A caminho dos entas já é seguro assumir que nunca deixarei de ser picuinhas. É que a esta altura do campeonato nem há volta a dar, logo mais vale assumir-me e aceitar-me: sempre fui, sou e serei picuinhas. Muito provavelmente até ao último dos meus dias, e quiçá, até no além.
E o que é ser picuinhas, com exactidão, na prática, perguntareis vós, provavelmente.
Ao que eu respondo que é chegar da praia, abrir a porta do prédio e levar uma bofetada odorífera que quase nos deitou abaixo, tal a pungência, porque um dos vizinhos quando foi despejar o lixo, o saco foi a pingar por todo o caminho. Para além de um rasto contínuo pelo átrio e escadas acima, já deveria ser lixo que ficou a maturar, portanto o prédio ficou impregnado de um cheiro absolutamente revoltante.
Não me choca o saco do lixo pingar. Isso pode acontecer a qualquer pessoa, até à mais cuidadosa.
O que não me cabe na cabeça é que alguém prefira deixar o prédio sujo e a cheirar mal, do que perder dez minutos a passar uma esfregona na porcaria que fez.
São estas coisas que acordam a picuinhas em mim.
Ainda segui o rasto com a intenção de bater à porta do culpado, e perguntar-lhe, olhos nos olhos, se tencionava deixar o prédio naquele estado. Pois juro-vos que sou pessoa para isso e muito mais, como os meus vizinhos podem validar!
Como não tive absoluta certeza da origem, não consegui descansar enquanto não colei um recadinho no átrio, a pedir "o favor" a quem sujou, que limpe o quanto antes, que o cheiro não se aguenta.
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