quinta-feira, 25 de abril de 2019

Do registo onírico #6: Algures no tempo, à sombra das laranjeiras



Esta noite sonhei com o meu avô.
De todos os avós, foi a morte deste, pai do meu pai, a que mais me custou. Muito provavelmente por ter sido o primeiro dos avós a partir.

É que aos olhos dos netos os avós têm uma espécie de idade misteriosa: são sempre velhos, já o eram quando nascemos, e são-no ao longo de toda a nossa vida. Mas a velhice é sempre abstracta, e só nos apercebermos que a vida é finita, quando esta finda. E nesse momento apercebermo-nos que não estávamos preparados, nem olhámos para a velhice como uma pista do que, eventualmente, iria acontecer um dia.

De vez em quando sonho com o meu avô, e são sonhos bons. Tão bons que quase tenho a certeza de sorrir enquanto durmo. Estes sonhos invadem-me de uma paz tremenda, uma alegria serena, as mesma sensações que sentia quando estava com o meu avô em vida.

Um dos motivos porque gostava tanto dele e sentia uma imensa conexão, era porque o meu avô não era de muitas palavras.
Quando estávamos só os dois, trocávamos meia dúzia de frases e um par de sorrisos, para depois nos quedarmos num silêncio confortável.

Ele enrolava um dos seus cigarros, eu puxava um dos meus, e lá ficávamos embalados naquela calma quase meditativa, naquele silêncio que aproxima.


sexta-feira, 12 de abril de 2019

coisas de ver: "Minimalismo - um documentário sobre as coisas importantes"







coisas da casa: Não há sanita como a japonesa!


Está decidido! Mais que decidido, está escrito em pedra: havemos de ter uma sanita japonesa cá em casa!

Há coisas em que os japoneses estão incrivelmente mais avançados que o resto do mundo, e as sanitas são um bom exemplo.
Pode parecer algo louco, mas este utensílio deixa-me mesmo entusiasmada, porque vai de encontro a uma filosofia que defendo - transformar os mais triviais gestos da nossa vida, os que repetimos vezes sem conta ao longo da nossa existência, numa experiência de grande conforto e bem estar. Porque se estamos fadados a repetir algo, porque não fazer disso um momento de alegria?

Para os que não sabem o que é uma sanita japonesa, é algo que combina as funções de sanita e bidet com tecnologia de ponta. Para começar a "bichinha" é amiga do ambiente pois gasta quase menos 10 litros por descarga, a "bichinha" é do mais higiénico que pode haver pois esteriliza-se após cada utilização. Esta "bichinha" também é muita amiga dos seus donos, pois tem assento aquecido, tampa que se levanta e desce automaticamente, função de massagem, e lava e seca "as partes" do utilizador.

 Como não querer uma?!

A boa notícia é que algumas empresas já começaram a notar o interesse do público ocidental para com este objecto, e já se encontram à venda assentos de sanita que combinam estas características e são adaptáveis às sanitas já instaladas.
Portanto, já não há-de faltar muito para que todos possamos ir ao wc, japanese style!









quarta-feira, 10 de abril de 2019

coisas de ver: QE



QE é o acrónimo da nova geração do programa "Queer Eye".
O original estreou em 2003 e tornou-se um fenómeno global. Aquando da sua estreia o formato não era mais que uma equipa de cinco gays cuja missão era trazer mais estilo à vida de alguns heterossexuais. Se tal serviu para chamar a atenção para o programa, rapidamente se deixou de lado essa visão mais estreita, e os alvos da equipa de transformação deixaram de ser escolhidos por género ou orientação sexual.

O formato regressou em 2018, com uma nova época de Fab 5, mas que mantém a mesma essência: todos são especialistas proficientes no seu campo, o que ajuda a que cada transformação realizada seja total. Há o especialista em vinho e comida, o designer de interiores, o especialista em cabelo e cuidados corporais, o psicoterapeuta e o designer de moda.

O mote desta edição é "More than a makeover" - "mais que uma transformação", e isso nota-se e traduz-se numa experiência bastante satisfatória para quem assiste, quanto mais para quem a vive.

Para quem gosta de programas sobre transformações, esta é uma boa opção. É impossível não esboçar um sorriso ao ver a viagem e o produto final, o antes e o depois, quando nos é apresentado alguém que precisa de um empurrãozinho, e de repente mudam-lhe a casa, o cabelo, o guarda-roupa, ensinam-na a cozinhar, trabalham com as emoções…







quarta-feira, 3 de abril de 2019

Vida de cão: Abençoado feitio!


Adoro o feitio do meu cão.
Tem um feitio de merda igual ao meu, e tenho algumas dúvidas que, se realmente fosse um filho humano, gerado e parido, tivesse tantas semelhanças connosco. Digo "connosco" porque o "paizinho" é da mesma estirpe.

Adoramos que seja desconfiado, que só confie cegamente em nós - o "pai" e a "mãe", que abane a cauda e cumprimente praticamente toda a gente, mas que não permita grandes confianças. A confiança merece-se, não se dá ao desbarato.
Quantas e quantas vezes olha para mim à espera do sinal de como reagir em relação à pessoa que se aproxima.

Ele é que sabe quando e de quem aceita uma festa, e se não estiver para aí virado, foge, evita, recua. Nós não obrigamos, e garantimos que as tentativas cessam mal ele dá indicação que não quer: como ser vivo merece respeito em relação ao seu espaço pessoal e ao seu corpo.
Quanto à vontade de quem quer dar festas, embora aprecie assistir a interacções felizes a minha responsabilidade com o meu cão, o meu filho de quatro patas, é garantir o seu bem estar e a sua segurança. Para além disso, vou sempre defender que o direito de cada um sobre o seu corpo é infinitamente superior a tudo o resto, quer se fale de um ser humano ou animal.

Da mesma forma que nunca me passaria pela cabeça cumprimentar alguém com um beijinho contra a sua vontade...


Pegar nele, nem pensar. Colo só nos pede a nós. Aceita que as "tias" veterinárias ou do spa lhe peguem, mas é uma intimidade vedada a todos os outros.

Isso deixa-me feliz. Porque neste mundo, em nome da segurança dos nossos, não só temos que educar as nossas crianças a terem cuidado, a não confiar cegamente em tudo e todos, como temos que alargar essa preocupação aos nossos animais.
Assim como há gente de bem, que se dedica a ajudar os animais, também há quem os roube, quem os envenene, quem sinta gosto em ser cruel e violento, o que faz com que não confiar cegamente seja basilar.