quinta-feira, 25 de abril de 2019
Do registo onírico #6: Algures no tempo, à sombra das laranjeiras
Esta noite sonhei com o meu avô.
De todos os avós, foi a morte deste, pai do meu pai, a que mais me custou. Muito provavelmente por ter sido o primeiro dos avós a partir.
É que aos olhos dos netos os avós têm uma espécie de idade misteriosa: são sempre velhos, já o eram quando nascemos, e são-no ao longo de toda a nossa vida. Mas a velhice é sempre abstracta, e só nos apercebermos que a vida é finita, quando esta finda. E nesse momento apercebermo-nos que não estávamos preparados, nem olhámos para a velhice como uma pista do que, eventualmente, iria acontecer um dia.
De vez em quando sonho com o meu avô, e são sonhos bons. Tão bons que quase tenho a certeza de sorrir enquanto durmo. Estes sonhos invadem-me de uma paz tremenda, uma alegria serena, as mesma sensações que sentia quando estava com o meu avô em vida.
Um dos motivos porque gostava tanto dele e sentia uma imensa conexão, era porque o meu avô não era de muitas palavras.
Quando estávamos só os dois, trocávamos meia dúzia de frases e um par de sorrisos, para depois nos quedarmos num silêncio confortável.
Ele enrolava um dos seus cigarros, eu puxava um dos meus, e lá ficávamos embalados naquela calma quase meditativa, naquele silêncio que aproxima.
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