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sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Um par de calduços para... #1: A "velha chata" e a distribuição de calduços.



O meu marido profecia que irei ser uma velha chata, uma daquelas muito difíceis de aturar, senão impossíveis.
Eu digo-lhe que está a ser simpático, pois já nasci assim, e é uma condição que piora exponencialmente de ano para ano.

Não há tratamento possível. É uma condição genética que herdei sobretudo do meu pai. Está-nos no sangue a incapacidade de ficarmos impassíveis, de não demonstrar, quando algo nos mexe com os nervos. Até não seria nada de especial, não fosse gigante a lista daquilo que nos enerva.

Como tal, e porque não tenho qualquer desejo de ser a pessoa que anda a distribuir brutas festinhas nas nucas de estranhos por este país fora, mais vale satisfazer este ímpeto de forma virtual e somente imaginada, através desta nova rubrica.

O primeiro par de carinhos no cachaço vão para as pessoas que, estando a transitar numa berma estreita, mesmo quando se cruzam com mais alguém, preferem continuar lado a lado, para não perder um minuto de conversa, do que se colocarem em fila indiana e cederem de forma cívica metade do passeio para quem também faz dali o seu caminho naquele momento, obrigando muitas vezes o outro peão a contorná-las pela estrada.

Encontro muitas destas. Ainda há uns dias me deparei com duas mulheres que vinham, lado a lado, na palheta, e não demonstravam qualquer intenção de se desviarem de mim. Páro mas não me movo do meu pedaço de calçada. Recuso-me a ceder todo o passeio a quem não demonstra ter problemas de idade, locomoção, ou qualquer motivo que realmente o justifique, como ir com um carrinho de bebé.
Fico ali quieta, especada, em protesto silencioso. Mentalmente ecoa "Oh minha besta, ou ganhas asas e passas por cima ou desvias-te!"


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

coisas sobre mim: Viver com dor, ou a provável necessidade de aulas de sociabilização para humanos



Sou péssima com cronologias, em ter que dar ordem temporal às coisas, dizer com acuidade há quanto foi isto ou aquilo.

Tenho 38 anos e uma dose de caruncho em cima que quase todos os dias me faz acreditar que alguém algures meteu a pata a poça, trocou os números e os registos lá no departamento das Cárites, e fez com que as três irmãs Moiras que fiam o destino de humanos e deuses me andem a confundir com alguém de 83.
Ao longo dos últimos tempos - lá está, não me peçam para quantificar, fiquemos por mais de 2 meses e menos de 1 ano - contam-se pelos dedos de uma mão os dias que passei sem qualquer dor. Todos os outros têm a presença crónica e constante dessa sombra que sente, mais ou menos, mas sempre lá, nas pernas, nas costas, nos braços...

O ponto positivo é que nunca tive tanto tema em comum para com algumas das amigas com quem me vou cruzando nas caminhadas com o Kiko, essas verdadeiramente octogenárias.

O lado negativo de viver com o ruído branco omnipresente da dor é que esta, embora tolerável e possível de ser domada, impossibilitada de ocupar o espaço central do plateau, através da presença de espírito e autodisciplina, e pronto, analgésicos de vez em quando, (gosto de pensar que quem se cruza comigo não faz a mais pálida ideia que está a receber um sorriso da parte de alguém que está com dores desde o minuto em que acordou), é acima de tudo a diminuição de tempo e atenção que temos para os outros.

É o estar a ouvir a intervenção de um vizinho na reunião de condomínio e, passado alguns minutos não captar nada do que é dito, porque o caralho do velho não vai ao cerne da questão e decide aproveitar as luzes da ribalta para uma introdução histórica ao problema desde os tempos do Marquês de Pombal; é o desligar o chat do facebook como medida preventiva porque se se ouve mais um daqueles avisos sonoros e vai-se a ver é o enésimo contacto que decide andar a partilhar daquelas caganeiras com mensagens correntes, apelos, e merdinhas do género - uma pessoa não quer andar aí a partilhar póias com quem nos manda corações; é o já não conseguir não revirar os olhos, nem deixar de bocejar, ou ficar de olhar perdido no horizonte quando as conversas são uma seca; é o deixar para mais tarde a resposta a mensagens, mails e afins; é o não atender o telefone a um familiar porque leva-se muito a sério a regra de não nos levantarmos por algo tão menor quanto um telefone, e se ainda conversámos há poucos dias, foda-se, o que é pode haver para dizer de novo em tão curto espaço de tempo, há alguma maneira simpática de dizer que devíamos agendar as conversas para de mês a mês, de dois em dois meses?!



sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

cromices #145: As pessoas são como o caviar, ou todas as moedas têm duas faces.



A minha Mãe tem vários apelidos carinhosos com que me trata. O meu favorito foi sempre, de longe, o de "bruxinha". Sem saber deste pormenor, o meu marido também me trata por um cognome muito semelhante, e a ambos respondo "bruxinha não, bruxa má da floresta, faz favor!", antes de me desmanchar a rir.

Agora lembrei-me que também gosto de "ursa na gruta" de tal forma que estamos perante um empate.
De qualquer modo, são ambos petit noms que me assentam que nem uma luva, e que uso ao peito como um crachá com um desmedido, e talvez exagerado, prazer.
Para além de lhes achar piada acho que revelam parte da minha natureza, especialmente a parte relacionada com introversão e o meu afincado gosto por passar tempo comigo própria, em casa de preferência, perdida em leituras, projectos e pensamentos ou até num estado de graça de dolce far niente.

"Credo! Mas és assim, tão... tão anti-social?!" - perguntarão. Ao que eu responderia, "tem dias". Ou melhor ainda, "tem momentos".

Nada define melhor o meu lado lunar de que a memória de quando li pela primeira vez o "Assim falou Zaratustra". Estava a meio da minha adolescência e a primeira coisa que me ocorreu foi uma inveja do personagem: "Cabrão do velho! Sortudo do caraças! Desce à aldeia só quando lhe apetece mandar uns bitaites e depois volta para a gruta, onde ninguém o chateia!"
Também quero viver numa gruta, pensava eu. É claro que esta teria que ter todos os confortos, do wc ao wi-fi.

Ou ainda uma memória de quando teria uns 3 ou 4 anos, e ia com a minha mãe às compras pela mão, e volta e meia encontrávamos uma senhora na rua, e esta insistia no "dá cá um beijinho", o que era uma autêntica maçada para mim, e eu escondia-me atrás das pernas da minha mãe. E mesmo assim o raio da mulher não se calava com a trampa do beijinho, o que resultou numa espécie de reacção pavloviana, comigo a queixar-me que não queria beijinhos e que ela era chata mal a topava no fundo da rua.
Na verdade comecei a enfadar-me tanto, mas tanto, com a insistência geral em relação a isso dos beijinhos a toda a hora e a todo o momento, que um dia passei-me dos carretos e mordi a bochecha de uma menina, depois de minutos com a minha ama, a mãe da menina e até esta a instar na coisa. E eu, truncas, toma lá! Uma espécie de grito do Ipiranga, de "deslarguem-me a braguilha!"

Não é que não gostasse ou goste de beijinhos, apenas nasci a dar valor à liberdade de os dar quando e a quem quero. Aqueles que eu poupava na rua, levava-os para casa e para sofrimento do meu pai, dava-lhos todos de uma virada. Sentava-me no seu colo, prendia os meus bracitos à volta do seu pescoço, e dizia-lhe "Papá, vou-te dar cinquenta beijos", e o desgraçado do meu pai não se livrava de mim nem um beijo antes.

Quanto aos tipos sociais eu quedo-me exactamente no meio, qual equilibrista na linha que separa a introversão da extroversão que ora pende para um lado ou para o outro.
Há quem só conheça o meu lado mais cordial, simpático, empático, sorridente, conversador, paciente e atenta ao próximo q.b.. Há momentos em que consigo ser tão faladora e maçadora como qualquer outra pessoa, e até demonstro uma comum tendência para a repetição e uma particular incidência nas piadas secas.
São os momentos em que consigo e quero canalizar a minha energia para o mundo exterior, tão genuínos e parte de mim quanto os instantes em que a minha atenção se vira para dentro, para o mundo interior, para mim mesma, e se fecha ao que vem de fora.

São faces da mesma moeda, um não existe sem o outro. Em mim, com tudo o que isso implica, não existe lado solar sem lado lunar. Quando não respeitam o meu lado lunar, a face solar eclipsa-se.

Quando tenho que interagir gosto especialmente de o fazer com a minha faceta solar. Gosto genuinamente de pessoas e é igualmente verdadeiro o sorriso que ponho na cara para todos. Existe um esforço da minha parte para dar o meu melhor nessas ligações, para prestar mesmo atenção às conversas, e demonstrar real interesse mesmo que o tópico não seja dos meus favoritos, ou que já esteja a ouvir pela segunda ou terceira vez o mesmo discurso. Obrigo-me a estar disponível, presente, a ser tão positiva quanto consiga, porque acho que é assim que tem que ser, que tanto eu como as outras pessoas merecem essa qualidade, essa intenção, aquando os nossos contactos. Não se trata de fingimento, mas de canalizar o melhor que temos para oferecer naquele determinado momento.

E há quem só me conheça assim: basicamente são as pessoas que me permitem apreciá-las como caviar, ou qualquer outra iguaria especial que preste à metáfora por se dever degustar com parcimónia, uma colherzinha de cada vez.

São as que entendem que não devem insistir em mais chamadas quando desligo a primeira, porque depois da segunda tentativa, especialmente se for de seguida, sou bem capaz de desligar o telemóvel durante uma semana. Que quando digo não ter disponibilidade para vídeo chamadas naquele momento, e voltam a insistir, fazem com que me desligue de qualquer chat por tempo indeterminado. Que quando se cruzam comigo saberão que há dias em que não dá para mais que a troca de um cumprimento, e não insistem em despejar-me um monólogo em cima, para o qual não terei naquele momento nem tempo nem paciência. Especialmente se for às 7h da manhã, por Deus! Que querendo obrigar-me a sujeitar-me à sua vontade ignorando a minha, obrigam-me a ser descortês, o que me desagrada igualmente.
São as que entendem que para pessoas como eu a existência de afectos não depende de se falar todos os dias, ou todas as semanas, ou até todos os meses. Que não querer estar sempre a conversar não é, de todo, o mesmo que estar zangado, ou doente, ou mal. É simplesmente ter uma personalidade e necessidades diferentes. O que a uns energiza e dá prazer a outros cansa.
Uma colherzinha de caviar pode ser uma iguaria, para alguns, mas se vos fizerem comer toda uma tigela de enfiada, não será mais que algo gelatinoso e salgado.







quarta-feira, 6 de julho de 2016

cromices #131: O cromo toca sempre duas vezes ou o elogio à besta



Ontem, passado um dia que começou ainda antes das 4h da manhã, depois de jantar estávamos mais mortos que vivos, prontinhos para um serão descansado e uma noite de sono reparadora.

O relógio marca 22h quando tocam à campainha.

Na verdade nem era necessário estar a pé desde madrugada para isso ser visto como um inconveniente. Quem me conhece, inclusive que visita aqui o estaminé, já sabe que se há coisa que acho maçadora é ser abordada em casa, especialmente quando se tratam de vendedores porta à porta, ou pessoas que devem pensar que o prédio tem porteiro.

Se noutros contextos sou amável e cordial, neste sou totalmente o oposto. Simplesmente por falta de paciência. De vez em quando ainda surge um ou outro momento em que penso, cá para os meus botões, que me devia esforçar um bocadinho por ser menos besta. Mas depois aparecem-me umas criaturas particulares que me fazem pensar que ser besta não é assim tão mau. Quando muito é um mal necessário.

Onde íamos? Ah sim. Pois bem, tocaram à campainha, e o cão desata a ladrar desenfreadamente como acontece sempre que tocam à porta.
Abro a janela e chamo a atenção da figura à frente da porta do prédio a quem só vejo os sapatos:

- "Sim? Faça o favor de dizer!"

O homem olha perdido para a fila de janelas.

- "Estou aqui, senhor! Boa noite. Faça o favor de dizer."

- "O senhor Fulano?"

Demorei uns segundos a reconhecer quem procurava.
- "Enganou-se na campainha. Não é aqui que mora o sr. Fulano."

Ficou a olhar para mim com cara de tacho. Suspiro.
- "Qual é a do sr. Fulano?"

- "O sr. Fulano mora no X." - Despeço-me rapidamente e ia voltar para dentro quando...

- "E qual é a campainha?"

Suspiro novamente: " Oh senhor, é a que diz X."

- "Ah, não sei qual é!"

- "Não tem que saber, fica  ... da minha. Onde tocou por engano. É só procurar."

- "Mas eu já não sei onde toquei." - lamuria-se, e eu a revirar os olhinhos, a pensar que só me faltava esta agora.

- "Oh senhor, é a campainha do lado ... na fila ....." - E ele a olhar para mim ao vez de olhar para o intercomunicador, o que me estava a dar cabo dos nervos" - "Siga as minhas indicações, campainha X na fila Y!"
Lá se dirigiu finalmente à geringonça. Volta a tocar na minha campainha, o cão desata outra vez a ladrar e eu já com vontade de largar umas caralhadas, - "Ao lado, senhor, ao lado!"

Depois cheio de lata sai-se com "Se me abrir a porta é mais fácil."

- "E o senhor por acaso sabe qual é a porta da casa do sr. Fulano?"

- "Não. Mas depois eu bato às portas."

- Olhe, sabe que mais? Continue a experimentar as campainhas". E voltei para dentro. Definitivamente. Ignorando as duas ou três vezes que aquele "senhor" ainda voltou a tocar à minha campainha.


Juro-vos que já estive mais longe de desligar a minha campainha. Silêncio absoluto. Não fosse o carteiro e a chegada de algumas encomendas...








segunda-feira, 18 de abril de 2016

cromices #125: 4 dedinhos de estupidez...


Se me desse na cabeça elaborar uma lista com as coisas que mais contribuíram para a estupidificação das massas nos últimos tempos, segundo a minha opinião é claro, confesso que me veria às aranhas para me ficar por um "top 10".

Em menos de nada ocorrem-me os "reality shows", (pelo menos aqueles onde realmente não aprende nada); o chamado "Internetês" que é a linguagem usada nos chats e sms, cuja característica é o amplo uso de abreviaturas, siglas e a omnipresença do "k", (o problema surge quando miúdos e graúdos se tornam incapazes de recordar e utilizar as grafias correctas, mesmo em cenários mais formais, e sai tudo corrido a "k" - komo, kem, kasa...); as selfies (deixam de ser engraçadas quando temos meio mundo que já não sabe aparecer numa foto com cara de gente normal, sempre a fazer beicinho, mas o pior são aquelas situações em que as pessoas se colocam a si e a outros em situações de risco para conseguirem o raio de uma foto, onde proliferam pelo mundo cenários onde drogam e maltratam animais só para o imbecil do turista tirar a puta da selfie); e claro, (tambores a rufar!), senhoras e senhores, o Acordo Ortográfico!

Se há coisa, longe de ser inócua, responsável pela morte de um par de neurónios em todas as cabeças, inclusive muitas pertencentes a gente boa e sensata foi esta coisa. Quase todos nós regredimos uns vinte pontinhos no Q.I. desde a sua implementação.

E não, nunca me irei habituar a esta atrocidade. Aliás, como posso, se me basta digitar algo como "humidade" no Google e este, armado aos cágados, quer-me corrigir para "umidade"!!!!
Se tivesse forma física tinha levado um par de tabefes, juro!

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Vida de cão: dias sem "acidentes" = zero.


Por acidentes entenda-se amoks.

Faz-me lembrar uma qualquer cena dos Simpsons, em que o Homer faz uma das suas na central nuclear, e alguém com um ar resignado apaga o registo de "dias sem acidentes" no quadro de ardósia para dar início a uma nova contagem.

Há manhãs em que acordar com as galinhas custa horrores. Hoje parecia que as pálpebras estavam coladas com super cola 3.
Para pessoa para quem o ritmo madrugador é contranatura, verdade seja dita, nunca esperei vivenciar tantas vezes o extraordinário milagre que é acordar cedo com energia q.b. e uma disposição menos tenebrosa.
Mas, tal não seria considerado milagre se não existissem manhãs ruins, não é?!

Hoje foi uma espécie de tempestade perfeita: má disposição, coordenação motora e verbal abaixo do mínimo, muito sono e cansaço, o ter que andar a correr atrás do cão pela casa para lhe enfiar o casaco e o peitoral e para lhe prender a trela, o ser um pouco mais tarde que o costume, e o S. Pedro e o Murphy a ajudarem à festa.

Se o passeio tivesse corrido como esperado, 15/ 20 minutos teriam sido mais que suficientes para cheirar todos os canteiros do percurso, fazer muito chichis, largar o #2 e ainda dar uma corridinha, com a calma habitual das manhãs, para chegar a casa, lavar-lhe as patas e tomarmos o pequeno-almoço em família.
Durante o resto do dia há mais tempo e oportunidades para caminhadas mais longas.

Só que não.
Como costumo sair mais cedo de casa já não me lembrava que, quanto mais o ponteiro se aproxima das 8 da matina, maior o movimento nas ruas, inclusive mais donos e cães.
E se até se pode considerar salutar a interacção com a primeira meia dúzia, tudo e todos que aparecem em diante são um estorvo, especialmente quando a janela temporal é limitada, e o meu puto fica demasiado excitado e muito mais interessado em farejar o rasto de todos os canídeos ao invés de fazer as necessidades.

Respiro fundo e penso que só mais cinco minutinhos para o puto acalmar, e retomar a concentração no passeio e no que tem que fazer. E pimbas, mais um cão, e outro, e outro ainda.
Muita excitação, nada de cócós.
E eu a entrar em modo Hulk, a vociferar asneiras em catadupa, a sentir a paciência a abandonar-me como se tivesse uma artéria aberta. A maldizer o facto de ter saído de casa mais tarde. A mandar vir com o Kiko para ver se ele atina.

Aqueles minutos extra na cama não valem o preço.



quinta-feira, 24 de março de 2016

coisas do mau feitio: A porteira não está.



Trabalhar em casa tem os seus prós e contras como qualquer outra ocupação.

Um dos maiores contras é que, a partir do momento que as pessoas notam que estamos sempre por casa, confundem esse facto com total disponibilidade e ocorre-lhes tomar certas liberdades. Pelo menos até ao momento em que lhes metemos o travão, de uma forma bastante indelicada. Há ocasiões em que muita gente só percebe "indelicadês".

Para ilustrar o facto ocorrem-me duas situações. Ambas passadas anos atrás.

Quando estava responsável pela administração de condomínio uma vizinha ganhou o hábito de me vir bater à porta bem cedo pela manhã. E insistia na campainha até eu não ter outra opção senão ir à porta, estremunhada e em pijama.
Basicamente para relatar que a senhora que trata da limpeza das áreas comuns tinha faltado em determinado dia, ou que não passava o pano aqui e ali, ou que demorava menos tempo que o suposto. Ou seja, nada que não pudesse esperar por uma hora mais condigna, ou como mais tarde lhe referi, (a esta senhora e a outra), são temas que deveriam expor nas reuniões. Caso porventura se dignassem a comparecer nas mesmas.

Como a paciência não é eterna, passados alguns dias deste ritual passei-me. Abri a porta com má cara, e perguntei-lhe secamente qual era o assunto. Quando começou a enunciar outra vez a questão da mulher a dias passei-me. Soltei um "Foda-se! E vem acordar-me por esta merda? Brincamos ou quê?!"

Remédio santo.

Para evitar episódios futuros abordei a questão na reunião seguinte, lembrando a todos que ali é a minha casa, não é um escritório. E mesmo que fosse, teriam que respeitar horários. Que estava disponível, como sempre, mas que usassem de bom senso.

A segunda situação tem a ver com a campainha.
Todos os dias era uma roda viva: desde o rapaz que vem colocar publicidade nas caixas de correio, ao carteiro, às senhoras dos panfletos religiosos, aos vendedores porta a porta, aos funcionários que vêm fazer a leitura dos contadores... Uma romaria. E todos tocavam à minha campainha.
Começou a juntar-se à festa os miúdos que não têm paciência e tocam numa resma de campainhas, e outras pessoas.

A minha paciência atingiu o limite quando ia à janela ver quem era, (ainda por cima o intercomunicador estava avariado), e eram pessoas que querendo falar com outro qualquer vizinho, se este tardava a responder ou não dava sinal, tocavam para outras pessoas. Leia-se, para mim.

Certo dia, de mau humor por me terem estragado a sesta e pela repetição da cena, assomo à janela e recuso-me a abrir-lhes a porta. Digo-lhes que se é com o sr. X que querem tratar, é só na campainha da sua casa que devem tocar. Que não gosto de ser incomodada, que me acordaram, e que o prédio não tem porteira. E mesmo que tivesse não é aqui que mora.


sábado, 5 de março de 2016

cromices #118: Hoje a culpa foi minha.


Pois é. Eu, a "senhora coisinha" com barulhos e coiso tal, hoje fui a vizinha barulhenta, a uma hora pouco santa, de tão matutina.
Pois, todos os panos ganham nódoa. A vida é mesmo assim. Mea culpa, as minhas desculpas e coiso tal.

Em minha defesa, já tinha sido torturada, antes das galinhas acordarem, com a luz do tecto, mais do que uma vez. Por mais que eu avise que existem mais candeeiros no quarto, a coisa não tende a pegar.
E como também há uma espécie de alergia em fechar a porta por parte do meu excelso marido, por mais que eu peça em todos os tons que conheço que a mantenha fechada, para que o cão não entre de rompante quarto adentro e venha saltar em cima de mim ou fazer uma qualquer judiaria, acordando-me com um sobressalto do caraças, (coisa que se repetiu por diversas vezes), a minha pessoa em estado zombie, e já a precisar de um reforço de trifene, não foi capaz de nada melhor que saltar da cama, articular uma catadupa de asneiras e fechar a porta com um imenso e incomodativo estrondo.

Mais uma vez, as minhas desculpas. A dobrar, porque uma coisa destas pede alguma vingança, e parte de mim acha que amanhã, que é dia do meu adorado marido ficar na cama pelo tempo que desejar, é uma excelente oportunidade para treinar bateria com os tachos.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Desejo de ano novo #3: Direccionar a minha raiva a quem a merece.



Ontem à noite chateei-me com o Kiko. Hoje de manhãzinha cedo voltei a chatear-me com o Kiko.

E se há coisa que eu não gosto mesmo nada é de me chatear com ele. É um bom cão, adoro-o e odeio que hajam momentos em que demonstre algo menos nobre que esse amor que lhe tenho.

Mas é inevitável passar-me dos carretos. Assim como é inevitável ficar triste e de consciência pesada por tê-lo feito. Porque embora me expresse emocionalmente com a mesma subtileza que o Hulk, até sou bastante racional e sei que feitas as contas, se não fossem as pessoas não teria que me chatear com o meu cão nem um décimo das vezes.

Ele não tem a culpa que as pessoas sejam porcas. Que as ruas estejam minadas de dejectos caninos, lixo de toda a espécie e restos de comida. Que são tudo coisas que o atraem pelo olfacto e que ele quer explorar. A ele, não lhe passa pela cabeça, que não deve meter tal objecto na boca porque é cortante, que deve resistir a ir aos restos de comida que alguém deixa supostamente para os animais abandonados, mas que não se quer dar ao trabalho de os deitar no lixo após algum tempo e lá ficam meses.
Não entendo esta gente que se acha muito solidária e generosa por deixar restos na rua para os animais, mas que, por deixar a coisa a meio e nunca mais se ralarem com os saquinhos que deixam esquecidos pelas ruas, podem muito bem ser os grandes causadores do envenenamento de um qualquer animal. Porque senhores, caso não saibam, a comida estraga-se e torna-se imprópria para consumo! Imaginem que bem deve fazer a um qualquer ser vivo, um esparguete à bolonhesa há meses na rua!
Sim, há que matar a sede e a fome dos animais errantes. É um dever moral, e um acto de generosidade e amor com o próximo, mas há formas correctas de o fazer.

Não fossem as pessoas com os seus hábitos, o seu lixo, os seus animais à solta, os nossos passeios seriam um deleite. Bastaria um puxão ocasional pela trela para lembrar o Kiko que não deve ir para a estrada ao invés dos mil e quinhentos a que sou obrigada para que não abocanhe uma qualquer porcaria. Que inevitavelmente ele acabará por ser bem sucedido, e acabarei, como esta manhã, com os dedos na sua boca, a berrar-lhe que largue, com um nó na garganta e lágrimas nos olhos porque o que é demais também cansa, e há dias que estamos assim e pronto.

Acho que após um ano disto, 2016 será o ano em que perderei totalmente as estribeiras e a vergonha e começarei a interpelar as pessoas quando apanhar alguém em flagrante numa destas situações.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

cromices #100: Ah, o espírito natalício, essa coisa linda que bate forte mas passa rápido!



Todos os anos, de uma maneira ou de outra, com mais ou menos intensidade, sinto-me a ficar imbuída dessa coisa que é o espírito natalício.
Não sei se convosco se passa de maneira igual, mas para mim é um estado que altera a minha percepção do mundo. Há uma maior gratidão e apreço pelas coisas de todos os dias, pelas pessoas de todos os dias. Uma maior tolerância, empatia, alegria... É uma boa vibe.

E eu noto quando estou sob o efeito desse estado colectivo e só lamento ser efémero.

Hoje de manhã notei que o efeito já tinha passado.

O Kiko deu sinal para ir à rua. Olho pela janela e ainda estava escuro que nem breu, as luzes acesas. E lá fui eu num registo mal humorado, próprio da gaja ursa sem pequeno-almoço tomado.

E, honestamente tive saudades de mim mesma sob o efeito do emplastro natalício. De ir com o cão à rua igualmente cedo, com um sorriso de orelha a orelha, a trautear o White Winter Hymnal e a achar que, aquele frio cortante que se entranhava nos ossos era revigorante, e que sabe bem acordar assim.


Volta Natal!

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

coisas que me irritam #18: "Tire só fotografias, deixe apenas pegadas"



Não sei dizer há quantos anos ouvi pela primeira vez este slogan ou uma qualquer variante do mesmo, criado com o intuito de desenvolver na público uma maior consciência ambiental, um maior civismo no usufruto dos espaços públicos, especialmente dos cenários naturais.
Acima de tudo sei dizer que é uma mensagem que ressoou em mim e tornou-se parte intrínseca da minha conduta.

Acho que só se vestissem a minha pele por momentos é que perceberiam com exactidão o quanto me deixa desagradada encontrar lixo por todo o lado.

Por querermos providenciar a melhor vida que nos for possível ao Kiko, levamo-lo com frequência a passear fora da nossa localidade. Porque os passeios à trela pelas ruas não são suficientes para que este gaste as suas energias, porque o seu ar de felicidade é tremendo quando lhe damos a oportunidade de correr solto, porque o lixo que as pessoas deixam pelas ruas tornam-nos prisioneiros, forçados a uma rotina nada prazenteira em que temos que ir híper alertas a tudo o que se encontra no pavimento, a dizer "não" quinhentas vezes, a desviarmo-nos, a considerar que certas ruas são intransitáveis de tão porcas. É insatisfatório tanto para nós como para o cão.

Antes de começar a época balnear corríamos algumas praias. A favorita do marido era a de Magoito, também pelo facto de não ser imediato o acesso ao estacionamento e à estrada o que se tornava mais seguro. Cheguei a deitar alguns anzóis no lixo que encontrei na areia. Pelo menos aqueles foram apanhados por mim e não por um animal ou uma criança. Não seria preciso muito mais para se magoarem.
No dia em que vimos uma seringa no areal agarrámos no Kiko e viemos embora. Eu danada.

Começámos a passar mais tempo no pinhal de Janas, perfeitamente satisfeitos com o cenário. Pelo menos, durante uns tempos. Havia algum lixo, especialmente junto de algumas rampas improvisadas para a prática de motocross, mas habituámo-nos a evitar esses pontos. O puto podia correr a seu bel-prazer, roer todos os paus que lhe desse na gana, e como raramente víamos lá vivalma, até eu começava a conseguir descontrair um pouco mais em cada visita.
Ainda por cima, numas das casas que existem por lá, vive uma pequena matilha de cães que se tornaram amigos do Kiko, o que fazia daquele passeio também uma oportunidade para a socialização e a brincadeira com outros da sua espécie.

Com a chegada do Verão este espaço começou a ser procurado para picnics e afins. Começaram a proliferar os restos de comida, as latas vazias, vidros de garrafas. Se os primeiros podem originar uma intoxicação a qualquer animal, inclusive à fauna local, os segundos podem dar origem a ferimentos e até incêndios.

Um dia, o Kiko que tem um olfacto super apurado, deu com um cheiro qualquer e enfiou-se para dentro do mato. Quase uma centena de metros à frente demos com ele a cheirar um saco de plástico transparente cheio de coisas sangrentas que não consegui identificar. Pelo facto de estar escondido no chão junto a uma árvore, debaixo da vegetação rasteira, não nos pareceu que fosse coisa boa. No momento ocorreu-me que pudesse ser parte de uma macumba, ou algo assim.
Enojados sentimo-nos gratos pelo facto do miúdo não ter furado o saco e entrado em contacto com o sangue. Garanto-vos que teria corrido para uma consulta veterinária de urgência se assim fosse, tal o nojo que aquilo que nos meteu.
Foi a última vez que lá metemos os pés.

Neste momento o local dos nossos passeios são as falésias que ligam duas praias, cuja localização não vou identificar enquanto este destino nos servir.
Só vos digo que até numa falésia se encontram cacos de garrafas de cerveja! Pardon my french mas, puta que os pariu a todos!

É tão difícil perceber que se têm mãozinhas para as levar para lá, o mais decente a fazer seria levá-las de lá?! Não deixar vestígio algum que não as pegadas!

Aos que ainda não perceberam esta noção, que é tão básica ao nível do senso comum, do civismo, da decência, e ao mesmo tempo tão essencial, desejo-vos que de cada vez que poluírem andem uma semana a cagar vidrinhos!


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

cromices #84: É por estas e por outras que hei-de ir para o inferno



Marido e Kiko foram dar uma volta.
Mesmo após alguma insistência, hoje preferi ficar por casa.

"Ficas em casa a fazer o quê?!" - pergunta-me ele.

Respondi-lhe que ficar em casa é uma actividade demasiado complexa para descrever.
Na realidade, isto era a única que me ocorria: Sozinha em casa! Yeah! Boa!

Eu sei: sou má como as cobras. Péssima! Péssima!



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Peão vs Automobilista





Gosto muito de caminhar, da mesma forma que há quem seja apaixonado por andar de bicicleta, ou conduzir, ou surfar, ou whatever...


Tal faz com que esteja frequentemente num cenário peão vs automobilista.


Tenho uma mania, que é de tal forma parte de mim que o gesto sai naturalmente: sorrio e aceno levemente, em forma de agradecimento, aos condutores que páram nas passadeiras que atravesso.


Sim, já me disseram que não tenho que o fazer, que é obrigatório parar, e tudo isso.
Também já me perguntaram por que o fazia.


A resposta é simples. É de conhecimento geral que parar nas passadeiras pode ser obrigatório, e quem não o faz pode sujeitar-se a uma sanção. Mas por mais leis que existam, agir bem ou agir mal será sempre uma escolha pessoal.
Não imagino melhor forma de fomentar as boas escolhas que reconhecer e recompensar quem as faz.
Da minha parte, enquanto pedestre, nada mais posso fazer do que ser gentil.


E gosto muito do facto que quase todos aqueles com que me cruzo retribuem o aceno e o sorriso!




E ao contrário, como ajo?




Digamos que, na época em que tinha que atravessar a 24 de Julho todos os dias, gota a gota, o copo foi-se enchendo com as más atitudes de tantos e tantos condutores. Tanta desatenção, falta de cuidado e respeito para com os peões, mesmo numa passadeira, e com o sinal vermelho!


Um dia o copo transbordou.
Um veículo de alta cilindrada vinha de tal forma depressa, que ignorou a sinalização, e ia albarroando um grupo de pessoas que naquele momento atravessava na passadeira.
Travou a fundo, ficando a meio da mesma e a escassos centímetros de mim.


Com o coração na boca, não fui de modas. Peguei no chapéu de chuva com ambas as mãos e desatei a bater no capot, a vociferar como estava farta daquela merda, que todo o santo dia era a mesma coisa, os mesmo imbecis, perante o olhar perplexo do condutor.


Depois segui caminho. E sim, estava muito mais aliviada. O facto de ser um carro xpto também ajudou à terapia.



quinta-feira, 10 de julho de 2014

Tratamento vip





Trabalhei diversas vezes no atendimento ao público.
O meu primeiro "salário" ganhei-o, ainda miúda, na companhia de uma amiga e colega de liceu, a fazer embrulhos durante umas férias de Natal, no velhinho Jumbo de Cascais.


Foram, sem dúvida, uns dias bastante preenchidos e ricos em experiências: discuti com um segurança que apanhei a ser mal-educado e arrogante com uma funcionária da limpeza com idade para ser sua mãe, discuti com uma das nossas "responsáveis" que adorava armar-se ao pingarelho, tive pedidos muito estranhos por parte de clientes, como embrulhar bicicletas e tábuas de engomar, e claro, um dos maiores desafios, lidar com os "vip's", (ênfase nas aspas).




Orgulho-me tanto daquela miúda de 16 anos, por não ter sido mais uma entre tantos, no atendimento ao público, a cair no erro crasso de mudar de atitude conforme o cliente.


Verdade seja dita, pessoas do atendimento ao público, é tão feio, tão pouco profissional, sinal de tão fraca personalidade quando mostram preferência, quando rejubilam na presença de um qualquer menos anónimo, e se desdobram em sorrisos e salamaleques.
A figura ridícula de quem o faz só serve para lhes alimentar o ego e continuar a ilusão de que o mundo lhes deve tratamento especial.


Não me refiro a uma atençãozinha, um pormenor carinhoso, um sorriso mais aberto ou um discreto elogio se se trata de alguém cujo trabalho admiramos. Critico sim, aqueles que só exibem a sua melhor performance profissional na presença dos "tais", e os "tais" que esperam e exigem que tal aconteça.




O meu "tratamento especial" era, naquela ocasião, reservado sobretudo às avós. As que esperavam pela sua vez em silêncio, e isso é de valor, porque, para mim, continua a não haver nada mais parecido com uma multidão esfomeada de zombies do que pessoas às compras no Natal. As que compravam pacotinhos de meias para os netos. As sem caganças. A essas esforçava-me por lhes fazer um embrulho absolutamente perfeito, embora me tenha esforçado sempre para com todos os outros.


Lembro-me de um caso particular.

Uma senhora que, chegando com um carrinho cheio, à meia noite e meia, hora de encerramento, insistia em ser atendida. Justificou-se com um "sabe quem eu sou?!".


Decidi alinhar na brincadeira e dar-lhe corda, enquanto continuava a arrumar o meu estaminé de embrulhos, para me ir embora.


- "Sou prima do Mário Soares!"


Abri o sorriso e estendi-lhe a mão em forma de cumprimento:


- "Muito gosto. Eu sou a Ana".


Retribuiu-me o sorriso até ao momento em que a informei, que até poderia ser prima do Papa, que isso não faria o Jumbo encerrar mais tarde.


Ofereci-lhe todo o papel de embrulho e fita que conseguisse transportar. Recusou. Informei-a que poderia voltar no dia seguinte, que seria atendida com todo o préstimo. Nada.  Queria à força toda que ficasse ali à sua disposição, independentemente da hora. Deixei-a a falar sozinha.


No dia seguinte fui chamada a um gabinete. Tinha feito queixa de mim. Sorri. Soube-me a medalha de mérito, daquelas que os escoteiros recebem por boas prestações.









quarta-feira, 4 de junho de 2014

Estás na minha lista negra!





"O Código do Trabalho refere no seu artigo 22.º que "nenhum trabalhador ou candidato a emprego pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão, nomeadamente, de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência, doença crónica, nacionalidade, origem étnica, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical"."


retirado daqui.




Pessoa X passa à porta da Pastelaria G. em Sintra, e repara no papel afixado à porta que informa estarem à procura de colaborador.
X, que trabalhou sempre, até ao momento em que a empresa a que dedicou toda a sua vida profissional, encerrou portas.
A pessoa X tem a seu favor a experiência profissional, o know how, a reputação imaculada, construída ao longo da vida, de boa profissional, competente, de confiança.
X mantém uma imagem cuidada.


X entra no estabelecimento, e pede à empregada de balcão mais informações.
A empregada avisa que a patroa não está, mas adianta que só estão a aceitar "raparigas novas".




A Pastelaria G. nunca mais na vida irá ver um cêntimo meu.





sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Peculiar...


Eu tenho um sentido de humor, chamemos-lhe, peculiar...

- Peculiar, para a casota, que já assustou os senhores!





(coitado deste meu sentido de humor, destinado a brincar sozinho tantas vezes)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

coisas do mau feitio #2: como lidar com chicos-espertos



Chico-esperto: nome masculino; indivíduo que procura o benefício ou a vantagem pessoal, mesmo que para tal prejudique alguém.

in dicionário da Língua Portuguesa

degrassi


Uma das proprietárias do último piso queixava-se de infiltrações, em especial no espaço que havia sido transformado em petit studio.

No primeiro contacto com o profissional de obras, foi com um ar grave que lhe pedi um diagnóstico, e foi com a mesma gravidade que esperei que ele descesse do telhado, (meeeeedo!), como se estivesse num consultório médico.
Para consternação geral, a situação parecia má. Foi destinada uma soma generosa para a resolução do problema.

Passado meses, quando o "profissional" foi meter mãos à obra no telhado, concluiu que o problema era, afinal, muito mais simples de solucionar. As tais infiltrações ocorriam, porque aquando a construção do prédio, talvez tenham decidido poupar no material, e havia espaçamento entre as telhas, o que tem, mais ou menos, o mesmo efeito que usar uma peneira como chapéu de chuva.
Isso, ou quem as assentou percebia menos de construção civil do que eu!

Mal havia tido tempo para suspirar de alívio, quando o "profissional" decide armar-se em chico-esperto, numa de tentar a sua sorte.  Pelos vistos, a quantia destinada acordada já não era suficiente.

Mais dinheiro estava fora de questão. Assim julgavam os condóminos, e assim julgava eu, que para além de nos achar generosos q.b., já não tinha sequer uma migalha de pachorra para gastar em novas cobranças e voltinhas.

Sentei-me em frente ao computador e pesquisei. Achava muito estranho, que sendo o problema muito mais simples do que o previsto, a sua resolução fosse mais dispendiosa.

Informei-me sobre como se arranja telhados, o custo dos materiais, o custo da mão de obra por hora. Muni-me do meu bloco de notas, uma calculadora. Levei a minha querida e sempre disponível vizinha do lado, para mais uma vez servir de testemunha, e saímos ao encontro do "chico-esperto".

Sorri-lhe e comecei por lhe perguntar qual era o estado do telhado, qual o tamanho da secção a precisar de arranjo, em que consistia o mesmo. Quanto tempo demoraria, e os materiais necessários. Quantas pessoas estariam envolvidas no arranjo.

Ia apontando todas as respostas no meu bloquinho: somente uma uma área média precisaria de recolocação de telhas.
Não era nada de complicado pelos vistos:
Levantar as telhas daquela secção, comprar mais algumas, e recolocá-las com método e sem intervalos, como se quer. É trabalho para dois dias e uma só pessoa.

Continuei o meu interrogatório, segundo o olhar atento e silencioso da minha vizinha.

- Quantas telhas precisamos? "De tantas."
- Tem a certeza que não me precisa de mais nada? "Sim".
- É verdade que um pedreiro experiente ganha X por hora? "É".
- Confirma que uma telha custa cerca de X? "Mais coisa menos coisa, dá isso".

Durante dois minutinhos ficaram a olhar para mim, enquanto eu teclava na calculadora, algo enérgica.



Sorri. Tinha o meu veredicto.

- Olhe, aumentei o número de telhas que me disse serem necessárias, aumentei também o valor por hora de trabalho, assim como o tempo que me disse ser necessário. Fui generosa na minha estimativa, e o meu orçamento fica em dois terços da quantia que tínhamos acordado antes, e que você me disse não ser suficiente. Em que ficamos?


E assim se caçou um chico-esperto!














chico-esperto
nome masculino
indivíduo que procura o benefício ou a vantagem pessoal, mesmo que para tal prejudique alguém


chico-esperto In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-07-17].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/chico-esperto>.
chico-esperto
nome masculino
indivíduo que procura o benefício ou a vantagem pessoal, mesmo que para tal prejudique alguém


chico-esperto In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-07-17].
Disponível na www: <URL: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/chico-esperto>.

terça-feira, 16 de julho de 2013

coisas do mau feitio #1: como lidar com engraçadinhos



Na época em que era responsável pela administração do condomínio, (experiência sobre a qual já partilhei convosco um pouco), aconteceram diversos episódios que, de tão inusitados, ficaram-me na memória.

Um desses momentos prevalece como umas das mais bizarras e cómicas conversas telefónicas da minha vida.

Andava eu há semanas à caça, tanto da identidade como paradeiro, de um senhor proprietário de uma das garagens, quando finalmente me chegou às mãos um nome e um número de telefone.


sodahead

Eu - Estou sim?

O cromo - Sim?

Eu - Boa tarde! Daqui fala X. O senhor não me conhece pessoalmente, mas sou administradora do condomínio onde o senhor tem uma garagem.

O cromo - Ah sim! Como vai? Ora diga.

Eu - Bem, obrigada. Lamento só contactá-lo agora, mas o sr não actualizou os seus dados junto do condomínio...

O cromo - ...

Eu - Mas adiante! É para avisá-lo que o condomínio está em obras, pinturas e alguns arranjos. A fachada vai ser pintada e isso incluí, como é óbvio, os portões das garagens. (blá blá blá)

O cromo - (com um tom de voz mais cerrado e muito menos cordial) Então, quanto é que me vão pedir?

Eu - Ora bem, contas feitas através de permilagens, tudo como vem previsto na lei, a sua parte é X.

O cromo - Bolas! Mas você espera que eu vá para o Parque Eduardo VII?!

Eu - (apanhada de surpresa) Pois... Sabe, o que o você faz nos tempos livres não me diz respeito! Cada um sabe de si!
E esteja descansado que pelo valor da pintura de um mísero portão nem nos vamos dar ao trabalho de o processar. Mas, garanto-lhe, que se não pagar até ao dia X, o portão da sua garagem ficará por pintar, e todos ficarão a saber porquê!


 Nota: nenhum portão ficou por pintar ;)