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sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Coisas da minha terra: O potencial do betão inacabado
Numa das ruas principais da minha localidade, existe um terreno de grandes dimensões onde se queda uma placa de betão enorme, vestígio de uma obra há muito inacabada.
Passo por essa rua inúmeras vezes, numa frequência quase diária.
Não sei o que pensavam fazer daquilo. Já me ocorreu que poderia ser mais um condomínio privado, embora sem grande convicção devido à configuração daquele chão em betão. Já me disseram que aquilo se destinava a um centro comercial. Enfim...
A única coisa certa é a minha reacção sempre que por lá passo. É raro que não me quede por ali durante um minuto ou dois, a lamentar silenciosamente que, das milhares de ideias que poderiam ser postas em prática num terreno daquela dimensão, a escolhida fosse um centro comercial.
E isso entristece-me mais do que alguém possa adivinhar. E adivinho eu, mais do que alguém possa entender.
Olho para aquele espaço e imagino. E usando a imaginação, vejo-lhe o potencial, e é tanto!
Ao contrário de um centro comercial, vejo um espaço verde, polivante, um pulmão para a localidade.
Com espaço e condições para a prática de exercício físico para pessoas de todas as idades.
Imagino aulas ao ar livre: venham as iogas, e as zumbas, e o diabo a sete!
Onde o próprio jardim e os seus canteiros poderiam, só pela sua existência, dar origem a um clube de jardinagem e horticultura.
Onde poderiam acontecer arraiais, com música num coreto e tudo, e inúmeros outros eventos como um mercado de produtos agrícolas, do agricultor ao consumidor, de quinzena a quinzena por exemplo. Haja criatividade.
Onde sobraria ainda espaço mais que suficiente para uma infraestrutura que albergasse o que realmente fazia falta por aqui, (que não é, garanto-vos, mais um centro comercial): porque não uma incubadora de empresas, um centro de dia, um gabinete médico, um ATL, uma biblioteca com acesso à internet e uma sala para formações e workshops, onde cada membro da comunidade/ localidade poderia ensinar o que sabe melhor.
Sim, entristece-me que no meio de tanta coisa escolham um centro comercial, e que nem isso saibam terminar.
Por outro lado, ver aquela obra inacabada alimenta-me a esperança de ver por lá outra coisa, quem sabe algo que vá de encontro ao que desejo e imagino.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
O prazer da solidão
Às vezes, dou por mim a ter que explicar porque não temo a solidão.
Talvez ser filha única me tenha ajudado a compreender que não há que a temer.
Que a solidão não implica o vazio. É mais como estarmos na nossa própria companhia. E se há exercício de valor é o de aprender a apreciar genuinamente estes momentos. Dá-nos um tremendo poder saber que nos bastamos a nós próprios.
No início lida-se com a solidão por falta de alternativa, porque tem que ser. Porque num determinado momento, por um qualquer motivo trivial, não há a companhia de um amiguinho para brincar, e temos que fazer por nos entretermos sozinhos. Comigo foi assim.
Depois passei a apreciar a solidão e a companhia de igual modo. Ambas me trazem momentos de grande satisfação e alegria.
Acredito que nem todas as pessoas saibam encontrar prazer no recolhimento, na companhia de si mesmos. Isto porque nunca tive que justificar o facto de gostar de estar na companhia de alguém, mas poucos me entendem quando me refiro com o mesmo entusiasmo à solidão.
Gostar da solidão não é doença, não é tristeza nem depressão. Não quando se encontra um ponto de equilíbrio entre esta e a interacção social com outros.
Para mim ter momentos em que abdico de companhia recarrega-me as baterias, renova-me a tão necessária paciência, dá-me tranquilidade, paz de espírito e contentamento.
É também sinónimo de tempo de liberdade, de soltar a imaginação.
Mas tudo em doses saudáveis. Não me imagino 24 horas totalmente sozinha, mas abomino a ideia de passar 24 horas acompanhada. E se me derem a escolher, garanto-vos que quase sempre preferirei estar livre e sozinha, do que numa ocasião social em que tenha que estar a aturar o frete de alimentar conversas de chacha e circunstância.
Portanto, quando inquirida sobre este tema, até costumo responder: Eu, incomodada com a solidão? Porque haveria de me sentir incomodada ou menos feliz?! Se afinal até estou na companhia de alguém inteligente, interessante, e com quem tenho imensos pontos em comum?!
terça-feira, 29 de julho de 2014
coisas de pensar: Quebrar a corrente
Sempre gostei da disciplina de História. Ganhei-lhe amor redobrado quando ouvi algures que um dos principais motivos para a sua existência, era a crença, a fé, em que se conhecendo os erros cometidos no passado, estes não se voltassem a repetir. E assim, de geração em geração, se construiria um estado de Paz definitivo no mundo.
O meu amor pela História diminuiu consideravelmente. Vejo os erros a repetirem-se, sem descanso, num ciclo interminável.
A História da Humanidade é longa. Tão longa que, na sua extensão, todos os povos foram oprimidos e opressores. Sem excepções.
E o ciclo continuará, interminável. Uma fogueira que não cessa de arder, porque há sempre quem a alimente com justificações para a violência, para a iniquidade.
A Paz exige a maior das coragens. A Paz exige que sejamos mais que humanos. Que sejamos como as águias, que voam acima das tempestades. Que sejamos maiores que a necessidade de ter razão, que a sede de vingança.
Como me transtorna e me parece ridículo perpetuar este estado de inferno na Terra, especialmente porque tantas vezes se teima em lutar em nome daqueles que já pereceram há muito, em nome de tempos e acontecimentos que não nascemos a tempo de viver. A guerra é uma besta esfomeada, e há tantos que se servem numa bandeja, para a satisfazer, em jeito de sacrifício humano.
Ainda tenho esperança de ver a nossa geração, ou a dos nossos descendentes, a quebrar o ciclo.
Alguém tem de o fazer.
sábado, 19 de julho de 2014
As minhas lições: Nullius in verba!
Uma das grandes demandas da minha vida tem sido a busca de conhecimento. Se preferirdes, podeis chamar-lhe uma espécie de busca pela iluminação.
Tal não me distingue de nada ou ninguém, pelo contrário. É um trilho que, a cada passo percorrido, nos aproxima, independentemente de todas as diferenças que nos pareçam separar.
Na minha "caixa de ferramentas" não poderia faltar, naturalmente, a curiosidade. Nada se aprende sem curiosidade. E claro, a liberdade, crucial para se ser curioso.
A minha levou-me também ao estudo das grandes religiões mundiais, de filosofias.
Na medida da minha humanidade, fiz os possíveis para evitar julgamentos fundados em preconceitos. A minha consciência seria a minha bússola. O meu objectivo, apreender o que na minha percepção era "trigo", deixar de parte "o joio".
Em resumo, a grande conclusão, (a minha, cada um deve buscar a sua), a que cheguei é a "essência de todas as coisas", chamemos-lhe assim. Existe uma centelha na raíz de tudo o que existe, um ponto comum, uma espécie de coração universal que nos une.
Como explicar?!
Como estamos a falar em religião, quando procuramos a essência das mesmas, o fundamental, o basilar, a sua centelha divina, verificamos que não existem diferenças, apenas semelhanças. É que o coração de todas as religiões bate pelos mesmos princípios elevados, como o Amor, a Compaixão, a Solidariedade, etc. E o mesmo coração bate em todas as coisas vivas.
Apenas a "forma" nos distingue, não a "essência". Este é o primordial elo de ligação entre tudo e todos.
A "forma" das religiões foi construída em redor da "essência", como as paredes de um templo, ou as camadas de uma cebola, em volta do sanctum sanctorum.
E ao longo do tempo, "a mensagem vem-se perdendo com a tradução": a "forma" não honra a "essência".
Para mim, neste contexto, a "forma" é religião, a "essência" é espiritualidade.
Pessoalmente considero-as díspares. Sou pela espiritualidade.
A espiritualidade, é pura, atemporal, é a demanda pessoal e livre de todos pelo reconhecimento desses princípios raíz do qual o Amor é pedra basilar.
A religião é, no seu pior, um produto dos homens para controlar os seus semelhantes. Muitos dos seus aspectos não nos honram. Talvez tenha começado como uma boa intenção.
Não demonizo as religiões, nem quem nelas se encontra. (Guardo isso para o fanatismo.) Encontrei tanto de valor em cada uma delas, ensinamentos e pessoas!
Porque há-de sempre haver gente de bem, em todo o mundo e em todas as crenças, que consegue conciliar numa expressão harmónica e luminosa a forma e a essência. Ainda bem. Serão estas gentes os seus guardiães.
Não sou religiosa, sou espiritual. O meu amor pela liberdade não me deixa abdicar do meu poder pessoal, aceitando cegamente que me digam em que acreditar, o que fazer e como, nas questões da alma; que me sirvam uma versão já mastigada do que é certo e errado, que existam hierarquias em matérias de espírito. Não consigo.
Para mim não existem dogmas: Nullius in verba!
Esse é por enquanto o meu caminho, nem melhor nem pior que o vosso.
terça-feira, 15 de julho de 2014
coisas de pensar: a Escola que imagino
Defendo que a Escola necessita de novos currículos, novos métodos. Algo dentro do verdadeiro espírito humanista, de verdadeira integração na vida, em todos os seus aspectos.
Por mim, não haveria miúdo que saísse da escola sem antes aprender a:
- nadar; cultivar os próprios alimentos; preparar uma refeição completa e nutritiva; os básicos da costura como pregar um botão, fazer uma bainha, um remendo; mudar um pneu; prestar os primeiros socorros; meditar; conhecer as plantas e as suas propriedades medicinais; gerir um orçamento familiar; tocar um instrumento musical; argumentar; empatizar; participar; limpar o que sujou.
Imagino uma Escola onde existiriam disciplinas como Voluntariado, levadas tão seriamente quanto a Matemática e o Português. Acredito que faria bem aos miúdos, e ao Mundo.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
A importância de saber justificar
Lembram-se de quando éramos miúdos, na escola, e os professores insistiam para "justificarmos as nossas respostas"? Já pensaram na razão de ser dessa insistência?
Acompanhem-me, por favor, neste exercício:
Imaginem que vos pedem para elaborar qualquer coisa: uma refeição, um projecto, um objecto, uma ideia. A sério, isto aplica-se mesmo a qualquer coisa.
E vocês reflectem sobre como elaborar o que vos foi pedido e fazem-no.
Quando apresentam a vossa "coisa" dizem-vos que não gostam, que não concordam. Mas não se justificam. Não vos apresentam nem as razões que sustentam a sua discordância, e muito menos de como responderiam ao desafio proposto no vosso lugar, que alternativas sugeriam, quais os objectivos e como pensam lá chegar.
Digam lá que não sentiriam que é como estar a falar para uma parede!
Não confundir com a situação que é um debate entre pessoas que têm opiniões formadas, embora totalmente distintas sobre um tema. Como adultos sabemos que existe uma imensa validade em concordar em discordar. Além disso, um diálogo entre pessoas com perspectivas diferentes cria uma oportunidade para todos alargarem os seus horizontes.
Falo da frustração que é ir para uma troca de ideias munida dos amigos "O quê", "Quando", "Como", "Porquê", "Quem" e calhar com quem acha que uma mão cheia de "Nãos" é um Royal Flush.
Recentemente cometi o erro (oh para mim a bater com a cabeça na parede!) de tentar trocar impressões com quem defendia a abstenção nestas últimas eleições.
O discurso era de festa: viva a democracia, fora a partidocracia, está na hora de apresentar novas soluções, os que não foram votar é são os bons e espertos, e por aí fora...
Epá, sim senhor, desejo por um novo paradigma de sociedade, mais evoluído em todo o seu semblante? Também partilho. Afinal, quantos mais cidadãos activos no seu papel, com o intuito de melhorar a nossa sociedade, melhor para todos.
Então quais são mesmo essas "novas soluções", o que têm em mente? - perguntam vários, num misto de curiosidade e esperança que houvesse por ali um projecto, ou no mínimo um esboço, fruto de reflexão e planeamento estratégico, uma visão coerente.
"Mudamos a Constituição. As alterações deverão ser discutidas por todos nós". Não houve aprofundamento sobre a questão, mesmo a pedido de várias famílias.
Da minha parte, desejo-lhes sorte. Talvez consigam reunir 6 178 640 indivíduos, (nº de eleitores portugueses que se abstiveram), no próximo pic nic com o Tony Carreira, e possam aproveitar para redesenhar a Constituição da República.
Estas situações não são pontuais, e estão longe de ocorrer somente entre nós, "cidadãos comuns", treinadores de bancada da política.
Por volta de 2011, entrava-se numa qualquer livraria, e todos os destaques incidiam em milhentas publicações sobre a crise. Foram tantos os políticos, economistas, sociólogos, antropólogos, etc, que decidiram publicar a sua visão sobre o novo contexto macro-económico que viria assolar a Europa.
Cheguei a ler alguns. Tantas as capas que prometiam no seu interior, não só uma análise aprofundada sobre a crise, as razões do seu aparecimento, mas também uma visão pessoal de como a solucionar.
Ora, tratando-se de profissionais da coisa, uma pessoa pensa que há-de sair de ali uma coisa com cabeça, tronco e membros, tim-tim por tim-tim. Mas não.
A incapacidade para a justicação é transversal. Digamos que somos todos mestres em preliminares, mas muito poucos conseguem levar a coisa até ao fim. Digamos que as trocas de ideias são muito como coitos interrompidos.
Para esta gente apresentar possíveis soluções não é diferente de constatar o óbvio e enumerar exigências:
- Queremos uma sociedade justa; queremos o Serviço Nacional de Saúde a funcionar bem; and so on...
Sim, sim, já sabemos isso tudo e é tudo muito lindo, mas como?! Não dizem. Nunca dizem!
E eu depois de ler algumas destas publicações e ficar irritada, (que apenas sou o que sou, mas que não gosto de ser só garganta, e não estou à espera que façam tudo por mim), meti mãos à obra:
Por exemplo, em relação ao Sistema Nacional de Saúde e os seus imensos problemas financeiros, fui ler um Orçamento de Estado. A observação desses dados permite concluir que grande parte da despesa é para com fornecedores.
Quem são os fornecedores? Laboratórios farmacêuticos. O tipo de empresas que alcançam dividendos astronómicos, que praticam uma política de preços com umas margens de lucro brutais, e moralmente discutíveis, tratando-se da área da saúde.
Uma das medidas possíveis: Promover a existência de laboratórios do Estado que forneçam aos Hospitais o maior número possível de produtos e medicamentos, com uma margem de lucro mínima.
O investimento para tal é menor do que se espera, visto já existir o Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, que poderiam ser uma das infraestruturas utilizadas para este fim.
Tal possibilitaria igualmente fazer chegar medicamentos a um preço muito mais baixo, ou at´gratuitamente, às camadas de utentes mais fragilizadas, como os idosos que auferem pequenas reformas, ou utentes que estejam dependentes de apoio financeiro do Estado para a aquisição de medicamentos.
Acredito que tal fomentaria uma melhor gestão de recursos, diminuiria o buraco financeiro dos hospitais, pouparia dinheiro ao Estado, e facilitaria o acesso ao medicamento e à saúde por parte de toda a população.
sábado, 17 de maio de 2014
Desejos #2
Que todas as localidades de Portugal estivessem unidas através de uma rede de ciclovias / pedovias.
Não seria fantástico poder percorrer todo o território nacional, a pé ou de bicicleta, com toda a segurança e conforto?
O investimento necessário para tal deverá ser colossal, mas acredito que tendo em conta os benefícios, valeria a pena. Só assim por alto, ocorre-me:
- Maior segurança para os peões e os ciclistas, em especial para iniciantes, crianças e idosos.
- Mais pessoas a praticarem exercício físico, (caminhada, corrida, ciclismo, etc). Menos sedentarismo, mais actividade, logo uma população mais saudável.
- Mais tempo passado ao ar livre, em família, entre amigos, etc.
- Menos viaturas a circularem: mais economia, menos poluição, menos trânsito.
- Mais pessoas a utilizarem a bicicleta como meio de transporte.
Concordam comigo? Lembram-se de mais possíveis benefícios?
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Abril sempre
Uma Democracia imperfeita será sempre melhor que qualquer ditadura perfeita. Para todos, mesmo que alguns não o consigam ver.
A Democracia em Portugal não se completou com o 25 de Abril. Entendo-a antes como a data em que se colocou o primeiro de muitos tijolos necessários à edificação da sociedade que almejamos.
Talvez também seja por isso que se diz "25 de Abril sempre" - porque a evolução das Nações e dos Homens é uma tarefa perpétua, uma herança a ser passada de geração em geração.
Fica a questão:
Que fizemos por Abril?
sábado, 19 de abril de 2014
A anarquista e os Audis
Quando me questionam sobre a minha cor política, a maior parte das vezes fico-me pela concisa resposta de que a minha posição é apartidária.
Que não existe partido algum no qual me reveja o suficiente para abdicar de uma posição de profunda liberdade ideológica e intelectual.
Que posso simpatizar com um ou outro ponto de vista, empatizar com alguma posição, entender de onde nasceu determinada perspectiva, mas como levo os compromissos a sério, não surgiu ainda bandeira ou pessoa na esfera política, que me convença a caminhar até ao altar.
É preciso uma dose generosa de paciência, (que não estou para desperdiçar em todas as pessoas), para explicar que estão diante de uma espécie de anarquista utópica, à falta de melhor rótulo.
Porque, em primeiro lugar, há sempre que ensinar o que é isto do anarquismo, quanto mais utópico.
Simplesmente ser um anarquista utópico é almejar uma sociedade onde todos os seus membros são totalmente livres e responsáveis, logo não há necessidade nem lugar para quaisquer organismos de soberania, nem de poder ou de natureza análoga.
A existência desta sociedade ideal pressupõe que cada ser humano seja tão evoluído e luminoso, que o seu comportamento esteja em todas as alturas imbuído dos mais elevados princípios universais como o Amor, o Respeito, a Empatia, a Compaixão (...), e como todos agem correctamente de sua livre e espontânea vontade, não há lugar nem necessidade para leis, e polícias, exércitos, prisões e afins.
Fiz as pazes com isto da utopia: estas não se concretizam. Não no meu tempo. Não somos evoluídos o suficiente para tal. Arriscar é o mesmo que transformar ouro em merda com o poder do toque, é acrescentar mais um capítulo negro à história da humanidade.
Mas não deixam de ser indispensáveis. Não houvessem utopias, e não existiria aquela luz ao fundo do túnel que nos força a avançar. Não há pioneiro maior que a imaginação.
Não sei se alguma vez, enquanto espécie dotada de consciência, estaremos preparados para a visão que estabeleci como horizonte.
Não saber é admitir uma esperança, ainda que mínima, um talvez.
Se há momentos em que acredito mais num "não" redondo e absoluto? Muitos!
Um deles é toda esta cena do fisco e do sorteio dos Audis. É bizarro.
Mas o pormenor que para mim mata a esperança na evolução humana, e me faz pensar que somos desmerecedores das utopias, é que não há maneira de educar a grande maioria das pessoas para o facto de que fugir ao fisco é errado, que os custos da vida em sociedade devem ser repartidos solidariamente para que uns não sejam lesados pela atitude egoísta de outros.
É triste ver que a promessa de um carro novo move mais gente do que a ética e a moral.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Em relação à felicidade alheia
Estou sempre a torcer pela felicidade, tanto pela minha como pela dos outros. Gosto que as pessoas, todas as pessoas, sejam felizes, bem sucedidas, completas, realizadas.
Saber de Fulana ou Sicrano, sobre como a vida lhes corre bem, são boas notícias e deixam-me satisfeita. Então quando se trata de alguém por quem se nutre um especial carinho, ou alguém que por qualquer motivo pensamos ser especialmente merecedor de todo o bem que lhe chegue, é alegria redobrada na certa.
Acima de tudo faço-o de forma genuína e natural. Não o faço para ficar bem na fotografia, até porque em relação à percepção dos outros em relação a mim, acho a posição de "underdog" ou de "anónima" muito mais confortável, prazenteira, e implica muito menos trabalho e chatices. Prefiro que me conheçam pelo meu mau feitio, e praticar qualquer boa acção, o mais possível na sombra.
Também não o faço porque seja particularmente altruísta ou um ser iluminado que tenha vindo ao mundo para dar lições.
Faço-o sobretudo por uma questão de egoísmo saudável.
Confessem, agora troquei-vos um bocadinho as voltas.
Eu explico: se há coisa que eu gosto na vida é de paz, sossego e boas energias. É uma trindade fundamental ao meu bem-estar. Que é algo relativamente fácil de obter quando as pessoas que nos rodeiam, (quantas mais melhor!), forem felizes.
Porque as pessoas felizes são bem resolvidas, emanam boas vibrações, são construtivas, produtivas, mais empáticas e geradoras de ideias e acções positivas. São um bálsamo para o mundo e para os outros, a felicidade ocupa-as, e os bichos da mesquinhez, da inveja, do ódio, e de tudo o que é podre e que contamina, qual doença infecciosa, vão minguando por falta de alimento.
Em conclusão, acredito na premissa que torcer pela felicidade dos outros é também investir na minha.
sexta-feira, 28 de março de 2014
O nome que daria a um filho
Aposto que, tal como eu, quem não tenha a maternidade como objectivo, pelo menos a curto prazo, (porque nunca se deve dizer nunca!), já deu por si a pensar numa lista imaginária de nomes possíveis com que baptizaria os petizes.
No topo da minha lista está Viriato.
Já vos estou a imaginar desse lado: "Ahhhh, credo! Coitadinha da criança! Porquê?!"
Porque acredito no poder das palavras, na importância dos nomes. Porque no caso de realmente estes influenciarem quem somos, então nem hesito em escolher o nome de uma figura inspiradora - o Viriato da lenda, da História, o líder dos Lusitanos, que foi reconhecido pelos seus inimigos romanos como sendo inspirador, valoroso, "um príncipe".
"Do Latin viri que significa homem, herói, pessoa de coragem, honra e nobreza;"
Se for para dar o corpo ao manifesto, passar pelas dores de parto, que seja para parir um herói, que este país e o mundo bem precisam de mais um a engrossar as fileiras.
sábado, 15 de março de 2014
Lembrança de Apolo em chamas ou, um argumento para a liberalização das drogas
Acho que não existe ninguém no mundo que não tenha perdido alguém para o buraco negro das drogas, seja um familiar, amigo, ou simplesmente um conhecido.
Durante a minha adolescência, morreram três pessoas do meu círculo alargado de amigos. Perderam-se definitivamente, sem retrocesso.
Acho que o mesmo se pode dizer daqueles que sobreviveram: perderam-se definitivamente, sem retrocesso. São uma sombra do que foram, envergam o fato pesado das marcas da dependência. Marcas indeléveis, visíveis no corpo e na psique, mesmo após o acto de enorme coragem de vencer a dependência.
São casos verdadeiramente raros aqueles que têm a benção de uma segunda oportunidade, de se apresentar ao mundo renovados, de ter outras realidades como cartão de visita, sem que a aparência os traia, ou que troquem velhos vícios por outros.
Também nós - todos aqueles que assistimos ao desperdício da vida - ficámos com uma cicatriz indelével, marca das suas histórias.
Igualmente quando penso neste tema, lembro-me de um rapaz, de quem nunca soube o nome.
Estaríamos nos anos 90. Eu, uma adolescente, ia com os meus pais em mais uma viagem até à casa dos meus avós.
No mesmo trajecto de todas as vezes, num mesmo semáforo que fechava sempre que lá passávamos, algures num ponto encardido de Lisboa onde a primeira reacção há-de ser sempre fechar os vidros e trancar o carro, lá estava ele: um jovem louro, com cabelo à Kurt Cobain, lindo, cheio de vigor, sorridente, a irradiar vida e luz e cor naquele ponto lúgubre da cidade, onde quem lá pára não é por bons motivos. Pululava por entre as várias viaturas, paradas no sinal vermelho, como se estar na rua a limpar os vidros dos carros em troca de alguns trocos fosse a melhor coisa do mundo.
Nem há palavras para como aquela contradição teve impacto em nós. A memória é volátil, e já lá vão uns bons anos, mas lembro-me do meu pai, quando abordado por aquele jovem, ter-lhe oferecido ajuda.
O rapaz sorria, e educadamente recusou. O meu pai despediu-se com um "tem cuidado, cuida-te", e com o sinal verde, fomos os três de coração apertado.
As viagens à casa dos meus avós ocorriam, mais ou menos, de dois em dois meses. Em todas as viagens víamos aquele jovem, no mesmo semáforo. Num período de cerca de um ano, talvez um pouco mais, assistimos à sua mudança: gradualmente foi-se a luz, a alegria, a vivacidade, a beleza. Em cada viagem, aquele jovem cada vez mais magro, macilento, cinzento, deixava de ser Apolo.
A última vez que o vimos, o jovem Apolo parecia um cadáver, esquelético como os protagonistas das fotos ilustrativas dos horrores do terceiro mundo, tinha imensas dificuldades em mover-se e parecia quase alheio ao que o rodeava.
Na viagem seguinte, e em todas as outras após essa, não o vimos mais.
Nunca deixarei de o lembrar, e de sentir tristeza com o seu destino, embora fosse um estranho. É impossível ficar indiferente ao desperdício da vida.
É também por ele que defendo a liberalização das drogas.
Se não é possível erradicar de vez o tráfico e o consumo das mesmas, parece-me preferível a existência de espaços assépticos e controlados pelo Estado, semelhantes a enfermarias, especificamente criados para serem o único local onde é permitido o consumo dessas substâncias. Para mim, antes assim do que a degradação de espaços públicos, de zonas que se transformam em locais chave de tráfico e consumo.
Defendo um cenário onde as drogas se vendam como um medicamento - melhor que seja o Estado a lucrar com a venda das mesmas do que os traficantes, podendo investir esses proveitos fiscais na reabilitação e tratamento de quem procure um novo rumo.
Talvez assim não existissem buracos negros espalhados pela cidade que sugam a vida de quem neles se pára, nem Apolos em semáforos.
terça-feira, 14 de maio de 2013
coisas de pensar: 485
O valor do salário mínimo nacional é um tema recorrente, debatido com frequência em todos os meios de comunicação. Assistimos ao sazonal braço de ferro entre a confederação da indústria e os sindicatos, à interpretação e reinterpretação do tema por vozes da política, da economia, da esquerda à direita.
Em Abril saiu mais uma notícia sobre o possível aumento do SMN para os 500 euros, ainda neste ano.
Esta é a minha resposta à mesma:
O valor de um salário não está no seu valor nominal, mas no poder de compra que este permite.
Não nos devemos esquecer que, acima de tudo, o dinheiro existe para satisfazer o seu primordial papel como moeda de troca - logo o seu valor não existe em si mesmo, mas nos bens que obtemos nessa permuta.
Acreditem ou não, nesta discussão particular, o facto do valor do SMN estar estacionado em 485€ é de todos o mais irrelevante. O cerne da questão reside na relação díspar entre este e o custo de vida.
Outro factor, a meu ver essencial, é o quanto a maioria das pessoas está dependente do seu salário, não possuindo outra qualquer fonte de riqueza complementar. Em poucas décadas tornámo-nos bichos urbanos, terciários. Esquecemos o hábito da pequena agricultura de subsistência e de outros lavores que poderiam, em qualquer altura, significar um acréscimo à prosperidade das famílias, uma rede de segurança, cujos frutos são seguros, imunes às flutuações do sistema económico.
Ao invés disso, ao estarmos total e unicamente focados no emprego e nos frutos deste, tornámo-nos imensamente vulneráveis, reféns e joguetes dos vários agentes dos mercados.
Porque a raíz do problema não reside no valor nominal dos salários, mas no próprio sistema económico.
Quando nasci, em 1979, o SMN tinha o valor de 37.4€ - se preferirem, sete mil quatrocentos e oitenta escudos. Mais coisa, menos coisa, o que gastam hoje em dia, duas pessoas numa refeição num qualquer restaurante mediano.
O porquê de tamanho aumento do custo de vida, dos preços, é uma questão para a qual ainda não obtive uma resposta satisfatória.
Mais uma vez, o problema não reside no valor nominal dos salários. 485€ seriam perfeitamente adequados e dignos se com 60% dos mesmos fosse possível a um qualquer indivíduo cobrir as despesas referentes a aquisição de habitação, transporte, as despesas com alimentação, água, electricidade, gás, comunicações, assim como o básico com educação e saúde. Tudo aquilo que consideramos, na sociedade contemporânea, como parte da lista de bens e serviços essenciais a uma vida condigna e integrada, de forma bem sucedida, na sociedade.
Será de estranhar então que me ria, com todo o desdém que o meu mau feitio dita, quando leio sobre aumentos na ordem dos 15€?
Quando para fazer face ao custo de vida actual, garantindo a dignidade que qualquer trabalhador merece, o SNM teria que subir para cerca de 1200€?!
E, mesmo que isso fosse possível, tal medida só teria um impacto positivo na sociedade se se congelassem os preços dos bens e serviços essenciais, situando-os nos valores correntes por um período longo e indeterminado.
A evolução do salário mínimo em Portugal aqui
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Coisas de pensar - Os manuais escolares de amanhã
Gosto de tecnologia pelo mesmo motivo que gosto de um sem fim de outras coisas, demasiadas para enumerar aqui e agora. E esse motivo é o seu potencial.
Gosto de tablets, e quando penso nestes, não só me ocorre todo um universo de novas expressões, tão recentes quanto a própria tecnologia, que já ganharam espaço no nosso vocabulário e na nossa vida quotidiana como app's e cloud, mas vislumbro, imagino algumas das suas possíveis aplicações.
Ultimamente quando penso em tablets, penso em manuais escolares. Os mesmos que ainda há semanas eram o objecto de algumas parangonas nos jornais, onde se noticiavam os preços dos mesmos - acima da inflação, demasiado elevados para muitas famílias, onde o orçamento familiar é cada vez mais reduzido e obriga a uma gestão mais do que rigorosa, quase de carácter milagroso.
Acredito que as nosso sistema de ensino necessita de uma reestruturação profunda e isso passa, inevitavelmente, pela temática dos manuais escolares.
Se quisesse fazer uma introdução à história do manual escolar em Portugal, de uma forma extremamente resumida e simplista, diria que passámos do oito para o oitenta - do manual único dos tempos da ditadura, com tudo o que isso implica, para o cenário comtemporâneo marcado sobretudo pelo mercantilismo. Onde todos os anos lectivos, ou quase, a oferta em termos de manuais é marcada pela introdução de novos títulos, tornando os livros do ano interior obsoletos, totalmente descartáveis, impossíveis de reaproveitar na mão de novos alunos.
Tudo porque as editoras prosperam sobretudo, (como acontece com todas as empresas em todas as áreas de mercado), se a vida útil dos produtos for curta, para que as pessoas se vejam obrigadas a comprar o mesmo produto, numa frequência cada vez maior.
Imagino um futuro próximo onde ao invés de pilhas de livros e mochilas pesadas, os alunos acedam a todos os manuais escolares, livros de apoio, dicionários e afins através de um tablet. O papel fica reservado aos cadernos onde se treinam a caligrafia e o desenho.
Sim é possível e é, sem qualquer dúvida, mais acessível para as famílias. Que pelo preço de dois dos manuais mais caros compra-se um tablet!
Imaginem, ter todos os vossos manuais - não só daquele ano lectivo, mas de todos - armazenados na cloud, possíveis de serem consultados em dois cliques. Imaginem o fim do ritual da compra dos manuais - as reservas dos mesmos, os atrasos, o preço. Sim, o preço - porque sendo a impressão colocada de parte, os custos do fabrico de cada manual seria reduzido exponencialmente, logo também o seu preço.
Os professores também veriam a sua tarefa mais simplificada - a formalidade quase impossível a que estes são obrigados para requisição de material de apoio às aulas, (porque nunca há leitores de cd's ou retroprojectores suficientes numa escola para cobrir minimamente as necessidades e os desejos de todos), seria coisa do passado.
Se cada aluno tivesse um tablet, o acesso aos conteúdos multimédia poderia ser feito sem limitações, logo as aulas seriam mais interessantes, ricas em forma e conteúdo, apelativas, tanto para os alunos como para os próprios docentes.
Estes veriam multiplicada a escolha de conteúdos ao seu dispôr - não estariam presos a um só manual da disciplina, mas poderiam optar pela melhor oferta de conteúdos de capítulo em capítulo.
Seria o fim das faltas de material e das mochilas pesadas.
O papel das editoras continuaria a ser o mesmo - a elaboração e venda de manuais, mas noutro formato.
E é também nisto que penso quando pego no tablet - no potencial das salas de aula de amanhã.
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