aprendi com eles sobre economia:


Com eles aprendi que a poupança é um dever, independentemente da nossa capacidade financeira.

Como é óbvio não desejamos nenhum azar ou infelicidade na vida, mas todo o indivíduo deve construir um pé de meia para enfrentar o que quer que se apresente. Que as coisas não acontecem só aos outros.

A discernir o que é ou não prioritário, importante, essencial.

Que não se falham com as obrigações, pois entre as coisas mais valiosas estão a honra, a palavra, o bom nome.

Que o ego é uma besta cara e difícil de manter satisfeita. Muitos dos que lhe obedecem cegamente, esquecem-se que quando a panela se apresenta vazia, ou se está em risco o telhado sobre a cabeça, de pouco ou nada vale o carro fantástico à porta e objectos afins.

As cigarras são arrogantes, quando apregoam o direito a serem como são.

Algumas cigarras são invejosas, que se espantam com o resultado do labor das formigas. Não compreendem que a poupança requer disciplina, abnegação, rigor, recusa em satisfazer todos os desejos hedonistas, e de consumo.

Algumas cigarras são egoístas. Serão sempre um peso para as formigas, pois estas são sempre procuradas, na infelicidade e no azar, para que partilhem o que amealharam. Evitaram preocupar-se ou prevenir-se, talvez já contando com a presença e a natureza da formiga.

Algumas cigarras são duplamente arrogantes. Julgam que a formiga tem o dever de partilhar. Que está no seu pleno direito usufruir do que não é seu.




Num mundo de cigarras, os meus pais são formigas.
E são tantas as vezes que vi a fábula de Esopo ganhar vida.
E não, a maioria das cigarras não aprende a lição. Isso é ficção. Simplesmente um toque à la Hollywood.





terça-feira, 5 de novembro de 2013

O sentido de Justiça aos 6 anos


Quando fui para a 1ª classe - sim, sou do tempo em que se dizia classe e não ano! - os primeiros dias eram passados a fazer rabiscos.

Lembro-me de, num desses dias, estar na companhia de mais dois miúdos.
Um deles não vai de modas e risca o desenho do segundo.
A resposta deste é começar a chorar. Coisa que não durou mais dos que uns segundos, pois o terrorista ameaça fazer pior se alguém fizer queixinhas. Inclusive a mim.

Rasguei-lhe o desenho pelo que fez ao outro. Dei-lhe uma chapada por me ter ameaçado.
Desatam os dois a chorar.

Resultado: um puxão de orelhas monumental!

A primeira de muitas lições sobre justiça.

O que apreendi: se queres fazer justiça pelas próprias mãos há que usar uma máscara.







sábado, 15 de junho de 2013

Manual de etiqueta para visitas pós-parto


Há dias uma amiga minha deu à luz.
A vinda ao mundo de novas vidas é sempre tocante, um momento de júbilo.

Nada mais natural do que o desejo de expressar essa alegria, de parabenizar e apoiar os novos pais, de conhecer os bébés. A questão é que, mesmo com a melhor das intenções, não é raro familiares, amigos e conhecidos tornarem-se, no mínimo, importunos.

Ainda hoje, uma conhecida perguntou-me se já tinha visitado os recém nascidos e pegados neles. Confesso que fui talvez demasiado seca e brusca na resposta, mas fiz questão de deixar bem claro que é demasiado cedo para andar a chatear os novos pais com essas coisas.

É claro que também eu vou querer dar as boas vindas a estes novos e lindos seres, mas deixei bem explícito à minha amiga, que para além de poder contar comigo, deverá ser ela a avisar-me quando for a altura ideal para uma visita.

via uol


Então parece-me uma boa ideia expôr aqui uma espécie de "manual de etiqueta para visitas pós parto". Não se trata de ciência espacial, apenas um pouco de empatia, respeito e bom senso traduzidos em algumas regras, cujo objectivo é facilitar a recuperação da mãe, a adaptação do novo ser e dos seus pais a esta nova realidade, o desenvolvimento das suas rotinas.


O "tal" Manual

1 - A mãe é que manda! As opiniões, gostos e vontades da família, amigos e conhecidos devem ser mandados às urtigas.

2 - A mãe decide se quer receber visitas aquando a sua estadia na Maternidade, e de quem. O papel do pai é apoiá-la, e de todos os restantes, aceitar e acatar a sua decisão, seja ela qual for.

3 - O ideal é que cada casal estipule e comunique ao seu círculo de familiares e amigos com alguma antecedência, o conjunto de regras a serem seguidas, inclusivé os horários das visitas.

4 - "Copos de água e conselhos só se dão a quem os pede", diz o velho adágio. Não massacre os pais, (especialmente a mãe), com mil e uma indicações sobre o que fazer e como fazer. Para isso existem os profissionais de saúde que acompanham a parturiente, e o que se adequa a um caso pode não se adequar a outro.

5 - Na maternidade seja breve nas suas visitas - não exceda os 15 minutos. Nunca apareça de surpresa - vá somente com conhecimento prévio e aprovação da mãe. Fale baixo. Tenha o telemóvel em silêncio. Não peça para pegar no bébé. Pergunte à mãe se precisa de alguma coisa. Que a roupa não cheire nem a tabaco nem a perfumes fortes. Lave as mãos. Abstenha-se de dar conselhos. Não entre acompanhado de alguém com quem a mãe não contava.

6 - Aquando uma visita à casa do bébé, siga as regras anteriores. Inclusivé prontifique-se para ajudar. Pergunte se a mãe precisa de alguma coisa do supermercado, da farmácia, se há louça por lavar, roupa para estender. Neste caso, visita que não ajuda, atrapalha.

7 - É comum que as parturientes usem o telemóvel como uma ferramental útil para comunicar a todos o nascimento do bébé. Uma mensagem, foto do pequeno e pimba, feito! Não o considere carta branca para insistir em telefonemas. Responda com uma mensagem breve, mas não espere uma resposta imediata, a mamã tem outras prioridades!

8 - O pós-parto é doloroso, seja de um parto natural ou cesariana. O corpo da mãe está a recuperar e a habituar-se a novas necessidades, como o aleitamento.
O bébé é frágil, acabou de entrar num novo mundo. Os pais e o recém nascido precisam das primeiras semanas só para eles, para se conhecerem, criarem laços, compreenderem as necessidades do pequenino, adaptarem-se aos seus novos papéis de vida.
Há que entender que, para além da mãe da nova mamã, de quem se espera um apoio excepcional, todas as outras presenças vão ser mais prejudiciais do que benéficas, pelo menos nas primeiras semanas, no primeiro mês ou até dois, dependendo de cada caso.
Espera-se do círculo de familiares e amigos que saibam usar de bom senso durante este período, porque digo eu, que as recém mamãs não têm qualquer obrigação de fazer fretes!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lições da minha mãe #1



Quando eu tinha cerca de 15 anos a minha mãe aproveitou uma situação bizarra para me ensinar uma valiosa lição.

Uma tarde, encontrei-a rodeada de outras mães. Todas elas, os filhos e as filhas, nossos conhecidos, (variando somente o grau de proximidade), como não poderia deixar de acontecer no ambiente de aldeia onde cresci.

A conversa parecia animada. O assunto, como em qualquer grupo de mães, eram os filhos.

Mas, devo confessar que nada a que já tivesse assistido me poderia preparar para aquela cena. Ainda hoje, que conto com mais do dobro daquela idade, ao relembrar aquele episódio, há uma aura de insólito que ainda não se desvaneceu.

Todas as mães elogiavam os filhos. A minha mãe mantinha-se calada, excepto para confirmar que sim, que filha de D. Fulana era boa rapariga ou, que filho de D. Sicrana era realmente muito educado.

- Ora bem, até este exacto momento nada ressalta como extraordinário, nem como merecedor de espaço na memória. Mas é assim que todos os enredos começam, subtil e despreocupadamente.

Em escassos minutos duas mães tornaram-se o centro das atenções. Duelavam entre si pela atenção dos ouvintes, numa troca cada vez mais enérgica de elogios à prole. Já ninguém anuía - simplesmente movíamos a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como no Estoril Open.
Sim, que estes não eram como os filhos dos "outros", eram excepcionais! Eram fruto do ventre daquelas Marias, concepção dos seus predicados, da sua perfeição.
Mais uns segundos e convenciam-me que tinha andado na escola com a reencarnação de Jesus. Qual quê! Mais uns segundos, e tinha o próprio Cristo que se pôr a pau, que havia ali competição à altura!

Mas para todo o clímax há um anticlímax. E neste enredo, foi personificado pela senhora minha mãe.
- Pois a minha filha é ... - e garantida a atenção do círculo do estrogénio - colocou, num par de frases, alguns dos meus defeitos a nu, despediu-se e seguimos caminho.
Alguns metros adiante, onde já ninguém nos podia ouvir, ainda meio boquiaberta meio embaraçada, reclamei - Não me digas que não te lembraste de nada simpático para dizer sobre mim!

- Disse alguma mentira? - replicou a minha mãe. - Não disse...

Mesmo assim imaginava incomodada as conversas prováveis dessa noite - Ó Fulano, sabias que a filha de X é isto e aquilo. A sério! Foi a própria mãe que disse! Vê lá tu!
Esse incómodo foi rapidamente substituído pelo orgulho de ter uma mãe que diz o que pensa - doa a quem doer.
Outra vantagem é que nunca tive medo que os meus pais me trocassem por camelos se fossemos a Marrocos.



Lição nº1 - Se te sentes incomodado com a constatação dos teus defeitos, cabe-te a ti mudar, não os outros mentirem sobre ti.

Lição nº2 - Gostar verdadeiramente de alguém é conhecer-lhe e aceitar-lhe virtudes e defeitos.

Lição nº3 - Valorizar algo ou alguém não depende da aprovação em praça pública.