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segunda-feira, 17 de agosto de 2015
coisas de pensar: Comissão para a Protecção de Idosos
Pensar sobre o envelhecimento causa-me uma sensação agridoce.
Se, por um lado tento manter bem presente a noção que envelhecer é um privilégio. Que verdadeiramente é uma bonança ter nascido em Portugal, país onde a esperança média de vida alcança os 80 anos, ao contrário por exemplo da Serra Leoa onde o mesmo indicador aponta para os 38 anos. Que triste mesmo é quando a vida é curta.
O reverso da situação faz-me pensar que mesmo não havendo comparação possível com as abomináveis realidades de outros pontos do globo, não deixa de ser algo assustador envelhecer por aqui. Parafraseando: "este país não é para velhos".
O que não deixa de ser irónico, pois com a baixa taxa de natalidade e uma população cada vez mais envelhecida, no espaço de um par de gerações este será, nada mais nada menos que, um país de velhos.
Devido à petição, subscrita por mais de 5000 cidadãos, debateu-se no Parlamento a criação de uma Comissão para a Protecção de Idosos. Infelizmente é algo que ficará, por enquanto, em banho-maria.
Grassam pelos media as notícias sobre o tema. Já deu para levantar levemente o véu sobre a triste condição de muitos dos nossos idosos. Da solidão, das carências, dos familiares mal formados e miseráveis que lhes faltam com o necessário, capazes no entanto de lhes ficar com as reformas.
E penso: que pena perdermos com o passar dos anos as capacidades do corpo e da mente, ver a saúde minada e ficarmos à mercê de quem não sabemos ser ou não fiável. Seria tão melhor se fosse possível manter as mesmas capacidades de um corpo de 30 ou 40 anos até ao último dia da nossa vida. Chegar lá com autonomia e saúde.
No futuro voltarei a este tema. Hoje, gosto de pensar que se deu um pequeno primeiro passo para a construção de uma realidade mais compassiva, digna, justa para os nossos idosos. Uma realidade que, se tivermos sorte, pois envelhecer é um privilégio, será também a nossa.
sexta-feira, 22 de maio de 2015
coisas de opinar: shame on them, shame on us!
Agora que os ânimos acalmaram um pouco em relação aos casos de violência juvenil que têm incendiado os media e a opinião pública nos últimos tempos, acho que é a altura mais correcta para partilhar a minha opinião.
Confesso que não é a primeira vez que me sento aqui a debitar caracteres sobre este tema. Em todas as outras vezes optei por apagar os rascunhos. Se a maturidade me serve de algo é, de me dar por vezes, a lucidez necessária para não tornar público um ponto de vista sobre qualquer matéria que não seja mais que um subproduto de fígados inflamados.
É que a quente também eu solto desabafos como "mata e esfola, faz e acontece". Quando na realidade, descascadas todas essas camadas emotivas, reacionárias, tenho é pena dos miúdos e, consequentemente, de todos nós.
É que, independentemente da época, torna-se mais fácil para qualquer miúdo tomar decisões mais decentes na vida se estiver rodeado de exemplos e influências positivas. É que deixá-los ao deus dará nunca na história do mundo trará bons resultados.
É da natureza de todas as crianças e jovens deixarem-se influenciar por tudo o que existe ao seu redor, seja bom ou mau. São como esponjas, como macaquinhos de imitação. Saber separar o trigo do joio não é uma competência inata, tem de ser ensinada. O que requer tempo, amor, positivismo, paciência, disciplina, know how, consistência e muita dedicação. Ênfase em todos os itens, pois todos são igualmente necessários a uma educação de valor.
Os bons modelos não nascem simplesmente. São fruto de uma labuta árdua, de um investimento constante por parte de todos os envolvidos na sua educação.
Quando aparece uma qualquer notícia em redor do comportamento de um qualquer jovem, o alvo mais óbvio de todas as críticas são os pais. Para além de ser natural, pois são estes os principais educadores, os responsáveis óbvios pela criatura, etc, quase sempre a culpa e as críticas são merecidas.
Mas a culpa não pode morrer solteira, como diz o ditado. Porque, como diz outro ditado, "é necessária toda uma aldeia para criar uma criança". E, se por um momento tirarmos as palas dos olhos saberemos que quota parte da responsabilidade de existirem por aí, em cada vez maior grau e número, membros desta nova geração que nos fazem temer o futuro, e até pensar, por sombrios momentos, que alguns mais valiam não ter nascido sequer, não deve somente pesar nas costas dos progenitores, por mais horrorosos que sejam, mas dividida por todos nós.
Se tivermos que apontar o dedo, (e devemos fazê-lo não simplesmente como exercício de culpa, mas sim com o propósito de diagnóstico como caminho para a cura), devemos passar dos pais para as escolas e todas as pessoas que nestas trabalham.
Porque se é verdade que a educação deve começar em casa, que os principais modelos serão sempre os pais e os familiares que convivem com os jovens, esta deve ser continuamente trabalhada em todos os locais e pessoas que façam parte da sua vida.
E se o horário escolar ocupa tanto tempo, tantas horas diárias quanto um full time, (chega a significar que por vezes os miúdos passam mais tempo na escola do que em ambiente familiar), com que direito é que os professores e o restante pessoal dito da Educação lavam as mãos feito Pôncio Pilatos e simplesmente se descartam de toda e qualquer responsabilidade nesta matéria?!
Pois eu digo que não devem. E por poderem fazer o que não devem é que as escolas, principalmente as públicas, são um reino do caos, onde ao invés de um ambiente seguro onde os pais podem enviar os filhos para aprenderem, abundam violência, drogas, álcool, e até sexo. E não, não estou a exagerar nem um pouco!
É da também da natureza de qualquer jovem testar os adultos, ir puxando a corda como se diz, verificar constantemente os limites, ver até onde o deixam ir. Sublinho que são todos assim, independentemente do ambiente e cultura familiar, estatuto sócio-económico, etc, ou será que já nos esquecemos que também já fomos miúdos?!
Não há pior influência possível para a formação de um jovem que estar inserido num ambiente onde não é controlado, nem chamado à atenção nem disciplinado. Onde tem a liberdade de passar de pequenas a grandes asneiras sem qualquer sanção ou travão. Dito assim parece que enviamos as nossas crianças directamente para serem instruídas por presos em estabelecimentos prisionais, mas estou mesmo a descrever as nossas escolas.
Alguns que me poderão ler, pensarão talvez, "Ah e tal, é verdadeiramente uma pena, mas eu cá tenho o puto no privado."
Digamos que a dimuição drástica da qualidade de um sistema público de ensino que já foi considerado um dos melhores do mundo, (se continuar a ser, digam-me que vou já ali cortar os pulsos!) - a sério, que mania esta a de foder o que temos de melhorzinho, pá! - levou muito boa gente a meter os putos em colégios privados, (nada contra, embora acredite que todas escolas, públicas ou privadas, devam primar pela excelência), o que levou a um boom deste sector porque muita gente, (muitos com mais vocação para o negócio do que propriamente para o ensino e a educação), a achar que estavam perante uma fantástica oportunidade, uma galinha dos ovos de ouro. Em resumo, nem os privados continuam a ser o que eram! Outros tempos, senhores, outros tempos!
Com estas linhas corro o risco de ser tremendamente injusta, (bem o sei!), para com todos aqueles que dão tudo por tudo na sua profissão relacionada com a Educação, com os putos que não descarrilam mesmo sob pressão dos seus pares, para com os pais que realmente se esforçam e até os estranhos que decidem não fechar os olhos, que se envolvem e intercedem. Saibam que vos tenho reconhecimento, mas com meiguices não vamos lá.
Casco na escolas e profissionais da Educação porque sinto que o posso e devo fazer com base na minha experiência pessoal.
Durante o meu percurso escolar passei pelo ensino privado e público. A escola mais exemplar por onde passei foi um colégio de freiras, onde fiz o 5º e o 6º ano, que embora fosse público só tinha vagas para 50 alunos.
Lá não existiam furos - se alguma professora faltasse, obrigatoriamente avisava e outra ocuparia o seu lugar.
Lá existiam horários para tudo: para o lanche, para o recreio, até para as idas ao wc ou atravessar a estrada no fim do dia. Atrasos eram inadmissiveis, faltas eram impensáveis.
Lá a vigilância era constante: havia sempre alguém a vigiar-nos, durante as aulas ou o recreio. Por tal não era um espaço propício à existência de bullying ou de grandes deslizes. Mesmo as pequenas partidas passavam raramente despercebidas, e qualquer traço de mau comportamento era comunicado aos pais nas reuniões. Acho que me lembro de um colega mais afoito a sair da escola, depois de uma reunião, a ritmo de calduços e palmadas por parte dos pais. Ninguém gozou. Os meus pais fariam exactamente a mesma coisa todas as vezes que achassem necessário.
Da mesma forma, as mesmas reuniões eram usadas para elogiar o que merecesse ser elogiado.
Lá a Educação era mais que a transmissão de matérias escolares, ia mais além do que é "obrigatório", do que vem explícito no "programa": desde uma Irmã que ficava de plantão junto dos lavatórios para garantir que todos lavavam correctamente as mãos; que o wc, a sala de aula ou o recreio ficavam arrumados e limpos; que, se necessário fosse ajudaríamos a servir o almoço aos pequeninos da infantil.
Lá existiam regras bem explícitas sobre o que deveríamos fazer e o que era considerado errado, assim como as recompensas e as sanções. Igualmente importante, existia consistência na aplicação das mesmas.
Lá a qualidade do ensino era excelente, tanto que, durante o primeiro ano do Liceu sentimos todos que faríamos aquilo com uma perna às costas.
Pode parecer um ambiente duro, especialmente segundo os parâmetros actuais, mas éramos miúdos totalmente normais e felizes.
A transição para o liceu foi um choque pela diferença. Pessoalmente são memórias com tanto de mau como de bom. Já se notava bem que muitas das pessoas que faziam parte da estrutura escolar se haviam divorciado do papel de educadores, não dando a mínima ao que se passasse fora da esfera de transmissão de matéria, e algumas mesmo nesse campo deixavam a desejar. A escola tornava-se terreno fértil para o bullying, o absentismo, o mau ou, vá lá, pior rendimento escolar, e outros vícios.
Em menor ou maior grau, todos nós alunos, fomos afectados por tal ambiente, tivemos mudanças no nosso comportamento. Porque independentemente do ambiente familiar não há miúdo algum que seja imune ao charme da quase ausência de consequências ao peer pressure.
Parte de mim sempre lamentou que o tal colégio de freiras não desse aulas até ao 12º ano, que não fosse o modelo regente em todas as escolas.
Sim. Tenho pena dos miúdos. Tão permeáveis, tão influenciáveis, e nunca houve época tão fértil em estímulos, com a tv por cabo, a internet, os smartphones, as redes sociais e tanta gente que se demite da responsabilidade de ser uma influência positiva, um mentor, um guia, um disciplinador. Logo hoje em dia, quando tal é mais necessário que nunca.
Porque se a programação da tv é medíocre de tão violenta, gráfica, sexual, ignorante, há que direccionar a energia dos miúdos para bons livros, desporto, artes.
Se vivemos na época das redes sociais, selfies e milhares de sms por semana, há que redobrar a vigilância, garantir que não há cá perfis com fotos ridículas a fazer boquinha, de pose em roupa interior em frente ao espelho, saber quem são os amigos, os contactos. Que o acesso à internet deve ser vigiado. Que não há qualquer desculpa para menores de 16 serem notícia por se embriagarem no Bairro Alto.
Que até lá continuaremos a ler notícias de maus comportamentos juvenis que nos chocam, não só pelo teor, mas também porque nos lembram que, no que toca às gerações futuras, chumbámos.
sábado, 30 de agosto de 2014
Coisas de pensar: De como as estatísticas sobre a diminuição do desemprego em Portugal são falaciosas.
O nosso ritual de pequeno-almoço enquanto casal inclui debater as notícias do dia.
Hoje, grande parte da nossa atenção incidiu sobre as parangonas que anunciam a descida da taxa de desemprego para 14%, registando-se em comparação homóloga, (ou seja, quando se compara com mesmo período do ano passado), uma quebra de 2,3%.
Estatística que nos coloca em quinto lugar, no pódio dos países da União Europeia, dos bem sucedidos e comportados no combate efectivo ao desemprego.
(podem ler mais aqui )
Se fosse isto fosse verdade seria óptimo. Mas não é, por dois motivos:
Em 1º lugar, nem todos os desempregados estão inscritos no IEFP.
Em 2º, o próprio IEFP é o responsável por estas ondulações nas estatísticas sobre desemprego, que em boa verdade não reflectem uma real diminuição do número de desempregados, mas sim uma incorrecta e falaciosa forma de manipular os dados.
De certa forma, a manipulação de dados parece ser prática comum na função pública. Alegadamente existem até centros de saúde que usam dados de antigos utentes, até dos que já faleceram, para embelezarem os resultados.
Nada de novo, um cidadão morto sempre foi de grande utilidade, até para participar "activamente" em eleições várias.
Esperem! Falta a palavrinha mágica quando se fala destas coisas: alegadamente. Pronto, já está!
Adiante.
Para quem não saiba, um cidadão inscrito no IEFP é forçado a participar em acções de formação. Se se recusar corre o risco de perder o direito ao subsídio de desemprego.
Os utentes quando estão inscritos num qualquer curso ou acção de formação deixam de estar inscritos no IEFP, deixando temporariamente de existir enquanto desempregados. Então os números que nos são apresentados não são per se de pessoas bem sucedidas no seu objectivo de retomar uma carreira profissional, mas de indivíduos que continuam desempregados, mas a receber formação.
Esta realidade não é segredo. Aliás, só a desconhece quem nunca esteve desempregado, ou quem nunca teve um conhecido, amigo ou familiar nessa situação. Coisa tão rara hoje em dia, diga-se de passagem.
E era que comentávamos hoje ao pequeno-almoço.
Então chego a casa, ligo o pc, e dou de caras exactamente com um artigo em que uma corajosa formadora denuncia esta exacta situação:
"Carla, nome fictício, é uma das formadoras, disse à Renascença que os dados são manipulados. “Quem está a frequentar acções de formação não é contabilizado como desempregado. Portanto, isso vicia toda a lógica de contabilização do desemprego em Portugal”, esclarece."
Podem ler o artigo na totalidade aqui.
Para concluir avanço com o seguinte:
Sempre defendi a importância da formação ao longo da vida.
Acho muito bem que, especialmente a quem se encontra em situação de desemprego, seja dada a oportunidade de se munir de melhores ferramentas que lhe possibilitem o regresso ao mundo laboral. Acho que a formação pode preencher lacunas de conhecimento e tornar o utente do IEFP um melhor profissional.
Contudo, e com todo o respeito possível, as formações do IEFP são para encher chouriços.
Deveriam existir para servir a pessoa desempregada, por tudo o disse no parágrafo anterior, e não o faz. São, na grande maioria dos casos, uma imensa perda de tempo e de recursos.
Sei de casos bastante reais e verídicos de pessoas a quem uma formação específica, por exemplo, em Inglês ou Informática, faria a diferença do mundo para conquistar um novo emprego na sua área, naquela que conhecem, que dominam e têm experiência. E que, como tantas outras, foram empurradas, obrigadas a escolher entre as únicas opções de Geriatria, Agricultura ou Talhante, sem qualquer interesse pelo que são, o que fazem ou fizeram, o que lhes é útil e o que querem.
A questão mais importante que devemos levantar é, quem lucra com esta situação?
Não serão propriamente as pessoas que dão formação, se estas auferem mil euros brutos e a recibos verdes.
Então, a que nomes sonantes pertencem as empresas de formação, contratadas pelo Estado para prestarem este serviço no IEFP, e a quem lhes chega o dinheirinho que vem de Bruxelas? Esse é o cerne da questão!
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Quem avisa amigo é: a burla da lata de leite para bébé.
Um dia, no estacionamento do Retail Park, fomos abordados por uma mulher, que implorava por dinheiro para uma lata de leite em pó.
Gosto de ajudar, quando me é possível e quando sinto empatia e confiança para com as causas. Embora acredite que a solidariedade é um dever, confesso que não sou fã de dar dinheiro, porque o dinheiro custa a ganhar e não estou para sustentar vícios alheios.
Por causa dos muitos que abusam da boa vontade alheia, uma pessoa acaba por se sentir intrujada, que foi no conto do vigário uma e outra vez, e desenvolve um mecanismo de defesa, que assenta na desconfiança e na capacidade de dizer que não.
A quem acha que está na disposição de nunca criar tal imunidade, posição onde estive um dia, só vos digo, ide trabalhar para Lisboa, a serem abordados de dois em dois passos, depois falamos.
Lembro-me de uma situação particular desses meus tempos, algures para os lados da Avenida de Roma, de uma vez em que fui abordada por um vendedor da Cais. A figura, razoavelmente bem vestida e com uma aura de pompa e arrogância, aborda-me para que lhe dê almoço. E eu, apressada, afianço-lhe que, no caminho de regresso ao escritório, lhe traria uma sandes e um sumo.
A figura replica que ele próprio está cheio de pressa, que lhe desse 10, 15 ou 20 euros, para ir buscar uns frangos assados e ir para casa, almoçar com a família.
Passei-me dos carretos!
Disse-lhe várias coisas, uma delas que fixasse a minha cara, porque da próxima vez que se se atrevesse a abordar-me, fosse para o que fosse, tinhamos o caldo entornado, e eu chamaria a polícia e o denunciaria à Cais. Ouviu tudo com ar de enfado, mas nunca mais me interpelou.
Adiante.
Naquele dia, acedemos ao pedido. E largámos 15 euros para que ela fosse comprar a lata de leite para o suposto bébé, na esperança que houvesse realmente ali verdade. Porque a fome é uma coisa muito feia, então com uma criança ao barulho...
Mais tarde informaram-me que é prática comum, os toxicodependentes que andam a pedir, usarem esta burla da lata de leite para bébé, porque é aceite pelos traficantes como moeda de troca.
Foi uma informação que nunca mais esqueci, e hoje partilho este conhecimento convosco. É claro que a decisão é vossa, são livres de dar o que entenderem a quem entenderem, longe de mim querer influenciar isso. Só acho de valor que saibam o que se passa.
Voltei a lembrar-me disto, porque há dias numa esplanada fomos abordados por um vendedor da Cais, que veio com a mesma história da lata de leite, a pedir os 15 euros.
Recusei. Disse-lhe que se tivesse fome, lhe pagava um saco de pão para levar para casa. Não quis. Disse que outro estabelecimento daquela zona lhe dava comida.
Comprámos-lhe uma revista, e demos-lhe um par de euros.
Entre nós comentámos que se for honesto, dá-lhe para almoçar uma sopa e uma sandes ali na zona, se não, o estrago também não é muito.
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
coisas de pensar: Um hábito nacional que gostaria de ver mudado.
Acredito que em Portugal se bebe demasiado, de forma irresponsável e pouco consciente.
Acredito que existem muitos mais casos de alcoolismo, de verdadeira dependência, do que aqueles que são contabilizados.
Acredito que esta dependência não é levada tão a sério quanto se deveria. Observo uma tendência em tapar o sol com a peneira, fazer de conta que é tudo muito normal e nada preocupante quando se trata do consumo excessivo de álcool. Da mesma forma que o bullying era visto como "coisas de miúdos", ou a violência doméstica um tema silenciado, porque "entre marido e mulher não se mete a colher". E olhem que existe uma tremenda associação entre abuso de álcool e violência doméstica!
E a mim entristece-me verdadeiramente, porque pior que este vício, só a dependência de "drogas duras" como a heroína ou as metanfetaminas.
Não quero que este discurso tenha um tom fundamentalista, ou de julgamento. Faço sempre os possíveis para fugir de ambos. Sobretudo estas linhas servem para expressar a minha genuína preocupação com esta espécie de hábito nacional que persiste há muito, e prejudica muito mais do que a saúde de quem bebe sem moderação.
Também eu já apanhei a minha quota parte de pielas, nos tempos em que era mais jovem, fisica e mentalmente, em que saía à noite com regularidade e até altas horas.
Depois os meus hábitos alteraram-se, como tenho a certeza que acontece com tantos outros.
Veio a casa própria, a vida profissional, a vida a dois, responsabilidades várias, um acréscimo de maturidade.
Vieram à tona também outros gostos, em que passámos a preferir o ambiente de alguns bares, esplanadas e restaurantes às grandes confusões de outrora. O querer aproveitar o fim de semana ao máximo, não o querer desperdiçar com saídas nocturnas de grande azáfama e a consequente recuperação que ocupa toda a manhã seguinte.
Deixar de ter paciência para estar num bar mais de uma hora ou duas. Ficar por um par de copos, ou se apetecer, uma opção não alcoólica, (que as há bem boas e bem mais criativas do que uma coca-cola!), sem qualquer pejo, nem ver em nada diminuída a capacidade de nos divertirmos, de conviver, de fortalecer laços. Pelo contrário!
Na verdade a grande consequência de se saber que o álcool é um ingrediente facultativo na vida, nas reuniões sociais, assim como o saber beber moderada e responsavelmente, fez-me mais observadora, crítica e certamente, mais anti-social.
A paciência para aturar bebedeiras fica reduzida a zero, nem por parte de conhecidos, então de desconhecidos muito menos!
Hoje em dia, mais do que nunca, evitamos, tanto quanto possível, frequentar locais em que estejam presentes pessoas em estado visível de embriaguez. Já não seria a primeira vez que ao entrar num bar, por exemplo, ao constatar o ambiente déssemos meia-volta. Nestes casos, damos sempre meia-volta.
Não aprecio a presença de bêbados, deixam-me desconfortável, num sentido de alerta constante à espera do pior. Porque um ébrio é uma caixinha de surpresas: tanto lhe pode dar para ser o bobo da corte, o tolo da aldeia com os seus exageros e palhaçadas, o inofensivo bêbado da aldeia que dança sozinho nos arraiais, como pode tornar-se alguém bastante inconveniente, abusador e chato, estragar o ambiente, ou no pior dos casos, alguém violento.
Quantas tragédias incontáveis já aconteceram pela mão de alguém alcoolizado?! A última parangona da imprensa sendo a história abominável do pai que matou o seu bébé de quatro meses com pancada e água a ferver!
Observo pessoas, e por vezes tenho que me recordar que algo não se torna correcto pelo facto de ser comum.
Observo como é comum haver quem comece bem cedo o dia a ingerir álcool.
Como é comum haver quem beba em copiosas quantidades, todos os dias.
Como é comum haver quem conduza após ter estado a beber, independentemente da quantidade.
De haver quem beba imoderadamente durante o horário de trabalho.
De haver quem tenha como profissão conduzir e mesmo assim, se coloque a si e mais importante, a outros em situação de risco, por beber durante o expediente.
De haver quem coloque crianças em risco, por transportá-las num estado de embriaguez ao volante.
E acham que é correcto, que não faz mal nenhum, que sabem perfeitamente o que estão a fazer.
A solução começa por se falar abertamente deste tema, sublinhar que este tipo de comportamentos não são aceitáveis. Reconhecer a doença, os sintomas do vício, e encaminhar as pessoas para tratamento.
Conheço uma empresa que tem uma regra bastante explícita quanto ao consumo de álcool por parte dos seus colaboradores: o consumo deste durante o horário de trabalho, (pausa para refeição incluída), é absolutamente proibida e o não cumprimento desta directiva pode levar ao despedimento por justa causa.
Acho que a solução passa também por aí. Há que implementar esta regra em todas as empresas, especialmente estatais.
E visto que esta questão tem uma maior expressão masculina, gostaria que as mulheres aceitassem, para o seu próprio bem, o consumo excessivo de álcool como um "relationship deal breaker", um factor suficientemente negativo que as fizesse perder o interesse naquele parceiro ou potencial parceiro.
Porque, senhoras, juro-vos a pés juntos que saber beber moderadamente e com responsabilidade é um atributo essencial!
quarta-feira, 28 de maio de 2014
A importância de saber justificar
Lembram-se de quando éramos miúdos, na escola, e os professores insistiam para "justificarmos as nossas respostas"? Já pensaram na razão de ser dessa insistência?
Acompanhem-me, por favor, neste exercício:
Imaginem que vos pedem para elaborar qualquer coisa: uma refeição, um projecto, um objecto, uma ideia. A sério, isto aplica-se mesmo a qualquer coisa.
E vocês reflectem sobre como elaborar o que vos foi pedido e fazem-no.
Quando apresentam a vossa "coisa" dizem-vos que não gostam, que não concordam. Mas não se justificam. Não vos apresentam nem as razões que sustentam a sua discordância, e muito menos de como responderiam ao desafio proposto no vosso lugar, que alternativas sugeriam, quais os objectivos e como pensam lá chegar.
Digam lá que não sentiriam que é como estar a falar para uma parede!
Não confundir com a situação que é um debate entre pessoas que têm opiniões formadas, embora totalmente distintas sobre um tema. Como adultos sabemos que existe uma imensa validade em concordar em discordar. Além disso, um diálogo entre pessoas com perspectivas diferentes cria uma oportunidade para todos alargarem os seus horizontes.
Falo da frustração que é ir para uma troca de ideias munida dos amigos "O quê", "Quando", "Como", "Porquê", "Quem" e calhar com quem acha que uma mão cheia de "Nãos" é um Royal Flush.
Recentemente cometi o erro (oh para mim a bater com a cabeça na parede!) de tentar trocar impressões com quem defendia a abstenção nestas últimas eleições.
O discurso era de festa: viva a democracia, fora a partidocracia, está na hora de apresentar novas soluções, os que não foram votar é são os bons e espertos, e por aí fora...
Epá, sim senhor, desejo por um novo paradigma de sociedade, mais evoluído em todo o seu semblante? Também partilho. Afinal, quantos mais cidadãos activos no seu papel, com o intuito de melhorar a nossa sociedade, melhor para todos.
Então quais são mesmo essas "novas soluções", o que têm em mente? - perguntam vários, num misto de curiosidade e esperança que houvesse por ali um projecto, ou no mínimo um esboço, fruto de reflexão e planeamento estratégico, uma visão coerente.
"Mudamos a Constituição. As alterações deverão ser discutidas por todos nós". Não houve aprofundamento sobre a questão, mesmo a pedido de várias famílias.
Da minha parte, desejo-lhes sorte. Talvez consigam reunir 6 178 640 indivíduos, (nº de eleitores portugueses que se abstiveram), no próximo pic nic com o Tony Carreira, e possam aproveitar para redesenhar a Constituição da República.
Estas situações não são pontuais, e estão longe de ocorrer somente entre nós, "cidadãos comuns", treinadores de bancada da política.
Por volta de 2011, entrava-se numa qualquer livraria, e todos os destaques incidiam em milhentas publicações sobre a crise. Foram tantos os políticos, economistas, sociólogos, antropólogos, etc, que decidiram publicar a sua visão sobre o novo contexto macro-económico que viria assolar a Europa.
Cheguei a ler alguns. Tantas as capas que prometiam no seu interior, não só uma análise aprofundada sobre a crise, as razões do seu aparecimento, mas também uma visão pessoal de como a solucionar.
Ora, tratando-se de profissionais da coisa, uma pessoa pensa que há-de sair de ali uma coisa com cabeça, tronco e membros, tim-tim por tim-tim. Mas não.
A incapacidade para a justicação é transversal. Digamos que somos todos mestres em preliminares, mas muito poucos conseguem levar a coisa até ao fim. Digamos que as trocas de ideias são muito como coitos interrompidos.
Para esta gente apresentar possíveis soluções não é diferente de constatar o óbvio e enumerar exigências:
- Queremos uma sociedade justa; queremos o Serviço Nacional de Saúde a funcionar bem; and so on...
Sim, sim, já sabemos isso tudo e é tudo muito lindo, mas como?! Não dizem. Nunca dizem!
E eu depois de ler algumas destas publicações e ficar irritada, (que apenas sou o que sou, mas que não gosto de ser só garganta, e não estou à espera que façam tudo por mim), meti mãos à obra:
Por exemplo, em relação ao Sistema Nacional de Saúde e os seus imensos problemas financeiros, fui ler um Orçamento de Estado. A observação desses dados permite concluir que grande parte da despesa é para com fornecedores.
Quem são os fornecedores? Laboratórios farmacêuticos. O tipo de empresas que alcançam dividendos astronómicos, que praticam uma política de preços com umas margens de lucro brutais, e moralmente discutíveis, tratando-se da área da saúde.
Uma das medidas possíveis: Promover a existência de laboratórios do Estado que forneçam aos Hospitais o maior número possível de produtos e medicamentos, com uma margem de lucro mínima.
O investimento para tal é menor do que se espera, visto já existir o Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, que poderiam ser uma das infraestruturas utilizadas para este fim.
Tal possibilitaria igualmente fazer chegar medicamentos a um preço muito mais baixo, ou at´gratuitamente, às camadas de utentes mais fragilizadas, como os idosos que auferem pequenas reformas, ou utentes que estejam dependentes de apoio financeiro do Estado para a aquisição de medicamentos.
Acredito que tal fomentaria uma melhor gestão de recursos, diminuiria o buraco financeiro dos hospitais, pouparia dinheiro ao Estado, e facilitaria o acesso ao medicamento e à saúde por parte de toda a população.
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