Mostrar mensagens com a etiqueta antropoformização. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta antropoformização. Mostrar todas as mensagens

sábado, 26 de março de 2016

Antropoformização involuntária #8


Um dos inúmeros pontos em comum entre ter um bébé e um animal é, que a partir desse momento, muitas das conversas que terão com a vossa cara metade serão de teor escatológico.

Passareis a falar de cocó. Pior, passareis a ser entendidos na matéria. Falarão não só da frequência da coisa, como do aspecto e dimensão. Conhecerão os hábitos da criatura, e arranjarão nomes de código para os vários estados. O que vale é que o nojo é um estado passageiro. O ser humano adapta-se a tudo.

"Então, foi boa a voltinha?"
" Foi."
"E o menino fez cocó?"
"Dois. Primeiro saiu a rolha. Depois mais à frente fez um mais molinho. Está tratado por agora."


sexta-feira, 18 de março de 2016

Antropoformização involuntária #7



Antes de sair de casa, sintonizar a tv no Panda, só para o "miúdo" ter algo com que se entreter.


domingo, 3 de janeiro de 2016

Antropoformização involuntária #6



O Kiko tem a sorte de pertencer a um grupo de animais verdadeiramente abençoado. Aqueles que desconhecem a violência, os maus tratos, o abandono, o frio, a fome. Que dormem na cama dos donos ou numa caminha confortável, ao invés da rua, acorrentados a uma casota, ou numa varanda. Que têm companhia, passeiam muito, e todos os dias são acarinhados.

São inúmeras as histórias de animais menos afortunados que enchem as redes sociais. Infelizmente são uma gota de água na realidade tão triste que assola tantos bichinhos.
De cada vez que dou de caras com uma destas histórias o meu coração fica apertado. Desde que o Kiko faz parte da família, ganhei o reflexo de o procurar com o olhar. É um sentimento agridoce: se por um lado conforta-me um pouco sabê-lo bem, ignorante de toda a malícia, dor e desalento que atinge tantos da sua espécie, por outro dói não poder fazer estender esse bem a todos os outros.

Por vezes e, ainda há pouco assim foi, sai-nos um "Não sabes a sorte que tens!". E lembrámo-nos que ambos ouvimos essa mesma frase tanta e tantas vezes da boca dos nossos pais.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Antropoformização involuntária #5



De 5 a 23 de Dezembro podemos encontrar o Reino do Natal em Sintra.

Como muitos outros "pais", também levámos o nosso miúdo ao Parque da Liberdade para ver as decorações, os elfos e toda a actividade temática.

Crianças apontavam excitadíssimas para o cão. O cão em êxtase por ver tanta criança.

Sempre imaginei que, se Kiko soubesse escrever e enviasse uma carta ao Pai Natal, pediria algures entre snacks e petiscos, miúdos, resmas de miúdos, tal é a paixão pela criançada.

Hoje, ao vê-lo rodeado no tal parque cheio de crianças em todos os recantos, com um ar de êxtase e felicidade que só visto, tive a certeza.

Pois bem, Feliz Natal meu puto!


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Antropoformização involuntária #4



Desde há uns tempos que o Kiko dorme connosco.
Esperámos que ele aprendesse a fazer as necessidades fisiológicas na rua antes de lhe permitir certas liberdades.

Porta-se lindamente: não chateia nada, não faz barulho. Pode ficar um bocadinho eléctrico quando vamos para o quarto, dar-nos umas lambidelas, andar às voltinhas em cima da cama enquanto encontra a posição ideal, que é normalmente encostado a alguém, mas depressa acalma e entra num sono profundo.

Como qualquer criança de qualquer espécie, o Kiko é um macaquinho de imitação e talvez por isso já demos várias vezes por ele a dormir "à humano", esticado e com a cabeça em cima da almofada.





segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Antropoformização involuntária #3: "Vá, Kiko, agradece ao senhor!"



Há algo de cão em mim: também eu gosto de me sentir recompensada após realizar algo.

Acredito que mesmo quando fazemos algo que faz parte da nossa "lista de obrigações" tal não significa que não mereçamos algum reconhecimento. Um elogio, um qualquer sinal de apreço cai sempre bem e motiva.
Há momentos em que essa pequena dose de motivação pode fazer uma grande diferença no nosso estado de espírito perante tarefas que são, muitas vezes, trabalhosas e repetitivas.

Atrevo-me até a dizer que esse gesto tem poderes mágicos. Quem, após uma palavra de reconhecimento pelo desempenho de algo, nunca sentiu parte do peso do cansaço, do stress, do possível aborrecimento desaparecer como por magia?

Comigo, por exemplo, ouvir o marido a elogiar os meus cozinhados funciona às mil maravilhas e compensa a rotina que se torna cozinhar quase todos os dias do ano.

Se há algo que a empatia permite é usar essa mesma lição, quando possível, no contacto com os outros. Por vezes, até eu me lembro de o fazer.

Hoje, num dos passeios, apercebemo-nos que era "dia de relva acabada de cortar". Os "dias de relva acabada de cortar" são especiais. Se eu com o meu nariz humano adoro aquele cheiro, o que dizer do Kiko com o seu apurado olfacto canino?!
O puto fica doido de felicidade, totalmente inebriado. Esfrega-se no relvado, mordisca folhinhas, pulula com se fosse um cabrito montês.

A meio caminho, foca a atenção num dos funcionários da empresa que dá manutenção aos espaços verdes. Quem conhece o Kiko sabe que quando se trata de pessoas e da sua vontade de as cumprimentar não há nada que o demova.

Fiz-lhe a vontade.

Abeirámo-nos do senhor:
- Bom dia. Acho que há alguém que lhe quer agradecer pela relva cortada, não é Kiko?

O senhor retribui o cumprimento e pergunta se ele gosta de relva cortada. E o puto, como se entendesse na perfeição a Língua Humana, responde à sua maneira, executando uma enérgica dança da alegria durante um par de minutos, numa coreografia onde entre saltinhos e corridas vai-se espojando na folhagem e desafiando-nos para a brincadeira.

Despedimo-nos a sorrir. O puto já não puxa pela trela. Olha-me nos olhos, com a língua de fora e aquele ar patusco, e eu não resisto a dizer-lhe: "É assim mesmo, puto!".


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Antropoformização involuntária #2



Sempre que metemos por uma rua específica, o Kiko puxa-me qual cão de trenó e tenta, com todas as suas forças, arrastar-me para dentro da clínica veterinária.

Os meus gatos odiavam ter que sair de casa, especialmente se fosse para ir a uma consulta veterinária. Recordarei para sempre o quanto era difícil força-los a entrar na transportadora. De como abriam as patas, tal como num cartoon, e as prendiam em redor da abertura da caixa. Ainda cheguei, algumas vezes, a ter que telefonar para reagendar o que quer que fosse que estivesse marcado, porque não havia maneira de os meter lá dentro.

Assim, foi com dupla, tripla ou até quádrupla estupefação que me deixei ser arrastada pelo Kiko até à clínica das primeiras vezes. Aquele cão adora mesmo lá ir. Fica delirante de tanta alegria, histérico mesmo, e não há pica ou termómetro no rabo que arrefeçam tamanho entusiasmo.

As pessoas com quem me cruzo por lá ficam igualmente incrédulas. Normalmente os seus animais fazem é birra para não ir.

"Ai que giro! Nunca vi! - dizem.

Ao que eu respondo: "Se calhar, quando for grande quer ser veterinário!".