sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016
coisas de pensar: Será a redenção possível?
Diz que a redenção é o acto de libertação de todos os sacrifícios, males e grilhões. Dizem também os crentes na reencarnação que é exactamente este o seu propósito. Que cada lição aprendida é mais um degrau conquistado na "stairway to heaven".
Falando em degraus, há uma escala imensa de gradientes e meios tons entre o Bem e o Mal. Acho que o comportamento da maioria das pessoas, o meu incluído, insere-se mais ou menos a meio da tal escala, com cada pé metido num tom, oscilando entre luz e sombra conforme a qualidade das acções e pensamentos.
Salva-nos a capacidade latente que todos trazemos de, pelo menos uma vez na vida, fazermos algo que nos dá direito a avançar umas quantas casas neste jogo.
Talvez seja por isso que as acções produzidas com maior impacto, grandiosas, distantes da bondadezinha ou da maldadezinha quotidianas, encontrem tamanha repercussão em nós, seja porque nos inspiram ou nos horrorizam.
O meu reduto é a lógica, a racionalidade. Tento sempre encontrar uma qualquer espécie de justificação, de teoria para tudo. Dei por mim a pensar nos actos de verdadeira maldade que se passam pelo mundo. Não estou a falar dos frutos da maldadezinha, mas daqueles que parecem ter saído de algo imensamente mais grotesco e abominável, que nos chocam por parecer impossível até para o ser humano mais merdoso parir algo de tamanha malevolência.
Se por um lado avanço com a teoria do equilíbrio em todas as coisas: que ao haver no mundo pessoas com uma capacidade extrema para a bondade, haverão obrigatoriamente outras que serão a sua antítese, por outro, nem através da lógica me conformo.
Causa-me um desconforto extremo lembrar-me que todas as acções, independentemente da sua qualidade, possuem a capacidade de inspirar terceiros. Que é assim que a luz e a sombra se multiplicam. Assusta-me que haja quem seja permeável aos maus exemplos, que se reveja nestes, que lhes dê continuidade, que sirva de inspiração para mais uns quantos. Isto num mundo com demasiada gente.
Embora acredite na redenção, também acredito que existem casos perdidos, impossíveis de redimir.
Apanho no facebook o vislumbre de um vídeo que não tive coragem de visualizar, desejando já não ter visto aquele preview, de quem retirou prazer e riso em crucificar e apedrejar um cão. Dizia o texto que do focinho do bicho corriam lágrimas.
Um site noticioso fala do fotógrafo português galardoado pela imortalização da triste realidade dos meninos talibés, forçados a mendigar e a entregar aos professores tudo o que recolhem, sendo inclusive vítimas de agressões e violação.
Estes são somente dois grãos de areia do deserto de maldade que existe hoje, agora, neste mundo.
E eu, que vibrava, e ainda vibro, de orgulho por Portugal ter sido a segunda nação europeia a abolir a pena de morte, não me ocorre outra solução para este mundo doente que não seja a purga destes demónios, da forma mais extrema e definitiva.
Porque para estes não acredito que a redenção seja possível. Pelo menos nesta vida. Então que passem logo para a próxima.
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