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sexta-feira, 11 de março de 2016

cromices #119: Cabrita que é cabrita...



Se um dia passarem por uma qualquer quinta pedagógica ou parque do género, e repararem que existe uma única adulta numa fila cheia de crianças, que esperam para dar festinhas ou alimentar a bicharada, é bem provável que seja eu.

Não resisto à bicharada e não recuso nenhuma oportunidade que me permita meter-lhes as mãos em cima.
E não me venham com a história que "é só para as crianças" e tal, que eu reviro os olhinhos e passo-vos por cima sem quaisquer pudores. Nunca aconteceu, mas fica o aviso.

Embora goste de todos, confesso que tenho uma predilecção pelos animais de quinta. Percebi-o, há muitos anos, quando visitei pela primeira vez a Quintinha do Zoo de Lisboa.




Gostei de tal forma dos animais presentes e do espaço, que um dos desejos para o futuro é ter uma casa com um jardim onde possa criar a minha própria quintinha.

Não é uma gracinha, nem um capricho, é um senhor sonho com maiúscula, um objectivo.

Gracinha, gracinha é já ter meio alinhavados os nomes com baptizarei a bicharada, e achar, por exemplo, que cabrita que é cabrita, há-de se chamar... Tieta.




quarta-feira, 2 de março de 2016

Vida de cão: Que orgulho no meu Kiko!



A história da criação dos Jack Russell Terrier está intimamente ligada à caça. Mais especificamente à caça da raposa. Os Jack, por serem rodinhas baixas, eram levados pelos caçadores na garupa do cavalo até ao local. O objectivo do criador desta raça era desenvolver um cão que se enfiasse nas tocas das raposas, e sem as agredir fosse capaz de as afugentar para que os caçadores com a ajuda de outras raças de cães as pudessem caçar.

Ora se há actividade que condeno veementemente é a caça desportiva. Acho que é uma ocupação bárbara, cruel e deixa muito má impressão sobre quem a pratica. Há milhões de coisas mais salutares com que ocupar o tempo.

Como todas mães, também eu acho que o meu menino é especial. Tem um coração tão puro que parece irradiar, e é o retrato perfeito da alegria de viver. Mas algo verdadeiramente especial é que, embora esteja irremediavelmente presente na sua genética o instinto de caçador, ele opta por não lhe dar uso.

Fica excitadíssimo quando se cruza com outros animais, mas, até ao momento, sempre com o intuito de brincar.
Corre em redor destes, ladra, atira-se para o chão naquela típica posição canina que se traduz num "vamos brincar" e prefere fugir quando os outros animais são menos simpáticos, nunca se mostrando agressivo, sejam gatos ou até... preparem-se... galinhas.

Contou o marido que ontem se cruzaram, no meio da rua, com uma das galinhas do sr. S. que havia decidido explorar o mundo para além do quintal.  Foi de tal forma um regabofe que quem passava naquela rua ficou incrédulo a assistir à cena de um cão e uma galinha a brincarem. O Kiko sendo o miúdo enérgico, excitado e chato de sempre, sempre a espicaçar para a brincadeira, mas a fugir, (embora feliz da vida), das investidas de uma senhora galinha cheia de si.






terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Pessoas de quem gosto: Bem haja a população de Peniche...


... que, ao contrário de matar um golfinho bébé como aconteceu na Argentina, soube proteger a cria de golfinho que havia dado à costa, até chegar a equipa de resgate.
Mais aqui.

Bem hajam pela vossa decência, humanidade e compaixão! Pelo belo exemplo de como fazer (o) bem que dão ao mundo, especialmente quando, há pouco tempo, tivemos a notícia chegada da Argentina, do golfinho que morreu desidratado para que turistas tirassem selfies. Sabe bem quando nem todas as pessoas nos fazem sentir vergonha da nossa espécie!




segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

cromices #116: As galinhas, senhores, as galinhas!



O meu avô João, embora já não trate dessas coisas, sempre teve um enorme dom para a flora. O meu avô Francisco tinha igual dom, mas para a fauna.

Se, em grande parte, a explicação para o que somos estiver na genética, talvez o meu amor pelas coisas verdes e os animais seja uma herança. Talvez por isso dê por mim a fantasiar, com mais frequência do que deveria, numa vida com prados, jardins e bichos.

A casa da minha ama tinha um grande quintal. Nele existiam oliveiras que davam para trepar, um pomar com árvores de citrinos onde também cresciam azedas, horta, um cão, e um enorme galinheiro.
Numa época em que a televisão não era grande entretém, nem existiam consolas nem nada que se parecesse, quando não tinha a companhia de algum miúdo da vizinhança com quem fazer tortas de lama ou andar de trotinete, passava o tempo em frente ao galinheiro, a cantar e a dançar para as galinhas.

Delirava quando conseguia prender-lhes a atenção e se punham a olhar para mim, naquele menear de cabeça típico.

A minha avó Maria contava como, todos os dias, à mesma hora, o seu bando de galinhas saía do quintal e subia a rua para esperarem o meu avô e acompanhá-lo até casa.
Essa história alimentou em mim a crença que as galinhas não são estúpidas como a maioria das pessoas acredita.

Gosto imenso de galinhas e mal posso esperar para um dia viver num espaço onde finalmente as possa ter como animais de estimação.

A minha escolha irá recair nas raças autóctones portuguesas como a Pedrês, a Preta Lusitânica ou a Amarela do Minho. É necessário sensibilizar os criadores para as raças portuguesas, em especial quando a Pedrês está em risco de extinção, falando-se da existência de apenas 2000 fêmeas de raça pura.

Adoraria criá-las desde o primeiro momento de vida, treiná-las como se faz com os cães, dar-lhes a capoeira mais luxuosa e confortável de sempre, baptizá-las com nomes como Mari Carmen, Esmeralda, Ephigénia, Eugénia...
















quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

cromices #114: Novidades da frente de batalha contra o medo


Conhecem aqueles momentos em que estamos doentes mas, mal marcamos uma consulta parece que nos começamos a sentir melhor?

Pois acho que isto define precisamente o que se anda a passar comigo acerca do meu medo de cães grandes.

Milagrosamente, a partir do momento em que desabafei aqui convosco e com alguns amigos sobre os meus ataques de pânico, o meu medo e como me sentia, tudo começou a melhorar.
Nada de drástico, mas não dizem que a grandiosidade reside nos detalhes?!

O primeiro passo foi quando, numa ida às compras, apanhei um rapaz a passear um Pit Bull. Embora seja uma das raças com as quais não me sinto à vontade, consigo apreciá-los e aquele era um exemplar lindo, cinza e branco.
Estando sozinha, decidi não desperdiçar a oportunidade. Pensei: "és uma pessoa ou um rato"?!
Abordei o rapaz, elogiei o cão, trocámos dois dedos de conversa, deixei que o bicho me cheirasse sem recuar um único passo e ainda lhe dei uma festa. Quando estiquei a mão para que ele a cheirasse só pensei "seja o que Deus quiser".
Podem achar-me muito mariquinhas, mas considerei-o uma grande vitória, especialmente depois de notar que era um cão sem treino de obediência, porque se fosse treinado o dono dar-lhe-ia os treats à boca ao invés de os atirar ao ar ou para o chão, o que dá a entender de certa forma falta de confiança no próprio animal, falta de treino e de controle sobre este.

Quando nos despedimos ia muito satisfeita comigo própria, mas com a certeza reforçada que continuo a ter mil e um motivos para considerar que o quarteirão da loja de animais é território que nos é interdito. Que sempre que lá for, vou continuar a optar por levar o cão ao colo e dar uma corrida até entrar na loja, que não ando a criar o Kiko com tanto enlevo para acabar como boneco de roer de outro animal.
Que se tivesse o hábito de ir para lá passear muito provavelmente já não tinha cão, pois as pessoas mantém o hábito de deixarem os cães à solta, e estamos a falar de várias raças como Labradores, Pit Bulls, Staffordshire Terriers, Serras da Estrela. Mais precisamente de machos, que como todos independentemente da raça ou porte, demonstram comportamentos territoriais e de dominância numa ou outra ocasião.

O segundo passo foi tornar-me mais assertiva.
Já mando o Jimmy para casa com um tom que ele nem se atreve a desobedecer-me.
Já saí de casa para perseguir o Urso - o cão que já me pregou uns cagaços por se parecer com um lobo, disposta a enfrentá-lo, agarrar o fugitivo pela coleira e levá-lo até à sua casa se fosse preciso. Não foi preciso tanto, mas agora estou nessa disposição: cão que apanhe à solta que eu saiba quem são os donos, vou lá entregá-lo. E mai nada!
Quanto ao cão que nos tentou morder, o marido, que entretanto já se cruzou com ele, diz que a solução é soltar o Kiko. Que o nosso menino mete esse a correr para casa com o turbo ligado.
Duvido que se torne a minha estratégia, mas sinto-me capaz de agarrar no Kiko ao colo, e desatar a correr atrás do meliante. Até lhe ladro e rosno se for preciso.

O terceiro passo é a consolidação do conhecimento sobre o comportamento do meu próprio animal, e sobre quais os cães com que ele pode ou não socializar.

Na lista do "talvez" está o Jake, um cachorro cruzado de Leão da Rodésia, boa onda pela sua tenra idade, mas que pelo seu porte e por transbordar de energia, voa para cima do Kiko e magoa-o, embora sem querer. Por isso prefiro evitar.

A lista do "não" é muito mais extensa. Nela está, por exemplo, o Mondego, pela sua dominância e territorialidade. Já se mostrou agressivo para com o Kiko e é sem dúvida um dos grandes responsáveis pelo facto do meu cão não gostar nem um pouco da maioria dos machos de médio/grande porte, especialmente quando mostram traços de comportamento dominante e agem como bullies.
O Soneca, que embora sendo um cão doce e medricas, e já tenha brincado solto com o Kiko sem qualquer problema, há pouco tempo reagiu negativamente ao nosso cão e este a ele. Demonstra em relação ao Kiko um comportamento intermitente, oscilando entre medo, embora seja muito maior, e umas investidas repentinas. A partir daí passou para a lista do "não".
O podengo Kiko, por ser territorial, desobediente e gostar de provocar os outros cães.
E a lista continua. O ponto negativo é nela haver cães, todos maiores que o meu, que se o apanhassem não duvido que o estraçalhavam. O ponto positivo é que sabê-lo é meio caminho andado para nos conseguirmos proteger.

Na lista do "sim" estão os amigos do Kiko e praticamente 90% das cadelas deste mundo.
Em lugar cimeiro está o Gaiato, o único cão com que eu permito brincadeiras quando sou eu a levá-lo à rua. Confio de tal forma no dono e nos nossos animais, que me sinto totalmente descontraída e posso apreciar a interacção entre os nossos putos, a pura felicidade de ambos mal se vêem, as caudas a abanar, os abracinhos de urso. É claro que também ajuda serem do mesmo tamanho.

Quanto a cadelas "especiais", o destaque neste momento vai para a Anya, uma Pastora Alemã. Precisamente aquela, que por tê-la conhecido a primeira vez, à solta com o dono na rua, passei a fugir deles como o diabo da cruz. A evitar percursos, a passar para o outro lado da rua. Nem sabia que era uma fêmea.
Um dia o marido chega a casa e conta-me tratar-se de uma menina, que andaram ambos soltos a brincar, que se parecem adorar.
E eu que já pude assistir in loco à demonstração desse "amor de paixão", embora a uma distância segura, dela a abanar a cauda, do meu Kiko a uivar pela sua amada, decidi há uns dias não fugir da aproximação. Inclusive depois de pôr o Kiko em casa, levei-lhe um treat especial e dei-lhe um beijo no nariz.



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Falar de Saúde #3: 1098 ou apresento-vos o Toxocara Canis.



Um cão é o motor de uma espécie de revolução social na vida de uma pessoa. Desde que tenho o Kiko o mais comum é que as pessoas nos venham abordar durante as saídas, seja para lhe dar festas, seja para conversar.

De vez em quando o tema gira em redor de um dos meus ódios de estimação, os cócós na rua. Por incrível que pareça, nem sempre sou eu a abordar o tema.

Seja qual for a opinião de quem me aborda, quase automaticamente saco do rolinho de sacos para cócós que trago no bolso, e quase como quem vende o produto e a ideia saio-me com um "Vê? Não custa nada! Até são baratinhos, e se todos fizermos a nossa parte as nossas ruas andam sempre limpinhas. Não é uma questão de trabalho, é de atitude!"
Que já ninguém corre o risco de sujar os sapatos, diminui-se o risco de transmissão de doenças como a parvovírose, deixam de haver enxames de moscas que se alimentam das fezes e propagam doenças, e que existem tantos microorganismos patogénicos nos dejectos caninos, imunes aos tratamentos que damos às águas, que inquinam a mesma.

Já me apresentaram várias vezes o argumento, (ainda há dias, um senhor se saiu com esta!), que o cócó serve para estrumar os espaços verdes, que não faz mal nenhum, que eles, (leia-se os jardineiros e canteiros ao serviço da câmara municipal), depois passam aí e limpam. Eu, tentando ser o menos antagonista possível, digo que gosto do meu sistema, que não tenho feitio para fazer dos outros meus criados, e encolho os ombros enquanto me recolho nos pensamentos deambulando pelos corredores da mente à procura de uma forma de tentar esclarecer as pessoas sobre algo que a maioria desconhece.

É que o cócó dos cães não funciona como fertilizante ao contrário que muita gente pensa. Nas fezes dos bichinhos, (especialmente daqueles que não se encontram desparasitados internamente como deve ser e que são mais do que possam pensar, pois há aí tanto dono que nem um regime de vacinas consegue cumprir de forma responsável), vive o Toxocara Canis.
Estes parasitas podem sobreviver até 10 anos no solo e são imunes a desinfectantes e ao frio. Cada fêmea pode depositar cerca de 700 ovos por dia, e só são visíveis ao microscópio. Quando ingeridos por um ser humano podem levar a infecções do sistema nervoso, pulmões, fígado e olhos. Se não for devidamente disgnosticado e tratado pode levar à cegueira.

As toxinas presentes nos dejectos caninos envenenam o solo e a água, e são prejudiciais ao meio ambiente e a outros animais. Se estes forem deixados em pastagens, facilitando o contacto entre rebanhos e os parasitas presentes nas fezes, os animais não ficarão visivelmente doentes mas tornar-se-ão portadores de doença que passará para os humanos através do consumo da sua carne e se denotará através da formação de quistos no fígado e nos pulmões, que terão que ser removidos cirurgicamente.

O Toxacara Canis está longe de ser o único parasita presente nos dejectos. Pelo menos, mais de uma dezena de bactérias e parasitas proliferam neste ambiente. Estima-se que numa grama de cócó canino estejam presentes 23 milhões de bactérias coliformes fecais. Todas elas inimigas da saúde humana e dos animais!

Também se estima que a matéria fecal produzida por 100 cães em 2-3 dias é mais que suficiente para produzir bactérias suficientes para levar ao encerramento de uma praia, baía, ou qualquer corpo de água num espaço de 30 km, tornando-a temporariamente perigosa demais para haver contacto com esta ou consumir bivalves dela provenientes. O efeito dos dejectos caninos na água é o mesmo que o dos esgotos não tratados.
As bactérias presentes levam à proliferação de determinadas algas que consomem o oxigénio presente e dessa forma matam muita da vida marinha.

Em 1991, a EPA, (a Agência de Protecção Ambiental Norte Americana), declarou que os dejectos caninos são um poluente ambiental ao mesmo nível que os herbicidas, insecticidas, petróleo, crude e diversos resíduos tóxicos.

Estudos conduzidos pela mesma entidade concluíram que a água potável, aquela que sai dos canos e bebemos, possui mais matéria fecal que a desejada.


Percebem agora a minha obsessão com esta questão?!

Tudo evitável se as pessoas deixarem de ser preguiçosas e usarem os saquinhos para apanhar os cócós dos seus animais.

Porque pensem assim: o meu Kiko faz, em média, 3 cócós por dia. Ao fim de uma semana são 21. Ao fim de um mês são 90 ou 93. Ao fim de este ano bissexto serão 1098. Já viram se eu não os apanhasse?!
100 donos irresponsáveis contribuem anualmente com mais de 100000 bostas por apanhar, onde em cada grama vivem mais bactérias altamente prejudiciais à nossa saúde e ao meio ambiente que mais cidadãos em Portugal.

Pensem nisso!


Podem ler mais aqui e aqui.




domingo, 1 de março de 2015

cromices #72: O meu outro pet chama-se Flash Espinafre.



Há umas semanas, numa rotina que se repete inúmeras vezes, volto da mercearia carregada com a matéria-prima para uma sopa.
Abro o saco de folhas de espinafre e coloco-as de molho para as lavar. De repente, noto qualquer coisa na água: era um caracolito, coisinha tão pequena que foi uma sorte ter dado por ele.
Apresso-me a retirá-lo com a ajuda de uma folha de espinafre para cima da bancada.
Não foi por nojo que não lhe toquei, mas por receio de não conseguir ser suficientemente delicada com ele.

Até hoje mora na casinha que improvisei: um pequeno tupperware, (sem tampa, é claro), no parapeito da janela da cozinha. Com uma tampinha de uma garrafa de água a fazer de bebedouro, ou melhor, piscina, e folhas verdes frescas sempre ao dispôr.

Chamo-lhe Flash, porque é um vadio de uma rapidez alucinante. De vez em quando ora o encontro dentro da caixa, como fora, a investigar o parapeito ou os vidros.

Espinafre porque, lá está, foi encontrado no meio destes.

Volta e meia o marido pergunta-me quando é que o solto. Nos primeiros dias a desculpa era que estava um frio tremendo, que ele tinha a concha um bocadinho danificada e precisava de se recuperar antes de poder ir para a rua.
Agora não tenho desculpas, mas a verdade é que já me habituei a tê-lo por ali, aquele vadio sacaninha. E nem me parece que se esteja a dar mal visto que até já cresceu um pouco.
Ele é que já deve estar fartinho de me ouvir com o "caracol, caracol, põe os corninhos ao sol"!

Sou mesmo tolinha!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

cromices #61: O Santinho Padroeiro dos Descuidos ou a evolução natural das coisas



Há dois tipos de filhos: os planeados e os frutos do descuido.
Entre as pessoas que conheço, gentes das minhas relações, mais ou menos próximas, há tanto de uns como de outros, igualmente amados e bem cuidados.

Durante a nossa vida em comum já fomos questionados sobre isto de ter filhos milhares de vezes. Como em tudo, a prática leva à perfeição e já tenho uma resposta pronta que debito de forma automática, que é mais ou menos assim:
"Não temos filhos, nem estamos a considerar ter. Nunca se diz nunca. Talvez um dia mudemos de ideias. Para já, só se fosse por acidente. Mas se isso acontecesse, claro que lhe íamos dar o melhor de nós. Mas, por enquanto, está completamente fora de questão."

E dou por encerrada a questão. Ponto final parágrafo. Muda de assunto.

Os nossos pais estão mortinhos por ser avós.

Havia uma época em que todas as vezes que nos víamos era "vira o disco, e toca o mesmo" com o discurso de quando é que vem um netinho, ai que queríamos tanto um netinho, ou uma netinha. Chegava o Natal, e com este, o discurso festivo de que só faltava o menino Jesus.

A coisa chegou a ser massacrante, e quando a paciência se esgotou meti um travão na coisa. Finquei pé e disse que já chegava daquilo, que davam cabo da paciência a um morto. Que quanto mais cedo aprendessem a lidar com o facto melhor e que mudassem de assunto, que aquele já enjoava. Que "desculpem lá", mas já não podia ouvir falar da mesma coisa, e que o único resultado possível da estratégia de tentar vencer pelo cansaço seria exatamente o oposto do que pretendiam.
Que só um casal tremendamente irresponsável é que iria pôr criancinhas no mundo para satisfazer a "fome de netinhos". Que temos a consciência da imensa responsabilidade subjacente à coisa, se um dia quisermos ser pais é porque aceitámos o compromisso com tudo o que isto implica. Que a decisão é nossa, e qualquer que esta seja tem que ser respeitada. Ponto.

A coisa resultou com os meus sogros. Há bastante tempo que nem tocam no tema. Muito de vez em quando um deslize pontual por parte da minha sogra, mas morre rápido.
Se continuam a pensar nisso, não sei, talvez, é provável. Pelo menos já não puxam conversa sobre isso e eu agradeço.

Com os meus pais, pelos vistos nem tanto. Acalmaram, mas ainda continuam obcecados.

Quando a minha melhor amiga foi mãe notou-se que ficaram com esperança que, de alguma forma e por um qualquer motivo, isso me fizesse mudar de ideias.
Fizeram uma última investida, voltaram à carga. Certo dia, quando se cruzaram casualmente, chegaram a pedir-lhe se ela faria "uma forcinha" para ver se me influenciava.
Quando soube rebolei a rir. Tenho que lhes tirar o chapéu: lá persistentes são!
Tivemos uma nova conversa: que sobrinho lindo é um doce, sim senhor, mas não me fez mudar de ideias.
E dei a coisa por resolvida. De vez. Ou assim pensei eu.


Notei que ainda não, no dia que trouxemos o Kiko para casa. Estava tão entusiasmada e feliz que lhes enviei uma foto do bicharoco, com a legenda: "Parabéns. São avós. Este é o Kiko".
Pronto, falha minha, eu sei!
Na altura pensei que teria piada, e que esta questão dos netos já estava finalmente mais que resolvida. Afinal ando há mais de uma década a dizer que não. Será que só me livrarei da tormenta quando chegar a menopausa?! Chiça penico!

Tive o troco por telefone. Antes de gabarem a beleza do bicho e de quererem saber pormenores, tive que levar a reprimenda, (vá lá, merecida), que quase lhes parava o coração, que por segundos ficaram tão felizes a pensar que tinha finalmente havido um descuido, já que planeado não vamos lá! E logo de seguida, dão com a foto de um cão! Giro, fofo e tal, mas um cão!
(Eu sei, o ponto a que isto chegou!)


Só vos digo, se um dia entrar em casa dos nossos pais, e descobrir que ambos montaram um altar dedicado a um qualquer santo, que se saiba ser padroeiro dos descuidos, destruidor de contraceptivos, não fico admirada. Nada!

A lição a apreender é que mais vale declarar "bébés" um assunto tabu se quiser alguma paz e sossego. É jogar pelo seguro e evitar a todo o custo o uso de vocabulário desse universo.

Na minha cabeça continuo a pensar que hoje não, mas nunca digo nunca. Guardo-me o privilégio de mudar de opinião quantas vezes eu quiser. Mas se acontecer há-de ser por mim, por nós, porque queremos e nos sentimos aptos.

O Kiko, ou se preferirem o "cão", é para além de imensa alegria na nossa vida, o nosso bébé adorado, uma certa "evolução natural das coisas".
Um casal tem de passar com distinção isto de se ter um cão, com o imenso trabalho que dá, a paciência necessária e tudo. Tem de achar isto "peanuts", uma alegria, algo a ser repetido num esfregar de olhos, querer ainda mais do mesmo. E só depois se pode dar ao luxo de pensar sobre bébés humanos, que dão muito mais trabalho, dores de cabeça e aprisionam-nos muito mais.

Sabem o dito "primeiro uma planta, depois um peixe, depois um gato, depois um cão..."?!





sábado, 6 de dezembro de 2014

cromices #60: Ah, o cheiro a napalm logo pela manhã!



Um dia, quando for grande, quero ser uma pessoa zen. Daquelas que emanam serenidade por todos os poros e são impertubáveis, haja o que houver. Tipo Dalai Lama.

Acho que só o facto de o desejar dá claramente a entender que sou o oposto. Há momentos em que penso que, se fosse cão, era um daqueles chihuahas, em modo irritadiço e irritante.
Ou se preferirem, alguém com a disposição esperada para um cenário de guerra tipo Vietname: tensa, hirta, alerta, a voz sai com o volume mais elevado do que desejaria, e pareço pronta a apertar o gatilho à mínima coisa.

Mesmo assim o jogo não acaba a zeros. Ponto de honra por me aperceber, e por tentar melhorar.

Hoje de manhã tinha dado um jeito tremendo ser como o Dalai Lama.

Ainda estamos em período de adaptação cá por casa. A habituar-nos ao Kiko, às nova rotinas, a corresponder ao que ele necessita de nós, à cena do reforço positivo em todas as situações.

Faz hoje uma semana. Estamos felizes mas exaustos. Parecemos uns zombies.
O Kiko é óptimo, tendo em conta que é um bébé, e com donos inexperientes, porta-se lindamente. Da nossa parte, acho que também merecemos, não 20 valores, porque a ignorância tem o seu peso, mas ainda assim uma nota positiva.

Hoje de manhã, bem cedinho, o marido acorda mal-disposto. É uma intoxicação alimentar. Como ambos comemos e bebemos exactamente a mesma coisa, ando à espera da minha vez, mas a rezar para que não aconteça. É que dá um tremendo jeito que um se mantenha apto para cuidar do outro, do Kiko e de tudo o que apareça.

Fomos tomar o pequeno-almoço numa esplanada bem perto de casa, não fosse o diabo tecê-las.


Pequeno-almoço servido e chega um dos nossos amigos caninos, o Ianni, (dúvidas sobre a grafia correcta).
O Ianni é um cão com alguma idade, preto e grande. É um bom cão, como todos os cães, gostamos dele. Mas é um cão muito chato, que mói a paciência a um santo.
Chega à esplanada e anda pelas mesas a pedinchar comida. Entra no "espaço pessoal" das pessoas, ladra, excita-se, não desiste, chateia.
É claro que a culpa não é dele, é dos donos. Não lhe deram a educação devida, deixam-no andar ao deus dará, não se importam nada que existam n pessoas pela localidade que o alimentem, até lhes dá jeito, comportam-se irresponsavelmente e até já ouvi vários relatos que me fazem acreditar que não o merecem, como não lhe abrir o portão num dia de chuva e tempestade.

E eu enfureço-me com estas pessoas e já não há-de faltar muito para lhes ir bater à porta a deitar faíscas dos olhos, porque naquele minuto tenho ao meu lado um marido cadavérico por causa do mal-estar, queremos paz e sossego enquanto tomamos a nossa refeição, e há ali um cão que lá por gostarmos dele não significa que não seja um melga de primeira, com um comportamento que nenhum cão deveria ter.
E é isso que estou quase quase a ir lá dizer-lhes: que um cão é para estar em casa, bem alimentado, protegido dos elementos. Não na rua a exibir comportamentos incorrectos, a incomodar, e sobretudo a correr o risco de ser atropelado porque anda sem trela.

Entretanto marido levanta-se de repente. Diz que já volta e corre até casa. Foi vomitar.
E eu ali fico à espera dele, a olhar para o relógio do telemóvel a pensar que mais 5 minutinhos e cago nisto tudo, o cão que devore as torradas todas que eu vou para casa.
Vão aparecendo amigos e perguntam-me sobre o Kiko. Passam alguns minutinhos.

Chega um casal com um miúdo e sentam-se na mesa ao lado. Estou rodeada por uma criança e um cão tremendamente excitados. Está tudo bem.
O miúdo interpela-me. Pergunta-me se o cão é meu. Trata-me por tu. Digo que não, que não é meu.
Pergunta-me se lhe pode dar festas, e antes de eu ter tempo para responder já está em cima do cão.
Os pais nem se mexem. Eu aviso que o cão não é meu, que acho que lhe pode dar uma festinha, com cuidado e meiguice,  sem exageros. Que tudo deve acontecer sob supervisão, que não me responsabilizo.
O miúdo abusa. Eu volto a avisá-lo que tem que ser meigo. Os pais não se mexem, mas desta vez dizem-lhe qualquer coisa a respeito.
O miúdo continua a tratar-me por tu. Nem todas as crianças são assim, mas este tem modos de pigmeu abrutalhado. Nota-se que está a passar por uma fase (?) qualquer em que gosta de ser um "bocado" malcriado com os adultos, demasiado enérgico no mau sentido, que anda a testar os limites e, não vi que lhe metessem o travão nisso.

Pergunta-me pela enésima vez se o cão é meu, se não é meu de quem é, e quem é que estava sentado comigo, porque estão dois copos na mesa e só lá estou eu, e novamente se o cão é meu...

Não lhe satisfaço todas as curiosidades, era só o que faltava!
Quando não lhe quero responder, sobretudo porque não tem nada a ver com isso ou quando já lhe respondi à mesma questão demasiadas vezes, ignoro-o.
Afinal não é só o cão que precisa de treino.

Respiro fundo, esboço um sorriso. Tento ir às profundezas buscar uma paciência que hoje me falta. Mas as reservas estão em baixo, e eu acabo por lhe dizer que quando for grande deveria ir trabalhar para a Polícia Judiciária, que tem jeito para interrogatórios.
Nada mau, diga-se! - mentalmente estava pensar mais num "porra que és mesmo chato!".

Aplausos para o Ianni que se portou bem com o mini melga. Lá está, é um bom cão, só precisa que os donos se comportem melhor.

Quando se foram embora, pouco depois, dei-lhe umas festas e mais um bocado de torrada para o recompensar pela paciência.
Há tantas opiniões quanto pessoas, mas eu gostaria de ter visto pais mais assertivos. Que, com calma e carinho, guiassem o puto para outro comportamento.
Que o lembrassem de várias coisas: que não se tratam adultos, especialmente desconhecidos, por tu; que enquanto não acalmasse não se poderia chegar perto do cão para lhe dar festas, que um deles o tivesse acompanhado nisso, que ao fim de repetir três vezes a mesma pergunta o chamassem à atenção.
Volta o marido. Consegue a custo mastigar mais um naco de torrada.

Neste momento só eu ando por aqui acordada, a fazer tudo o que é necessário para que os meus dois rapazes estejam bem.



sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Inspirações / Aspirações



Um dia, quando for Grande, quero ter um Espírito tão Nobre quanto um Cão vadio.


(ler aqui ).



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

cromices #54: Da infalibilidade da Lei de Murphy





Um dos principais corolários de Murphy, dita tão simplesmente que "se existe a probabilidade de algo correr mal, essa mesma probabilidade se tornará numa certeza."


E quem é que já não sentiu o efeito do caos na sua vida que o levasse a pensar que, afinal este engenheiro aeroespacial, de seu nome Edward Murphy, é que a sabia toda?!


Se se quiserem rir um pouco com os diversos adágios da Lei de Murphy, é ir aqui, ao último parágrafo.




Ao longo da vida já passei pelas mais diversas situações, que me tornaram uma crente nesta filosofia.


O corolário que eu acrescentaria à longa lista já existente, seria algo tipo "se não te sabes rir de ti mesmo, a vida tratará disso."




Das várias situações possíveis que poderia utilizar para ilustrar a presença, mais ou menos constante, de Murphy na minha vida, escolho esta:




Há anos, num certo dia em que íamos receber visitas em casa, (e que naturalmente houve a preocupação de ter tudo muito arrumadinho), no curto espaço de tempo em que nos tivemos de ausentar para ir comprar uma coisa qualquer, (pouco tempo antes da sua chegada), um dos nossos gatos, (o Zeus), teve um ataque súbito e descomunal de... diarreia.


O pobre do bicho bem foi aliviar-se à caixa de areia, onde é suposto fazê-lo. O grande mal residiu no facto dos gatos terem a mania de dar com as patas no areão, para cobrir os dejectos. Ao fazê-lo, o Zeus não cobriu dejecto algum. O gesto apenas serviu para sujar as patas e fazer voar o "produto", tipo o que acontece quando se mete algo numa liquidificadora a trabalhar sem tampa.


Quando chegámos deu-nos um treco! Havia impressões de patinhas por todo o chão, porcaria na zona em redor do wc felino.
Contudo, não havia mesmo tempo para perder com chiliques.
E, tudo ficou normalizado, casa e gato limpos, nem um segundo antes de tocarem à campaínha.







segunda-feira, 3 de novembro de 2014

A lição dos quatro patas





Um dia quando morrer, e digo-o sem qualquer morbidez, (e que seja daqui a muitos e bons anos!), imagino-me perante uma plateia, que assiste comigo ao filme da minha vida e me questiona, curiosa, sobre o que andei por aqui a fazer.


Não me é difícil imaginar que a maioria das cenas a que assistiremos nesse grande ecrã celestial, me deixem meio embaraçada, de mão na testa, corada, e a soltar um repetido "tótó do caraças!" entre risinhos nervosos.


E a multidão rirá comigo, benevolente, porque saberão que a cada vida que recomeça há que reinventar a roda, partir sempre do zero.


Também no meu filme haverão momentos em que o constrangimento de não ter sabido fazer melhor é trocado por um sorriso.
Alguns dos momentos não existiriam sem os patudos.


Alimentar um animal que não era "meu" foi das coisas mais decentes, correctas e "de jeito" que já fiz na vida.


Quando o comecei a fazer, fi-lo sem pensar em nada. Somente reagi, nada mais. Pensei na possível fome daquele par de animais, e reagi. Não foi nada de extraordinário, não foi feito para ser notado nem reconhecido, para ficar "bem na fotografia", nem coisa alguma. Estava totalmente estéril de pensamentos, não fosse um único, o de fazê-lo sempre, pois a confiança de um animal não deve ser defraudada, não se pode começar a dar e depois parar de o fazer.
Descobri nessa altura que ao fazê-lo, me incluia num grupo alargado de pessoas que sem se conhecerem inicialmente, concertavam os seus hábitos para ajudarem os mesmos animais, e isso é coisa de alimentar a nossa fé no próximo, e de que maneira!


E quando pensava que a lição residia nisso mesmo, fiquei siderada com o que ainda havia por vir.


A lição maior veio em forma de um pequeno cão amarelo, um velhinho charmoso de dentes tortos, baptizado de Kamala por uns, de Pirilampo por outros, que no fim de cada refeição vinha ao meu encontro. Fechava os olhos e ficava de cabeça encostada às minhas pernas, numa expressão de gratidão incondicional que era avassaladora, tocante e palpável, de deixar um nó na garganta.


Veio em forma da sua companheira, a Preta, uma cadela sénior, em todas as suas expressões de genuína alegria e companheirismo.


Veio em forma de um gato. Cabeça enorme para aquele magro corpo. Fugídio e desconfiado. Que após duas semanas de lhe levar alimento, e de me ter habituado a manter a distância enquanto ele comia, ignorou a gamela e dirigiu-se a mim. Decidido e alegre como nunca o tinha visto, veio roçar-se em mim, ronronando.
Aquela reciprocidade, que nunca esperei, em forma de extrema confiança e meiguice, tocou-me imensamente. Fiquei imóvel. Durante um par de minutos não consegui ter qualquer reacção. Fiquei muito comovida e as lágrimas escorriam-me pela cara.


Aprendi a ser grata por todos os meus amigos animais, que de uma forma ou outra vão aparecendo na minha vida. Que a nossa troca é desigual, ou começa assim. Em troca do que lhes levo, eles dão-se, a si próprios, sem meias medidas. São eles que me alimentam, me matam uma fome que eu nem sabia que tinha.











sexta-feira, 31 de outubro de 2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

cromices #46: Os observadores de humanos





Cada vez vejo que há menos diferenças entre nós e os animais.




E se nós, humanos, somos curiosos e gostamos de observar os animais no seu habitat, o mesmo deve acontecer com os animais em relação a nós, certo?


Certo! Como prova tenho um par de pombos que, sabe-se lá porquê, gostam de me ver acordar. Colocam-se no parapeito da janela do quarto e espreitam curiosos, trocando impressões.


Gostava tanto de saber o que dizem.