sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
Um par de calduços para... #1: A "velha chata" e a distribuição de calduços.
O meu marido profecia que irei ser uma velha chata, uma daquelas muito difíceis de aturar, senão impossíveis.
Eu digo-lhe que está a ser simpático, pois já nasci assim, e é uma condição que piora exponencialmente de ano para ano.
Não há tratamento possível. É uma condição genética que herdei sobretudo do meu pai. Está-nos no sangue a incapacidade de ficarmos impassíveis, de não demonstrar, quando algo nos mexe com os nervos. Até não seria nada de especial, não fosse gigante a lista daquilo que nos enerva.
Como tal, e porque não tenho qualquer desejo de ser a pessoa que anda a distribuir brutas festinhas nas nucas de estranhos por este país fora, mais vale satisfazer este ímpeto de forma virtual e somente imaginada, através desta nova rubrica.
O primeiro par de carinhos no cachaço vão para as pessoas que, estando a transitar numa berma estreita, mesmo quando se cruzam com mais alguém, preferem continuar lado a lado, para não perder um minuto de conversa, do que se colocarem em fila indiana e cederem de forma cívica metade do passeio para quem também faz dali o seu caminho naquele momento, obrigando muitas vezes o outro peão a contorná-las pela estrada.
Encontro muitas destas. Ainda há uns dias me deparei com duas mulheres que vinham, lado a lado, na palheta, e não demonstravam qualquer intenção de se desviarem de mim. Páro mas não me movo do meu pedaço de calçada. Recuso-me a ceder todo o passeio a quem não demonstra ter problemas de idade, locomoção, ou qualquer motivo que realmente o justifique, como ir com um carrinho de bebé.
Fico ali quieta, especada, em protesto silencioso. Mentalmente ecoa "Oh minha besta, ou ganhas asas e passas por cima ou desvias-te!"
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