quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Vida de cão #42: As minhas figuras tristes...



Continuo a stressar como tudo quando nos cruzamos com cães soltos. Então quando estes não estão na companhia dos donos é o histerismo total.
Há muito boa gente que me diz que se o cão anda solto por aí então é porque não faz mal. A esses só me apetece esfregar na cara a última notícia sobre o pit bull que matou, em plena via pública, um caniche. Atenção que eu não descrimino os animais por raça, para mim qualquer animal à solta é uma potencial ameaça. É claro que, maior a bocarra maior a dentada. Mesmo que seja um cão normalmente amável, há sempre a hipótese de acontecer algo, afinal nem nós humanos, com toda a nossa racionalidade e modos gostamos de todos os que nos rodeiam, e é um risco que eu não quero correr. Gosto demasiado do meu Kikinho e seria um tremendo choque para mim se não o conseguisse proteger de uma desgraça.

Gosto igualmente de cães e gatos, mas acho que tenho uma felina maneira de ser. Olho para um gato, mesmo que não o conheça, e consigo lê-lo e comunicar. Os cães ainda são para mim uma incógnita. Quando um cão vem na nossa direcção não consigo mesmo descodificar a sua postura, então aplico sempre a mesma resposta: evitar os encontros, optando por outro caminho, ou enxotá-los.

Prefiro sempre a primeira hipótese, porque se tiver que enxotar um animal é certinho como o destino que farei uma figura triste, e uma bastante pública.
É que já me apercebi que os cães não se sentem intimidados por mim, muito provavelmente nem me respeitam. Normalmente sentem-se atraídos pelas minhas figuras, o que é uma maçada.

Ao longo do tempo tenho improvisado algumas "técnicas" que não aconselho a ninguém:

1- O suborno:
Saio sempre com o meu saquinho de treats à cintura. Na primeira vez em que aconteceu passar por uma rua e haver um cão que saltou o portão para vir ter connosco, a minha reacção foi correr rua acima com o Kiko, ainda bebé, ao colo. Simultaneamente ia soltando uns guinchinhos enquanto atirava ração na direcção do outro cão.
Por sorte resultou, mas não aconselho.


2- A Exorcista:
 Quando me sai um vernáculo tipo "Xô! Vade retro! Vai-te embora, cão do demo! Oh criatura, xô!


3- Edição Especial Gandalf:
A regra que arranjámos é que enquanto um leva o Kiko à trela, o outro na aproximação de um cão desconhecido à solta, mete-se à frente e evita a aproximação.
"Não passas!" - é coisinha para me sair pela boca.


4- A Ave de Rapina:
Basicamente a última vez que me tive que meter entre o marido, que levava o Kiko, e um cão, calhou abrir os braços e abaná-los, qual ave prestes a levantar vôo. Porquê? Não faço ideia.
Acho que o outro cão parou porque achou a cena muito estranha. Não foi o único.


5- A Mandona:
Quando tenho a esperança que o outro cão obedeça a comandos tipo "Casa! Vai para casa!"


6- A versão "passada" ou "todo o mundo me deve e ninguém me paga":
"Oh puta de vida! Mas agora tenho que levar com esta merda sempre que saio?! Se o filho da puta do teu dono fosse pró caralho, pá! Raios partam esta gente que só pensa em si! Filhos de uma grande puta, pá! Ai que nervos!"


7- A "ainda mais" Histérica:
Esta foi a mais recente. Quando os "xô", "não", "vai-te embora" não resultaram e o cão se aproximou de nós, eu que sabia que o dono estava na esplanada do final da rua, comecei a gritar a plenos pulmões: "Importam-se de chamar o cão?". Resultou.


8- Salvos por uma unha:
Depois de um cão nos perseguir estávamos no ponto em que eu servia de barreira ao Kiko, a tentar afastar o outro. Este continuava a aproximar-se devagarinho, a rosnar e eu já via a nossa vida a andar para trás. "Vá lá cão, vai-te embora. Não sejas mau. Por favor, não me obrigues a fazer algo que eu não quero! Olha que se nos atacas levas um biqueiro que eu viro-te do avesso!"
Continuava a rosnar e a aproximar-se. O Kiko entrou no registo de "protector da mãezinha" e começa a ladrar, e eu no meio. Quando paniquei por completo, naquela rua deserta de onde via o meu prédio, comecei aos berros a pedir socorro e a chamar pelo meu marido. É óbvio que era impossível ele ouvir-me. Valeu-nos uma das vizinhas de outro prédio, que ao dar pela algazarra, abriu os estores o que serviu para assustar o outro cão.

9- Em fuga:
Um dos muitos motivos porque gosto de ir passear o Kiko para o pé da clínica veterinária é que posso sempre fugir lá para dentro.
Às vezes consigo disfarçar, e depois de cumprimentar toda a gente, pergunto se posso pesar o Kiko.




terça-feira, 29 de dezembro de 2015

coisas de opinar: Sobre isto do "piropo" #1



Em primeiro lugar, o termo correcto é "importunação". A Ursa explica isso e mais no seu Quadripolaridades, num texto que subscrevo totalmente.
"Piropo", como nos lembrou e bem o amigo L., é uma cortesia, um galanteio, um elogio educado cuja forma, teor e natureza não possui a capacidade de causar pruridos e mal-estar.

A semântica não nos deveria atrapalhar quando discutimos conteúdos sérios mas, pelo que tenho assistido de reacções pelas redes sociais e blogosfera, há muito boa gente que tendo esbarrado nesta a alta velocidade  não consegue prosseguir caminho até ao ponto que seria mais frutífero para todos: a de um debate esclarecido, transparente e informado.

Porque se a grande maioria das pessoas estivesse aberta a um debate lúcido sobre o tema, ficariam a saber que aquilo a que eufemisticamente chamamos "piropo" é uma experiência pela qual passam todas as mulheres, muitas mais que uma vez, qual ritual. E que se trata de uma experiência negativa, constrangedora no seu melhor, e no seu pior pode ser sombria, nojenta e assustadora, assentando âncora num recanto da memória por décadas.

Esperem aí. Se calhar esta coisa da semântica tem razão de ser. Talvez continuar a chamar a "importunação" de "piropo" é destinar esta matéria a um fado em que nunca será levada com a devida seriedade. E eu cá tenho ideia que tratar esta questão com leviandade aproxima-nos, como nunca, de partes do mundo em que as mulheres são obrigadas a andar completamente tapadas para não suscitar o desejo alheio, onde se têm o azar de mostrar o tornozelo ainda são violadas e a culpa é delas, onde raparigas são violadas quando andam de autocarro e jornalistas atacadas selvaticamente por grupos de homens quando cobriam a Primavera Árabe, por exemplo.

Felizmente estamos em Portugal, onde respeitamos e damos mais mérito aos homens, do que nessas partes do mundo onde os tratam como macaquinhos incapazes de controlar os seus ímpetos e onde, quem sabe, o controle do esfíncter já é um grande feito.

Felizmente estamos em Portugal e, apesar de em redor deste tema surgir uma certa picardia, algumas graçolas infelizes e afins, é palpável a esperança da empatia e da percepção que, se causa dano, se incomoda e faz sentir mal, então um "piropo" nunca será uma piada. Nem sequer é um piropo, é um crime. O da importunação.





100 motivos para não ter filhos #2: Pilhas do chinês.



Eu não tenho muita energia. Costumo dizer, para brincar com a situação, que há pessoas que nasceram com pilhas Duracell, enquanto eu tenho daquelas muito rascas da loja do chinês.

Com o passar dos anos tive que aprender, por tentativa e erro, a dosear a energia que tenho, e isso implica uma gestão minuciosa de tempo e tarefas, saber dar prioridade a umas e, inevitavelmente adiar outras. Porque se não o fizer o castigo será uma miscelânea de dores e uma exaustão que se sente como um pedregulho em cima das costas, da qual a caminho dos quarenta já não me refaço com tanta facilidade como aos vinte.

É uma coisa que me acompanha desde sempre. Já em criança quando tinha um dia mais puxado o cansaço acumulava-se nas pernas, e estas doíam-me tanto que me impediam de dormir. Tenho uma memória longínqua dos meus pais a esfregarem-me as pernas com qualquer coisa para me aliviar, e eu a chorar de dores e exaustão.
Recordo com espanto e incredulidade a época em que, simultaneamente, trabalhava em Cascais, estudava em Lisboa, namorava e saía com os amigos. Também me lembro que mal me sentasse no autocarro ou no comboio, ou até no cinema, apagava.

Esta fragilidade, este defeito de fabrico, que é bem real e castigador, é para mim um tremendo entrave a muitas coisas, uma delas a maternidade. Assim o considero.

A minha Mãe é muito enérgica, activa e dinâmica. E é assim que imagino todas as mães. Bem, pelo menos as "boas" mães, as capazes. Aliás, imagino que a função assim o obrigue. O tempo é escasso e há sempre muito muito muito para fazer, que nunca deixa de ser muito mesmo quando dividido com pai e avós, e há que chegar a tudo, obrigatoriamente.

Costumam dizer que se arranja sempre maneira. Já me disseram isso várias vezes no que toca a esta questão, o que me levou a sacar de uma balança imaginária para ponderar a mesma.
Para além das coisas não serem lineares como nos querem fazer crer às vezes, uma das conclusões a que cheguei é que estou a anos-luz de querer filhos na medida necessária para anular o outro prato da balança. Nesse outro prato, entre outras coisas, está esta coisa da energia e do cansaço, e é um calhau com um peso bastante considerável.

É que o que se regista no plano físico pesa também no psicológico. Pesará sempre na psique todo e qualquer mal estar.
Não acredito que tenha energia suficiente para alimentar o papel de mãe de forma satisfatória, especialmente sem negligenciar, grosseiramente até, os outros papéis e pessoas da minha vida, inclusive eu própria.
Não acredito que uma mãe, (ou pai), que viva exclusivamente para esse papel seja a melhor das mães. Alguém que se esqueça de si próprio, que menospreze as várias facetas e pessoas da sua vida, está a dar um péssimo exemplo.
Quantas mulheres, (especialmente mulheres), conheci ao longo da vida que, chegando a uma certa idade estão gastas, amargas, com uma expressão constante no rosto de dor e cansaço? Muitas zangadas com a família, o mundo, o destino e a própria vida porque deram tudo de si, e a agora não vêm chegar o retorno esperado!
A prole cresceu e tem a própria vidinha e não lhes dá nem um décimo da atenção e dedicação que esperavam, porque o que deram e que agora esperam não é a dose recomendada. Deram demais, deram tudo sem que lhes fosse pedido que assim o fizessem, e nunca haverá retorno para tal investimento quando colocamos todas as sementes em campo alheio e nos largamos, qual terreno ao abandono.






segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

cromices #101: Para quem stressa com a engorda do Natal, fica a dica.



Nesta casa não há balança.





Vida de cão #41: Se há que escolher uma resolução para o novo ano...



Na manhã de Natal levámos o Kiko à praia. Normalmente somos avessos a tradições, mas para esta abrimos uma excepção.

Não fomos os únicos a ter a mesma ideia.

Ora bem, sabemos que temos um cão muito inteligente, que o puto é esperto que nem um alho e sabe demonstrá-lo bem quando a recompensa lhe agrada. Em troca de um pedaço de frango até tocaria piano e falaria francês!

Ontem à noite tivemos um óptimo exemplo disso mesmo. Normalmente, enfiá-lo dentro da banheira requer alguma perseguição e algum suborno com brinquedos. Mas ontem, bastou o marido acenar-lhe com um pedacinho de frango e ele, para espanto nosso, saltou sozinho lá para dentro.
Portanto, ele sabe muito, opta é por fazer as coisas quando lhe apetece ou lhe interessa.

Costumam dizer que, se não nos pomos a pau são os cães que nos treinam e não ao contrário. E é bem verdade!

Mas também é verdade que é muito fácil deixar, por facilitismo, que algum desleixo se instale. Qualquer um de nós sabe o quão intrincadas são as rotinas diárias. Como é fácil sentirmo-nos enrolados na sua teia e acabar por dar menos atenção a uma coisa ou outra, por falta de tempo, energia e vontade.

Basicamente é isso que deixei acontecer com o treino do Kiko. Também é verdade que ele todos os dias aprende ou reforça comportamentos que consideramos essenciais, como o parar antes de atravessar uma estrada, como não entrar numa divisão sem permissão sem que tenhamos que ter a porta fechada, (útil para quando chega da rua com as patas sujas), e afins. Mas, aquilo que me havia prometido fazer, de replicar em casa algumas vezes por semana o que fazíamos na escola, há muito que ficou para trás.

A noção resoluta que tenho que o voltar a fazer, custe o que custar, à séria e com disciplina, atingiu-me com toda a força quando, na manhã de Natal, nos cruzámos com um lindo border collie e a sua dona no areal.
Conhecem aquela sensação enquanto pais que, em comparação com os miúdos do costume até sentem que estão a fazer um trabalho decente mas, na presença daquela criança extraordinariamente bem educada sentem-se embaraçados e com vontade de sacar de uma prova qualquer que o vosso filho não é um Neandertal e que até sabe comer à mesa com talheres? Pois, é isso mesmo.

 O extraordinário border collie sentado, de olhar fixo na dona, sem que houvesse um qualquer comando verbal, a ignorar totalmente o Kiko. O Kiko chato como a potassa, a ladrar-lhe como que a exigir-lhe atenção, num incentivo à brincadeira. Lá veio ter connosco ao terceiro ou quarto chamamento, o que por si já é uma melhoria, sinal que está a crescer e que, após algum tempo prefere vir ter connosco, mas longe daquele perfeito exemplo de obediência que ali estava a envergonhar todos os outros cães da praia.

Prepara-te Kiko, em 2016 vamos ficar nos trinques!

cromices #100: Ah, o espírito natalício, essa coisa linda que bate forte mas passa rápido!



Todos os anos, de uma maneira ou de outra, com mais ou menos intensidade, sinto-me a ficar imbuída dessa coisa que é o espírito natalício.
Não sei se convosco se passa de maneira igual, mas para mim é um estado que altera a minha percepção do mundo. Há uma maior gratidão e apreço pelas coisas de todos os dias, pelas pessoas de todos os dias. Uma maior tolerância, empatia, alegria... É uma boa vibe.

E eu noto quando estou sob o efeito desse estado colectivo e só lamento ser efémero.

Hoje de manhã notei que o efeito já tinha passado.

O Kiko deu sinal para ir à rua. Olho pela janela e ainda estava escuro que nem breu, as luzes acesas. E lá fui eu num registo mal humorado, próprio da gaja ursa sem pequeno-almoço tomado.

E, honestamente tive saudades de mim mesma sob o efeito do emplastro natalício. De ir com o cão à rua igualmente cedo, com um sorriso de orelha a orelha, a trautear o White Winter Hymnal e a achar que, aquele frio cortante que se entranhava nos ossos era revigorante, e que sabe bem acordar assim.


Volta Natal!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Vida de cão #40: D. Kiko Juan de Casanova



Há donos de cães que, quando alguém se aproxima, têm que avisar que o cão pode morder.

Eu, por ter possivelmente o cão mais beijoqueiro do mundo, tenho que soltar um "cuidado, que ele enfia-lhe a língua na boca".

A minha mensagem de Natal este ano



O meu primeiro trabalho foi fazer embrulhos no antigo Jumbo de Cascais. Com o passar dos anos fiz uma colecção jeitosa de trabalhos em lojas de shopping, portanto também experienciei alguns natais do outro lado do balcão.

De certa forma, nada de novo, pois a área profissional dos meus pais é a Hotelaria, portanto fazem parte do grupo de pessoas para quem os natais e réveillons passados em casa, com a família, são uma ocasião muito rara.

Gostava que todas as pessoas pudessem experimentar como é estar do "outro lado do balcão", uma vez na vida, sobretudo nesta época. Há valiosas excepções, mas quem se encontra do "outro lado" costuma ter contacto com uma versão nossa que pouco ou nada tem a ver com o espírito natalício amoroso e compassivo em que gostamos de acreditar, sobretudo nestes dias.

Portanto, com todos os profissionais que trabalham no natal no pensamento, desde aqueles que nos aturam durante as compras da época, em qualquer loja ou mercado, aos profissionais de saúde como os enfermeiros, médicos, paramédicos que ficam de plantão, aos profissionais de hotelaria, dos transportes, às forças de segurança e todos aqueles que, por motivos profissionais, ficam privados da celebração em família para que todos os outros possam usufruir em plenitude, desejo-lhes o nosso reconhecimento.

Atrevo-me a incluir todos aqueles que, não sendo a sua escolha, passarão um natal menos feliz, sejam doentes hospitalizados, idosos solitários, emigrantes que se encontram longe da família, qualquer pessoa em situação de infortúnio. Gostaria ainda de incluir no meu pedido os animais, especialmente as vítimas de abandono e maus tratos. E o meu pedido é, que saibamos estender a nossa simpatia para além daqueles que se sentam connosco à mesa durante a ceia. Que, nem que seja por momentos, saibamos reconhecer no outro uma extensão de nós próprios e assim consigamos que o natal seja real, mais do que uma fantasia de valores.

Em troca, desejo-vos Saúde, Amor e Felicidade. O essencial é invisível aos olhos, mas é o combustível que faz esta máquina maravilhosa - o coração - bater com verdadeira vontade.

Boas Festas!





terça-feira, 22 de dezembro de 2015

vida de cão #39: o cão castor


Se há raça de cão irrequieto neste mundo é o Jack Russell.

Perguntam-me vocês, como consigo estar a partilhar coisas convosco, com uma destas pestinhas em casa.
Vá, perguntem lá.
Está bem, eu respondo:
Paus!

Trazemos para casa paus, daqueles mesmos bons para roer. Este último veio de uma rua onde andavam a podar árvores.

Sempre dá para que o Kiko se entretenha um bocadinho.

Se não estivesse tão preguiçosa até tirava uma foto para vos mostrar o sofá e o chão da sala cheios de aparas e bocadinhos de madeira que vou ter que apanhar não tarda nada.


cromices #99: Em defesa dos presentes lúdico-pedagógicos



Sei bem que muitas vezes peco por ser demasiado pragmática e, o pragmatismo quando em excesso é coisa que maça, que é capaz de retirar o prazer e a graça.
Mas pronto, há que ter paciência que isto do pragmatismo não é coisa que saia com o banho. Não é defeito, é feitio, como se costuma dizer.

Já desconfiava, mas há uns meses, aquando do aniversário da sobrinha, tive a certeza que esta minha maneira de ser também influencia a escolha dos presentes, mesmo os dos miúdos. É que acredito que devemos procurar agradar às crianças, procurar algo que se enquadre nos seus gostos, algo que seja divertido, lúdico, que apele à imaginação e as faça felizes, mas que simultaneamente lhes ensine algo, que lhes desperte a curiosidade pelo conhecimento, que lhes faça "cócegas" no cérebro.

Como muitas meninas da sua idade, a minha sobrinha gosta , (ou pelos menos gostava, que estas fases passam rápido), da tal Violetta. Quem tem uma qualquer criança na sua vida, seja filho, sobrinho ou neto, sabe que eles gostam sempre de alguma coisa destas, seja o Mickey, Frozen, ou outra qualquer marca das 1000 disponíveis.
Também as pobres das crianças não têm hipótese: a indústria dos brinquedos e do merchandising de filmes e séries aposta em campanhas do mais agressivo que há. Adiante.
Então lá fomos nós à caça de coisas da Violetta. Entrámos em várias lojas, mas naquele momento a oferta não era muita. O que havia era, a meu ver, desinteressante e caro para os produtos em questão. Tipo, metem o logótipo da marca numa treta qualquer, que pode ser um par de meias, uma lancheira, whatever, e cobram o triplo ou mais que o normal.
Uma pessoa que não esteja muito habituada a estas lides, como eu, sai destas lojas com os olhos esbugalhados a pensar que esta gente é doida!

Num escaparate de uma dessas lojas senti-me atraída para um jogo tipo "trivial pursuit" da marca Violetta. Por momentos pensei que seria uma boa opção lúdico-pedagógica, até agarrar na caixa e ver que as questões do jogo não eram sobre geografia, história, ciências, etc, mas sobre a própria série.

Os olhinhos iam-me saindo das órbitas! Sim, porque na cabeça de alguém é importantíssimo que o conhecimento dos miúdos se resuma ao enredo de uma telenovela argentina! Pel'amor da santa!
A ideia do jogo é boa, mas porque não o fazem com os grafismos e bonecada da série/ marca/ filme mas com conteúdo que realmente lhes permita aprender algo de valor?!

A escolha recaiu numa das muitas opções da Science4you, que me satisfazem enquanto escolha lúdico-pedagógica, e ainda por cima são uma marca nacional.
Ela pareceu gostar, e eu fiquei satisfeita por oferecer algo nutritivo ao seu jovem cérebro.

O mundo é um lugar extenso, plural em opções, com muito para descobrir e explorar. Um dos nossos papéis enquanto adultos é guiar as crianças na descoberta das coisas e consequentemente de si mesmos. Um presente é um óptimo meio para introduzir um desporto, uma arte, uma ciência na vida de um miúdo.
Quantos casos de sucesso não existem pelo mundo fora porque, durante a infância, alguém lhes deu a conhecer aquilo que acabariam por reconhecer como a sua paixão, a sua vocação?






segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

coisas que gosto: Cânticos de Natal



Adoro Música e acho que é o veículo perfeito para traduzir o Espírito das coisas, dos adventos e de tudo que se pensa e existe.

Gosto de cânticos de Natal por isso mesmo. Há uma candura e uma serenidade nestas sonoridades que invocam, na minha opinião com perfeição, o espírito natalício. Ao ouvir este exemplo que vos trago, a interpretação do King's College Choir de alguns clássicos da época, chegam-me imagens em catadupa de aldeias pitorescas envoltas em neve, lareiras acesas, luzes de velas, ruas iluminadas de forma festiva, sorrisos, compaixão e reuniões familiares.




quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

coisas de ver #61: Das melhores sinopses que li nos últimos tempos



The Lobster

"In a dystopian near future, single people, according to the laws of The City, are taken to The Hotel, where they are obliged to find a romantic partner in forty-five days or are transformed into beasts and sent off into The Woods."

IMDB





quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

cromices #98: Sentido de humor à empreiteiro


Uma das principais vias de acesso à minha localidade está em obras. E é uma daquelas coisas que não mata mas vai moendo.
Todos os dias voltam pessoas ao trabalho para dar vida às máquinas que, seja noite ou dia, ocupam uma das vias, num cerco de barricadas e apetrechos. Durante o dia, montam semáforos, visto que os dois sentidos do trânsito partilham o mesmo troço, e lá anda o trânsito a meio gás. Os peões, esses andam a saltitar de um lado da rua para o outro.

No fim do horário de trabalho fica a via impedida à mesma, onde repousam as máquinas, cercadas por aquela espécie de muralha. Retiram é os semáforos deixando a partilha de troço ao deus dará e ao anjo da guarda de cada condutor, que à noite, com pouca iluminação e visibilidade é caso para dizer que, o que apenas tem moído, qualquer dia também mata.
Mas não é nisto que reside o que eu chamo de sentido de humor, portanto avancemos.

A comicidade, neste caso, é uma questão temporal.

Sou péssima com datas e cronologias de qualquer espécie, mas deixem-me que vos diga que esta obra começou sensivelmente na mesma altura que a construção do novo Jumbo de Sintra.

Enquanto esta está para durar, o Jumbo já inaugurou.

Hoje reparei no cartaz junto à mesma que informava tratar-se da construção de uma rotunda, num prazo de 3 meses.
3 meses!!!! Ah!

cromices #97: Em defesa das meias e dos pijamas



Estava mesmo agora a deambular pelo Facebook, quando ao levar com mais uma peça da publicidade da praxe, fiquei a matutar.
A marca, bem conhecida pelos tablets e afins, optou por ser mais uma a deitar abaixo as pobres das meias e dos pijamas enquanto presentes de Natal. E eu fiquei a pensar que se não fosse eu a vir em defesa destes menosprezados itens, destes pobres mal-entendidos e pouco apreciados, ninguém o faria.

Sim, já todos fomos miúdos e torcemos, de forma mais ou menos descarada, o nariz, quando nos chegava às mãos o embrulho que, pelo volume e toque, reconhecíamos já ser uns pares de meias, ou algo dessa estirpe.
Quase em todas as vezes seria um presente vindo de mãos idosas.

Crianças são crianças, é verdade. Há que dar um desconto, pois é. Mas mesmo qualquer miúdo que não aprenda a sorrir e a agradecer com dois beijinhos à tia-avó pelas "maravilhosas" peúgas não merece mais que um calduço bem pregado e engasgar-se com a fava do bolo-rei.

Só anos mais tarde, e mesmo assim a "iluminação" não chega a todos, é que os miúdos se aperceberão do valor do pacote de meias ou do pijama. Aprenderão alguns que a vida custa, que o dinheiro é caro, que as reformas são para a grande maioria, parcas. E darão então redobrado valor às belas das peúgas. Se não derem, desculpem lá a frontalidade, são uns merdas. Aí desejo que vos calhe um brinde bem pontiagudo no bolo-rei, que o engulam, e que passem pela dor de ter de o largar pelo outro extremo.

Para contrariar as tendências, eu gosto que me ofereçam meias e pijamas. Gosto mesmo.
Não sou muito consumista, basta-me o gesto. E se é para gastar dinheiro, por pouco que seja, prefiro que invistam numa coisa útil que realmente acabe por usar, como meias e pijamas.
Para além que existem modelos bem giros e confortáveis! E se forem de produção nacional, melhor ainda.

Para mim há presentes muito, mas muito piores, como bibelots e tarecos que só servem para ganhar pó algures, ou ainda aqueles perfumes baratos de supermercado que tresandam a álcool, chocolates com recheio de licor simplesmente porque não gosto e nem lhes toco, ou uma garrafa de uma qualquer bebida alcoólica tão má que nem sirva para molhos e marinadas na cozinha.










terça-feira, 15 de dezembro de 2015

cromices #96: Diz que são uma espécie de comandos


Na escolinha o Kiko aprendeu comandos como junto, fica, senta, deita, olha, anda, não...

Ao longo dos tempos fomos, com alguma liberdade e criatividade, ao sabor do que a necessidade ia ditando, criando a nossa própria "linha de comunicação" com o Kiko.

Um "onde está o pai?", (ou a mãe), faz com que ele ande à nossa procura.

No meu stress costumeiro de o ver sem trela nas caminhadas surgiu-me um "segue o paizinho", que por resultar passou a integrar a lista de comandos.

"Onde está o carro?" ou "Onde é casa?" também faz com que o puto vá direito à coisa. Isto se não surgir entretanto uma grande distracção. O que me parece um grande feito, especialmente a do carro, visto que hoje em dia todos os carros são iguais.

Outro clássico é o "Kiko, tens cócó?". Podem não acreditar, mas este comando tem tido um grande sucesso. Não acontece todas as vezes, que estas coisas da natureza não acontecem com o carregar de um botão. Mas, com muito mais frequência do que estava à espera, (honestamente, nem estava à espera que o Kiko me compreendesse, e só esse facto deixa-me siderada!), um minutinho ou dois depois do comando lá começa ele a fazer a "dança do cócó".

É claro que existem outras versões.  Por exemplo a versão de "manhã cedo ou noite escura, com mau tempo e uma vontade absurda de voltar para casa, e o raio do puto não se despacha" soa muito mais como "Oh pel'amor da santa, tu fazes o favor de largar o pastel?!".  Se ainda for demasiado cedo, como não sou pessoa de muitas palavras e tenho mau acordar, saem comandos como "caga, porra!" ou "despacha lá isso!"
A cena fica extraordinariamente bipolar porque quando ele acaba de fazer leva muitos elogios e às vezes até palminhas. (Ele gosta muito que lhe batam palmas como recompensa!)

O "nham nham" é sinónimo de comida e já conhece tão bem esta expressão que fica imediatamente em sentido.

"Peek-a-boo" é sinónimo de brincadeira e correria cá por casa.

Quando digo que alguém é "amigo" estou-lhe a dar permissão para se aproximar, a incentivá-lo a perder o medo ou a desconfiança com determinada pessoa, ou animal.

"Em frente" é para continuar a andar, direitinho que nem um fuso, sem desvios. É um comando que complemento com "ignora" quando passamos por outros cães, casas com cães ao portão, ou até qualquer pessoa ou objecto que façam parte de um contexto que queira evitar.

O "pára e avança" são usados muitas vezes ao dia. Por exemplo em todas as vezes que atravessamos uma estrada.

"Quem é?" coloca-o em posição de sentido, à procura de alguém que lhe seja familiar.



segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

caixa de ressonância





Childe Harold’s Pilgrimage [There is a pleasure in the pathless woods]


George Gordon Byron, 1788 - 1824


There is a pleasure in the pathless woods,
   There is a rapture on the lonely shore,
   There is society where none intrudes,
   By the deep Sea, and music in its roar:
   I love not Man the less, but Nature more,
   From these our interviews, in which I steal
   From all I may be, or have been before,
   To mingle with the Universe, and feel
What I can ne’er express, yet cannot all conceal.

   Roll on, thou deep and dark blue Ocean--roll!
   Ten thousand fleets sweep over thee in vain;
   Man marks the earth with ruin--his control
   Stops with the shore;--upon the watery plain
   The wrecks are all thy deed, nor doth remain
   A shadow of man’s ravage, save his own,
   When for a moment, like a drop of rain,
   He sinks into thy depths with bubbling groan,
Without a grave, unknelled, uncoffined, and unknown.

   His steps are not upon thy paths,--thy fields
   Are not a spoil for him,--thou dost arise
   And shake him from thee; the vile strength he wields
   For earth’s destruction thou dost all despise,
   Spurning him from thy bosom to the skies,
   And send’st him, shivering in thy playful spray
   And howling, to his gods, where haply lies
   His petty hope in some near port or bay,
And dashest him again to earth: —there let him lay.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Gostaria de tomar um café com... #5



Emma Watson.

Emma nasceu em 1990 e estreou-se como Hermione da saga Harry Potter, aos 11 anos de idade.

Sempre gostei de Hermione. O marido brincava comigo, dizendo-me que havia parecenças entre nós, que se tivéssemos uma filha, bem que poderia ser uma Hermione, por ter uma sabichona como mãe.

Enquanto me deleitava com esta saga fantástica, parte de mim reflectia sobre o possível futuro destes miúdos, que se iniciaram na 7ª arte com tão estrondoso sucesso. Que rumo dariam à sua vida? Saberiam aproveitar esta maravilhosa oportunidade ou, entrariam para a estatística como mais um dos tristes casos de actores que tiveram sucesso na infância e cresceram para uma realidade muito mais infeliz?

Hoje vi o discurso que Emma fez em 2014 enquanto embaixadora das Nações Unidas, sobre o Feminismo e a Igualdade de Género.

Não interessa de que jovem pessoa estamos a falar. Dá-me sempre gosto ver alguém crescer "bem". Tornar-se expedito, maturo, articulado, consciente.
Emma já não é Hermione, a menina de 11 anos. É uma mulher bonita, com classe, sofisticada, educada, bem formada. Apresenta-se bem, inclusive e sobretudo no discurso. Está a crescer enquanto bom exemplo para todos os jovens da sua geração. De todas as gerações. E eu fico feliz, porque sabe genuinamente bem ver uma vida florescer assim.




cromices #95: Johnny e Baby 2015


Ainda sobre o remake do Dirty Dancing.

Afinal qual é o pior que pode acontecer?

Que Johnny e Baby se conheçam numa rave? Que passem o dia a trocar sms onde se tratam por "kida" e "kiducho"? Que o repertório "dançástico" de Johnny inclua reggaeton? Que o ar de bad boy dos anos 60 seja trocado por algo tipo 50 cent com muito bling bling? Ou por um look que denote maior sensibilidade e angst, tipo emo de unha pintada e pálpebra sombreada, e uma adoração por romances vampirescos? As irmãs Houseman serão clones das Kardashian?  Será a icónica coreografia final, (aquela que serve para mostrar a todos, especialmente ao pai de Baby, que sim senhor, afinal ele até é bom rapaz), um kuduro? A cena final antes dos créditos será a actualização do estado de ambos no facebook para alguém "numa relação com"?




coisas de opinar: Remake do Dirty Dancing? Mas já não há nada sagrado?!



Acabei de saber aqui, no homem sem blogue, que estão a considerar fazer um remake do Dirty Dancing, em forma de telefilme com 3 horas de duração.

Qualquer mulher da minha geração vos saberá informar de antemão que o projecto vai dar caca da grossa!

Porque não há nem nunca haverá outro Dirty Dancing que não seja o original, aquele com a Jennifer Grey e o Patrick Swayze.

Nunca haverá outro Johnny Castle, nem outra Baby Houseman, a não ser todas as meninas da nossa geração que se imaginaram no seu lugar, especialmente durante a última e grandiosa coreografia que encerra o filme.
Ainda hoje, não acredito que haja alguma dessas outrora meninas que, ao rever o filme ou até uma ou outra das cenas mais icónicas, não viaje no tempo, soltando um suspiro entre o desenho de um sorriso, sentindo a presença vívida desse turbilhão de meninice.

Que gente sem imaginação, pá! Há lá necessidade de vir estragar as memórias de uma pessoa!






segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

cromices #94: Tanta coisa, tanta coisa...



Andamos à procura de um substituto para o sofá velhinho do escritório.

Quando encontramos uma alternativa que nos agrada a ambos, o Murphy aplica a sua lei, e não há o produto na loja onde nos encontramos. Óbvio!

Perguntamos a uma das funcionárias se seria possível informar-se sobre a disponibilidade do produto noutras lojas. Gentilmente replica que ser até seria, se a internet não estivesse em baixo.

Não faz mal, pensamos. Telefonamos nós e obtemos a informação.

Hoje ligo-me ao site. Começo por ligar para para a linha de apoio ao cliente. Uma mensagem gravada numa voz simultaneamente mecânica e num português com uma pronúncia muito manhosa dita a típica mensagem "se quer X prima tecla Y". Sigo o procedimento mas desligo a chamada quando me farto de Jingle Bells ao ouvido.

Tento o número da loja que pensávamos visitar como alternativa e em todas as vezes o único sinal é o de linha ocupada.

Quando experimento o chat do Apoio ao cliente do site da marca, outra mensagem automatizada informa-me que existem 3 pessoas à espera de atendimento. Ideia reforçada por uma segunda mensagem que avisa que os operadores estão ocupados de momento. Coisa que não anda nem desanda há um bom bocado.

Suspiro. Creio que com tanta tecnologia disponível não me resta outra alternativa senão enfiarmo-nos no carro, ir até lá, e ver com os próprios olhinhos se há a coisa ou não.

Parte de mim não resiste a enviar aos senhores do Apoio ao Cliente a seguinte mensagem telepática: "Três pessoas para atender e ficam no lodo?! A sério? A sério, a sério? Mesmo a sério?!"




sábado, 5 de dezembro de 2015

Antropoformização involuntária #5



De 5 a 23 de Dezembro podemos encontrar o Reino do Natal em Sintra.

Como muitos outros "pais", também levámos o nosso miúdo ao Parque da Liberdade para ver as decorações, os elfos e toda a actividade temática.

Crianças apontavam excitadíssimas para o cão. O cão em êxtase por ver tanta criança.

Sempre imaginei que, se Kiko soubesse escrever e enviasse uma carta ao Pai Natal, pediria algures entre snacks e petiscos, miúdos, resmas de miúdos, tal é a paixão pela criançada.

Hoje, ao vê-lo rodeado no tal parque cheio de crianças em todos os recantos, com um ar de êxtase e felicidade que só visto, tive a certeza.

Pois bem, Feliz Natal meu puto!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Coisas de opinar: Outros tempos



Através da partilha de uma amiga, chegou à minha atenção um texto da autoria de João Miguel Tavares do blogue Pais de Quatro, intitulado "Apelo aos professores por parte de um pai desesperado e farto de trabalhos manuais".

Há um parágrafo em especial que me fez recordar a minha infância:

"3. Nunca - mas nunca - enviem trabalhos de casa que eles não consigam fazer sozinhos!

 Perdoem-me o sublinhado, mas este é o ponto mais importante. Eles não são auto-suficientes para fazer aquilo? Não mandem! Claro está que não me refiro às dúvidas que surgem ao tentar resolver um exercício de Matemática ou de Português. Isso é naturalíssimo e estou cá para ajudar. Refiro-me àqueles trabalhos manuais de encher o olho, àqueles projectos especiais hiperbólicos que estimulam imenso a competitividade dos pais, porque não será o meu filho a ter um globo terrestre em alto relevo mais pobrezinho do que o do Asdrúbal."


Não estou a ir para nova, é certo. Mas parece-me que esta coisa entre pais, escola e trabalhos de casa mudou muito em relativamente pouco tempo.

Eu também levava trabalhos para casa. Na sua maioria os regulares tpc das disciplinas.
Sentava-me à mesa da cozinha com os manuais, cadernos e estojo, e lá me ocupava de os fazer antes do jantar, normalmente na companhia da minha mãe, que ia passando a ferro e tratando da comida.

Isto na época pré-pc, que depois tornar-se-ia imperioso que tudo fosse impresso e encadernado.

Enquanto tratava das suas tarefas, a minha mãe ia-me perguntando sobre a escola, a matéria, se estava a perceber tudo, se tinha dúvidas. O meu pai demonstrava o mesmo interesse, e quantas vezes me disseram que se aparecesse uma dúvida, que a apontasse para a retirar com o professor na próxima aula.
Que nunca tivesse vergonha de colocar dúvidas nas aulas, ou até de pedir a um professor que se repetisse, pois esse era o papel deles, e se um dia alguém se o recusasse a fazer que deveria contar-lhes.

Assumiam que existiam matérias que lhes era impossível explicar. Mas estavam sempre presentes e interessados. Inquiriam-me e eram muito atentos sobre o bom cumprimento dos meus deveres, desde o bom comportamento, à pontualidade, assiduidade, a levar todos os materiais necessários para a escola e a ter os trabalhos feitos.
Da mesma forma que me questionavam sobre a prestação dos professores, também os questionavam sobre o meu comportamento.

Houve uma única vez que a minha mãe me ajudou a completar um trabalho. Andava no quinto ou sexto ano e andávamos a fazer bordados em Trabalhos Manuais. Eu, fartinha e frustrada com a minha falta de jeito para a coisa, com já ter sido obrigada a recomeçar nem sei quantas vezes, uma tarde enfiei a malfadada capa de almofada na mala. Em casa, implorei em lágrimas à minha mãe que tratasse ela do assunto.

É que na minha altura, os miúdos que apareciam nas aulas com trabalhos demasiado bem feitos, daqueles que se notava claramente que havia ali dedinho dos pais na coisa eram mal vistos, tanto pelos docentes como pelos colegas. Eram batoteiros. Simples como isso. E como tal era uma coisa rara de acontecer, até porque os professores avisavam os pais que se enviavam tpc, estes eram só para os miúdos. Que não queriam uma coisa perfeita, queriam era algo feito pelos alunos.

Os projectos que envolviam grandes coisas de artes manuais e afins eram normalmente realizados na escola, nas aulas da especialidade ou numa qualquer aula fora do comum, como por exemplo a organização de uma feira ou dia dedicado a uma disciplina ou tema.

Se me mandassem fazer recortes, colagens e afins para casa, enfim, as tais coisas "para encher o olho", para além da carga habitual de deveres, os meus pais reviravam os olhos. "Um desperdício de tempo é o que era, e tantas horas passadas na escola serviam para quê?! Qual a utilidade de andar a perder tempo de descanso e convívio com recortes e coisinhas?". Eu concordava na altura e ainda concordo. Acho que este tipo de actividades são mais úteis e prazeirosas como ocupação de tempos livres durante as férias.

A minha mãe sempre esteve presente em todas as reuniões de pais. Essa assiduidade requeria um sacrifício que muitas vezes não tínhamos a certeza se todos os professores saberiam sequer entender, quanto mais valorizar. Portanto quando o director de turma se lembrava de marcar duas reuniões num espaço de tempo demasiado curto, ou mudava o horário em cima da hora, tornava-me a mensageira dos meus pais: "Diz à tua professora que, como sempre, fazemos por ir, mas que não pode ser assim! Lembra-lhe que as pessoas trabalham, têm responsabilidades e horários para cumprir. Que há quem tenha que dar satisfações à entidade patronal. Que se não há novidades, faça o favor de chamar somente os pais dos alunos com que realmente quer falar."

Entretanto, as coisas mudaram tanto.
Eu, que não percebo nada desta coisa de ter filhos, pergunto-me como é que os pais se conseguem coordenar com tanto tpc e projecto que acabam por ser eles a fazer, (e que pelos vistos nem é esperada outra coisa), com tanta feirinha, festinha e teatrinho, e dia disto e daquilo, e rifas da escola, e mil e quinhentas actividades extra-curriculares.

E se com tudo isto ainda conseguem ter um vislumbre de vida própria, de momentos de lazer, de intimidade vivida a dois, de convívio vivido a muitos, Senhoras e Senhores, tiro-vos o chapéu!



coisas de ver #60: Esta é especialmente para nerds...


... como nós.

Durante anos a fio, praticamente todo o nosso tempo livre era dedicado a um hobby: World of Warcraft.

Vivemos a evolução do jogo, desde a edição "vanilla" - que é a expressão utilizada pelos jogadores quando se referem ao jogo pré-expansões, - até ao lançamento da 4ª expansão, "Mists of Pandaria" em finais de 2012.

Para mim, continua a ser dos jogos mais excepcionais de sempre e confesso que por vezes bate uma saudade, tanto do jogo como dos jogadores. Fizemos amigos com jogadores de todos os cantos da Europa, (porque jogávamos no servidor europeu), desde a Escócia, à Inglaterra, à Finlândia, etc. Ainda mantemos o contacto com alguns.

O maior defeito do Wow era ser tão bom e consumir demasiado tempo.

Uma das sensações era que a Blizzard estava à frente do seu tempo e não houve, durante anos, concorrente com capacidade para lhe fazer frente. A atenção aos detalhes, o perfeccionismo, a qualidade notava-se em tudo desde a jogabilidade, aos gráficos, à criatividade. Os filmes, ou cinematics, que serviam de trailer ao jogo e às expansões eram assombrosos e sempre nos deixaram com água na boca para um "filme a sério".

Podem ver aqui quase todos os trailers.

E eis que, finalmente, é anunciado o filme "Warcraft", com estreia prevista para Junho de 2016. Mal posso esperar!





quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Vida de cão #38: O cão suiço



Divago a pensar que, se realmente olhássemos com verdadeira atenção para a radiografia de um cão, não encontraríamos algures um relógio. Se não, qual a explicação para o facto de eles serem tão certinhos com os horários?

Passa pouco das 7h da manhã quando o Kiko dá sinal para ir à rua. Quantas vezes ele dá sinal e segundos depois toca o despertador. Se for antes, ele espreguiça-se, boceja, abre um olho e volta a dormir, provando que sabe bem ainda não ser a hora do costume.

O mesmo acontece com os restantes três passeios diários, com a hora das refeições, com a chegada do adorado paizinho a casa e até com a sesta que dorme após o almoço.

Certinho como um relógio suíço!


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

cromices #93: Metro de Lisboa sempre a inovar!



Manhã cedo. Chega a hora definida e o rádio despertador liga-se. Marido e Kiko já saíram para a caminhada matinal e eu fico a ronhar mais um pouco enquanto ouço o noticiário.

Tenho uma vertente sádica, (já vos tinha avisado que sou uma pessoa horrível, não já?!), e confesso que um dos prós de ser dona de casa é ouvir os relatórios sobre o trânsito. Não consigo evitar sorrir, às vezes ainda de olhos fechados, e pensar "Ufa! A mim nunca mais me apanham nessas embrulhadas!"

Mas, as agruras de quem se dirige a Lisboa todas as manhãs não se ficam pelo trânsito. Não nos podemos esquecer das greves que, têm sido de tal forma frequentes, que acredito estarem em campanha activa pela conquista da medalha de ouro no pódio das inconveniências.

Então, pela maquineta de ondas hertzianas sai a expressão "greve preventiva". E uma pessoa abre os olhinhos, num misto de estranheza e risota "Wtf?! Que raio de coisa?"

Segundo as palavras de Joana Petiz, "Não é contra as políticas ou a gestão de António Costa - concorde-se ou discorde-se dos seus planos para Portugal, é primeiro-ministro há menos de duas semanas! - que se param as máquinas e se deixam largas dezenas de milhares de utentes em terra. É contra as ações levadas a cabo pelo anterior governo. O que os trabalhadores do Metropolitano se preparam para fazer é assim uma espécie de greve preventiva, em que se reclama por antecipação e se ameaça fazer pior se as suas exigências não merecerem atenção e ação."

Com esta os grevistas do Metro candidatam-se a vários prémios:
- Criatividade e Inovação pelo novo conceito;
- Defesa dos Preliminares no local de trabalho;
- Galardão "Céu é o limite", por demonstrarem que, por piores que fossem os estereótipos com que os funcionários públicos são habitualmente associados, afinal a coisa pode ser alargada para todo um novo patamar;
- Prémio "Pimp the Institution", pelo extraordinário feito de chularem de tal forma o direito de greve que conseguiram transformar a outrora Mui Honorável Sra D. Greve numa pega velha, sem a credibilidade e seriedade de outros tempos.

Cá para mim são os claros vencedores!

Os vencidos são, como sempre, todos os utentes do Metropolitano. Por falar nisso, meus amigos, já consideraram que há melhores fins para o dinheiro do passe?


terça-feira, 1 de dezembro de 2015

coisas de pensar: Haverá solução para a pobreza?



Ainda sobre a erradicação da pobreza. Antes de encerrar este tema, apetece-me deambular um pouco mais por esta matéria, apresentando-vos uma reflexão.

Quando imagino o melhor dos mundos possíveis ocorre-me a construção de uma sociedade humana regida por princípios como a igualdade, paz, sustentabilidade, respeito pelo próximo e pelo meio ambiente.

Há muitos entraves na realização desta visão e a pobreza é um deles.

A pobreza material força muitas vezes o sacrifício de valores éticos e morais que gostaríamos de ver como bússola das condutas em todos os momentos.
A alguém que falte o essencial e, como tal, não consiga ter olhos nem consciência para algo que não seja a sua própria condição, é muito difícil esperar, pedir ou exigir, que viva sob regras pacifistas, que se recuse ao crime, que se eleve, que defenda o meio ambiente...

A pobreza material é um tremendo entrave à realização do próprio ser humano, na sua elevação, na conquista do seu melhor. Sem pessoas melhores não haverá um mundo melhor. O mundo e a mudança que queremos ver neste nasce, invariavelmente, dentro de nós. Não é que o Mundo seja somente a nossa espécie, mas a sobrevivência de todas as outras depende intimamente da nossa capacidade de crescer para além da nossa condição sub-humana de destruidores de vistas curtas.

Acredito que a erradicação da pobreza é possível.  Sem dúvida difícil, como tudo o que vale a pena, mas possível.

O primeiro passo é transformar o próprio conceito de riqueza. Todos os dias, e cada vez mais, somos bombardeados, através dos media, por campanhas engenhosas de marketing e publicidade e a aclamação de figuras públicas que o são pelo seu exemplo de futilidade, excesso e desperdício.

Como não estarmos cada vez mais próximos da insurreição social, com cada vez mais pessoas insatisfeitas, frustradas e zangadas, se ao longo dos anos temos sido, através de muitos meios e canais, formatados para acreditar piamente que a felicidade e valor de cada um estão intimamente ligados à quantidade de recursos que se possui? E o que se possui há-de ser igual aos exemplos de futilidade que habitam em ecrãs e monitores: as casas, os carros, a tecnologia, a roupa, os hábitos...

Este conceito de riqueza é a nossa sentença de morte, de extinção. Não é sustentável, nem sequer possível que vivamos num planeta com mais de 8 mil milhões de pessoas e que todas queiram uma casa, e um carro, pc's, tablets, telemóveis, roupas, sapatos e acessórios da última moda e toda a parafernália que nos habituámos a possuir.

Há que redefinir o conceito de riqueza como algo mais frugal, que cubra todas as nossas necessidades essenciais, que nos faça sentir seguros, com um nível simpático de conforto, mas acima de tudo sustentável e sem excessos.

O segundo passo tem a ver com Igualdade. Para erradicar a pobreza há que extinguir os casos de grande riqueza. A extinção de uns está dependente da extinção dos outros.
É essencial que deixe de existir o tremendo fosso que hoje os separa, o melhor sendo a não existência de fosso algum.
Após milénios e milénios de existência de sociedades humanas organizadas em pirâmide, tem havido uma incessante recusa em implementar o óbvio: que se a integridade de toda a estrutura depende da sua base, então há que fortificar esta.

Acho mil vezes preferível uma sociedade onde só exista classe média, em que a diferença entre os que auferem menos e mais existe mas não é gritante.

Por fim, enquanto houver sobrepopulação existirá pobreza. Em 2011 quando foi noticiado o marco dos 7 mil milhões de humanos, não vi qualquer motivo para celebrar mas um motivo de preocupação.
Com excesso de população a pobreza será sempre inevitável, e com esta as guerras pelos recursos, as calamidades naturais e ecológicas, o desrespeito pelos Direitos Humanos, o desemprego, a criminalidade, o abuso dos mais frágeis, a estupidificação das massas, a escassez de recursos, o retrocesso da civilização...


Em suma, defendo que é possível a erradicação da pobreza através da redefinição da percepção do conceito de riqueza, da Igualdade, e do controlo de natalidade.





segunda-feira, 30 de novembro de 2015

coisas de opinar: Erradique-se a pobreza...



Ontem passou num canal de televisão um documentário que prometia ajudar a decifrar esta coisa, esta entidade, esta seita de barbudos radicais que anda aí a aterrorizar meio mundo.

Nós, longe de sermos obcecados pelo tema, ficámos curiosos o suficiente para assistir. Uma curiosidade que pouco ou nada tem a ver com voyeurismo, mas com uma necessidade de tentar conhecer e entender algo que difere de nós e do nosso mundo em tudo e mais um par de botas.

A mim, que é intrínseco duvidar, questionar e desafiar o que me dizem e sobretudo o que me mandam quando sinto que o devo fazer, sempre me fez muita confusão o historial bélico do nosso mundo. Basta-me ler uma notícia, ver um filme ou documentário sobre tal, (a II G.G. é um óptimo exemplo), e inevitavelmente dou por mim a pensar como é que é possível existirem pessoas que se deixam cativar, doutrinar por ideologias tão maradas e cometer actos tão errados em seu nome.
Como é que é possível que em todas as guerras, as decisões sejam tomadas por um pequeno grupo de gajos, sentados confortavelmente algures enquanto outros aceitam ser seus paus-mandados, carne para canhão, cegos obedientes e os únicos a sujar as mãos de sangue?!
Não há ninguém que ao receber uma ordem que, aos olhos de uma pessoa de bem é claramente errada e inadmissível, se vire para esses gajos com um: "Isso é que era bom! Queres? Vai tu!".

Será a obediência uma característica genética tão profunda na nossa espécie que nos torna, sem grandes alternativas, fracos e maleáveis perante a vontade de psicopatas?! Que triste!

A qualidade do documentário em si foi de nível "meh". Não passou de uma colectânea de vídeos propagandistas produzidos pela massiva máquina de marketing dos próprios barbudos que são censurados nos meios de comunicação ocidentais, e ainda bem. Apoiar a censura abre um precedente perigoso mas aqui tem toda a razão de ser. Nunca se sabe quantas cabecinhas tontas, fracas e permeáveis existem à escala global, e o seguro morreu de velho.

As cenas que eram montadas para mostrar o apoio e satisfação da população fizeram-me lembrar a história de Pablo Escobar, o icónico traficante colombiano. Escobar podia ser violento, temido e impedioso, mas muita da população de Medellín era-lhe leal pois financiava a construção de alguns estádios de futebol, algumas equipas, e dizia ser uma espécie de Robin Hood que tirava dos ricos para dar aos pobres. Mais do que por bondade, Escobar sabia que esta é uma estratégia inteligente para se alicerçar uma posição de poder, e os barbudos também sabem. E que quanto mais pobre for a população alvo, mais barata é a sua lealdade.

A pobreza é a raiz de muitos males. Erradique-se a pobreza e, de uma ver por todas, o mundo será chão pouco fértil para muitas outras maleitas.

A capacidade que tenho de duvidar, questionar, desafiar e escolher por mim deve-se em muito ao facto de não ser pobre. Tal como aparece na velhinha Pirâmide das Necessidade de Maslow, se tenho energia para dedicar à moralidade e a questões que se encaixam na categoria de topo - realização pessoal - é porque me encontro satisfeita em todas as outras categorias, da fisiológica à estima.




Qualquer um de nós num cenário onde as necessidades fisiológicas e de segurança não fossem preenchidas, faltando-nos casa, comida, acesso a cuidados de saúde, educação, etc, seriamos também presas fáceis de manipular.
Portanto, enquanto houver pobreza haverá, com toda a certeza, novos capítulos para a história bélica do mundo, cheios de terror e tristeza.




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

As pessoas de quem gosto #4


Tenho um fraquinho por velhinhas - termo que uso com o maior dos carinhos.

Uma das minhas filosofias de vida é ter dois minutos de atenção e disponibilidade para com os mais velhos. Acredito que devemos respeitar os idosos, e esta é a minha forma de transformar o meu pensamento em acção.
Uns minutos de conversa, acompanhados de um sorriso pode não ser muito, e efectivamente não é, mas faço por ter em mente que desconheço a vida daquela pessoa. Que em alguns dos casos o nosso encontro, ainda que breve, pode muito bem ser a primeira interação que aquela pessoa teve durante o dia, e por isso acho tão importante fazê-lo.

Confesso que o termo obrigação se aplica em alguns dos casos. É óbvio que o faço também por gosto e, não só porque acho correcto. Mas confesso que o gosto decresce e a noção de sentido de dever aumenta com aquelas pessoas que são mais negativas e lamuriosas.

Felizmente nem sempre é assim. Há pessoas com quem é privilégio partilhar o mesmo oxigénio, que dão gosto conviver, que são uma inspiração não importa a idade que tenhamos.
Duas dessas pessoas são a Dona M. e a Dona Z..

Ambas são quase octogenárias, viúvas, independentes e, independentemente dos seus problemas de saúde e outros, são sempre uma lufada de ar fresco onde quer que entrem, tal é a sua boa disposição.

Todos os dias, acompanhada pelo Kiko, passo pela rua da D. M..
Numa destas manhãs, M. sai de casa, no seu conjunto de tweed que lhe assenta de forma escorreita e, com o sorriso costumeiro emoldurado pelo penteado níveo e impecável, atravessa a rua para nos vir cumprimentar.
Conta-me que vai ao médico, mas despacha rapidamente o assunto com um "tem que ser, é a vida!", como se essa coisa das maleitas nem fosse digna o suficiente para servir de tema às conversas.
Prefere sacar de dentro da mala um volume impressionante de fotografias, através das quais me dá a conhecer a família. Em algumas das fotos mais antigas ri dos penteados e das modas do passado.
"Chegou a conhecer o meu marido?" - pergunta-me, com talvez uma ponta de saudosismo, mas sem qualquer névoa de amargura.
Abre um saco e mostra-me um casaquinho que tricotou para mais um recém-nascido. Modelito único, que lhe ensinou a sogra, que nas últimas três décadas serviu de molde para um abismal número de agasalhos saídos das suas mãos.
Fala e mexe-se com desembaraço e vivacidade. Pergunta-me se sei a sua idade, e desafia-me a arriscar um número. Eu aposto um pouco baixo, e erro. É uma cordialidade, um "cavalheirismo" que mesmo sendo mulher, me sinto na obrigação de ter, especialmente com as senhoras mais maturas.
Elogio-lhe a elegância e a jovialidade, e sou totalmente honesta no que digo: M. sai-se com um "tem que ser, filha, tem que ser!", antes de se despedir e descer a rua, sorrindo.



Partilho a mesma rua com a Dona Z.
Quando me vê, aproxima-se para me dar dois beijinhos que eu retribuo com gosto. Fala-me dos passatempos, dos passeios e das férias além-fronteiras, da família, do quotidiano. Gabo-lhe ser tão activa e extrovertida.
Elogia os vizinhos. Denuncia um pouco de solidão quando suspira que estão todos ocupados a trabalhar, "pois tem que ser, não é?!".

Partilha com a D. M. o sorriso aberto, bonito, e o cabelo níveo, sempre bem arranjado.

Cruzamo-nos num dos corredores do supermercado e eu ajudo-a com os cupões promocionais, aqueles que dão descontos nos produtos X ou Y. Seguimos caminhos diferentes.
Voltamo-nos a encontrar na caixa. Deixo passar a pessoa que está atrás de mim para que estejamos juntas, e eu a possa ajudar se for necessário.
Pergunto-lhe se vai a pé para casa, tal como eu: "Vou, vou. Trouxe o meu carrinho e tudo."
Arremato oferecendo-lhe companhia para o caminho - "Com companhia custa menos!", pisco-lhe o olho.
Deixamos passar mais uma pessoa à frente e eu ajudo-a a colocar as compras no tapete rolante.
Aponta para duas caixas de chocolates. Gosta de ter sempre chocolates para oferecer a alguém, nem que seja às crianças do prédio ou a qualquer vizinho nas ocasiões em que a ajudam a levar as compras escadas acima.

Guardo-lhe as compras no carrinho e seguimos, ela com o seu trolley, eu com os meus sacos.

Alguns minutos depois chegamos e eu que não me esqueci da nossa conversa, ofereço-me para subir com o trolley. À porta de casa, insiste e acaba assim por me forçar a entrar.
 "Obrigada. Mas só por um par de minutos", digo, lembrando-a que deixei os meus sacos no átrio.  Mostra-me a casa e os trabalhos de tricot, conversamos mais um pouco.

Quando nos despedimos e começo a descer o primeiro lance de escadas, chama-me. Quer-me oferecer uma caixa de chocolates.
Não a quero ofender, mas não quero aceitar. Tão simplesmente porque o que fiz, fiz por gosto, porque quis, e em nada perdi. Não foi um favor, nem preciso de compensação por tal.

Digo-lhe que os guarde para as crianças. Z. insiste e eu replico que se me quer dar alguma coisa que me dê mais dois beijinhos. Ri-se e beija-me. E eu despeço-me galgando já as escadas.









terça-feira, 24 de novembro de 2015

Bucket list #7: O Parque do Kiko



Se encontrasse aqui mesmo ao lado de casa, um qualquer terreno de tal forma baratinho, tipo ao preço da chuva, quase dado, (nunca é demais o ênfase no "baratinho"), comprava-o. Investia numa vedação robusta, num portão, procedia à sua limpeza e "desparasitação", (não sei que termo se utiliza em relação a terrenos), de forma a dar cabo das pulgas, carraças e afins.

Chamar-lhe-ia o "Parque do Kiko".
Seria um espaço onde poderíamos ir brincar, correr, sem trela, sem perigo de atropelamentos, nem interacções com outros cães que não sejam desejadas naquele momento, sem lixo.

Teria todo o gosto em que o acesso ao Parque do Kiko fosse aberto a outros cães, num horário abrangente mas definido. Todos seriam bem vindos desde que seguissem as "regras da Ana". Sim, que o parque seria do Kiko, mas as regras, essas são da dona.

Não seriam regras complicadas. Basicamente, consistiriam em deixar o espaço limpo, apanhar os dejectos do animal, não estragar nem retirar nada do que lá se encontrasse. Os que soubessem seguir estas simples normas de conduta, que não vão além do bom senso e práticas básicas de civismo, seriam mais que bem vindos a usufruir connosco do parque.
Quem não fizesse caso das "regras" acabaria por perder, em último caso, o direito de acesso. Afinal, um dos motivos porque a criação do mesmo se encontra na minha "bucket list" é porque estas regras, que para mim são importantes, não são seguidas nos espaços públicos.

Acima de tudo este meu desejo surge porque sinto e acredito que espaços destes fazem muita falta. Locais cuidados e vedados, onde os animais possam andar sem trela, sem qualquer perigo para si e para terceiros. Onde possam, em liberdade, gastar toda aquela energia que vão acumulando, especialmente os que estão confinados a apartamentos e pequenos espaços. Onde os donos, especialmente os tão neuróticos como eu, possam retirar maior prazer dos momentos ao ar livre com os seus patudos, porque naquele espaço estariam protegidos de  muitos dos perigos potenciais que nos deixam num estado de sempre alertas e, consequentemente de mau humor, como o trânsito, o lixo, etc.
Infelizmente acredito que sem iniciativa privada muito dificilmente veremos um grande número de parques caninos no nosso país. Isto porque, se nem há fundos para espaços para crianças, quanto mais para animais não é?

Imagino, ao longo do tempo, este espaço a crescer e a ser melhorado, passo a passo, conforme a carteira, (sobretudo a carteira!), a imaginação e a vontade iriam permitindo, com a implementação de coberturas para criar sombra no Verão e proteger da chuva no Inverno e candeeiros solares de jardim para permitir a sua utilização à noite.

Quem sabe até uma piscina para eles.

Imagino muitas coisas, um enorme potencial que se estende para lá da linha do horizonte, como uma possível parceria com uma escola de treino canino e a possibilidade de ali organizar uma ou duas aulas de treino de obediência, e outras modalidades, por semana.
Imagino-me a emprestar o parque ao canil do meu município e às associações, para que, pelo menos uma vez por semana pudessem trazer alguns dos seus animais para aulas de obediência e, para se divertirem, contribuindo para a sua felicidade e aumentando, quem sabe, a possibilidade destes virem a ser adoptados.

No meu íntimo sei que seria um espaço nascido de um desejo um pouco egoísta de querer providenciar o melhor para meu patudo, mas que me encanta sobretudo pela sua capacidade quase infindável e lírica de ser um projecto altruísta, seja pelo desejo de providenciar o mesmo conforto a muitos outros animais, tenham eles dono ou não, de aumentar o nível de consciência para com o bem estar animal, de providenciar momentos de pura alegria entre humanos e animais, de criar uma casa para um grupo de trabalho com ideias solidárias, positivas, de inspirar outros a fazerem o mesmo, mais e melhor até!

Agora, onde raios anda esse terreno baratinho?!






segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Vida de cão #37: Conjuntivite


O Kiko está com uma conjuntivite num dos olhos.

A conjuntivite canina não é um quebra-cabeças, mas é importante consultar o veterinário porque pode agravar e levar à cegueira.

Há pouco mais de uma semana, esse mesmo olho começou a deitar um maior número de secreções. As chamadas ramelas são normalíssimas, mas é preciso ter sempre atenção em relação à quantidade e aspecto. Então se o animal tentar coçar-se com a pata é mais um sinal.

Passado poucos dias levei o Kiko a uma consulta. Confirmou-se que era conjuntivite. O olho está perfeito, mas nada como passar pomada, (Predniftalmina), de 12 em 12 horas, durante 10 dias.

Pôr pomada nos olhos de um cão não é pêra doce. Há muita coisa que temos que fazer pelo Kiko que pode ser considerada difícil, mas isto é toda uma nova e elevada categoria de dificuldade, o que aumenta o meu espanto e admiração quando a Dra. C. lhe coloca com tanta rapidez e habilidade a primeira dose ainda no consultório.

Aqui o ritual é feito, sempre que possível, a quatro mãos. Primeiro há que limpar o olho e a zona circundante com soro fisiológico e uma gaze esterilizada. Este processo até deve fazer parte da rotina de limpeza do animal, mesmo quando não há qualquer doença: uma gaze para cada olho para evitar qualquer contágio.
Não há como convencê-lo a estar quieto durante o processo: é um misto de força com subornos.
Para colocar a pomada, como amadores que entendemos ser nem nos atrevemos a apontar o tubinho metálico da pomada ao olho do bicho. Preferimos usar uma gaze para o efeito.

Acho que hoje foi a primeira vez que realmente acertámos, com 100% de certezas, com a pomada no globo ocular. Normalmente acertamos em redor, e vale-nos uma pequena massagem para garantir que alguma coisa vai efectivamente lá parar. Isso e fazer figas para que assim seja.
E, claro, não poderia faltar uma recompensa no final do processo.










sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Vida de cão #36: Sabes que estás no bom caminho quando...



O comportamento do Kiko é diferente em casa e na rua.
Na rua é muito mais eléctrico, excitado. Em casa também há momentos em que é assim, especialmente quando quer brincadeira mas, regra geral, é calmo. A não ser quando recebemos visitas. Aí volta a ser o cão "pilhas Duracell". Fica tão alegre que ladra, salta, anda pela casa a correr, parece um cabrito aos pinotes, de forma a que se torna quase impossível alguém dar-lhe festas simplesmente porque ele não pára.

Sabes que estás no bom caminho quando serves a gamela ao teu cão e podes, com confiança, tocar-lhe, dar-lhe festas enquanto come e dizer a quem te visita que pode fazê-lo. Sem medos.

Para chegar a este ponto é preciso habituar o cão, desde tenra idade, a ser manuseado durante as refeições. Implica enfiar a mão na gamela enquanto este come e remexer a comida, como se fosse a coisa mais normal deste mundo, e o cão ignorar como se realmente assim fosse.
Não houve uma única vez que o Kiko reagisse a estes rituais com uma pontinha de agressividade. Talvez porque já está de tal forma habituado que faz parte da sua normalidade. Acho que também ajuda ele ser "filho único". Não há presença de outros cães que possam, talvez, despertar o instinto e a necessidade de proteger a sua refeição.
Não sou perita na matéria nem nada que se pareça, mas sei que é importante fazer os possíveis por eliminar reacções menos boas em relação à comida, especialmente em casas, (embora não seja o nosso caso), onde existam miúdos. Porque as crianças são imprevisíveis, há idades em que são mais desobedientes e muitas vezes não basta criar uma regra para que estas a sigam. E a última coisa que se quer é que aconteça um acidente.


terça-feira, 17 de novembro de 2015

coisas que gosto: Anita e o Shire, ou o meu lado anglófilo



Acho que é perfeitamente possível sentir a falta de algo que nunca se viveu.

Sou viciada em séries policiais, (ou de investigação, se preferirem esta denominação), britânicas. Desde Sherlock Holmes, a Poirot, a Miss Marple, e mais recentemente a Midsomer Murders, Vera e Lewis.

Para além de gostar do género, do argumento, dos actores, etc, agrada-me sobremaneira o cenário rural inglês em que muitos destes enredos acontecem.

Partilho com Tolkien o gosto por estes "shires" reais que o inspiraram.
Em miúda, muito antes de me tornar efectivamente uma estudante universitária ou de sequer ter a noção de qual seria a minha área de estudo, a presença destes mesmos cenários em produções televisivas e cinematográficas deram origem a uma fantasia em que me imaginava em Oxford ou Cambridge. Que se havia morada digna para albergar o alimento da mente e a placidez do espírito era ali!

Há um qualquer episódio de Lewis que inicia com um grande plano do horizonte de Oxford: cúpulas, torreões e pináculos a elevarem-se, majestosos, para além das copas das árvores. Muda o plano, e mostram-nos os claustros de uma das faculdades, que abraçam um pátio enorme com um relvado imaculado. Dois planos e um minuto que são, por si, suficientes para me recordar da minha velhinha fantasia.

Como lhes invejo o cenário!
Faço parte do grupo de pessoas a quem o velho dito "os olhos também comem" se aplica de uma forma enfática. Que aquilo que nos entra pela vista tem uma imensa influência na forma como pensamos, como sentimos, na inspiração, na sensibilidade, no comportamento, em tudo...

Acredito piamente que quando a Beleza nos rodeia os nossos modos elevam-se para lhe fazer justiça.
Daí o meu gosto pela Arquitectura, essa Arte Maior, que quando brilhantemente concretizada tem exactamente esse mesmo poder sobre nós.

Há sensibilidades que não encontram alimento em cenários urbanísticos suburbanos, com pouco verde, e nenhuma majestade. Mirra-se entre ruas apertadas, traços de alcatrão e linhas verticais de betão numa estética insípida.

Quando imagino o meu sítio perfeito, a ruralidade inglesa é uma das minhas inspirações: a imponência, história e longevidade de edifícios como a Universidade de Oxford, (que serviu de cenário nos Harry Potter), a sua estrutura em pedra, os claustros, os imensos relvados, os muitos e muitos hectares dedicados a parques e jardins botânicos...




... os pubs centenários com dois nomes como o "The Eagle and Child", lugar de reunião dos Inklings...





... e o conceito idílico, romântico e bucólico das "cottages" inglesas e seus jardins que tanto me agrada.




quinta-feira, 12 de novembro de 2015

sabedoria dos intas em 10 segundos #38



Sempre achei que, aquela situação de alguém colocar em cima da mesa as opções A e B para que façamos a escolha entre uma e outra é limitativo, no seu melhor, e uma armadilha, no seu pior.

Considero-o uma chantagem intelectual e conforme me dita o senhor meu pensamento posso até responder "nenhuma" ou "ambas".

A questão ou problema pode ser único, mas haverá sempre, sempre, sempre, múltiplas soluções, abordagens. Pelo menos, de A a Z e só porque não nos lembrámos de estender o alfabeto. Ainda.
Isto não tem que causar pânico algum, é um dado: enquanto houver uma caixa, haverá sempre "o fora da caixa".

Limitar as opções a A e B, ou até C, é travar a imaginação, o intelecto, o pensamento. E com estes tudo pára, nada avança.

Como temos a mania de passar pela vida em modo automático (e autómato), apercebi-me, com todo o meu foco, desta minha forma de pensar no início desta trampa de crise. O assunto ainda era suficientemente fresco e não totalmente assimilado e digerido, de forma que em qualquer ponto, hora e local se discutia a actualidade.

Mais tarde ou mais cedo surgiria o que para mim, liberdade de opinião à parte, são uma espécie de peidos vocais, entoando a cantiga de que "antigamente é que era bom", "que este governo é tão mau que o Salazar deixa saudades", e afins, já deu para perceber...
Quando nem me lembro quem se vira para mim, mando A e B às urtigas. Um mal presente não beatifica os males do passado. A cordialidade social que faz que um filho da puta passe a santo quando morre só se aplica às gentes, não à história, nem às sociedades. Regressar aos erros não gera sucessos. Há que imaginar novos paradigmas. Pensar a realidade C, e depois D, e se for necessário até ao Z 2.0.

Portanto, vão por mim, os horizontes do mundo não cabem numa binomial. Ana dixit.










Vida de cão #35: Dizem que as mulheres são intrometidas e desbocadas...



... e eu não sou excepção.

Quer dizer, muitas vezes fujo a esta "regra", que está longe de ser exclusiva ao sexo feminino. Quantos de nós já meneámos a cabeça com um sorrisinho amarelo, sem emitir qualquer som, simplesmente porque depois de ouvir uma qualquer alarvidade, preferimos deixar a coisa morrer na praia a dar-lhe corda? Talvez tantas ou mais vezes em que fomos nós a lançar baboseiras para o ar e, disto ninguém se livra. Faz parte.

Contudo há ocasiões em que ficar calada, mesmo quando não nos diz respeito, não é opção.

Há dias cruzei-me com Pessoa X num dos meus passeios com o Kiko aqui pelo burgo. Estava com cara de quem não estava nos seus melhores dias, o que deu inicio à conversa.
Na véspera, tinha levado para sua casa o cão da Pessoa Y e não me parecia muito convicta.

Começou-me por dizer que Y tinha há tempos arranjado uma cadela, de porte bem menor, e que temia que o cão a engravidasse, o que seria muito perigoso para a saúde da bicha pela diferença de tamanho. E, que por isso, muito impulsivamente, aceitou ficar com cão. Decisão que andava a remoer naquele momento.

Franzi o sobrolho e sem que me pudesse controlar sai-me um "Ouve lá, isso é uma estupidez, mas porque é que Y não leva a cadela ao veterinário para ser esterilizada?"

Esbugalhei os olhos quando de troco levo um "Ah pois é, isso tinha resolvido a situação", e volto a fechar a expressão quando, logo a seguir levo com "Ah e tal... diz que não quer gastar mais dinheiro... blá blá... a cadela... blá blá... fazer criação."

Nesse momento, juro que não foi por mal, mas passou-me uma coisinha à frente da vista e antes que conseguisse fechar a boca já tinha arremessado algo como "Conseguiu dar-te a volta e passar-te a batata quente! Se mudaste de ideias, o melhor que tens a fazer é devolveres o cão ou encontrares alguém que realmente o queira."

Em menos de nada estavam lançados todos os torpedos. Gastei todas as munições na enunciação de todos os trabalhos, responsabilidades e despesas que envolvem cuidar de um cão, que vão desde apanhar cocó e catar pulgas, a ter todas as vacinas em dia, assim como a enumeração das alegrias, que é possível um cão ser feliz e dar-se bem num apartamento, mas se era para o ter na varanda que não tivesse, arranjasse antes um peluche.

Quis o destino, que no dia seguinte me cruzasse com Y que me contou que X tinha ficado com o cão e que os filhos deveriam estar em êxtase com o bichinho.
E eu, (que maldição pá!), podia ter ficado calada, não o fiz. Disse-lhe que já tinha ouvido a novidade através de X, que poderia ser do período de adaptação mas que não me parecia assim tão satisfeita com a decisão. Perguntei-lhe porque não tinha esterilizado os animais. Pelo menos a ele, que até poderia ficar mais calmo e tudo.

Assegurou-me que tinha deixado X à vontade para lhe devolver o bicho caso mudasse de ideias. Que se isso acontecesse o iria castrar. Sorri, despedi-me e prossegui o meu passeio na direcção oposta.

Fui-me a vergastar mentalmente por ser intrometida e desbocada, mas na verdade, e digo-o agora depois de olhar nos olhos do Kiko que me observa, dengoso, deitado no sofá, quando é por eles é perdoável e valerá sempre a pena.


quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Vida de cão #34: Trabalho de equipa é...



... usar as nossas qualidades para colmatar os defeitos do outro, num regime de solidariedade, parceria e reciprocidade.

Saber disso é reconhecer, dar valor. É sentir gratidão e uma vontade de retribuir.

E eu que continuo incapaz de deixar o Kiko socializar com outros cães quando saímos só os dois, ou de lhe tirar a trela, mesmo que a minha vida dependesse disso, de tão nervosa que fico, sou imensamente grata ao meu marido por providenciar ao petiz tudo aquilo que eu não sou capaz. E por isso nada lhe falta, nem o êxtase das sessões de brincadeira e correria com outros cães, que é tão importante também pelo prazer que lhe dá.

Quando regressam, descontraio e ouço com satisfação o relato das diabruras, quem conheceram, com quem brincou. Rimo-nos os três. Digo os três, porque o cão olha para nós com um daqueles sorrisos caninos bem abertos que não se desmancha e lhe dá um ar ainda mais tonto. Tonto de felicidade.

Se confesso, meio cabisbaixa, que não sou capaz de fazer o que ele faz, que gostaria mas não sou, a única coisa que me aponta é aquilo que faço bem.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Edição Natal: Sugestões de prendas até 5€



Ainda estamos em Novembro mas o Natal já é tema, seja através da decoração de alguns espaços, seja dos sazonais almoços e jantares de Natal entre amigos e colegas, onde o "Amigo Secreto" continua a ser tradição.
Porque um dos grandes desafios do "Amigo Secreto" é encontrar uma prenda engraçada e útil com o mínimo dinheiro, deixo umas sugestões que não passam dos 5€. O desafio que me impus foi encontrar uma mão cheia de boas opções por preços ainda mais baixos que 5€. Vamos lá ver como me saí:


1 - Da Vassourinha Rústica, escolho este suporte curvo de garrafa, em pinho natural, por apenas 1,75€.


 
2 e 3 - Da Equivalenza, escolho duas opções: um ambientador para automóvel, a 3,25€, e outro para armários, a 2,75€
Para o automóvel existem 10 fragâncias distintas. Já experimentámos o de maçã e o de frutos vermelhos e estamos fãs. Os sachets perfumados para armários apresentam-se em 11 fragâncias.




4 - Da Kasa, marca própria de têxtil-lar do Continente, elejo uma manta, super macia, que custa exactamente 5€.


5 - A última sugestão vem da Ikea, e é um dos muitos peluches que lá se encontram à espera de dono e, que são possíveis de trazer por menos de 5€. Por exemplo, o Vandrig Uggla, o mocho simpático que escolhi como imagem custa 4,99€.
O grande motivo por trás desta sugestão é que de 1 de Novembro a 27 de Dezembro, por cada peluche vendido, a Ikea Foundation doará 1€ para financiar projectos educativos em todo o mundo.


100 motivos para não ter filhos #1: A introdução ou o grande motivo para se ter filhos


Decerto já estão carecas de saber que não temos filhos, e que se trata, não de uma imposição, mas de uma opção.
Talvez um dia mudemos de ideias. Talvez não. É bom sentir a liberdade das opções em aberto.

Antes que fiquem totalmente horrorizados com o título desta nova rubrica deixem-me contar-vos o seguinte: um dia passeava-me numa livraria quando, me deparei com um livro que aos meus olhos me pareceu totalmente inovador e excêntrico quando comparado ao que esperamos encontrar relacionado com a temática "filhos". Prometia o título exactamente isto: a enumeração de n motivos para não se ter filhos.
A autora, (não me recordo do nome), confessava que após anos a sentir que tinha que justificar a sua opção perante os muitos que se indagavam sobre esta, decidiu meter mãos à obra e esmiuçar o tema.

Quer se concorde ou se discorde da opção em si, assim como dos argumentos que a sustentam, acho que a exposição desses mesmos argumentos são uma grande mais valia. A existência de pessoas que não se identificam com o papel de progenitores causa verdadeira estranheza a muitos dos que optaram pela outra via. Dessa estranheza resultam sempre algumas elações mal fundamentadas e longe da verdade, como a ideia que as pessoas que optam por uma vida sem filhos simplesmente não gostam de crianças, o que poderá aplicar-se a algumas, mas certamente não a todas.

Igualmente não podemos depreender que todos aqueles que são Pais gostam de crianças. Alguns gostam, outros não. Assim como nem todos os que são Pais têm vocação para a coisa. Lá está, não existe universalidade em todas as premissas.

Agora que olho para o título o número 100 enche-me os olhos e parece-me uma tremenda empreitada. A escolha foi ditada de forma aleatória e pelo meu gosto por números redondos. Logo se vê no que isto vai dar.

Quanto aos motivos para se ter filhos, para mim há um único que é de valor e o único que seria o nosso guia, caso mudássemos de via: o Amor.
Poderão vocês pensar: "Dah, mas existe outro?!" - e eu responder-vos-ia que certamente o mundo é hoje mais permissivo para com o Amor, mas que ao longo da História da Humanidade, (incluindo o tempo presente), somam-se mais crianças que foram geradas com outros motivos e para com outro fim do que pelo mais nobre dos motivos.

Ao longo dos tempos gerar filhos sempre foi uma das formas predilectas para se obter mão-de-obra barata, quer fosse para a Agricultura da Idade Média ou para as fábricas da Revolução Industrial, etc.
Durante o Império Romano, as famílias com três ou mais filhos tinham benefícios fiscais. Três filhos significaria um número suficiente para responder à elevada taxa de mortalidade, garantir a continuação da linhagem da família e engrossar o exército de Roma.
Até a China, no presente, revê a política do filho único simplesmente porque precisa de mão-de-obra.

Já houve quem, indagando sobre a nossa opção, se saísse com "quem cuidará de vós quando forem velhos?". As imensas histórias sobre idosos ao abandono só ilustram que ter filhos não assegura a presença destes enquanto cuidadores. No entanto, o medo da velhice e de certa forma o egoísmo de se querer garantir que, por obrigação filial, haverá um providenciador/ cuidador foi por incontáveis gerações, (e ainda é), um grande motivo para gerar descendência.
Ainda ontem vi o filme "Como água para chocolate" e lá estava um excelente exemplo disto mesmo: a mãe que não permitia que a filha mais nova casasse porque o seu papel seria cuidar dela na velhice.

Ainda há quem seja gerado por uma sede de poder, como se passa no caso das famílias reais. Porque se imiscuiu na mente de muitos, e por demasiado tempo que, existem linhagens especiais que, por tal, devem ocupar um lugar cimeiro de supremacia em relação aos outros, e que esse hábito terá continuidade havendo descendência.

Há muitos, mas muitos mais, exemplos. Mas acho que já consegui ilustrar suficientemente bem a minha perspectiva, na qual defendo o Amor como o único motivo nobre para se gerar filhos, e que ao longo da nossa existência enquanto espécie muitos têm sido gerados por motivos que considero mui pouco ou nada nobres.




segunda-feira, 9 de novembro de 2015

cromices #92: A pequena acumuladora



O meu marido partilha uma característica com a minha mãe que, volta e meia, causa faísca com a minha personalidade. Embora nenhum de nós os dois chegue aos calcanhares da minha mãe no que toca a limpeza e organização, de vez em quando dá-lhe na cabeça fazer uma espécie de purga cá por casa que resulta em sacos e mais sacos de coisas que vão fora.

Mora em mim o gérmen recalcado de uma pequena acumuladora. "Ainda está em bom estado" e "Pode dar jeito" são dois dos argumentos que me saem amiúde boca fora nos dias de Grande Purga, normalmente sem grandes resultados.

A minha mãe dava em doida comigo porque colecionava resmas de papéis e revistas, especialmente científicas, que se iam amontando numa pilha num canto do meu quarto, já que as estantes estavam totalmente prenhes de livros. Aquilo mexia-nos com os nervos: a ela causava-lhe uma espécie de urticária entrar no meu quarto e não poder satisfazer o ímpeto de levar aquilo tudo para o contentor do lixo. E a mim porque bem lhe notava aquele desejo no olhar, e temia um dia entrar nos meus domínios e dar conta que o Furacão Mãe tinha feito das suas, mesmo depois de termos acordado que um pouco de caos me seria permitido, desde que não fosse além daquele monte.

Até que um dia deixou de haver razão para a tal pilha existir. Já havia internet, fácil, acessível, e com ela findou a necessidade de guardar informação no formato daquela resma que tanto desagrado causava.

Já por aqui comecei a colecionar revistas, especialmente edições da National Geographic e de decoração. Mal notei os primeiros sinais de humidade foi tudo para a reciclagem. Deixei de colecionar revistas e até de comprá-las. Exaspera-me a curta validade de muitas das coisas que consumimos, a ideia de gastar tantos recursos para algo ser descartável, acabar rapidamente como lixo, das quais as publicações são um bom exemplo. Sou adepta das edições online.

A pequena acumuladora em mim nunca se tornará uma grande acumuladora, acima de tudo porque mais coisas implicam mais trabalho, e afinal de quanta tralha precisamos na nossa vida?!
E se já viram um ou outro episódio de "Hoarders", aquilo é tipo filme de terror que nos faz pensar duas vezes antes de guardar seja aquilo que for.

Não são muitas as coisas que guardo por valor sentimental, nem sou pessoa de ter ataques de consumismo, bem pelo contrário. O que a mim me custa é a noção de desperdício que associo ao acto de nos desfazermos de coisas em bom estado, que ainda carregam o potencial da utilidade. Vale o facto de muitas dessas coisas encontrarem nova vida na mão de outros.

Já não respingo tanto nos dias de Grande Purga. Consegui o hábito de deixar o marido só com o seu discernimento. Mas mantenho o direito de barafustar alto e a bom som, com todas as asneiras que me der gana, nos momentos em que afinal, "aquilo" agora até dava jeito.




sábado, 7 de novembro de 2015

coisas de opinar: O mundo louco dos pequenos imperadores


Na década de 70, foi implementada na China a que ficou conhecida como a Política do Filho Único.

Mesmo com esta medida que, julga-se ter ajudado a prevenir cerca de 400 milhões de nascimentos, a China continua a liderar a tabela dos países com maior densidade populacional, com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, seguida da Índia com um valor bastante aproximado.
Para terem ideia de quão enormes são estes valores, o terceiro lugar é ocupado pelos Estados Unidos com "apenas" 300 milhões de habitantes.

Eu concordo com esta medida. Pode parecer cruel e uma afronta à liberdade pessoal haver alguém que estipula por nós o número de filhos. Neste caso não fazê-lo seria bem pior. A grande preocupação dos dirigentes chineses seria que, sem controlo de natalidade, a China caminharia a passos largos para uma realidade de pobreza generalizada e irreversível, sem a possibilidade de construir um sistema de saúde, educativo, emprego, etc, que incluísse todos os cidadãos, o que significaria mais tarde ou mais cedo, um panorama de caos social e falência.

O envelhecimento da população é uma consequência natural e esperada, pelo menos durante algumas gerações até ao padrão de densidade populacional normalizar.
O grande revés desta Política, e que até serviu para fundamentar um estudo conduzido pela Academia Chinesa de Ciências Sociais, é o enorme desequilíbrio entre sexos. Conta-se que o homens excedam as mulheres em cerca de 24 milhões.
Esta não é uma consequência directa da tal Política do Filho Único, mas da tradição medíocre que persevera em alguns países onde se prefere descendência do sexo masculino. Há muitos anos, através da televisão, entravam-nos pela casa adentro imagens dos horríveis dos chamados Quartos da Morte, onde bébés, maioritariamente do sexo feminino eram deixados para morrer, para além dos incontáveis abortos selectivos. Esta prática tornou-se de tal forma um problema que o próprio Estado proibiu a realização de ecografias que revelassem o sexo do bébé.

Pois hoje, graças a estas atrocidades cometidas pelos próprios progenitores, existem os tais 24 milhões de "pequenos imperadores" - alcunha dada aos filhos únicos - sem imperatrizes.

Avança o citado estudo que se trata de um grave problema demográfico, com consequências temíveis, desde o rapto e tráfico de mulheres, e até prostituição forçada, nas regiões onde o rácio entre sexos é mais desequilibrado. Um cientista chinês aconselha o Estado Chinês a liberalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a prática da poligamia.



terça-feira, 3 de novembro de 2015

coisas de opinar: Dois novos "hábitos" que me fazem torcer o nariz.



Aproveitando a embalagem do post anterior, vou continuar a falar um pouco mais de compras, de espaços comerciais e de algumas características que não me agradam muito. Especificamente trago-vos duas inovações que me fazem franzir o sobrolho.

Talvez eu seja uma velha do restelo, mas não simpatizo nada com os novos Tpa's , (Terminais de Pagamento Automático), que vão aparecendo em algumas lojas. Estas possuem a tecnologia Contacteless e permitem efectuar pagamentos até ao valor de 20€ passando simplesmente com cartão junto do visor. Esta ideia surgiu com o intuito de diminuir o tempo gasto com pagamentos, mas este pró, na minha opinião, não é suficientemente bom para suplantar os contras.
Os contras são pelo menos dois. O primeiro relaciona-se com segurança: se não é preciso digitar código, então se perdermos ou nos for roubado o cartão quem andar com ele poderá facilmente usá-lo, mesmo com a limitação de ser a 20€ de cada vez. Pelo menos até o Banco ser avisado do extravio, o que se acontecer durante um fim de semana dá tempo mais que suficiente para haver danos consideráveis.
O segundo contra tem a ver com a gestão de conta: como o pagamento dessa forma é tão rápido e imediato, não há tempo para o sistema confirmar que existem fundos na conta associada. O sistema vai sempre aceitar o pagamento, e se a pessoa for distraída pode acabar com saldo negativo.

O segundo "hábito" é algo de que já tinha ouvido falar, mas que até este fim de semana nunca se tinha passado comigo. Lembro-me que, há anos atrás, quando me dirigia a uma loja e não havia determinado item, o funcionário consultava no sistema o stock de outras lojas e, dependendo do resultado, perguntava se o cliente preferia deslocar-se a determinada loja, ou se lhe daria mais jeito mandar vir o produto para a presente loja, sem custos associados.
Hoje em dia o protocolo é bem diferente e não me agrada. Como se já não bastasse, de cada vez que se compra algo, termos que levar, de forma mais ou menos insistente, com uma tentativa de venda de extensões de garantia do produto, quando não existe o item que se pretende no espaço onde estamos, o funcionário realmente vai consultar o stock de outras lojas, mas já não é para cordialmente nos apresentar as opções acima referidas. Agora, depois de nos informar que o produto X existe na loja B, tentam-nos convencer a pagar o produto ainda na loja A, para depois ser o cliente a ter que se deslocar até à loja B, tudo porque as empresas têm como objectivo assegurar a facturação o quanto antes.
Já ouvi histórias sobre este não ser um sistema à prova de erro, bem pelo contrário. Acho que é como diz o velho ditado: "Quem paga adiantado..."

Para mim, estas são alterações que não me agradam, e às quais não conto aderir.