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terça-feira, 3 de abril de 2018
coisas de opinar: A revisão do PDM de Sintra, a história da pequena ermida e o futuro da aldeia pt.1
Há um par de semanas, mais coisa menos coisa, através de partilhas nas redes sociais, o tema Plano Director Municipal de Sintra e a sua revisão voltou a entrar no meu radar.
Pensar no PDM é, talvez mais que qualquer outra coisa, reflectir sobre a localidade onde habito, e a estratégia urbanística que gostaria de ver implementada. Tenho uma opinião forte sobretudo em relação aos erros que encontro em outras localidades do concelho e que gostaria que fossem evitados por aqui.
Não é que por aqui não existam "erros" urbanísticos. Aliás, a meu ver, a história desta pequena localidade tão próxima da sede de concelho assenta num erro crasso, ou numa sucessão destes.
Perante a premissa que todos os pedacinhos de terra têm a sua história, e alimentada pela natural curiosidade sobre a povoação que escolhemos habitar, iniciei há anos uma pesquisa.
O maior fruto que colhi da mesma é da autoria da Mestre em História de Arte, Maria Teresa Caetano, e intitula-se "A Ermida de São Romão de Lourel e a proposta de Norte Júnior".
Usarei alguns excertos da mesma para melhor descrição:
"À saída de Lourel, depois de se calcorrear serpenteante caminho submerso num imenso oceano de verdes e castanhos vivos' avista-se' finalmente, no alto de um outeiro, a ermida de São Romão (...).
Silenciosas, as velhas pedras guardam mistérios passados e 'na sua simplicidade de pequenino templo rural' evocam uma vivência há muito desaparecida. (...)
A ermida de São Romão vem já referenciada no Treslado do Lemitte (...) de 1253, (...) e a sua fundação remontará aos alvores da nacionalidade. (...) aproveitando materiais romanos anteriores ali subsistentes (...) - cumpriu primorosamente a função evangélica, cristianizando um antigo local fúnebre de culto pagão. (...)
Assim, para a edificação deste templo, orientado de nascente para poente, reutilizaram-se, (...) alguns monólitos de uma necrópole romana que ali existira, de entre os quais se destacam dois epigrafados, (datados dos séculos I e II dc) (...).
Junto à ermida terá funcionado uma necrópole medieval, (...) datando dessa mesma época a instituição de uma confraria e de uma albergaria. (...)
Em 1541, contudo, tanto a confraria como a albergaria se haviam desmembrado, pelo que: "a ermida de são Romão que he da dicta igreja de são Martinho tem huas terras de pam as quaes terras no tempo pasado eram de hua albergaria e confraria e os cônfrades eram dellas admynistradores e despendiam as Rendas das dictas terras segundo compromisso e ordenança sua a qual confraria he desfeita e nom há hay confrades pella quall rezão ficaram as ditas terras da dita ermida pera coffegimento della a saber as rendas segundo pello prelladi ffoy mandado emquanto nõ se Reformar outra veez a dicta confraria".
Desconhece-se, no entanto, se a confraria e albergaria de São Romão alguma vez chegaram a ser reformadas. Mais tarde, nas Memórias Paroquiais, de 1758, o prior António de Souza Sexas, pároco da freguesia de São pedro de penaferrim, aludiu ao lugar e à ermida de São Romão nos seguintes termos: "O Lugar de S. Romaó, que se compoem de 6 fogos em que habitaó 15 pessoas: Tem este lugar huma ermida da invocaçaó de S. Romaó, a qual está já no lemite da freguezía de S. Maria, deste arabalde de Cintra, e tem hum Eremitaó (sic), que he freguez desta minha freguezia de S. Pedro; e he administrada a Ermida, e aprezentado o ermitaó pella Collegiada de S. Martinho da Villa de Cintra".
A data de 1768 que Alves Pereira viu gravada na base do cruzeiro, de moldura simples, assinalava a vitalidade com que então se celebrava o santo. (...)
A voragem do tempo, porém, consumiu a devoção no "Santo Romano" e conduziu ao completo abandono da ermidinha que desamparada de fé e de gentes se foi arruinando, e, nos finais do século XIX, a festa que, no primeiro Domingo de Março, costumava celebrar o santo padroeiro deixou de se fazer.
O velho templo e o seu triste abandono pairava ainda na memória dos povos das redondezas, aqueles que nutriam maior devoção pelo santo patrono e, neste sentido, em 1941, Gonçalves afirmara a propósito " a reconstrução, (...) impossível, a não ser que algum benemérito pretenda restaurá-la radicalmente".
Poucos anos depois, Artur Soares Ribeiro - proprietário do casal de São Romão e de muitos dos terrenos envolventes - costumava ali reunir-se com alguns amigos, (...). Este grupo começou a interessar-se pela arruinada capela de São Romão, (...) e pensaram na sua restauração 'tendo, para tal fim, formado uma comissão ad hoc, (...)
Assim, em 1950, o Jornal de Sintra publicava, com destaque na sua primeira página, uma notícia sobre a reconstrução do templo (...)
O vogal Norte Júnior - (...) tomou a seu cargo o projecto de reedificação do edifício e, (...) a Comissão tratou de desenvolver as diligências necessárias junto das autoridades competentes."
Esta história não termina bem: o Arquitecto Norte Júnior quando contacta a Câmara Municipal de Sintra para apresentação e aprovação do projecto, aproveita para pedir, tendo em visto a natureza do mesmo, a isenção de taxas camarárias e licenças. A Câmara Municipal aprova eventualmente o projecto de recuperação do património mas insiste no pagamento das taxas, o que se torna um obstáculo, quiçá até aquele que enguiçou toda a campanha e a fadou ao insucesso.
Angariam-se mais de 10 mil escudos, (uma quantia bastante expressiva naqueles tempos), que mesmo assim não são suficientes para se erguer a que seria a Capela de São Romão. Deixam então de haver notícias sobre a Comissão e o projecto.
Ficam as plantas minuciosas do Arquitecto como testemunho do que poderia ter sido o fruto deste empreendimento.
"(...) o projecto concebido por Norte Júnior materializou - ainda que "temperado' pela sua própria época - uma moldagem muito próxima da original. Para isso, ter-se-á inspirado na arte românica, (...)
Saliente-se, por outro lado, que, apesar de ter praticamente refeito a ermidinha, parece ter havido total respeito pela estrutura pré-existente, (...) até porque as "raízes" da ermida de São Romão que aquele arquitecto tão incessantemente procurou, não se compadeceria, jamais, com a manutenção de uma estrutura "recente".
Décadas depois, nos anos 90, foi criada uma nova Comissão para a edificação de uma igreja em Lourel, visto que durante 20 anos as reuniões religiosas tinham lugar na escola básica por falta de lugar apropriado.
A que poderia ter sido uma renovada oportunidade para concretizar o projecto do reputado Arquitecto Norte Júnior, de preservar património incontavelmente mais antigo que os icónicos palácios e castelo de Sintra, e que seria uma mais-valia para a localidade e os seus habitantes, de então, de agora e de amanhã, pois poderia ser um espaço comum com aquele charme e beleza que são apanágio único das aldeias e da região, (quem não gosta do encanto de uma praça com a sua capelinha, com espaço para as pessoas se reunirem e, quem sabe até um coreto à moda antiga?!), de recuperar as festividades de São Romão que são património imaterial, peça de cultura e identidade da população, a escolha recaiu sobre a construção de uma igreja moderna, em cinzento betão, ainda inacabada, (creio eu), à beira de uma estrada movimentada com passeios quase inexistentes, onde é impossível estacionar, parar e até é perigoso para peões.
O motivo, (segundo apurei há anos numa conversa com alguém que habita na aldeia há muito tempo), não foi mais que as pessoas preferirem algo mais próximo às habitações. Ganhou a mobilidade, o comodismo, a preguiça, (que a distância não é assim tanta), e a incapacidade de valorizar o património e de planear a longo prazo.
Perdemos todos.
Se o trabalho da autoria da Mestre Maria Teresa Caetano nos dá conta que no passado distante a pequena ermida já se encontrava em ruínas, votada ao abandono, passar pela mesma em 2018 é desolador.
quarta-feira, 24 de janeiro de 2018
coisas de opinar: Os meus dois tostões sobre isto da Supernanny
Quem defende o programa fá-lo utilizando o argumento de "conteúdo pedagógico".
A questão é que a pedagogia não pode existir de mãos dadas com a psicopatologia que é o voyeurismo, que é definido como a curiosidade mórbida sobre aspectos privados ou íntimos da vida de alguém.
É de valor que se abordem os temas da pedagogia, até porque todas as famílias são disfuncionais à sua maneira, não há tarefa mais complicada que a educação e não há pais que não precisem de ajuda, tanto aqueles que pensam que sabem tudo como os que se demonstram já desesperados, prontos a atirar a toalha ao chão.
É de valor que um canal de televisão demonstre vontade de colocar à disposição do grande público um programa que tenha a intenção de ser uma ferramenta positiva para aqueles que participam do programa, como para aqueles que o assistem. Mas a intenção em si não chega: os meios, os métodos, os resultados têm de honrar a mesma.
E este formato não o faz.
Poderia se se limpasse o formato das componentes invasivas e desrespeitosas que alimentam o voyeurismo de quem assiste. Como? Utilizando o método de encenação que já conhecemos de outros programas, ao invés de apresentar ao mundo e expor na primeira pessoa a família real.
A presença da família real não é, de forma alguma, imprescindível. Nem sequer necessária. A não ser, claro, que a intenção não seja tão pedagógica, bonita e fofinha como nos querem fazer crer, e não passe da conquista de audiências através da exploração da curiosidade mórbida que temos sobre a vida alheia.
No dia em que se quiser fazer um programa para realmente auxiliar as famílias, (lá está, as que participam e as que assistem), enviam uma equipa de técnicos bem formados e competentes para trabalhar com estas em privado, e contratam actores para encenar e mostrar ao público as situações enquanto os tais profissionais vão esmiuçando a situação, explicando o contexto com que se depararam, o seu diagnóstico, a metodologia que escolheram para solucionar o problema e porquê, e os resultados que obtiveram ou não.
Lembro que no programa "E se fosse consigo?" do mesmo canal, onde são abordadas todo o tipo de temas como o racismo, o bullying, a violência doméstica, os maus tratos a idosos, o consumo excessivo de álcool, entre outros, todas as situações são encenadas. Em nenhum episódio houve, felizmente, a peregrina ideia de ir buscar intervenientes que não fossem actores.
E se as pessoas ficariam chocadas se neste contexto se utilizassem verdadeiras vítimas de violência doméstica, de assédio, etc, que isso seria uma imensa violação da sua privacidade, do seu direito de imagem, e um transtorno para a vida toda passar a ser conhecida por milhares e milhares de estranhos, para além dos colegas de trabalho, os vizinhos, os familiares, os amigos, os inimigos, e todo o cão, gato e periquito como a pessoa que passou ou passa por X, porque há quem insista que não há problema algum em fazer exactamente o mesmo a uma criança?
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
cromices #157: Nada como um post altamente sexista dentro da quadra natalícia
Não passa um único dia em que não seja noticiado mais um qualquer estudo, com mais ou menos credibilidade, mais ou menos importância, mais ou menos palerma, mais ou menos óbvio, sobre preferências, insights, o que faz bem e o que faz mal, etc.
Dia 18, a revista Visão, noticiava um destes estudos num artigo intitulado "Mulheres sofrem mais de problemas mentais do que os maridos a vida quase toda. Até que eles morrem..."
Fiel à croma que sou, foi inevitável lembrar-me de todo um compêndio de piadas e historietas alusivas ao tema e desbragar-me a rir.
Da entrevista a uma senhora que, já tendo ultrapassado as cem primaveras, com uma invejável saúde e lucidez, em que esta confessava que o segredo para tal longevidade era fugir do álcool e dos homens.
Da graçola que "eles" costumam dizer sobre "elas" falarem muito, ao que "elas" respondem que isso só acontece porque têm que repetir a mesma coisa meia dúzia de vezes até serem ouvidas.
Das milhentas piadolas feitas por mulheres sobre o seu quotidiano em que comparam os maridos a mais um filho, ao facto de nunca saberem o lugar de nada nas próprias casas, de precisarem quase sempre de assistência mesmo quando supostamente estão a executar uma qualquer tarefa sozinhos...
Do bizarro e cómico episódio que, por ser tão inusitado, a minha mãe nunca esqueceu, mesmo tendo-se passado quando esta era uma pequena criança, numa aldeia do interior, e que é mais ou menos assim:
Após o velório de um idoso da aldeia, a minha avó e a minha mãe tiveram que retornar à casa da família onde este tinha decorrido, porque se tinham esquecido de algo. Foram dar com a velha viúva a dançar e a cantar.
Clichés, piadas, e toda a minha cromice e sentido de humor retorcido à parte, existe realmente a conclusão do tal estudo divulgada pelo citado artigo, efectuado pelo serviço nacional de saúde britânico, com uma amostra de 8 mil pessoas, em que a saúde mental das mulheres começa a melhorar por volta dos 65 anos, mas atinge o seu auge a partir dos 85.
A explicação para tal parece ser a ausência de responsabilidades domésticas e de ter que cuidar dos outros, sejam filhos, netos, familiares idosos, maridos. A influência mais que positiva que a ausência destas preocupações tem na saúde dá-nos material para reflexão.
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quarta-feira, 22 de março de 2017
coisas de pensar: O feng shui, a religião e o bicho papão.
O Feng Shui surgiu há cerca de 4000 anos. De forma muito sucinta, o objectivo desta corrente de pensamento é ser uma ferramenta para dotar os espaços físicos de equilíbrio, harmonizar as energias, potenciar a influência positiva destas e minimizar a influência negativa sobre estes.
Dizem os chineses que actua nos espaços físicos da mesma forma que a acupuntura age no organismo. Segundo esta filosofia oriental, a busca da harmonia com as forças benéficas da Natureza aumentarão a prosperidade, a saúde e a boa sorte.
Há anos senti-me especialmente curiosa acerca do Feng Shui e comprei um livrinho sobre o tema.
Muitas das dicas mais básicas desta filosofia estão relacionadas com o manter a casa limpa, organizada e sem tralha.
Diz que uma casa de banho suja, com a tampa da sanita levantada e porta aberta gera más energias, assim como ter os armários da cozinha desorganizados, com louça escavacada e produtos presentes que estejam estragados, fora da validade, é mau para a prosperidade. Que a presença de tralha no quarto, de aparelhos eletrónicos próximos na cama, de objectos relacionados com o trabalho, são inimigos do descanso.
São apenas alguns dos exemplos. Coloquemos só por uns momentos os óculos de cepticismo e veremos coisas que qualquer pessoa considerará tão banais que não precisa que exista um livro ou uma corrente filosófica que ensine: que se andamos a deixar comida estragar-se, passar de validade, então é óbvio que acaba por ser mau para a prosperidade, que é o mesmo que deitar dinheiro ao lixo; que uma casa limpa será um espaço propício à saúde, que num espaço cheio de tralha onde de dois em dois passos se dá uma canelada algures a pessoa não se sentirá cheia da tal boa sorte, não é?
A intenção não é de forma alguma desprimorar esta antiga corrente, mas utilizá-la como adjuvante a um raciocínio.
Diz o filósofo que há primeiro que aprender a gatinhar para depois aprender a andar. Isto aplica-se tanto ao indivíduo como em relação à evolução da espécie.
Acho que até a mais céptica das pessoas achará imenso valor numa filosofia que incita a hábitos de organização e higiene, mesmo que seja necessária a utilização de chamarizes como prosperidade e sorte para tal. Duplica, triplica, quadriplica o seu valor se tentarmos imaginar o que seria corrente em hábitos de limpeza e higiene há 4000 anos atrás. Olhem que a minha imaginação não pinta um quadro nada auspicioso!
Voltando às palavras do filósofo, quando somos crianças e os adultos sentem que estamos ainda numa idade em que não nos vão conseguir fazer compreender através do diálogo a importância de comer a sopa, a fruta, o peixe, de dormir cedo, de lavar os dentes, de estudar, de arrumar o quarto, usam-se outros métodos, nem que a de ameaçar chamar o bicho papão caso não se sigam as regras impostas.
Tudo com uma relativa paz de espírito, porque os adultos sabem que é temporário, que passados uns anos todos iremos compreender os benefícios de todas as regras que nos incutiam, e que nos vamos rir do bicho papão. Que certamente utilizaremos as mesmas artimanhas para educar os nossos filhos.
Proverbialmente, onde há duas, há três. Serviram o Feng Shui e o bicho papão para me trazer à religião.
Quero olhá-la com os mesmos óculos de cepticismo que coloquei há pouco.
Imagino-me na era e no papel de quem escreveu textos religiosos, que se tornaram regras para tantos.
Imagino o contexto histórico, geopolítico, social. A espécie humana com os ímpetos que conhecemos mas com menos uns milhares de anos de evolução, progresso, educação e literacia. Não me é difícil imaginar a necessidade global de inventar sistemas de crenças com o objectivo de incutir princípios morais e regras de comportamento mais elevados, mesmo que o preço fosse edificá-los sobre um modelo arcaico e dualista de castigo/ recompensa. Mas lá está, falamos de outros tempos, ou gosto de pensar que foram outros tempos.
Imagino-me como um desses escritores religiosos, (é o termo que prefiro), com uma relativa paz de espírito, a pensar que é temporário, que passados uns anos a Humanidade compreenderá por si mesma o porquê de não matar, de não roubar, de não cobiçar, de amar, perdoar, servir, e rir-se-á das estórias com bichos papões.
Mas e quando o bicho papão habita na religião? Quando esta defende a pedofilia através do casamento de homens velhos com meninas, quando se defende a existência de escravas sexuais como solução para o adultério, entre outras pérolas do mesmo calibre?
Quem é que desata agora este nó?
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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
coisas de opinar: Um aumento de imposto com o qual concordo.
Trata-se do recém criado Imposto sobre açúcares.
Este determina que às "bebidas adicionadas de açúcar ou edulcorantes" como é o caso dos refrigerantes será cobrado um imposto adicional.
Este divide-se em dois escalões, dividindo os produtos quanto à quantidade de açúcar adicionado: às bebidas com até 80 gramas de açúcar por litro, o imposto cobrado será de 8,22 euros por hectolitro (100 litros). Se a quantidade de açúcar for superior, o imposto passa a ser 16,46 euros. Ou seja, por cada litro de refrigerante o valor do imposto será 8,22 ou 16,46 cêntimos.
Para além dos refrigerantes, esta medida englobará também bebidas de baixo teor alcoólico (de 0,5% a 1,2%) como as sidras e o hidromel.
As bebidas doces à base de leite, assim como os néctares e sumos de fruta não estão incluídos neste imposto.
Os comerciantes devem contabilizar o seu stock destas bebidas e comunicar os dados ao fisco, pois terão até 31 de Março para vender os produtos adquiridos antes da promulgação desta nova taxa, sem a pagar. A partir de 31 de Março, pagarão imposto mesmo sobre o stock antigo.
Cabe às empresas do sector a decisão sobre se o imposto será pago por estas ou pelo consumidor.
Obviamente que as empresas do sector não estão satisfeitas porque esperam uma descida no consumo. Mas, o objectivo desta medida por parte do Governo é exactamente essa: diminuir o consumo de bebidas açucaradas pelo simples facto que estas prejudicam a saúde.
Por esse motivo sou totalmente a favor deste imposto, e também me agrada sobremaneira que as receitas geradas por este sejam direccionadas para o orçamento do ministério da Saúde. Estamos a falar de uma previsão de cerca de 80 milhões de euros.
Espero que a maioria das pessoas já esteja ciente dos malefícios para a saúde do consumo de açúcar em excesso, e que todas as bebidas contempladas pelo imposto usam na sua composição quantidade completamente abusivas e aberrantes e que devem ser, se não riscadas dos hábitos pelo menos consumidas com moderação. Aliás, já tínhamos abordado este tema por aqui, em 2013.
Este é um passo evolutivo, é um imposto com raíz numa boa causa. As empresas do sector que se adaptem aos novos tempos, que invistam no desenvolvimento de produtos amigos da saúde. Da mesma forma que não se usa amianto na construção de casas modernas porque se chegou à conclusão que este é cancerígeno, isto não é diferente.
Só lamento que tenha faltado a coragem para estender este imposto às bebidas alcoólicas. O lobby é forte, afinal somos um país de bêbados, mas um dia chega-se lá.
Frustra-me, choca-me e indigna-me que em qualquer café, uma cerveja, por exemplo, seja vendida quase ao preço de um café, seja mais barata que uma garrafinha de água, (que deveria ser a bebida mais barata do mundo), e bastante mais barata que um sumo de fruta ou néctar, ou até chá. E quando falamos de um sumo de laranja natural a comparação é tremenda: pelo preço que alguns estabelecimentos cobram por este dá para comprar 3, 4 , 5, 6 cervejas...
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
coisas de opinar: As hienas de Harar e as raposas de Portugal.
Ontem assistimos, deliciados e estupefactos, a um documentário da vida animal passado na vila etíope de Harar, sobre a relação incomum entre os seus habitantes e as hienas.
No passado, por falta de alimento no seu habitat natural, as hienas sentiram-se forçadas a migrar das montanhas para as redondezas desta vila. Naturalmente, começaram os ataques a rebanhos e talvez a humanos.
Como acontece ainda hoje em dia, uma vez por semana, o conselho de sábios reuniu-se para meditar sobre uma solução para este problema. O fantástico é que em tanto lugar do mundo, na maioria acredito, a solução encontrada passaria por exterminar as hienas. Mas não em Harar!
Isto passou-se há uma centena de anos: a solução definida pelos sábios de Harar foi que se passasse a alimentar as hienas.
Em vários pontos da vila são deixados recipientes com uma espécie de pudim de cereais bem regado com manteiga, mas o verdadeiro fenómeno reside na existência de homens que alimentam as hienas à mão, dando-lhes pedaços de carne, com a ajuda um pauzinho. Que as chamam assobiando, que as conhecem e lhes deram um nome, e cujo chamado elas reconhecem.
Criou-se uma inesperada harmonia entre animal selvagem e humanos, que atrai curiosos de todo o mundo. O que começou por ser um gesto nascido da necessidade para preservar vidas humanas e rebanhos, sem abdicar do respeito pela vida e compaixão, cresceu para uma relação que se pode até chamar de afectuosa.
As hienas andam à vontade pelas ruas da vila, as pessoas passam por elas como se nada fosse. Têm-lhes carinho: confessam que olham para estas como amigas, cães. Que tal como os cães estas parecem entender o que lhes dizem.
No documentário há vários momentos destes, desde uma senhora que já não consegue dormir descansada sem os sons das hienas, uma mãe que leva uma criança para as ver mais de perto, o jovem alimentador de hienas de somente 19 anos que depois da primeira noite em funções diz nunca se ter sentido mais entusiasmado e feliz, de como fala da vitória que é a lenta conquista de confiança em que o animal vem buscar o seu pedaço de carne e permite um afago.
Criaram superstições e crenças animalísticas em que a hiena é um espírito protector, que os salva de demónios e djinn. Há sempre uma base de verdade nos mitos e a mim pareceu-me que a protecção atribuída à hiena é o seu papel na ecologia: por exemplo, os restos provenientes dos matadouros são deixados numa colina, e os cães e hienas comem todos os restos. E por incrível que pareça, em companhia uns dos outros, sem ataques.
Há cães, gatos, e crianças, e todos andam livremente pelo espaço. À noite as pessoas recolhem às suas casas, e a presença das hienas intensifica-se nas ruas da vila. A tv mostra a imagem de uma hiena que acelera para se desviar de uma matilha de cães mais atrevidos. Quisesse ela e comia um deles só com uma dentada. Simplesmente não esteve para isso.
Acho que já deu para pintar o cenário das hienas. Posso passar agora às raposas.
Porquê as raposas, e em Portugal, como escolha de tema?
As redes sociais inflamaram-se quando se espalhou nas mesmas o anúncio de uma "batida" organizada pelo clube de caça e pesca de Santa Tecla, Famalicão, com data marcada para 26 de Fevereiro.
Como em tudo, as opiniões dividiram-se e ambos os lados fizeram-se ouvir.
Na defesa do evento, o presidente do tal clube afirmou que a grande motivação do evento é "desportivo", que é um desporto como outro qualquer, que é algo que já se faz desde a época dos reis.
Mais aqui.
Eu cá sou absolutamente contra a caça desportiva. Aliás, a abolição desta é uma das minhas causas.
Não acho plausível nenhum dos argumentos utilizados como tentativa de justificação de práticas que residem na busca de prazer através da crueldade. Isso, nos dias de hoje, para qualquer cabeça sã não é mais que sinal de psicopatia.
Usar a tradição como argumento é vão: a antiguidade de uma prática não justifica a sua perpetuidade. Unicamente o carácter desta define a sua continuidade.
Felizmente existe algo chamado evolução, e o que foi um dia aceitável, no futuro deixará de o ser. Caso não o fosse não se lutaria pelo fim da prática da mutilação genital, das touradas, dos circos com animais. Caso não o fosse nunca teria sido abolida a escravatura, nem se teriam redigido declarações como a dos Direitos Humanos ou da Criança, continuariam a haver tribos canibais, sacrifícios humanos, serviríamos um senhor feudal que teria total domínio sobre a nossa pessoa e vida, e por aí fora. Afinal tudo isto e muito mais pertence a uma lista de antigas práticas, logo tradicionais, certo?!
Sim, tristemente por vezes a caça parece a última solução em determinadas situações. Por exemplo, nos casos extremos em que uma espécie invasora chega a um território, geralmente sempre por mão humana, e por não pertencer aquele habitat, não ter predadores, todo o ecossistema, todas as outras espécies correm um enorme e bem real perigo de desaparecerem. Um desses exemplos é a presença do peixe-gato em várias zonas onde este não é nativo. Mas não deixa de ser uma triste intervenção na tentativa de corrigir um enorme erro humano. Aliás, quando decidimos interferir o resultado não costuma ser bom.
Outra situação é o recurso à caça como meio de sobrevivência. Nem todas as pessoas do mundo vivem numa sociedade onde há mercearias e hipermercados à esquina. Existem ainda lugares em que se não caças, não comes, e se não comes, morres.
Mas essas pessoas, como não faltam documentários que as apresentam aos nossos olhos, são muito diferentes dos caçadores desportivos. Estas fazem-no por verdadeira necessidade, muito provavelmente ficariam horrorizadas perante alguém que o faz somente por prazer, porque melhor que muita gente, sabem que se tirarem da Natureza mais do que aquilo que necessitam, na conta da frugalidade, gera-se um desequilíbrio do ecossistema. Que o respeito pelas outras espécies é indispensável à sua, que não são mais importantes que qualquer uma das outras espécies com quem partilham aquele espaço. Que o ego é sinal de tolice.
Para terminar, deixo-vos com um par de vídeos protagonizados por raposas, esses seres maravilhosos, e pensem lá se concordam ou não com a caça desportiva, se se imaginam em sua perseguição.
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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
coisas de pensar: Os verdadeiros heróis...
... são os pacifistas, os portadores de Luz que avançam indefesos, porém determinados, destemidos, para dentro da barriga do monstro.
Os verdadeiros heróis não se assemelham a personagens de filmes de acção, com perícia militar, armados até aos dentes e capazes de derrotar um exército sem grande esforço.
Já contava Tolkien, que os grandes feitos são atingidos, para a surpresa de quase todos, pelos mais pequenos e inocentes: os hobbits deste mundo. São os Frodos e os Sam que chegam a Mordor, que saem vitoriosos contra Sauron quando outros aparentemente bem mais fortes e capazes falharam.
São pessoas como estas que me inspiram e, sem as conhecer, lhes sou grata pelo enorme exemplo de como se é Luz numa era de trevas.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
coisas de opinar: Verão é pôr-do-sol, praia, churrascos e... incêndios.
Sintonizei a tv num canal de notícias. Falam dos incêndios que se encontram de momento activos. Um inferno: 102 incêndios, com mais de 2000 bombeiros e 700 viaturas no terreno. São muitos, incansáveis, e mesmo assim não chegam a todo o lado, com a intensidade necessária. É o que se entende pelas imagens de populares a combaterem as chamas, dos repórteres que vão anunciando a proximidade destas de casas, mercados, restaurantes, a 100 metros, a 50 metros.
O noticiário termina e passa para publicidade. Um qualquer spot televisivo de uma cadeia de hipermercados passa em ritmo leve e animado que "Verão é pôr do sol, churrascos" e mais não sei o quê.
Verão é tudo isso, mas também são os incêndios. Não é de agora, sempre foi assim.
Lembro-me de há pouco tempo ter apanhado, também na tv, alguém de uma qualquer corporação de bombeiros que dizia, e bem, que a prevenção dos incêndios faz-se durante todo o ano, especialmente no Inverno.
Reinicia o noticiário. Mostram imagens de pessoas com mangueiras a molharem as casas, de quem tenta extinguir uma linha de fogo com baldes, mangueiras, ramos e tudo aquilo que venha à mão. Existem localidades cercadas pelo fogo e os moradores ajudam os bombeiros como podem, na tentativa de salvar habitações e animais.
Em muitas destas frentes o fogo parece levar a melhor. O país encontra-se em alerta laranja: as temperaturas elevadas, o vento, que vai aumentado com o ar aquecido pelo próprio fogo, a falta de limpeza dos terrenos são os principais factores que dificultam esta batalha.
Há já infraestruturas consumidas, sem contar com a imensidão de verde que já nem para pasto servirá nos próximos anos.
Um dos moradores fala da perda de caixas de abelhas. De como as tentava salvar, usando baldes para apagar as chamas. De como estas reapareciam sempre um pouco mais abaixo, alimentando-lhe a suspeita de fogo posto.
Neste preciso momento, no site da Autoridade Nacional da Protcção Civil, apenas 3 distritos não são cenário de incêndios rurais.
Notícias confirmam que a origem de dezenas destes incêndios foi mão criminosa.
Outros tantos se não mais ainda, terão origem na negligência: a lei especifica, por exemplo, que os proprietários têm até 15 de Abril para limpar os terrenos florestais num raio de 50 metros em redor dos edifícios. Especifica também como se limpa, e os cuidados a ter ao se optar pelo método de queimada, visto que facilmente uma se transforma num incêndio incontrolável.
Também já fomos informados e educados através, se não do senso comum, de inúmeras campanhas de sensibilização sobre ser proibido fumar ou atear fogo nas florestas, de como não se devem largar beatas, nem deixar lixo.
Agosto está mesmo no início, e se já foi por água abaixo a minha esperança de termos uma época calma a nível de fogos, rezo que este ano ninguém perca a vida.
Preparo-me para concluir. Entretanto reinicia o enésimo noticiário e o número de incêndios aumenta. Continua-se a falar de destruição.
As estações passam. Transitamos dos incêndios para as cheias, das cheias para os incêndios. Todos os anos repetimos os mesmos discursos, que agora é que é, havemos de prevenir, limpar as matas, dar mais apoios aos bombeiros, limpar os algerozes para não andarmos com água pelas canelas.
Como S. Tomé, acreditarei quando vir.
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terça-feira, 28 de junho de 2016
coisas de opinar: Houve um dia em que acreditava em paladinos
Chega a todos o dia em que olhamos com maravilhamento para a inocência das crianças, sobretudo da criança que fomos.
Quando era criança acreditava, numa manifestação de pura inocência e idealismo, que ser jornalista era uma das ocupações mais nobres. Porque a partir do momento que as imagens de um qualquer horror fossem capturadas e difundidas ninguém poderia ficar indiferente, e seria certo que "alguém" faria algo, o quanto antes, para o resolver.
A meio do percurso do liceu, enquanto tentava visualizar que raio de carreira profissional deveria abraçar, houve uma altura em que estava determinada em me tornar repórter de guerra. Mesmo antes, assistia com uma desmesurada atenção ao noticiário da noite quando aparecia o Carlos Fino ou o Albarran. Apontava para o aparelho e dizia "é ali que quero estar", de olhos presos naquele cenário nocturno iluminado pela passagem de cometas balísticos esverdeados.
Costumava dizer que aprenderia russo e árabe. Quem diria que acabaria por ser uma espécie de profecia em relação à geografia dos conflitos!
A minha mãe perguntava-me se eu não tinha medo. E eu, com um ar muito sapiente e douto, respondia-lhe que toda a gente sabe que não se deve disparar contra os jornalistas, que é por isso que se usa um colete com "press" escrito nas costas.
O meu pai olhava-me com um ar incrédulo e divertido. Uma miúda que tem medo de aranhas e outros bicharocos, de picas, dentistas e mil outras coisas, quer ir para a guerra!
Ser jovem é também viver ébrio de idealismo. Mal seria se assim não fosse. E eu acreditava com uma força maior que os repórteres seriam aqueles a conquistar o fim das guerras e outras injustiças no mundo. Que as imagens não editadas da dor, sofrimento, perda e morte estampadas no rosto de pessoas reais seriam essenciais para que guerra deixasse de ser um conceito distante e abstracto. Que se víssemos pessoas como nós em cenários que não desejamos para ninguém, a empatia seria inevitável. Logo a mudança também.
Tenho saudades de ser assim idealista, inocente até.
O jornalismo hoje em dia desilude-me. O jornalista já não é, aos meus olhos, aquele paladino da verdade, mas simplesmente alguém como todos os outros, que tem contas para pagar e por isso é permeável a más influências. Indigna-me e causa-me asco todos os casos, grandes e pequenos, de manipulação de informação e da opinião pública. Posso não me ter tornado jornalista, mas levo a deontologia muito a sério. Acima de tudo é um enorme desrespeito pela profissão, pelas pessoas a quem deviam servir, e pelos colegas que correm grandes riscos mundo fora.
O colete com "press" escrito nas costas já não é uma armadura invencível como antes acreditei, e os jornalistas tornaram-se alvos apetecíveis. Diria que é uma profissão mais perigosa que nunca: 67 jornalistas morreram em 2015, 54 sequestrados e 153 presos. Choca-me tremendamente casos como os de Lara Logan, agredida sexualmente por uma turba de 200 homens no Cairo, e de James Foley, fotojornalista decapitado pela Isis, já para nem falar do ataque terrorista ao Charlie Hebdo.
O sonho que vos descrevi no outro dia relembrou-me de que um dia, também eu quis ser repórter. E até por motivos que acredito serem memoráveis, que me fariam abraçar a miúda que fui. Acho que esse sonho e os seus pormenores foram a expressão do meu inconsciente sobre os medos relacionados com tal profissão: hoje não me atreveria, especialmente enquanto mulher. Demasiado perigoso.
Louvo quem o faz, especialmente numa era em que não se respeitam os mínimos códigos de honra, em que a violência e a bestialidade proliferam. Uma réstia de idealismo em mim alimenta a esperança que o sacrifício de todos estes profissionais não seja em vão, e que realmente contribua para a resolução de muitos problemas no mundo.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
coisas da casa: As casas inclusivas
No Museu das Comunicações, que fica na Rua do Instituto Industrial, nº 16, em Lisboa, foi inaugurada, em 2003, a "Casa do Futuro Interactiva".
É uma exposição permanente onde o cenário de uma casa serve para apresentar o conceito de domótica através de um conjunto de várias tecnologias com funções várias, desde a segurança, entretenimento, inteacção à distância, entre outras.
Esta foi a primeira fase do projecto. Na sua segunda fase, este humanizou-se e evoluiu para o que é a "Casa do Futuro Inclusiva", que a página da Fundação descreve da seguinte forma:
"Apelar à consciência social, em especial à das gerações vindouras, para a problemática da deficiência e da velhice, desdramatizando-a e aceitando-a, foi o que levou a Fundação Portuguesa das Comunicações a renovar esta exposição.
A «Casa do Futuro» tornou-se Inclusiva, isto é, humanizou-se. Pessoas com necessidades especiais ligadas à mobilidade, à cognição, à visão, à audição e à fala, têm hoje, à sua disposição, tecnologias preparadas para as ajudar a integrar-se mais facilmente no seu universo de vida.
Para tal, foi necessário criar novos espaços e alterar alguns dos existentes, introduzindo-se novos equipamentos e funcionalidades e foi acrescentada a «Suite da Avó». O objetivo deste quarto é demonstrar que, com as novas tecnologias, os idosos podem usufruir de melhores condições de conforto, de vigilância e de comunicação junto das suas famílias."
Todas as pessoas, inclusive as idosas e as portadoras de deficiência, merecem viver numa casa e num mundo que esteja adaptado ás suas necessidades, de forma a possibilitar o máximo de conforto, qualidade de vida e autonomia.
Da mesma forma que as nossas casas não estão preparadas à priori para a chegada de um bebé, também estas precisam de sofrer alterações para se adaptarem às necessidades impostas quer pela idade, quer pela saúde.
Enquanto a grande maioria dos edifícios, de habitação e outros, não forem criados de raiz de forma a serem considerados inclusivos e capazes de servirem da melhor forma a pessoa em todos os estágios da sua vida, é importante falar sobre este tema.
Mais importante ainda é inspirar o mercado a satisfazer esta enorme necessidade e lacuna, seja através de gabinetes de arquitectura e profissionais de obras que alarguem a sua actividade, tornando-se também especialistas em preparar habitações para pessoas de idade ou portadoras de deficiência, seja também através da disponibilização dos produtos que permitem esta mesma adaptação no máximo possível de lojas, de forma a que sejam totalmente acessíveis.
Quando falamos em pessoas idosas, (e faço questão de incidir uma especial atenção neste nicho, visto termos uma população envelhecida), uma casa adaptada às suas necessidades faz a diferença do mundo. Algumas mudanças permite-lhes prolongar uma vida autónoma. Nunca devemos desvalorizar a importância que tem nas nossas vidas, na nossa psique, na nossa felicidade, esta capacidade. Na mesma medida, quanto mais autonomia tiver a pessoa idosa, menor a carga para os seus cuidadores.
Algumas das alterações aconselhadas numa casa pensada para pessoas idosas:
- Camas, sofás, cadeiras e cadeirões devem ter uma altura que permita a pessoa ter os pés bem assentes no chão quando sentada.
- As camas articuladas são uma opção mais confortável, por também facilitarem os movimentos, para todos os idosos, mesmo aqueles que não se encontram acamados.
- O quarto da pessoa idosa deve estar o mais próximo possível da casa de banho, e preferencialmente situar-se no piso térreo.
- Não devem existir tapetes pois é muito fácil para um idoso tropeçar. Caso existam devem ser de pêlo curto e estarem colados ao chão com fita adesiva de face dupla.
- Na casa de banho a banheira deve ser substituída por duche, preferencialmente um em que a base seja plana e antiderrapante. Neste deve existir um banco e corrimões.
- Idealmente a sanita deverá ser elevada em cerca de 10 centímetros e possuir barras de apoio laterais. Existem assentos especiais caso não seja possível ou não se queira trocar a sanita.
- O pavimento da habitação deverá ser antiderrapante especialmente em zonas como a casa de banho, e de circulação.
- As maçanetas e puxadores deverão ser de modelo alavanca e nunca esféricas.
- As paredes deverão ser de cores claras. Cores vivas e contrastantes deverão ser utilizadas em pormenores como maçanetas, puxadores, tomadas, interruptores, degraus e outros obstáculos.
- O aquecimento deverá ser providenciado através de ar condicionado e nunca através de equipamentos que podem dar origem a acidentes como braseiras eléctricas, aquecedores a gás, etc.
- É importante que toda a habitação seja bem iluminada, mas que a escolha de luzes não encandeie. Nas zonas de circulação, em particular no percurso entre o quarto e a casa de banho são aconselhadas luzes com sensores de movimento.
- As portas deverão ser largas e o espaço de circulação preservado.
- É importante que tudo esteja à mão, todos os armários, especialmente os de cozinha devem ser repensados. Tomadas e interruptores também devem estar ao mesmo nível.
- Os electrodomésticos que funcionem a gás devem ter sistema de segurança como válvula corta-gás.
- As torneiras monocomando são as mais aconselhadas.
- Alguns móveis, como a mesinha de cabeceira, devem ter os cantos arredondados e estarem fixos à parede.
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segunda-feira, 23 de maio de 2016
coisas de opinar: Os reais problemas da Educação
Quanto à questão dos contratos de associação ainda há muito para ser feito, mas nada mais para ser dito que possa acrescentar valor ao debate.
No entanto, para quem andou de cabeça no ar, fica aqui a explicação mais clara e sucinta, com direito a ilustrações e tudo, que encontrei.
Eu gosto de debates, especialmente quando inteligentes, sérios e quando existe uma real intenção de fazer uma análise profunda, alcançar a raiz dos problemas e encontrar possíveis soluções. Tipo um brainstorming.
Eu gosto muito dos debates que incidem sobre os pilares da sociedade. A Educação é um desses pilares, assim como a Saúde, a Segurança, entre outros. Há sectores, temáticas, tão, mas tão importantes, que são a espinha dorsal de qualquer nação. A qualidade de quem e do que somos, a capacidade de aspirar a mais e melhor, depende directamente da força dos nossos pilares, como acontece com qualquer edifício.
Talvez ainda carregue traços de ingenuidade, mas a cada debate que vai surgindo renova-se a minha esperança de que seja finalmente esta a vez que se esmiúce o tema como deve ser, se escarafunche o furúnculo doa a quem a doer, e se inicie a cura da doença e não só o alívio da sintomática.
A Educação é uma causa muito importante para mim, assim como é tudo aquilo que considero um pilar da sociedade. E deveria ser para todos, não só para quem tem miúdos em idade escolar ou é profissional da área. Simplesmente porque de uma fraca educação, resultam fracos cidadãos, fracos indivíduos. E o mundo precisa urgentemente de melhores pessoas, de novas gerações que ultrapassem sempre a anterior no barómetro da evolução, e não que fiquem aquém.
A Escola é um conceito que tem que ser repensado e redesenhado. A que existe, a meu ver, não satisfaz os propósitos mais elevados.
Merecemos melhor do que crianças dopadas com Ritalina porque pais, pediatras e educadoras não sabem, e provavelmente nem lhes apetece lidar com crianças enérgicas, normais, expressivas, quanto mais intervir com aquelas que necessitam de ser disciplinadas.
Merecemos um sistema de ensino de excelência, que se dedique em primeiro lugar à formação de indivíduos de valor, com princípios e bom carácter, e em segundo à transmissão de conhecimentos e matérias. Se há que definir prioridades, esta é a ordem que defendo.
Se é possível fazê-lo hoje em dia? Nem pensar! E porquê? Onde reside o problema?
Maldita cabecinha pensadora que disseminou, anos atrás, o conceito que a educação das crianças é tarefa única dos pais. Que a escola serve somente para ensinar matérias, fazer cumprir programas e avaliar. Talvez seja um conceito possível de aplicar nas universidades, mas o resultado de se seguir este dogma em todos os anos de escolaridade está à vista: bullying, desrespeito para com o pessoal docente e auxiliar, roubos, agressões físicas e verbais, insegurança, consumo de álcool, tabaco e cannabis, e até preservativos usados se encontram nos recintos escolares.
A Educação começa em casa, sim senhor, mas deve ser continuada nas escolas e em todos os locais frequentados por jovens. Diz o adágio e muito bem que é necessária toda uma aldeia para criar uma criança, portanto é dever de todo o adulto intervir quando se depara com uma qualquer situação que não siga os conformes dos bons princípios.
Da mesma forma que os pais passam muitas horas no emprego, também os alunos passam muitas horas na escola. Em todo esse tempo existem mil janelas de oportunidade para que algo aconteça.
Os pais confiam os filhos às escolas. Não só esperam que estes aprendam de forma bem sucedida um conjunto de matérias, mas que estejam num ambiente seguro e que lhes seja exigido um comportamento dentro de parâmetros aceitáveis. De preferência que se lhes seja dada a oportunidade, como pais, de ver a prole florescer em todos os sentidos. Algo só possível quando há trabalho de equipa entre pais, escola e sociedade.
É errado a todos os níveis que as escolas se dissociem desta responsabilidade. Enfurece-me e preocupa-me haver quem tenha escolhido a área da educação sem a noção, sem querer aceitar, que é uma vocação que envolve meter as mãos na massa em relação ao desenvolvimento de um ser, em todas as suas dimensões, não só a intelectual.
Perdoem-me a franqueza, mas se é só debitar matéria que vos enche as medidas, ide escrever artigos para a wikipédia.
Se disserem que não estão reunidas as condições para tal, que faltam pessoas, meios, etc, isso é bem diferente do discurso do "não quero saber, não é problema meu".
Aí, é função do Estado providenciar os meios necessários para o sucesso.
Acredito que este é um dos mais sérios e reais problemas do nosso sistema educativo. Afinal, as mais belas rosas surgem sob o olhar atento do jardineiro. Só as ervas daninhas se dão bem ao deus dará.
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terça-feira, 19 de abril de 2016
coisas de pensar: Crise de fé ou momento de claridade?
Cresci a celebrar o 25 de Abril.
Fui uma miúda idealista, sonhadora, com uma noção romântica das revoluções.
Cresci uma mulher pragmática, ciente das suas fraquezas e defeitos, mas com um sentido de justiça e princípios éticos e morais que considero acima da média.
Uns dias mais que outros, tentei agarrar o romantismo de outrora. Talvez mais pela nostalgia e apego a quem fui do que propriamente por fé na humanidade. Quando mo permito pensar e sentir, sinto uma saudade tremenda daquela miúda!
Olho para as consequências da Primavera Árabe, para o Brasil hoje, e quedo-me resignada.
Talvez a evolução não esteja ainda ao nosso alcance. A minha fé murcha perante o facto que o mundo em que vivemos não é mais que o reflexo do que somos. O mundo é um inferno. Faltou-nos alma para mais.
É pena. Momentos houve em que achei, com todo o coração, que merecíamos e seríamos capazes de mais e melhor do que andar com merda e iniquidade pelos joelhos.
Para espécie que se julga tão avançada seria de esperar que soubéssemos ser mais que uns macaquinhos que atiram fezes uns aos outros.
E agora, com a vossa licença, vou só ali limpar a réstia de romantismo que me escorre pelos dedos.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
coisas de opinar: Construa-se uma estátua
Se há quem mereça uma homenagem em forma de estátua, colossal, ímpar, não é nenhum atleta, nem artista, nem político, muito menos um qualquer empresário que adoça a boca da plebe com promoções em hipermercados mas que depois vai pagar os impostos à Holanda do dinheiro auferido em Portugal. Não.
Quem merece um monumento gigantesco e excepcional é o conjunto de cidadãos, que nem sabendo os sociólogos como os definir, diria que são parte classe trabalhadora, parte classe média. São aqueles que trabalhando por conta de outrem ou por conta própria, conseguem com mais ou menos ginástica remediar-se com o que auferem. Com mais ou menos educação, com mais ou menos acesso a cultura e alguns prazeres.
Sobretudo são aqueles que não fogem à esperada contribuição financeira para a máquina fiscal. Talvez o únicos. São uma classe "ensanduichada" entre pobres e ricos. Entre os que não podem contribuir e até precisam de todo o tipo de apoios para se manterem à tona, e os que podendo optam por não o fazer, alinhado em esquemas elaborados de evasão fiscal.
Porque rico que é rico até manda o dinheiro passar férias em destinos como o Luxemburgo, Suíça, Ilhas Virgens, Panamá e tantos outros.
São estes a verdadeira e única espinha dorsal das nações, inclusive da nossa. Os heróis que mantêm isto a flutuar com tanto peso morto a dificultar a coisa.
Que seja enorme essa estátua, um figurão de costas bem largas. Porque são necessárias costas largas para carregar com todos os chicos espertos que andam por aqui a lixar quem é honesto.
Que sirva a enorme estátua para nos pôr a pensar sobre o rácio cidadão honesto, trabalhador e bom pagador vs chico esperto que foge ao fisco, quer seja uma sardinha ou um tubarão.
Que sirva sobretudo para inspirar vergonha. Será que ainda há disso?!
Que o maior dignatário venha ao palanque avisar petingas e baleias do chico-espertismo que existe tempo para redenção. Para corrigir os maus feitos. Para fazer voltar a casa os dinheiros que foram em férias para offshores. Para que as empresas que auferem em Portugal não tenham outro domicílio fiscal. Que se acabaram os biscates sem factura, os pagamentos por baixo da mesa. Que passado esse prazo da boa-vontade e da redenção as empresas em situação irregular deixarão de poder funcionar, que se verão destituídos dos seus bens, especialmente dos fundos espalhados pelo mundo. Tudo será pertença do Estado que ousaram defraudar.
O dia da inauguração da estátua será de festa para a classe que nenhum sociólogo sabe definir: deixarão de, em nome do funcionamento de uma nação, ter que pagar por todos os outros que se escusam a fazê-lo.
O dia da derrota do chico-espertismo será o dia da implementação da verdadeira Democracia.
terça-feira, 1 de março de 2016
coisas de opinar: Sobre o assalto do outro dia...
Tenho a sorte de viver numa pequena localidade onde as pessoas se conhecem e se cumprimentam, onde trato todos por "vizinhos", pois sinto que é o que somos, mesmo que moremos a ruas de distância.
Distribuo e colho sorrisos e dedos de conversa com pessoas de todos os géneros e idades, num contexto de pacatez que para mim é sinónimo de qualidade de vida, refúgio, segurança e felicidade.
Num mundo infelizmente tão fértil em cenários de guerra e violência dantescos, é um absoluto e verdadeiro privilégio ser a protagonista de uma vida onde me possa dar ao luxo de me ralar com caca de cão nas ruas, pensamentos filosóficos e coisas assim. É sinal que a vida me corre de uma forma brilhante, especialmente quando comparada com a realidade de infortúnio de muitos milhões por este planeta fora. Tenho a plena consciência do quanto sou abençoada, e raro é o dia em que não me sinta grata. Mil vezes grata.
Nos meus melhores dias, desejo a todos o fim das suas tormentas, uma vida como a minha onde possam encontrar paz, alimento para o corpo e espírito.
Domingo passado não foi um bom dia.
Esta pequena e tranquila localidade foi palco de um assalto a uma carrinha de valores por parte de um grupo armado, triplo carjacking e homicídio. Cena com contornos de violência pouco habituais no nosso país, e que resultou na perda de uma vida.
Entre o politicamente correcto e a franqueza, escolho a segunda, e devo admitir o seguinte:
Qualquer ser humano, e eu não sou excepção, possui um instinto de sobrevivência e uma necessidade de ver as suas pessoas protegidas, de tal forma primal que, quando algo acontece à nossa porta, todos os outros males do mundo empalidecem e passam para segundo plano.
Não há nada mais importante que a nossa segurança e a dos nossos. Abomino tudo e todos que a coloquem em causa. De tal forma que a racionalidade, a empatia, o discernimento e a sensibilidade que devo ter demorado umas quinhentas vidas para adquirir e apurar, se evaporam em menos de nada quando a ameaça existe e é real.
Embora não aprove, consigo entender que existam pessoas, cuja vida lhes corra tão mal e se sintam tão esmagados pelas circunstâncias, tão incapazes de providenciar o básico aos seus, que possam sentir a determinada altura que não tenham alternativa à via da criminalidade. Sublinho que mesmo nas situações de maior desespero o recurso à violência é sempre uma opção. Optar pela violência, pelo terror, ceifar vidas inocentes, não é nem nunca será sinal de necessidade, mas somente de má índole. E para com estes não consigo ter nem uma réstia de piedade ou compaixão. Somente um desejo, também ele sanguinário, de retribuição.
Dizem que em nós vivem dois lobos: um ser de luz e um de sombra. Domina aquele que decidimos alimentar. Em mim, são estas situações que fazem a minha sombra tomar conta da ribalta.
Não estive lá, mas podia ter estado. Podia perfeitamente ter sido eu, uma das minhas pessoas, algum dos meus vizinhos a ter sido baleado.
E eu, que não sou boa pessoa nem nunca o afirmei ser, já comentei que, estivesse eu na A16 naquele momento provavelmente teria acelerado a fundo para os passar a ferro. Que foi uma pena terem saído ilesos do despiste. Que se tivesse sido uma das minhas pessoas a vítima mortal, que se tivessem feito de mim a viúva, a minha missão pessoal passaria a ser persegui-los até aos confins da Terra se necessário, para às minhas mãos, lhes dar um tratamento digno de Vlad, o Empalador.
Sem paninhos quentes, com toda a franqueza.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
Pessoas de quem gosto: Bem haja a população de Peniche...
... que, ao contrário de matar um golfinho bébé como aconteceu na Argentina, soube proteger a cria de golfinho que havia dado à costa, até chegar a equipa de resgate.
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Bem hajam pela vossa decência, humanidade e compaixão! Pelo belo exemplo de como fazer (o) bem que dão ao mundo, especialmente quando, há pouco tempo, tivemos a notícia chegada da Argentina, do golfinho que morreu desidratado para que turistas tirassem selfies. Sabe bem quando nem todas as pessoas nos fazem sentir vergonha da nossa espécie!
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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
coisas de pensar: Será a redenção possível?
Diz que a redenção é o acto de libertação de todos os sacrifícios, males e grilhões. Dizem também os crentes na reencarnação que é exactamente este o seu propósito. Que cada lição aprendida é mais um degrau conquistado na "stairway to heaven".
Falando em degraus, há uma escala imensa de gradientes e meios tons entre o Bem e o Mal. Acho que o comportamento da maioria das pessoas, o meu incluído, insere-se mais ou menos a meio da tal escala, com cada pé metido num tom, oscilando entre luz e sombra conforme a qualidade das acções e pensamentos.
Salva-nos a capacidade latente que todos trazemos de, pelo menos uma vez na vida, fazermos algo que nos dá direito a avançar umas quantas casas neste jogo.
Talvez seja por isso que as acções produzidas com maior impacto, grandiosas, distantes da bondadezinha ou da maldadezinha quotidianas, encontrem tamanha repercussão em nós, seja porque nos inspiram ou nos horrorizam.
O meu reduto é a lógica, a racionalidade. Tento sempre encontrar uma qualquer espécie de justificação, de teoria para tudo. Dei por mim a pensar nos actos de verdadeira maldade que se passam pelo mundo. Não estou a falar dos frutos da maldadezinha, mas daqueles que parecem ter saído de algo imensamente mais grotesco e abominável, que nos chocam por parecer impossível até para o ser humano mais merdoso parir algo de tamanha malevolência.
Se por um lado avanço com a teoria do equilíbrio em todas as coisas: que ao haver no mundo pessoas com uma capacidade extrema para a bondade, haverão obrigatoriamente outras que serão a sua antítese, por outro, nem através da lógica me conformo.
Causa-me um desconforto extremo lembrar-me que todas as acções, independentemente da sua qualidade, possuem a capacidade de inspirar terceiros. Que é assim que a luz e a sombra se multiplicam. Assusta-me que haja quem seja permeável aos maus exemplos, que se reveja nestes, que lhes dê continuidade, que sirva de inspiração para mais uns quantos. Isto num mundo com demasiada gente.
Embora acredite na redenção, também acredito que existem casos perdidos, impossíveis de redimir.
Apanho no facebook o vislumbre de um vídeo que não tive coragem de visualizar, desejando já não ter visto aquele preview, de quem retirou prazer e riso em crucificar e apedrejar um cão. Dizia o texto que do focinho do bicho corriam lágrimas.
Um site noticioso fala do fotógrafo português galardoado pela imortalização da triste realidade dos meninos talibés, forçados a mendigar e a entregar aos professores tudo o que recolhem, sendo inclusive vítimas de agressões e violação.
Estes são somente dois grãos de areia do deserto de maldade que existe hoje, agora, neste mundo.
E eu, que vibrava, e ainda vibro, de orgulho por Portugal ter sido a segunda nação europeia a abolir a pena de morte, não me ocorre outra solução para este mundo doente que não seja a purga destes demónios, da forma mais extrema e definitiva.
Porque para estes não acredito que a redenção seja possível. Pelo menos nesta vida. Então que passem logo para a próxima.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016
Falar de saúde #4: Mudar a cor dos olhos
Quando penso, por exemplo, em cirurgia plástica, dependendo de cada caso a minha opinião pode ser liberal ou conservadora.
Se por um lado acho realmente maravilhoso que existam técnicas que permitam corrigir lesões e deformidades, acho terrivelmente estúpido que existam pessoas dispostas a passar por uma intervenção cirúrgica com a maior das leviandades, esquecendo-se que existem sempre riscos e que se correr mal as consequências podem ser realmente penosas e irreversíveis.
Há dias apanhei por breves momentos durante um zapping, uma referência a uma nova intervenção cirúrgica que permitia mudar a cor dos olhos e, que estava a ter muita procura.
Garanto-vos que classificar esta nova modalidade de estúpida é o maior dos eufemismos!
Fico parva com a quantidade de pessoas dispostas a levar com um laser nos olhos, com o intuito de desgastar a camada de melanina presente, (quanto mais melanina mais escuro o olho), para saírem dali com olhos azuis ou verdes, quando o risco de cegueira é constante e bem real. Mais aqui.
Pessoalmente até acho ofensivo, enquanto míope, astigmática e amblíope, que daria tanto para ter olhos saudáveis, que exista gente disposta a correr o risco de cegar para mudar a cor dos olhos.
Juro-vos, dá-me vontade de correr tudo à chapada, a começar pelas mentes brilhantes que permitiram que tal ideia e tecnologia saísse do papel.
É verdade que gostos são gostos, mas encontrei no Google algumas imagens tipo "antes e depois" e com base na amostra que vi não gostei nada dos resultados.
Enquanto antes todos tinham um olhar único, com diferentes tonalidades de castanho, bonitos, após a intervenção exibem o mesmo tom de azul, sem nuances, pouco natural, tipo zombie, que honestamente não casa bem com todas as feições.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
coisas de opinar: Sobre o racismo, #1.
Os Óscares deram origem ao mais recente conflito sobre o racismo. Tal deu origem a uma troca de opiniões a nível global, diria eu.
Debater um tema é sempre positivo, na minha opinião. Embora não tenha ainda encontrado uma opinião alheia na qual me reveja totalmente, valorizo-as a todas e respeito-as, sobretudo porque me fazem reflectir sobre os meus próprios pontos de vista. Sempre defendi que num debate a divergência de opiniões não é defeito. Aliás, é a diferença que nos faz crescer, alargar os nossos horizontes.
Também há que aceitar que, para um ponto de vista ser válido e correcto não implica que todos os outros estejam errados. Várias premissas podem ser simultaneamente válidas e verdadeiras, mesmo sendo diferentes.
Por fim, gosto de ter a honestidade de admitir que as minhas certezas são muito poucas, que não há vergonha alguma, pelo contrário, em confessar que não sei, que não detenho todas as respostas, mas que estou disposta em perscrutar o que sinto ser a minha perspectiva, que mesmo quando tenho uma opinião já formada esta não está escrita em pedra, não é imutável.
Sou permeável aos bons argumentos porque quero crescer e evoluir. Aos que gentilmente debatem comigo, só peço reciprocidade quanto a esta mesma conduta.
Decidi escrever e partilhar a minha "viagem" em relação a este tema.
A única certeza que possuo em relação a este tópico é o objectivo: sonho, desejo e anseio viver num mundo onde qualquer forma de discriminação e preconceito seja coisa do passado. Acredito que as pessoas devem unicamente ser julgadas pelas suas acções e carácter, nunca pela raça, etnia, género, nacionalidade, religião, orientação sexual ou qualquer outro traço similar.
Acredito piamente na Meritocracia, na Igualdade, como base do Novo Mundo que desejo ver surgir.
Uma pessoa, cuja opinião valorizo bastante, ainda dentro deste celeuma com origem nos Óscares, partilhou um dia algo sobre o quão importante é para as crianças das minorias verem-se representadas em eventos desta magnitude. Não retiro nenhuma validade, verdade ou valor ou a esta afirmação. Também eu quero que qualquer criança se sinta imbuída de poder, do tal "Yes we can!", que acredite em si e tenha uma vontade e uma garra de perseguir os seus sonhos, sem considerar por um único momento que a cor da sua pele, o seu background socioeconómico, o seu género ou qualquer outra característica a possa limitar, seja de que forma for.
Nesta aldeia global, temos que acreditar que, de certa forma, todas as crianças são nossas, e temos que fazer acontecer o que for necessário para que cresçam capazes e felizes.
Mas quando me dizem que o caminho passa também por transformar a cerimónia cinematográfica numa "cena por quotas" torço o nariz. A Meritocracia não vê cor, é daltónica. Merece ou não merece? Ponto final.
Se existirem jurados que escolhem os nomeados com base no preconceito, é despedi-los. Simples.
Não me venham é com argumentos que lá por serem "homens velhos brancos" as suas escolhas e votos não terão por base uma opinião profissional, mas serão sempre toldadas pelo preconceito.
Afirmações tais tiram-me do sério!
Assumir que determinada pessoa terá determinado comportamento apenas com base na cor da sua pele, género e idade é altamente discriminatório e racista! E é algo que condeno veementemente.
Sim, meus amigos, que o racismo é um conceito que se aplica a todas as cores de pele e raças, ou julgavam que não?!
Mas falarei mais sobre isto dos óscares noutra altura.
Quero voltar à questão das crianças e da importância dos exemplos, e ao produto da minha reflexão.
A nossa verdade é sempre nossa, porque é inevitável a subjectividade, irmos beber às nossas experiências.
Tentei lembrar-me de várias figuras que me inspiraram de alguma forma (não gosto do termo ídolos) ao longo da vida, desde a mais tenra infância aos dias de hoje. Ocorreram-me nomes como Buda, nascido no Nepal. Jesus, judeu nascido na Judeia, hoje Israel. Zeca Afonso, português. Che Guevara, argentino. Natália Correia, portuguesa. Madre Teresa, nascida na Macedónia. Platão, ateniense. Thomas More, nascido em Londres. Rosa Parks, nascida no Alabama. Oprah Winfrey, nascida no Mississippi. Júlio Verne, francês. Nikola Tesla, croata. Marie Curie, polaca. Carolina Beatriz Ângelo, portuguesa. Florbela Espanca, portuguesa. Nietzsche, alemão. Leonardo da Vinci, italiano.
E a lista é tão mais longa, mas as figuras já enumeradas servem para ilustrar que é possível encontrar um sem número de pessoas inspiradoras sem que a nossa escolha se baseie na raça, nacionalidade, género, religião. Para mim, educar ou sequer esperar que uma criança só se consiga rever ou inspirar em pessoas da mesma raça, género ou afins é educar para o preconceito, é alimentar o racismo. É limitador, é triste e um tremendo entrave à construção do mundo igualitário e meritocrático com que sonho.
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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
Sobre as subvenções vitalícias dos políticos
Privilégios não são direitos.
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terça-feira, 29 de dezembro de 2015
coisas de opinar: Sobre isto do "piropo" #1
Em primeiro lugar, o termo correcto é "importunação". A Ursa explica isso e mais no seu Quadripolaridades, num texto que subscrevo totalmente.
"Piropo", como nos lembrou e bem o amigo L., é uma cortesia, um galanteio, um elogio educado cuja forma, teor e natureza não possui a capacidade de causar pruridos e mal-estar.
A semântica não nos deveria atrapalhar quando discutimos conteúdos sérios mas, pelo que tenho assistido de reacções pelas redes sociais e blogosfera, há muito boa gente que tendo esbarrado nesta a alta velocidade não consegue prosseguir caminho até ao ponto que seria mais frutífero para todos: a de um debate esclarecido, transparente e informado.
Porque se a grande maioria das pessoas estivesse aberta a um debate lúcido sobre o tema, ficariam a saber que aquilo a que eufemisticamente chamamos "piropo" é uma experiência pela qual passam todas as mulheres, muitas mais que uma vez, qual ritual. E que se trata de uma experiência negativa, constrangedora no seu melhor, e no seu pior pode ser sombria, nojenta e assustadora, assentando âncora num recanto da memória por décadas.
Esperem aí. Se calhar esta coisa da semântica tem razão de ser. Talvez continuar a chamar a "importunação" de "piropo" é destinar esta matéria a um fado em que nunca será levada com a devida seriedade. E eu cá tenho ideia que tratar esta questão com leviandade aproxima-nos, como nunca, de partes do mundo em que as mulheres são obrigadas a andar completamente tapadas para não suscitar o desejo alheio, onde se têm o azar de mostrar o tornozelo ainda são violadas e a culpa é delas, onde raparigas são violadas quando andam de autocarro e jornalistas atacadas selvaticamente por grupos de homens quando cobriam a Primavera Árabe, por exemplo.
Felizmente estamos em Portugal, onde respeitamos e damos mais mérito aos homens, do que nessas partes do mundo onde os tratam como macaquinhos incapazes de controlar os seus ímpetos e onde, quem sabe, o controle do esfíncter já é um grande feito.
Felizmente estamos em Portugal e, apesar de em redor deste tema surgir uma certa picardia, algumas graçolas infelizes e afins, é palpável a esperança da empatia e da percepção que, se causa dano, se incomoda e faz sentir mal, então um "piropo" nunca será uma piada. Nem sequer é um piropo, é um crime. O da importunação.
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