sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Da era da estupidez #2



Na clínica cada departamento tem a sua salinha de espera. O departamento de imagiologia não é excepção. De um corredor assoma, de vez em quando, uma figura de bata branca que chama duas ou três pessoas.
É deste espaço que se acede aos gabinetes médicos e salas de exame.
Também funciona como uma segunda sala de espera, embora muito menor que a primeira. Em nome da eficiente gestão de tempo, a figura de bata branca vai avisando cada uma das pessoas: "Espere aqui um momento. Quando vir alguém sair da salinha número X, entre e …- (preencher com as indicações para cada pessoa e tipo de exame) - que quando chegar a sua vez, abro-lhe a porta do outro lado."

A Imagiologia, para quem desconhece, é a especialidade médica responsável pelas ecografias, radiografias, ultrassons, ressonâncias, etc. Enfim, todas as imagens obtidas através de diversos métodos para fins de diagnóstico e terapêutica.

À entrada desse mesmo corredor existe um cartaz, bem visível para todos os que se encontram na primeira sala de espera, que avisa que a partir daquele ponto a utilização de telemóveis é estritamente proibida. Nas paredes da própria galeria contei pelo menos mais um par deles que reforça esse aviso, e que explicam que é para não haver interferência com os equipamentos médicos.

E que vi eu mais ao longo desse corredor? Pessoas agarradas aos telemóveis. Não para o desligarem, mas para efectuarem chamadas e enviarem mensagens.


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

coisas de ver: "A descoberta das bruxas"



Já se disse várias vezes cá por casa, em uníssono, que a pachorra tinha acabado para com filmes, séries, ou qualquer outra coisa que metesse vampiros ao barulho. O uso deste tipo de personagens já se tornou tão, mas tão batida, (e tão mal utilizada muitas das vezes), que já dava náuseas.
Mas como pela boca morre o peixe, eis que aparece esta nova série...


"A discovery of witches" aka "a descoberta das bruxas"


sábado, 15 de setembro de 2018

Da era da estupidez #1


"Ate os atacadores"
"Leve as crianças sempre pela mão"
"Não coloque os pés nas laterais"
"Não bloqueie a saída"
"Não se sente nos degraus"
"Segure-se ao corrimão"

As escadas rolantes foram inventadas há mais de um século. As primeiras foram instaladas em Coney Island, no Old Iron Pier, em Nova Iorque, em 16 de Janeiro de 1893. Por lá ficaram durante duas semanas antes de serem transferidas para a ponte de Brooklyn. Estima-se que durante esse curto período cerca de 75 mil pessoas tenham experimentado a nova maravilha tecnológica.

Hoje em dia estão longe de serem uma novidade, e são visões mais que comuns, especialmente em estações de comboio, metro e centros comerciais.

A partir da década de 80 surgem os centros comerciais e são considerados os arquétipos desejáveis do novo comércio. Na década seguinte começam a proliferar como cogumelos por todos os centros urbanos, tornando-se a norma, e com eles, as escadas rolantes.
Por isso, não há propriamente desculpa para alguns comportamentos de risco, a não ser a estupidez, o embrutecimento que marca a nossa era, que se tornou o triste timbre da nossa contemporaneidade.

Actualmente não tenho por hábito passar mais tempo em shoppings do aquele que é estritamente necessário. Ontem numa ida a um dos shoppings aqui da zona, enquanto subia uma escada rolante que já subi inúmeras vezes, reparei em algo de novo: as laterais estavam pejadas de avisos: os mesmos que estão ali no topo.

Sinais dos tempos, marcas que comprovam que esta é mesmo a "era da estupidez".


sexta-feira, 7 de setembro de 2018

coisas de pensar: Da Lógica #4


Perdi a conta ao número de anos e de pessoas que, sabendo ou tendo notado que não temos filhos, pareciam imbuídos de uma espécie de missão divina, a tentarem-nos convencer que procriar é que é.
Não estou aqui para me espraiar sobre o quanto isso chegou a ser chato, irritante, e até inapropriado, mas sim para abordar este ponto na perspectiva da lógica.


Consideremos o seguinte:
Só em caso da espécie humana estar em perigo de extinção é que existiria validade em pressionar  casais a terem filhos, porque de resto não consigo simplesmente visualizar uma consequência que advenha da decisão de não procriar que seja tão negativa que mereça ou justifique uma intervenção.

Já o contrário não é bem assim… Infelizmente o mundo está repleto de crianças nas mais variadas situações de risco, e de adultos que carregam consigo uma tremenda bagagem emocional (e não só), que comprovam que embarcar na viagem da parentalidade sem o mínimo de noção, vocação, perfil e ferramentas adequadas pode dar merda da grossa.

Em nome do raciocínio lógico vamos aceitar a premissa que as pessoas que abordam terceiros sobre as suas decisões reprodutivas, o fazem porque gostam tanto de crianças que se deixam levar pelo entusiasmo. 
Não teria muito mais lógica que as pessoas que abordam os casais sem filhos, e não conseguem nada com isso a não ser tornarem-se eventualmente um aborrecimento, investissem toda essa energia nas pessoas que querem ser pais, provocando-lhes a reflexão sobre as múltiplas facetas dessa realidade?



O intuito não é amedrontar ou fazer desistir de ter filhos, mas ter a noção que se todos embarcassem na parentalidade plenamente conscientes de tudo o que isso significa, o mundo seria um lugar bem melhor.
E que nada de bom resulta se continuar a haver meio mundo a tentar vender ao outro meio a fantasia que a parentalidade, para além de ser a melhor coisa do mundo, é a coisa mais natural e fácil, onde só habitam unicórnios, mercaditos cutxi-cutxi, fotos adoráveis e altamente instagramáveis de barrigões pintados e bebés sorridentes, e onde a maior dificuldade será a escolha dos temas para a decoração das festas de anos.

O meu lado racional sempre se sentiu incomodado com este facto, com o porquê dos alvos serem os casais sem filhos, o que para mim é tremendamente ilógico.
Gostam assim tanto de crianças ao ponto de vos parecer totalmente lícito e normal abordar pessoas não íntimas e meter o bedelho na vida reprodutiva alheia? Então ide, mas fazei algo de útil em nome desse amor. Se com a vossa intervenção conseguirem que haja menos uma criança a nascer num contexto de miséria, (seja esta material, psicológica, afectiva, emocional), então já valerá a pena.