Mostrar mensagens com a etiqueta opinar. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta opinar. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 28 de março de 2019

coisas de opinar: O primeiro milagre da Medicina é o diagnóstico.



Identifico três grandes milagres no campo da Medicina: o diagnóstico, a prevenção e a cura.
Face aos outros dois, o diagnóstico até pode, numa primeira leitura, parecer o parente pobre da família, mas tenho cá para mim que o conhecimento será sempre mil vezes melhor que a ignorância, em todos os campos da existência.

Claro que o desejável é ter a saúde a 100%, mas quando tal não acontece não há nada pior que desconhecer a maleita e como lidar com ela.

E foi por pensar assim que em Outubro passado, aquando uma ecografia à tiroide, o médico, com a discreta comoção que já lhes reconheço quando têm que passar uma informação menos positiva, mas que se denuncia pelo olhar que fica mais brilhante e húmido, solta um quase solene "Lamento, mas posso confirmar que a senhora sofre de tiroidite."
Imediatamente tenta aligeirar com um "Mas não preocupe. Eu também tenho, e garanto-lhe que é perfeitamente possível ter qualidade de vida, levar uma vida bastante normal. Basta um comprimido por dia e alguns cuidados. A sua médica especialista depois explica-lhe tudo."

Eu estava estupidamente calma. Por incrível e louco que pareça, mais calma até de quando, dias antes, havia feito uma ecografia às pernas, por medo de lá existir um qualquer coágulo, e não aparecer nada, absolutamente nada, que justificasse os episódios de edema e as dores.

E enquanto limpava o pescoço daquele gel das ecos, dei por mim a tranquilizar o médico "Não se preocupe. É uma boa notícia, e estou feliz. A sério que estou. Pelo menos agora sabemos do que se trata."

Não menti. Estava feliz por finalmente ter uma resposta. De tal maneira que em modo de despedida lhe apertei entusiasticamente a mão, e só reparei naquele segundo que o estava a besuntar de gel.



terça-feira, 3 de abril de 2018

coisas de opinar: A revisão do PDM de Sintra, a história da pequena ermida e o futuro da aldeia pt.1



Há um par de semanas, mais coisa menos coisa, através de partilhas nas redes sociais, o tema Plano Director Municipal de Sintra e a sua revisão voltou a entrar no meu radar.
Pensar no PDM é, talvez mais que qualquer outra coisa, reflectir sobre a localidade onde habito, e a estratégia urbanística que gostaria de ver implementada. Tenho uma opinião forte sobretudo em relação aos erros que encontro em outras localidades do concelho e que gostaria que fossem evitados por aqui.

Não é que por aqui não existam "erros" urbanísticos. Aliás, a meu ver, a história desta pequena localidade tão próxima da sede de concelho assenta num erro crasso, ou numa sucessão destes.

Perante a premissa que todos os pedacinhos de terra têm a sua história, e alimentada pela natural curiosidade sobre a povoação que escolhemos habitar, iniciei há anos uma pesquisa.
O maior fruto que colhi da mesma é da autoria da Mestre em História de Arte, Maria Teresa Caetano, e intitula-se "A Ermida de São Romão de Lourel e a proposta de Norte Júnior".

Usarei alguns excertos da mesma para melhor descrição:

"À saída de Lourel, depois de se calcorrear serpenteante caminho submerso num imenso oceano de verdes e castanhos vivos' avista-se' finalmente, no alto de um outeiro, a ermida de São Romão (...).
Silenciosas, as velhas pedras guardam mistérios passados e 'na sua simplicidade de pequenino templo rural' evocam uma vivência há muito desaparecida. (...)
A ermida de São Romão vem já referenciada no Treslado do Lemitte (...) de 1253, (...) e a sua fundação remontará aos alvores da nacionalidade. (...) aproveitando materiais romanos anteriores ali subsistentes (...) - cumpriu primorosamente a função evangélica, cristianizando um antigo local fúnebre de culto pagão. (...)
Assim, para a edificação deste templo, orientado de nascente para poente, reutilizaram-se, (...) alguns monólitos de uma necrópole romana que ali existira, de entre os quais se destacam dois epigrafados, (datados dos séculos I e II dc) (...).
Junto à ermida terá funcionado uma necrópole medieval, (...) datando dessa mesma época a instituição de uma confraria e de uma albergaria. (...)

Em 1541, contudo, tanto a confraria como a albergaria se haviam desmembrado, pelo que: "a ermida de são Romão que he da dicta igreja de são Martinho tem huas terras de pam as quaes terras no tempo pasado eram de hua albergaria e confraria e os cônfrades eram dellas admynistradores e despendiam as Rendas das dictas terras segundo compromisso e ordenança sua a qual confraria he desfeita e nom há hay confrades pella quall rezão ficaram as ditas terras da dita ermida pera coffegimento della a saber as rendas segundo pello prelladi ffoy mandado emquanto nõ se Reformar outra veez a dicta confraria".

Desconhece-se, no entanto, se a confraria e albergaria de São Romão alguma vez chegaram a ser reformadas. Mais tarde, nas Memórias Paroquiais, de 1758, o prior António de Souza Sexas, pároco da freguesia de São pedro de penaferrim, aludiu ao lugar e à ermida de São Romão nos seguintes termos: "O Lugar de S. Romaó, que se compoem de 6 fogos em que habitaó 15 pessoas: Tem este lugar huma ermida da invocaçaó de S. Romaó, a qual está já no lemite da freguezía de S. Maria, deste arabalde de Cintra, e tem hum Eremitaó (sic), que he freguez desta minha freguezia de S. Pedro; e he administrada a Ermida, e aprezentado o ermitaó pella Collegiada de S. Martinho da Villa de Cintra".

A data de 1768 que Alves Pereira viu gravada na base do cruzeiro, de moldura simples, assinalava a vitalidade com que então se celebrava o santo. (...)
A voragem do tempo, porém, consumiu a devoção no "Santo Romano" e conduziu ao completo abandono da ermidinha que desamparada de fé e de gentes se foi arruinando, e, nos finais do século XIX, a festa que, no primeiro Domingo de Março, costumava celebrar o santo padroeiro deixou de se fazer.

O velho templo e o seu triste abandono pairava ainda na memória dos povos das redondezas, aqueles que nutriam maior devoção pelo santo patrono e, neste sentido, em 1941, Gonçalves afirmara a propósito " a reconstrução, (...) impossível, a não ser que algum benemérito pretenda restaurá-la radicalmente".
Poucos anos depois, Artur Soares Ribeiro - proprietário do casal de São Romão e de muitos dos terrenos envolventes - costumava ali reunir-se com alguns amigos, (...). Este grupo começou a interessar-se pela arruinada capela de São Romão, (...) e pensaram na sua restauração 'tendo, para tal fim, formado uma comissão ad hoc, (...)

Assim, em 1950, o Jornal de Sintra publicava, com destaque na sua primeira página, uma notícia sobre a reconstrução do templo (...)
O vogal Norte Júnior - (...) tomou a seu cargo o projecto de reedificação do edifício e, (...) a Comissão tratou de desenvolver as diligências necessárias junto das autoridades competentes."

Esta história não termina bem: o Arquitecto Norte Júnior quando contacta a Câmara Municipal de Sintra para apresentação e aprovação do projecto, aproveita para pedir, tendo em visto a natureza do mesmo, a isenção de taxas camarárias e licenças. A Câmara Municipal aprova eventualmente o projecto de recuperação do património mas insiste no pagamento das taxas, o que se torna um obstáculo, quiçá até aquele que enguiçou toda a campanha e a fadou ao insucesso.
Angariam-se mais de 10 mil escudos, (uma quantia bastante expressiva naqueles tempos), que mesmo assim não são suficientes para se erguer a que seria a Capela de São Romão. Deixam então de haver notícias sobre a Comissão e o projecto.
Ficam as plantas minuciosas do Arquitecto como testemunho do que poderia ter sido o fruto deste empreendimento.

"(...) o projecto concebido por Norte Júnior materializou - ainda que "temperado' pela sua própria época - uma moldagem muito próxima da original. Para isso, ter-se-á inspirado na arte românica, (...)
 Saliente-se, por outro lado, que, apesar de ter praticamente refeito a ermidinha, parece ter havido total respeito pela estrutura pré-existente, (...) até porque as "raízes" da ermida de São Romão que aquele arquitecto tão incessantemente procurou, não se compadeceria, jamais, com a manutenção de uma estrutura "recente".

Décadas depois, nos anos 90, foi criada uma nova Comissão para a edificação de uma igreja em Lourel, visto que durante 20 anos as reuniões religiosas tinham lugar na escola básica por falta de lugar apropriado.

A que poderia ter sido uma renovada oportunidade para concretizar o projecto do reputado Arquitecto Norte Júnior, de preservar património incontavelmente mais antigo que os icónicos palácios e castelo de Sintra, e que seria uma mais-valia para a localidade e os seus habitantes, de então, de agora e de amanhã, pois poderia ser um espaço comum com aquele charme e beleza que são apanágio único das aldeias e da região, (quem não gosta do encanto de uma praça com a sua capelinha, com espaço para as pessoas se reunirem e, quem sabe até um coreto à moda antiga?!), de recuperar as festividades de São Romão que são património imaterial, peça de cultura e identidade da população, a escolha recaiu sobre a construção de uma igreja moderna, em cinzento betão, ainda inacabada, (creio eu), à beira de uma estrada movimentada com passeios quase inexistentes, onde é impossível estacionar, parar e até é perigoso para peões.

O motivo, (segundo apurei há anos numa conversa com alguém que habita na aldeia há muito tempo), não foi mais que as pessoas preferirem algo mais próximo às habitações. Ganhou a mobilidade, o comodismo, a preguiça, (que a distância não é assim tanta), e a incapacidade de valorizar o património e de planear a longo prazo.

Perdemos todos.

Se o trabalho da autoria da Mestre Maria Teresa Caetano nos dá conta que no passado distante a pequena ermida já se encontrava em ruínas, votada ao abandono, passar pela mesma em 2018 é desolador.







  



terça-feira, 13 de março de 2018

coisas da casa: Mais verde, por favor, ou dá Deus nozes...



Agora com o Iqos, a maquineta fumante milagrosa sem cinza, fumos e cheiros quase inexistentes, escolho quase sempre fumar à janela do escritório de paredes "laranja budista". São momentos de contemplação.
Não me canso daquela vista, composta por vários planos e camadas, que começam em telhados e beirais de várias alturas, recreio de todo o tipo de aves; aqui e ali espalham-se buxos, canteiros floridos, árvores de folhagem caduca e perene. Um quadro que termina com uma vista desafogada da verde serra, do seu palácio e castelo, que ora se apresentam nítidos, ora desaparecem totalmente sob um manto de neblina.

Faço-o quer seja dia ou noite. À noite os monumentos iluminam-se e é realmente bonito de ver. Para além que me habituei a elevar o olhar e a certificar-me que as constelações que habitam por cima de nós não foram a lado nenhum, ao contrário da lua, que tem bichos carpinteiros e vai pululando pelo manto celeste, senhora da sua vontade.

Esta vista, este enquadramento digno de postal, é uma das coisas que mais gosto na nossa casa. Gosto tanto, que passados todos estes anos ainda não me fartei, nem acredito que tal aconteça tão cedo.
É este cenário que me alimenta pelos olhos, que eu sou pessoa para morrer de inanição se só me entrar betão e alcatrão pelas vistas adentro.

Embora pareça que nos tenhamos esquecido, o ser humano precisa de contacto frequente com a natureza, por mil motivos mas também em nome da sua saúde, tanto física quanto mental. Não há nada tão eficaz para reduzir a pressão arterial, melhorar a circulação, regular o relógio biológico, diminuir o stress, a ansiedade, a depressão, reduzir o risco de doenças cardíacas, avc e diabetes, reforçar o sistema imunológico e garantir uma sensação quase imediata de felicidade e tranquilidade que estar em contacto com a natureza, apanhar sol, mexer na terra.
Dizem que 30 minutos de jardinagem, longe de aparelhos tecnológicos, fazem autênticos milagres. Mais até que qualquer outra actividade de lazer.

Eu bem sei e sinto o bem que nos faz a presença de plantas cá por casa, a meia dúzia de vasos floridos na nossa pequena varanda, e esta vista que vos descrevi. Melhor mesmo só um jardim.

Por falar em jardins...
Sabem quando vão de carro, numa qualquer estrada, param devido a um semáforo e ao vosso lado está, sei lá, um ferrari ou um qualquer bólide do género, e quando o sinal abre, ao invés de um ronronar possante chega-vos aos ouvidos a estridência de uma caixa de mudanças a ser brutalmente massacrada, e a imediata reacção é aspirar o ar pela boca, que ao passar pelos dentes cerrados provoca um particular sibilo, uma expressão de quase dor?

Esta é a minha reacção para com muitas das casas que vejo à venda.

Alguns prédios centenários testemunham que outrora, mesmo no centro das grandes urbes, não se abdicava de se manter algum contacto com a terra. Cada proprietário tinha um talhão: muitos seriam utilizados como hortas urbanas, outros como jardins ornamentais.
Infelizmente trata-se de um traço arquitectónico que se foi perdendo e, com este a noção do quanto é especialmente importante a existência destes oásis nos desertos de betão, muito para além de se ir podendo colher uns limões ou umas alfaces, o que por si só valeria a pena. O seu impacto é profundo na qualidade de vida das pessoas, dos animais e até do ar que todos respiramos.

Uma árvore adulta e saudável consegue absorver, no espaço de um ano, 22kg de dióxido de carbono, entre 55 e 109 kg de gases nocivos como o óxido nitroso oriundo dos escapes - zonas urbanas arborizadas possuem menos 60% de partículas poluentes; produz oxigénio suficiente para dois adultos e ainda ajudam a refrescar o ambiente: a sua sombra ajuda a diminuir a temperatura do asfalto em 2ºC e do interior dos carros até 8ºC, e o efeito de uma árvore é comparável a 10 aparelhos de ar condicionado ligados 20 horas por dia. Isto só para citar alguns dos seus benefícios.

Uma casa com área exterior suficiente para um jardim tornou-se um privilégio. Tal tornou-se atributo somente das moradias, e mesmo assim a grande maioria são geminadas e para maximizar o lucro, o tamanho dos lotes onde se inserem são mínimos, logo há logradouro para o estacionamento de uma viatura ou duas, espaço para um estendal, uma churrasqueira e olaré. Jardins nem vê-los. O verde foi remetido para um mísero canteiro ou totalmente retirado da equação.

Portanto, o meu momento "maçarico ao volante de um ferrari", a minha "dor por situação alheia", dá-se quando encontro casas que tendo espaço para um jardim, ainda que pequeno, a opção das pessoas recai em usá-lo para colecionar anexos, acrescentos, barracões e barraquinhas.
Onde poderia haver um solário (sundeck) com mobiliário de jardim confortável, um espaço para refeições "al fresco", e a puta da loucura, quem sabe até um jacuzzi, com vista para um verde e privado refúgio de inspiração mediterrânea, romântica, tropical ou até oriental, dependendo das espécies de plantas escolhidas, alguém optou - e é o que me mete muita confusão, o ser uma escolha - por ter marquises que são utilizadas para armazenar coisas, com vista para um pátio onde existem cubículos que servem presumivelmente para armazenar mais coisas, numa ode ao betão, ao alumínio e ao zinco.

Não há um relvado onde andar descalço, onde brincar ou fazer exercício, onde estender uma manta para fazer um piquenique, uma sesta, ler um livro ou observar as estrelas em noites de céu limpo; uma árvore sequer onde pendurar uma casa de pássaros, onde aproveitar a sua sombra, onde esticar uma cama de rede; uma sebe viva que encha as vistas ao mesmo tempo que protege dos olhares curiosos da vizinhança. Saberão as pessoas que as sebes vivas também nos protegem do vento, do frio e do ruído e ajudam a evitar a erosão do solo?
Não há meia dúzia de metros quadrados pensados para uma pequena horta urbana. Soubessem as pessoas o quanto se pode plantar em meia dúzia de metros, e sem pesticidas!
Não há arcos nem pérgolas enfeitados por plantas trepadeiras, fragantes roseiras inglesas ou jasmins, que recebessem quem lá entrasse com o seu perfume, e debaixo das quais se poderia sentar à mesa.
Mas há betão, mais que o suficiente para engordar pelos olhos quem o prefere, e que pelos vistos, são mais que as mães.











sexta-feira, 21 de julho de 2017

coisas de opinar: Até à próxima, Chester, ou os sapatos dos outros.


Não demonizo o suicídio, nem quem se suicida. Aliás, sempre me chocou como os suicidas são ostracizados pelas religiões, por quem clama ter uma linha directa para com o divino e que teriam a obrigação de ser a candeia do amor incondicional.
Obviamente que também não o celebro nem o incentivo, - a vida deveria ser uma benção, uma vitória e um motivo de celebração. Mas, haverá algo pior e mais digno de ser lamentado do que estar cá, estar vivo mas só aparentemente?

Portanto entendo, empatizo e respeito. E sobretudo por isso não teço juízos de valor, mas sinto a necessidade de vir para aqui, (e desculpem a falta de humildade), abordar este tema pouco simpático, porque sinto que é necessário esclarecer que quem parte nunca o faz abruptamente, que não o faz por desamor à vida, mas sobretudo, presumo eu, pela urgência urgentíssima de um novo começo, uma nova vida, uma nova encarnação, na esperança de uma nova oportunidade, da mesma forma como se faz reset ao computador.

Sim, lamentemos todas as partidas. Mas troquemos o julgamento pela compaixão. Diz um ditado que nunca poderemos saber como é a vida de alguém até andarmos nos seus sapatos. Se isto fosse realmente fazível, acho que chegaríamos à conclusão que todos os sapatos são diferentes, e se há quem pareça ter um andar fraquinho, desajeitado, diferente, se calhar é porque a vida lhe serviu sapatos de chumbo.

A todos aqueles que decidiram partir mais cedo, desejo-vos que realmente existam novas oportunidades, e que a vida nunca mais vos dê dores de pernas.

A nós que ficamos, vamos lá construir um mundo onde possamos andar descalços, sim?






quinta-feira, 16 de março de 2017

coisas de opinar: A gentil arte de fazer inimigos.



A caminho dos 38 anos, a pessoa que sou hoje é uma versão muito distante da miúda que deixava as questões por resolver, que optava, (pelo menos na maioria das situações, até porque há limites), por fugir de possíveis confrontos, e ficava calada.

O que se passou esta manhã foi um óptimo exemplo:

Ao pé da minha casa há um café, e muitos dos seus clientes cumprem a secular tradição nacional de querer estacionar o mais próximo possível da porta do estabelecimento, mesmo que isso implique ocupar o passeio, dificultando a vida aos peões, e até correndo o risco de os atropelar, pois decidem subir com os veículos numa zona onde o passeio é mais baixinho, mas que não tem qualquer visibilidade, e toca de avançar por cima do passeio, por vezes a toda a brida, surpreendendo quem vai a pé que só não é passado a ferro se tiver bons reflexos.

A desculpa de não haver estacionamento disponível simplesmente não é desculpa, pois a 10 metros de distância há toda uma rua com imensos lugares à espera de serem usados. Trata-se simplesmente de uma questão de preguiça e egoísmo, uma daquelas situações em que se pensa só na própria comodidade e que se lixem os outros. Às vezes nem é por maldade, é porque vamos pela vida em piloto automático, em que a variável "outro" nem sequer chega a entrar na equação das nossas vidas, nem é um factor considerado.

Esta situação não é de agora, arrasta-se há anos. Mas em cada manhã que vou passear o Kiko e me confronto com o passeio ocupado, ou que quase somos atropelados, é mais uma gota no copo, e inevitavelmente chega o dia em que o copo transborda.

Hoje foi o dia.
Há umas semanas que o passeio tem sido ocupado por três ou quatro carrinhas, do transporte de pessoal da construção civil que vão ao café antes do trabalho.
Já no regresso para casa, tivemos mais uma vez que optar por contornar uma das carrinhas pelo lado da estrada e corrermos o risco de sermos atropelados, (que os condutores que por aqui passam demonstram cada vez mais uma conduta perigosa, desatenta e até criminosa), ou passar pelo lado de dentro, num corredorzinho com cerca de 30 cm de largura entre a carrinha e muros, em que implicaria eu levar com folhagem e ramos de sebes na cara. Optei pela segunda.

Após libertar-me daquele emaranhado de verde que tive que furar com a cabeça, dei de caras com um aglomerado de pessoas que presumi e bem serem os ocupantes das carrinhas. E pensei que de hoje não passaria, e lá fui dar-lhes uma palavrinha.
Perguntei a um senhor se era o condutor da carrinha que acabara de contornar, disse que não. Mas logo apareceu um senhor solícito, que embora também não fosse o condutor, se mostrou disponível para me ouvir.
Com educação e gentileza, usando até um por favor pelo meio, pedi-lhes se lhes seria possível passarem a estacionar 10 metros mais atrás. Que ali havia toda uma rua com "quilos" de estacionamento, e assim não bloqueavam o passeio. Que é perigoso ter que passar pela estrada, e havendo estacionamento não há necessidade de tal.
Um dos senhores concordou de forma enfática comigo. Os outros não sei, pois mal expus o meu pedido agradeci e segui caminho.

Quando chegámos a casa e contei ao marido, meneou a cabeça e soltou um "lá estás tu a fazer inimigos".
É nestes momentos que me sinto como o Sheldon do Big Bang em termos de aptidões sociais. Disse-lhe veementemente que achava que não. Se tinha sido educada e gentil, se usei um tom amigável e até um "por favor", se expus de forma breve um bom argumento, e apresentei uma melhor solução que respeita as necessidades de ambos, não há motivo para encarar esta abordagem como uma entrada em guerra.
Eu sei, eu sei... As pessoas, na grande maioria, não gostam nem um pouco de ser contrariadas e aceitam pessimamente as críticas, venham elas com pregos ou paninhos de pelica.

Neste momento sobressai a minha esperança no poder da argumentação, da diplomacia, e simplesmente da boa vontade entre as pessoas. Amanhã de manhã, em mais um passeio matinal com o Kiko, logo tirarei uma conclusão sobre se o diálogo vence, ou neste mundo estamo-nos mesmo a cagar para os outros.

Depois conto-vos.





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

cromices #144: Do marketing...



Demorei anos para perceber que gosto imenso de Marketing, e não só de Publicidade.
Demorei ainda mais tempo para concluir que talvez tenha sempre gostado de Marketing, e que a minha crença anterior não teria passado de um equívoco.

Sabem, é que é muito fácil acreditar que não se gosta, neste caso, de Marketing, quando muitas empresas que supostamente procuram alguém para esta área, na realidade procuram é um pau para toda a obra, que acaba por fazer de tudo... menos Marketing.

Quando vivemos livres dessas empresas, o amor regressa.

Aqui há dias, de uma forma totalmente casual e inesperada, no meio das minhas rotineiras deambulações, regresso a casa com um contacto de uma empresa, dada em mãos pelo próprio.
"Preciso de alguém nessa área" - diz-me, em inglês.
Pergunto-lhe a área de actuação. Responde-me com o site da empresa, e pede-me que lhe envie depois o meu mail.

Chego a casa, e pesquiso a empresa. Uma simples pesquisa revelou alguns elementos. Para mim, mais revelador e determinante que qualquer informação institucional, foi a descoberta de um par de anúncios de emprego já com alguns anos.
No primeiro anúncio esta mesma empresa procurava alguém a tempo inteiro, um(a) funcionário(a) de limpeza. Até aqui tudo bem.
O problema reside na secção onde se descreve os requisitos e perfil que se procuram no candidato: tinha que ter viatura própria, conhecimentos de inglês, de informática... Ou seja, que seja pau para toda a obra, capaz de imensas coisas que excedem os conhecimentos necessários para a execução de limpezas, mas pago somente como tal, como é de prever.

Os outros anúncios não diferem muito deste.

Para mim, este tipo de anúncios dizem-me mais sobre uma empresa que qualquer outra coisa. E mal.
São o tipo de empresas, com as quais aprendi por experiência própria, que o único lugar que têm na minha vida, é na minha lista negra.
Mesmo assim, enviei o meu mail, embora não tenha obtido até ao momento qualquer resposta.

Começaria por lhe pedir uma descrição exaustiva e transparente das funções que esta pessoa imagina incutir neste alguém que procura "para o marketing". Receberia depois da minha parte uma lista de serviços a que o Marketing se presta e um preçário, uma estimativa de orçamento, e o contacto de algumas agências especializadas.
Até tenho pena de não ter recebido o tal contacto. Teria todo o gosto em lhe dar, absolutamente grátis, a lição que o trabalho paga-se condignamente, e que há que respeitar todo o especialista, seja médico, advogado, arquitecto, ou marketeer.




quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

coisas de opinar: Um aumento de imposto com o qual concordo.



Trata-se do recém criado Imposto sobre açúcares.

Este determina que às "bebidas adicionadas de açúcar ou edulcorantes" como é o caso dos refrigerantes será cobrado um imposto adicional.
Este divide-se em dois escalões, dividindo os produtos quanto à quantidade de açúcar adicionado: às bebidas com até 80 gramas de açúcar por litro, o imposto cobrado será de 8,22 euros por hectolitro (100 litros). Se a quantidade de açúcar for superior, o imposto passa a ser 16,46 euros. Ou seja, por cada litro de refrigerante o valor do imposto será 8,22 ou 16,46 cêntimos.
Para além dos refrigerantes, esta medida englobará também bebidas de baixo teor alcoólico (de 0,5% a 1,2%) como as sidras e o hidromel.
As bebidas doces à base de leite, assim como os néctares e sumos de fruta não estão incluídos neste imposto.

Os comerciantes devem contabilizar o seu stock destas bebidas e comunicar os dados ao fisco, pois terão até 31 de Março para vender os produtos adquiridos antes da promulgação desta nova taxa, sem a pagar. A partir de 31 de Março, pagarão imposto mesmo sobre o stock antigo.

Cabe às empresas do sector a decisão sobre se o imposto será pago por estas ou pelo consumidor.

Obviamente que as empresas do sector não estão satisfeitas porque esperam uma descida no consumo. Mas, o objectivo desta medida por parte do Governo é exactamente essa: diminuir o consumo de bebidas açucaradas pelo simples facto que estas prejudicam a saúde.
Por esse motivo sou totalmente a favor deste imposto, e também me agrada sobremaneira que as receitas geradas por este sejam direccionadas para o orçamento do ministério da Saúde. Estamos a falar de uma previsão de cerca de 80 milhões de euros.

Espero que a maioria das pessoas já esteja ciente dos malefícios para a saúde do consumo de açúcar em excesso, e que todas as bebidas contempladas pelo imposto usam na sua composição quantidade completamente abusivas e aberrantes e que devem ser, se não riscadas dos hábitos pelo menos consumidas com moderação. Aliás, já tínhamos abordado este tema por aqui, em 2013.

Este é um passo evolutivo, é um imposto com raíz numa boa causa.  As empresas do sector que se adaptem aos novos tempos, que invistam no desenvolvimento de produtos amigos da saúde. Da mesma forma que não se usa amianto na construção de casas modernas porque se chegou à conclusão que este é cancerígeno, isto não é diferente.

Só lamento que tenha faltado a coragem para estender este imposto às bebidas alcoólicas. O lobby é forte, afinal somos um país de bêbados, mas um dia chega-se lá.
Frustra-me, choca-me e indigna-me que em qualquer café, uma cerveja, por exemplo, seja vendida quase ao preço de um café, seja mais barata que uma garrafinha de água, (que deveria ser a bebida mais barata do mundo), e bastante mais barata que um sumo de fruta ou néctar, ou até chá. E quando falamos de um sumo de laranja natural a comparação é tremenda: pelo preço que alguns estabelecimentos cobram por este dá para comprar 3, 4 , 5, 6 cervejas...



segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

coisas de opinar: As hienas de Harar e as raposas de Portugal.



Ontem assistimos, deliciados e estupefactos, a um documentário da vida animal passado na vila etíope de Harar, sobre a relação incomum entre os seus habitantes e as hienas.
No passado, por falta de alimento no seu habitat natural, as hienas sentiram-se forçadas a migrar das montanhas para as redondezas desta vila. Naturalmente, começaram os ataques a rebanhos e talvez a humanos.

Como acontece ainda hoje em dia, uma vez por semana, o conselho de sábios reuniu-se para meditar sobre uma solução para este problema. O fantástico é que em tanto lugar do mundo, na maioria acredito, a solução encontrada passaria por exterminar as hienas. Mas não em Harar!
Isto passou-se há uma centena de anos: a solução definida pelos sábios de Harar foi que se passasse a alimentar as hienas.

Em vários pontos da vila são deixados recipientes com uma espécie de pudim de cereais bem regado com manteiga, mas o verdadeiro fenómeno reside na existência de homens que alimentam as hienas à mão, dando-lhes pedaços de carne, com a ajuda um pauzinho. Que as chamam assobiando, que as conhecem e lhes deram um nome, e cujo chamado elas reconhecem.



Criou-se uma inesperada harmonia entre animal selvagem e humanos, que atrai curiosos de todo o mundo. O que começou por ser um gesto nascido da necessidade para preservar vidas humanas e rebanhos, sem abdicar do respeito pela vida e compaixão, cresceu para uma relação que se pode até chamar de afectuosa.
As hienas andam à vontade pelas ruas da vila, as pessoas passam por elas como se nada fosse. Têm-lhes carinho: confessam que olham para estas como amigas, cães. Que tal como os cães estas parecem entender o que lhes dizem.
No documentário há vários momentos destes, desde uma senhora que já não consegue dormir descansada sem os sons das hienas, uma mãe que leva uma criança para as ver mais de perto, o jovem alimentador de hienas de somente 19 anos que depois da primeira noite em funções diz nunca se ter sentido mais entusiasmado e feliz, de como fala da vitória que é a lenta conquista de confiança em que o animal vem buscar o seu pedaço de carne e permite um afago.

Criaram superstições e crenças animalísticas em que a hiena é um espírito protector, que os salva de demónios e djinn. Há sempre uma base de verdade nos mitos e a mim pareceu-me que a protecção atribuída à hiena é o seu papel na ecologia: por exemplo, os restos provenientes dos matadouros são deixados numa colina, e os cães e hienas comem todos os restos. E por incrível que pareça, em companhia uns dos outros, sem ataques.
Há cães, gatos, e crianças, e todos andam livremente pelo espaço. À noite as pessoas recolhem às suas casas, e a presença das hienas intensifica-se nas ruas da vila. A tv mostra a imagem de uma hiena que acelera para se desviar de uma matilha de cães mais atrevidos. Quisesse ela e comia um deles só com uma dentada. Simplesmente não esteve para isso.

Acho que já deu para pintar o cenário das hienas. Posso passar agora às raposas.
Porquê as raposas, e em Portugal, como escolha de tema?

As redes sociais inflamaram-se quando se espalhou nas mesmas o anúncio de uma "batida" organizada pelo clube de caça e pesca de Santa Tecla, Famalicão, com data marcada para 26 de Fevereiro.
Como em tudo, as opiniões dividiram-se e ambos os lados fizeram-se ouvir.
Na defesa do evento, o presidente do tal clube afirmou que a grande motivação do evento é "desportivo", que é um desporto como outro qualquer, que é algo que já se faz desde a época dos reis.

Mais aqui.

Eu cá sou absolutamente contra a caça desportiva. Aliás, a abolição desta é uma das minhas causas.
Não acho plausível nenhum dos argumentos utilizados como tentativa de justificação de práticas que residem na busca de prazer através da crueldade. Isso, nos dias de hoje, para qualquer cabeça sã não é mais que sinal de psicopatia.

Usar a tradição como argumento é vão: a antiguidade de uma prática não justifica a sua perpetuidade. Unicamente o carácter desta define a sua continuidade.
Felizmente existe algo chamado evolução, e o que foi um dia aceitável, no futuro deixará de o ser. Caso não o fosse não se lutaria pelo fim da prática da mutilação genital, das touradas, dos circos com animais. Caso não o fosse nunca teria sido abolida a escravatura, nem se teriam redigido declarações como a dos Direitos Humanos ou da Criança, continuariam a haver tribos canibais, sacrifícios humanos, serviríamos um senhor feudal que teria total domínio sobre a nossa pessoa e vida, e por aí fora. Afinal tudo isto e muito mais pertence a uma lista de antigas práticas, logo tradicionais, certo?!

Sim, tristemente por vezes a caça parece a última solução em determinadas situações. Por exemplo, nos casos extremos em que uma espécie invasora chega a um território, geralmente sempre por mão humana, e por não pertencer aquele habitat, não ter predadores, todo o ecossistema, todas as outras espécies correm um enorme e bem real perigo de desaparecerem. Um desses exemplos é a presença do peixe-gato em várias zonas onde este não é nativo. Mas não deixa de ser uma triste intervenção na tentativa de corrigir um enorme erro humano. Aliás, quando decidimos interferir o resultado não costuma ser bom.

Outra situação é o recurso à caça como meio de sobrevivência. Nem todas as pessoas do mundo vivem numa sociedade onde há mercearias e hipermercados à esquina. Existem ainda lugares em que se não caças, não comes, e se não comes, morres.
Mas essas pessoas, como não faltam documentários que as apresentam aos nossos olhos, são muito diferentes dos caçadores desportivos. Estas fazem-no por verdadeira necessidade, muito provavelmente ficariam horrorizadas perante alguém que o faz somente por prazer, porque melhor que muita gente, sabem que se tirarem da Natureza mais do que aquilo que necessitam, na conta da frugalidade, gera-se um desequilíbrio do ecossistema. Que o respeito pelas outras espécies é indispensável à sua, que não são mais importantes que qualquer uma das outras espécies com quem partilham aquele espaço. Que o ego é sinal de tolice.

Para terminar, deixo-vos com um par de vídeos protagonizados por raposas, esses seres maravilhosos, e pensem lá se concordam ou não com a caça desportiva, se se imaginam em sua perseguição.












segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

coisas de Natal: A missão dos "Tios Natal"



Há anos atrás, lembro-me de ver uma qualquer entrevista com uma artista musical de relevo qualquer, e das poucas coisas que retive foi a descrição do momento em que descobriu que aquela era a sua paixão. Um qualquer familiar lhe havia oferecido uma guitarra aquando criança, e isso foi suficiente para despertar um interesse que se tornou numa enorme história de sucesso.

Embora não me lembre de quem é quem, esta é uma história bastante comum. É o prólogo de muitas histórias de sucesso, de adultos que descobriram a sua vocação, que não só se tornaram um exemplo por serem bons no que fazem, mas especialmente por inspirarem outros por serem felizes em fazê-lo.

Isto não ocorre só no campo da música, mas em todos os contextos. Também não ocorre somente na vida de pessoas que são nacional ou mundialmente famosas, aliás a fama é o que menos importa.
O ponto verdadeiramente importante destes exemplos, pelo menos o que retirei para a minha vida, é que nós, adultos, temos o dever de alargar o horizonte das nossas crianças, apresentar-lhes coisas novas, permitir-lhes novas experiências. Se gostarem, fantástico, se não gostarem, fantástico à mesma. Pois saber que não se gosta de algo, que o nosso caminho afinal não é por ali, também é uma grande ajuda na formação da personalidade de qualquer indivíduo.

Achamos que as épocas de oferecer presentes, como o Natal e aniversários, são ideais para aplicar esta máxima.
Não vou revelar o que escolhemos para as sobrinhas, não vá a mais velha ler o meu blogue. Só digo que quisemos proporcionar-lhe uma nova experiência, ajudar na autodescoberta.

Como é que tudo isto se traduz num objecto palpável? Fugindo das grandes tendências e definições de género.
Ou seja, os miúdos já passam demasiado tempo agarrados à tecnologia - aos telemóveis, tablets, pc's e consolas de jogos, então porque não optar por algo relacionado com uma qualquer Arte.
Só no campo da Arte temos um universo inteiro por onde escolher: desde equipamento fotográfico, a material de pintura, um instrumento musical, a kits que ensinam a desenhar cartoons... e tanta coisa mais.

Ou Desporto. Ou Ciência. Mesmo que seja para uma menina. Sobretudo se for uma menina: já chega de impôr limites, de classificar o que se julga adequado ou não por género. Devemos ser mais evoluídos que isso.
Há telescópios, microscópios, brinquedos que ensinam o básico da programação informática desde a mais tenra idade, e milhentos jogos e kits de ciência, trotinetas, patins, e todo um mundo relacionado com desporto que vai muito além do futebol.





terça-feira, 25 de outubro de 2016

coisas de opinar: Onde moram deus e o diabo?



Nos detalhes.

Os pormenores não são tudo, mas podem ser grandes indicadores das nossas forças e fraquezas de carácter. Tantas vezes suficientes por si para criar distância ou proximidade entre as pessoas, para elevar a consideração, a empatia ou o carinho que se tem por alguém, ou para a que opinião que formamos sobre determinado indivíduo não seja a mais favorável e simpática.

Embora nas tarefas quotidianas eu não tenha perfil, nem pachorra nem sequer talento para me dedicar a minúcias, dou importância aos pormenores no que toca ao comportamento humano, pois de certa forma ajudam-me a formar uma opinião sobre as pessoas.

Também não se trata de abusar da crítica e do julgamento sobre o próximo, pois afinal todos seremos santos com pés de barro, mas da necessidade que todos, sem excepção, sentimos de procurar traços de personalidade que nos indiquem se aqueles que se cruzam connosco merecem a nossa confiança, e se nos podemos "dar", muito, só um bocadinho, apenas em determinados contextos, ou absolutamente nada.

Acredito que pelo menos a grande maioria de nós se serve dos detalhes para o mesmo efeito.

E como são esses pormenores?

Só para exemplificar, a colega que oferece um chocolate a outra só para a animar depois de um dia puxado é, no meu julgamento, bem diferente das pessoas que ao venderem a sua casa a entregam aos novos donos, havendo levado até as lâmpadas e as tampas dos ralos.


terça-feira, 18 de outubro de 2016

coisas de opinar: O pequeno e o grande comércio.



Há um enorme motivo para que o título desta mensagem não seja o talvez esperado "pequeno versus grande comércio", e este prende-se sobretudo com o facto de esta ser escrita segundo a minha perspectiva de consumidora. É que para os consumidores não há nada tão benéfico quanto a concorrência.

Sou responsável pela grande maioria das compras cá para casa. Esta forma de "caça moderna" faz-me saltitar entre pequeno comércio, supermercados e ocasionalmente, hipers.

Na minha demanda procuro os produtos que, segundo a minha análise, melhor satisfaçam o rácio custo/ benefício.

Como é natural, alguns pequenos comerciantes diabolizam o grande comércio. Pelo menos os que ainda não se aperceberam que haverá, no mercado, lugar para todos, embora a captação e a fidelização de clientes seja mais trabalhosa, exigindo especialmente por parte do comércio tradicional uma conduta, um cuidado e um nível de conhecimento que antes do aparecimento dos estabelecimentos de grande retalho eram desnecessários.

Verdade seja dita, e sem paninhos quentes, existem maus hábitos que proliferam na ausência de concorrência. Quando um qualquer estabelecimento detém o monopólio é fácil cair na tentação de se ser menos exigente com a qualidade e variedade do que se coloca no linear, e cobrar excessivamente. Mesmo que sejam tácticas que não agradem aos consumidores, quando não existem opções o insucesso é impossível. Também é mais que natural que os comerciantes que adoptaram esta postura sejam os que mais sofrem nos resultados aquando o aparecimento de concorrência.

Uma reflexão que gostaria de passar é que o mercado torna-se mais rico e positivo quando o consumidor não tem que optar pelo pequeno ou grande comércio, mas pode sim vivenciar ambas as experiências de consumo. Pequeno e grande comércio, mesmo nos casos em que vendem os mesmos produtos, possuem características que os distinguem entre si, e aí residem os seus pontos fortes.
Daí que eu considere que a tal diabolização do grande comércio é uma presunção arcaica e acima de tudo prova de desconhecimento sobre como formular um negócio bem sucedido.

Dois dos maiores trunfos do comércio local, a meu ver, é a proximidade, e acreditem ou não, a sua pequena dimensão.
São estes trunfos que permitem uma localização tão próxima dos consumidores, (e como é conveniente e apetecível ter algo tão perto de casa), assim como a construção de uma relação pessoal entre comerciantes e clientes quase familiar, e por fim a possibilidade de oferecer produtos de qualidade oriundos de pequenos e médios produtores locais, (e não só), que pela sua dimensão nunca ou raramente terão entrada no linear de uma grande superfície.

Alguns dos principais motivos para o consumidor não esquecer o comércio local é que sem a presença das pequenas lojas de rua, sem o movimento de pessoas e bens que estas estimulam, os lugares que habitamos não passariam de tristes dormitórios. Apoiar o comércio local é contribuir também para o sucesso de pequenos empreendedores, desde produtores a comerciantes, é permitir que mais pessoas apostem na criação do próprio emprego ou que famílias possam dar continuidade a um negócio que perdura já por gerações. Outro motivo é que a localização destas lojas, geralmente tão próxima dos centros dos lugares,  permite às pessoas um fácil acesso a um número de serviços e bens, sem a necessidade de recorrer a transporte, o que é uma tremenda mais-valia num ou outro momento para qualquer pessoa, mas tem uma especial importância para alguns membros da sociedade, especialmente os mais idosos.

Quando penso nas grandes superfícies considero que as características que mais me atraem são precisamente aquelas que considero mais difíceis de encontrar no pequeno comércio: uma imensa variedade, a rotação frequente de stocks, capacidade de oferecer promoções e preços mais baixos e os horários.

Gosto de não ter que escolher entre pequeno e grande comércio. Escolho sim, dentro de cada categoria, as lojas que mais me atraem, dispensando aquelas que não me agradam, e faço, como todos aqueles que vão às compras, um mapa mental de onde posso encontrar os melhores itens, a nível de preço e qualidade.

No entanto devo confessar que, se fosse obrigada a escolher, teria que optar pelas grandes superfícies.
Embora existam na minha zona algumas lojas de rua bastante razoáveis, de quem sou uma cliente habitual, por mais que simpatize não conseguiria abdicar da tal variedade, rotação frequente de stocks, maior elasticidade dos preços, o conforto de se pagar qualquer quantia com o cartão que preferir, (sei que há uma cadeia de hipermercados que não permite pagamentos por cartão em compras inferiores a 20€, e por isso a marca foi riscada da minha lista), e  embora goste do ambiente familiar do pequeno comércio, há dias que nada bate o quão refrescante é os empregados dos supermercados e hipers estarem-se nas tintas para a quantidade que o cliente compra naquela visita, poupando-nos dos trejeitos e gracinhas que fazem parte do dna de alguns pequenos comerciantes.





segunda-feira, 8 de agosto de 2016

coisas de opinar: Verão é pôr-do-sol, praia, churrascos e... incêndios.



Sintonizei a tv num canal de notícias. Falam dos incêndios que se encontram de momento activos. Um inferno: 102 incêndios, com mais de 2000 bombeiros e 700 viaturas no terreno. São muitos, incansáveis, e mesmo assim não chegam a todo o lado, com a intensidade necessária. É o que se entende pelas imagens de populares a combaterem as chamas, dos repórteres que vão anunciando a proximidade destas de casas, mercados, restaurantes, a 100 metros, a 50 metros.

O noticiário termina e passa para publicidade. Um qualquer spot televisivo de uma cadeia de hipermercados passa em ritmo leve e animado que "Verão é pôr do sol, churrascos" e mais não sei o quê.
Verão é tudo isso, mas também são os incêndios. Não é de agora, sempre foi assim.

Lembro-me de há pouco tempo ter apanhado, também na tv, alguém de uma qualquer corporação de bombeiros que dizia, e bem, que a prevenção dos incêndios faz-se durante todo o ano, especialmente no Inverno.

Reinicia o noticiário. Mostram imagens de pessoas com mangueiras a molharem as casas, de quem tenta extinguir uma linha de fogo com baldes, mangueiras, ramos e tudo aquilo que venha à mão. Existem localidades cercadas pelo fogo e os moradores ajudam os bombeiros como podem, na tentativa de salvar habitações e animais.

Em muitas destas frentes o fogo parece levar a melhor. O país encontra-se em alerta laranja: as temperaturas elevadas, o vento, que vai aumentado com o ar aquecido pelo próprio fogo, a falta de limpeza dos terrenos são os principais factores que dificultam esta batalha.

Há já infraestruturas consumidas, sem contar com a imensidão de verde que já nem para pasto servirá nos próximos anos.

Um dos moradores fala da perda de caixas de abelhas. De como as tentava salvar, usando baldes para apagar as chamas. De como estas reapareciam sempre um pouco mais abaixo, alimentando-lhe a suspeita de fogo posto.

Neste preciso momento, no site da Autoridade Nacional da Protcção Civil, apenas 3 distritos não são cenário de incêndios rurais.

Notícias confirmam que a origem de dezenas destes incêndios foi mão criminosa.

Outros tantos se não mais ainda, terão origem na negligência: a lei especifica, por exemplo, que os proprietários têm até 15 de Abril para limpar os terrenos florestais num raio de 50 metros em redor dos edifícios. Especifica também como se limpa, e os cuidados a ter ao se optar pelo método de queimada, visto que facilmente uma se transforma num incêndio incontrolável.
Também já fomos informados e educados através, se não do senso comum, de inúmeras campanhas de sensibilização sobre ser proibido fumar ou atear fogo nas florestas, de como não se devem largar beatas, nem deixar lixo.

Agosto está mesmo no início, e se já foi por água abaixo a minha esperança de termos uma época calma a nível de fogos, rezo que este ano ninguém perca a vida.

Preparo-me para concluir. Entretanto reinicia o enésimo noticiário e o número de incêndios aumenta. Continua-se a falar de destruição.

As estações passam. Transitamos dos incêndios para as cheias, das cheias para os incêndios. Todos os anos repetimos os mesmos discursos, que agora é que é, havemos de prevenir, limpar as matas, dar mais apoios aos bombeiros, limpar os algerozes para não andarmos com água pelas canelas.
Como S. Tomé, acreditarei quando vir.

terça-feira, 12 de julho de 2016

coisas de opinar: Anita comenta o Euro 2016



Quem me conhece minimamente sabe que, usualmente, sou daquelas pessoas totalmente avessas à cultura futebolística. Não sou de tal forma entusiasta que nem tenho um clube favorito e mal conheço os desportistas.
Basicamente é porque não tenho um pingo de pachorra para com discussões ou conversas sobre rivalidades clubísticas, ou para com a forma como há quem aproveite o contexto da festa desportiva para extravasar através de comportamentos excessivos e negativos, que vão desde a agressão física e verbal, ao consumo excessivo de álcool. O hooliganismo é dos comportamentos que mais nojo me mete.

No entanto abro uma excepção quando se trata da selecção nacional.

Quando um qualquer indivíduo ou equipa representa, numa qualquer competição internacional, as cores do seu país, não só incorpora os valores associados a essa prática desportiva, como se torna um símbolo nacional, tal como a bandeira, o hino, a figura do Presidente, etc.

Tendo sido a França o país anfitrião deste Euro, país de acolhimento de mais de 1 milhão de portugueses e onde reside a maior comunidade de emigrantes portugueses, foi impossível não perceber, através das imagens colhidas pelos repórteres, a grande importância dos símbolos nacionais, especialmente para os nossos emigrantes.

A nossa diáspora é imensa. Duvido que haja mais que uma mão de famílias portuguesas que não tenha ou não teve alguém emigrado. Logo, a empatia para com aqueles que se encontram fora do território nacional é muito fácil e poderosa.

Embora não perceba rigorosamente nada de futebol - sei o que é um penalti e ficamos por aí, - atrevo-me a apresentar-vos uma lista dos pontos negativos e positivos deste Euro, segundo moi-même.

Do que gostei:

- Cada discurso da nossa selecção servia para dar ênfase ao valor da equipa e do trabalho em grupo. Quando era mais que comum ver um qualquer jogador a dirigir elogios aos colegas. Da crença na vitória.

-  Das boas claques, como a irlandesa e a

- Da nossa vitória, como é óbvio, e da imensa festa de celebração.

- De ter sido uma época fantástica para o desporto nacional, também com grandes vitórias no atletismo, na canoagem, no ciclismo.


Do que não gostei:

- De como os adeptos ingleses e russos personificaram o que de pior existe no futebol. Os ultras polacos também foram repugnantes, e os franceses não foram melhores.

- Do mau jornalismo. O exemplo francês não foi o único, mas o uso da expressão "dégueulasse" ficará na memória como um momento muito infeliz e pouco profissional da parte de quem se diz ser um jornalista.

- Do mau perder dos franceses. Eu que não percebo nada de futebol, lá fiquei à espera que, após a final, os jogadores franceses engolissem as emoções por uns momentos, se endireitassem e fossem cumprimentar o adversário, numa demonstração, por mim esperada, de fair-play, cordialidade e profissionalismo. Nunca aconteceu. Uma pena.


Nunca encontrei utilidade no futebol. Desta vez pensei de forma diferente.

O nosso Presidente, o Professor Marcelo, disse, no dia da vitória da equipa portuguesa que no dia seguintes os emigrantes iriam para os seus locais de trabalho "20 centímetros mais altos", imunes à sobranceria com que são olhados, há décadas, pelos cidadãos franceses.
Há comentadores experientes e entendidos que se recusam, e muito bem, a retirar elações para além do jogo, mas na verdade houve muito boa gente que se apropriou dos acontecimentos do Euro como uma analogia da vida real.
Como se o futebol fosse a vida, e houvesse quem, olhando para nós, se lembrasse de nos adjectivar como "dégueulasse", nojentos, asquerosos, pequeninos, irrelevantes.

Depois foi um momento tipo David e Golias. Talvez um dia aprendam que dégueulasse é não saber perder, é a ausência de fair-play, de desportivismo, de humildade.

E como os pequeninos afinal são grandes, imensos, não haveria imagem mais perfeita e simbólica de tudo isto do que o pequeno miúdo português a consolar o adepto francês.






E hoje, em que a festa deu lugar ao tema de novas sanções a Portugal e Espanha, gostaria que continuássemos em jogo, a trabalhar como equipa, a elogiar o colega, a acreditar na vitória, e a mostrar uma tremenda empatia para com todos aqueles que se cruzam connosco, mesmo que nos olhem de cima. Especialmente quando nos olham de cima. Esta é a grandeza de ser pequeno.




segunda-feira, 23 de maio de 2016

coisas de opinar: Os reais problemas da Educação



Quanto à questão dos contratos de associação ainda há muito para ser feito, mas nada mais para ser dito que possa acrescentar valor ao debate.

No entanto, para quem andou de cabeça no ar, fica aqui a explicação mais clara e sucinta, com direito a ilustrações e tudo, que encontrei.





Eu gosto de debates, especialmente quando inteligentes, sérios e quando existe uma real intenção de fazer uma análise profunda, alcançar a raiz dos problemas e encontrar possíveis soluções. Tipo um brainstorming.

Eu gosto muito dos debates que incidem sobre os pilares da sociedade. A Educação é um desses pilares, assim como a Saúde, a Segurança, entre outros. Há sectores, temáticas, tão, mas tão importantes, que são a espinha dorsal de qualquer nação. A qualidade de quem e do que somos, a capacidade de aspirar a mais e melhor, depende directamente da força dos nossos pilares, como acontece com qualquer edifício.

Talvez ainda carregue traços de ingenuidade, mas a cada debate que vai surgindo renova-se a minha esperança de que seja finalmente esta a vez que se esmiúce o tema como deve ser, se escarafunche o furúnculo doa a quem a doer, e se inicie a cura da doença e não só o alívio da sintomática.

A Educação é uma causa muito importante para mim, assim como é tudo aquilo que considero um pilar da sociedade. E deveria ser para todos, não só para quem tem miúdos em idade escolar ou é profissional da área. Simplesmente porque de uma fraca educação, resultam fracos cidadãos, fracos indivíduos. E o mundo precisa urgentemente de melhores pessoas, de novas gerações que ultrapassem sempre a anterior no barómetro da evolução, e não que fiquem aquém.

A Escola é um conceito que tem que ser repensado e redesenhado. A que existe, a meu ver, não satisfaz os propósitos mais elevados.
Merecemos melhor do que crianças dopadas com Ritalina porque pais, pediatras e educadoras não sabem, e provavelmente nem lhes apetece lidar com crianças enérgicas, normais, expressivas, quanto mais intervir com aquelas que necessitam de ser disciplinadas.

Merecemos um sistema de ensino de excelência, que se dedique em primeiro lugar à formação de indivíduos de valor, com princípios e bom carácter, e em segundo à transmissão de conhecimentos e matérias. Se há que definir prioridades, esta é a ordem que defendo.

Se é possível fazê-lo hoje em dia? Nem pensar! E porquê? Onde reside o problema?
Maldita cabecinha pensadora que disseminou, anos atrás, o conceito que a educação das crianças é tarefa única dos pais. Que a escola serve somente para ensinar matérias, fazer cumprir programas e avaliar. Talvez seja um conceito possível de aplicar nas universidades, mas o resultado de se seguir este dogma em todos os anos de escolaridade está à vista: bullying, desrespeito para com o pessoal docente e auxiliar, roubos, agressões físicas e verbais, insegurança, consumo de álcool, tabaco e cannabis, e até preservativos usados se encontram nos recintos escolares.

A Educação começa em casa, sim senhor, mas deve ser continuada nas escolas e em todos os locais frequentados por jovens. Diz o adágio e muito bem que é necessária toda uma aldeia para criar uma criança, portanto é dever de todo o adulto intervir quando se depara com uma qualquer situação que não siga os conformes dos bons princípios.

Da mesma forma que os pais passam muitas horas no emprego, também os alunos passam muitas horas na escola. Em todo esse tempo existem mil janelas de oportunidade para que algo aconteça.
Os pais confiam os filhos às escolas. Não só esperam que estes aprendam de forma bem sucedida um conjunto de matérias, mas que estejam num ambiente seguro e que lhes seja exigido um comportamento dentro de parâmetros aceitáveis. De preferência que se lhes seja dada a oportunidade, como pais, de ver a prole florescer em todos os sentidos. Algo só possível quando há trabalho de equipa entre pais, escola e sociedade.
É errado a todos os níveis que as escolas se dissociem desta responsabilidade. Enfurece-me e preocupa-me haver quem tenha escolhido a área da educação sem a noção, sem querer aceitar, que é uma vocação que envolve meter as mãos na massa em relação ao desenvolvimento de um ser, em todas as suas dimensões, não só a intelectual.
Perdoem-me a franqueza, mas se é só debitar matéria que vos enche as medidas, ide escrever artigos para a wikipédia.

Se disserem que não estão reunidas as condições para tal, que faltam pessoas, meios, etc, isso é bem diferente do discurso do "não quero saber, não é problema meu".
Aí, é função do Estado providenciar os meios necessários para o sucesso.

Acredito que este é um dos mais sérios e reais problemas do nosso sistema educativo. Afinal, as mais belas rosas surgem sob o olhar atento do jardineiro. Só as ervas daninhas se dão bem ao deus dará.


terça-feira, 17 de maio de 2016

coisas que me irritam: Uma mensagem às Senhoras Fisioterapeutas e Massagistas em geral



No tempo da Maria Cachucha, quando era uma miúda, e servia às mesas durante as férias num hotel de quatro estrelas, havia algo que não sei se as novas gerações de empresários e colaboradores já ouviram falar, que se chama "código de vestuário".
Ora bem, no código que me regia haviam regras de senso comum de forma a sublinhar o quão é importante a apresentação e a higiene pessoal quando se lida com pessoas e bens alimentares. Por exemplo, era requerido que as unhas estivessem impecavelmente arranjadas, curtas, e se pintadas, que fosse com verniz transparente ou uma cor subtil e de bom gosto, e sem estar "descascado". O mesmo princípio era aplicado à maquilhagem e adornos pessoais, para quem usasse, que afinal ali não era o cabaret da coxa.
O uso de perfumes de aroma intenso também era desaconselhado, e os cabelos deveriam ser usados curtos ou apanhados. Afinal quem é que gosta de apanhar um cabelo na comida, não é?

Este tipo de regras são comuns a todas as áreas profissionais, com variações dependentes de cada situação. Mas o princípio está lá: as escolhas pessoais que fazemos em relação à nossa imagem não devem interferir com a capacidade de prestar um bom serviço.

E o que é isto tem a ver com fisioterapia, massagens e afins? Tudo.

Os meus pais andam a fazer sessões de fisioterapia. Para quem está doente, é essencial que cada sessão corra bem e conte para a sua reabilitação.
No local onde lhes prestam estes cuidados entrou há pouco tempo uma novata. Dá umas massagens de merda, desculpem-me a frontalidade e o linguajar. O maior problema não é, de todo, a sua falta de experiência, mas as compridas unhas de gel. Tem tanto jeito para a coisa como o Eduardo Mãos de Tesoura. Por causa do raio das unhas não consegue fazer mais do que tocar nos pacientes com a ponta dos dedos.

Faltam dois dedos de testa à novata por ir para o trabalho com unhas de gel. Faltam dois dedos a quem ensina estes profissionais por não lhes ensinarem estas coisas básicas. Faltam dois dedos de testa a quem trabalha com ela, sobretudo aos superiores, que no primeiro contacto lhe deveriam ter dito, de forma bem inequívoca, que se quiser trabalhar as unhas vão fora.

domingo, 8 de maio de 2016

Ideias de negócio: A urgente necessidade de micro empreendedores


Para mim, as melhores ideias de negócio serão sempre aquelas que conseguem colmatar uma real necessidade, em detrimento daquelas que dependem de uma estratégia mercantilista que crie essa noção.

Há umas semanas, estava na esplanada de nariz encostado ao portátil, bastante focada no que procurava. As conversas de quem me acompanhava passavam-me quase totalmente ao lado. Das poucas vezes que os encarava pareceu-me que a amiga do meu amigo se queixava. De falta de dinheiro, acho eu. Saltitava entre possíveis ideias para aumentar os rendimentos.
Enfiei ainda mais o nariz no monitor. Como só a vi um par de vezes faltava-me a confiança, a intimidade, o à-vontade necessários para ser honesta sobre tais ideias, se se decidisse virar para mim.

Um par de dias mais tarde voltei a lembrar-me dessa "amiga do meu amigo", após dois dedos de conversa com uma das senhoras octogenárias com que me cruzo habitualmente durante os passeios com o Kiko. A Dona F. falava-me do quanto lhe custa tratar das coisas em casa, do muito que já não pode fazer, de quanta falta lhe faz o autocarro que antes passava ali na rua, que já não consegue caminhar até ali ou acolá. Que o que a safa é a senhora que lhe vem dar um jeito à casa, uma vez por semana, e que falta que esta lhe faz agora que está doente.

Lembrei-me também do quanto gosto de pessoas trabalhadoras e desenrascadas, do orgulho que tenho numa mão cheia de amigos, que independentemente de terem ou não canudo, da sua área de estudo ou trabalho, género, idade, ou qualquer outro, sem quaisquer ressabiamentos, preconceitos e afins, quando tardava quem lhes oferecesse trabalho, enquanto uma qualquer oportunidade relacionada com a sua área não aparecia não ficaram quietos e fizeram-se à vida: lavaram escadas, engomaram roupa para fora, limparam casas...

Gosto de quem, não encontrando oportunidades, as cria. Porque empreendedorismo é todo um mundo que não começa nem acaba atrás de uma secretária, nem acontece só em modelos de média e grande escala.

Gosto de quem entende que todo o trabalho, se honesto, é digno e necessário. Que um dos maiores pecados que cometemos enquanto sociedade é não dar o mesmo valor a todos os trabalhadores, quer sejam professores, empregados fabris, agricultores ou engenheiros.

Portanto para quem quiser arregaçar as mangas consigo vislumbrar algumas oportunidades: em qualquer aldeia, vila ou cidade não faltam pessoas idosas, que embora ainda consigam ser suficientemente autónomas para viverem nas suas casas e tratarem das suas vidinhas, o fazem com limitações e necessitam de uma mão.
São pessoas que precisam de ajuda com tarefas domésticas, das limpezas à preparação de refeições, (lembro-me da Dona M. que já me confessou ter-se esquecido do fogão aceso), alguns trabalhos de manutenção no lar, coisas às vezes tão simples como mudar lâmpadas. Que as acompanhem às consultas médicas, à farmácia, ao cemitério, (queixa-se a Dona F. que já não consegue visitar a campa do marido todas as semanas). Que as levem às compras, ou até que lhes façam as compras, nem que seja online.

Em todas as aldeias, vilas e cidades existe a necessidade real de pessoas, que não sendo nem fazendo propriamente o trabalho de técnicos especializados em geriatria, apoiem as pessoas de idade providenciando este tipo de serviços.
São necessários micro empreendedores, pessoas honestas, de confiança, empáticas, despachadas, assíduas e pontuais que se dediquem a este segmento.
As vantagens é que podem ser patrões de si mesmo, desenhar os próprios horários e nem sequer precisam de ir para longe para trabalhar. Aposto que mesmo à porta de casa serão capazes de encontrar cinco pessoas/ casas/ famílias que lhes ocupem a semana laboral.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

coisas de opinar: Um par de ideias para Marcelo...


... ou a primeira pequena lista de coisas que gostaria que o nosso Presidente pudesse concretizar:

1 - Iguais condições de trabalho nos sectores público e privado. As diferenças existentes, para além de serem injustas servem unicamente para alimentar desarmonias e cisões entre a população.

2 - Maior justiça salarial. Aproximação dos salários mínimos e máximos, através do aumento substancial do primeiro e criação de um tecto máximo salarial, especialmente para os casos em que o erário público é utilizado para o pagamento dos mesmos.

3 - Corte de salários e benefícios de ministros, deputados e gestores públicos.

4 - Expulsão da carreira pública e vida política todo aquele que seja ou tenha sido alvo de suspeita de falta de idoneidade, ou alvo de uma qualquer investigação ou acusação.




terça-feira, 8 de março de 2016

coisas de opinar: Dia da Mulher



Hoje é um bom dia para confessar que, mais que uma vez ao longo da minha vida, desejei ter nascido homem. Pelo simples facto das coisas parecerem mais fáceis para o outro género.
Nem sempre esse desejo surgiu de acontecimentos em nome próprio. Desde criança, o que me faltava em energia e aptidões físicas, sobejava em pensamento e poder de observação. Não mudei muito, para não dizer que não mudei nada.
Muitas vezes preferia ficar em casa a ler ou a ver televisão do que ir para a rua brincar, e está ligada à televisão uma das minhas primeiras memórias sobre ter achado uma "grande seca" isto de ter nascido sob o signo feminino.

Não me lembro da minha idade exactamente, mas lembro-me de estar a assistir a um documentário sobre uma qualquer tribo africana, tão distante geograficamente como em costumes. Havia um grande festival, com danças, música e outros rituais. Jovens casadoiros faziam trinta por uma linha para caírem nas boas graças de jovens raparigas e das suas famílias. Após tudo concertado, o dote pago à família da moça, esta deveria acompanhar o esposo até à sua aldeia, onde viveria com este e com os sogros. A partir do momento em que se tornasse uma mulher casada a sua função seria tratar do marido, dos sogros e futuramente dos filhos, por toda a vida, sem objeções e com uma total obediência. Uma escrava, portanto. Pelo menos até ela se tornar também uma sogra, caso dê à luz filhos e não filhas.

É incrível o que a nossa memória decide armazenar em lugar de relevo. Lembro-me tão bem da minha reacção. De ter achado aquilo muito mal, de ter ficado indignada, de ter pensado que realmente é um grande castigo nascer mulher, e porque me haveria de ter calhado a mesma sorte. Logo a mim, ser quase indomável, com este mau feitio, esta obstinação, e esta desobediência e rebeldia inatas.

É que mesmo a minha mioleira sendo tenrinha de tão nova não demorou mais que um par de minutos a somar dois mais dois, a concluir que, embora com outras roupagens, a realidade daquelas moças africanas não era muito diferente da realidade de qualquer mulher europeia.
Assim sendo, posso afirmar que me tornei feminista ainda antes de conhecer o termo.

Recordo-me de estar a passar férias em casa de familiares, (mais uma memória de infância), e após um jantar, em que era hábito serem as mulheres a levantarem a mesa e tratarem da louça, ter-me saído num tom muito fervoroso e altivo que "não, não! Cada um leva o seu prato para a cozinha e lava-o, que não há cá criadas!"

Ou quantas vezes copiei o adágio que ouvi muitas vezes a minha própria mãe usar, enfrentando qualquer homem que me parecesse ultrapassar os limites. Fosse quem fosse, superiores hierárquicos inclusive, olhos nos olhos, nariz empinado e num tom desafiador: "Eu, com as calças do meu pai, sou duas vezes mais homem que você!"
Como quem diz, respeitinho, baixa a bolinha, que independentemente do género, vais aprender que aqui a alfa sou eu, comigo não cantas de galo ou corto-te a crista!

Rio-me ao recordar que, até conhecer o meu marido, todos os namoricos eram para mim, (embora não o confessasse claramente porque soava mal), coisas passageiras, experiências divertidas juvenis, enamoramentos sem perspectivas futuras. Se me vinham com planos sobre o futuro, na minha mente ecoava um trocista "deve ser deve, isso e sopas."
Um dia, após muita insistência aceitei conhecer uma mãe, deixando explícito que para mim não era indicador de "compromisso". O moço teve a infeliz ideia de lançar um bitaite sobre o que deveria escolher em termos de outfit para a ocasião. Rapei frio mas fiz questão de levar o meu vestido mais curto. Quão curto? Muito curto!
Diverti-me tanto, (e a senhora também, que era muito mais prá frentex que o energúmeno do descendente), que baptizei o trapo de "traje oficial para conhecer sogras".
Mais do que uma piada ou expressão de imaturidade, havia até bastante discernimento e inteligência por detrás destas minhas "saídas". Serviam-me para avaliar a pessoa, tentar captar-lhe a essência, imaginá-la noutros tempos e contextos, e pensar se teria o perfil adequado para mim. Pronto, simplificando, um "test drive".

Façam-me o grande favor de ensinar a todas as meninas das vossas vidas que, um namorado que opine sobre a sua forma de trajar é um merdas, com o potencial para se tornar um grande filho da puta, e que a única coisa que merece é ir com os porcos. Sem hesitações ou penas de qualquer espécie.

Se sempre o soube devo-o em certa parte à tal capacidade inata, mas sobretudo aos meus pais.

Entre muitas e muitas outras coisas, a minha mãe sempre se debateu com a ferocidade de uma leoa pela minha liberdade de vestir o que me desse na real gana. De tal forma, que o meu pai desistiu em pouco tempo de fazer interjeições sobre o tamanho das minhas saias.
É que o meu avô sempre foi muito severo e controlador. Nunca permitiu à minha mãe vestir uma minissaia nem prosseguir os estudos. A minha mãe fez questão que eu tivesse a liberdade e a oportunidade para ambas as coisas.

O meu pai também era severo e disciplinador, mas demonstrou, em algumas ocasiões, maior abertura do que muitos pais da sua geração. Das centenas de discursos sobre educação sexual que tive que gramar, (e que honestamente agradeço), lembro-me de um em especial. O meu favorito.
Disse-me que só eu decidiria o rumo da minha vida. Que só o meu bem estar lhe interessava. Tudo o resto são detalhes indiferentes. Casar ou nunca casar, viver junto, ou outra qualquer opção, era-lhe completamente indiferente. O importante era ter a inteligência suficiente para saber usufruir destes novos tempos, não abdicando da minha liberdade, do meu poder, das minhas escolhas por ninguém. Que hoje as mulheres não têm que ficar presas ao primeiro homem com quem dormem. Que tivesse juízo, e que me divertisse. Que tivesse bom senso, e não confiasse demasiado em homem algum, que tomasse as rédeas de todas as situações, (ênfase na prevenção), porque ainda hoje, "quem se fode é sempre a mulher".

Agradeço-lhes. Um dos resultados foi, feliz mistura de sapiência e destino, ter encontrado um parceiro para a vida que me adora precisamente pelo meu mau feitio, que se está pouco cagando para o que visto, que mais depressa lhe nasce um mamilo na testa a desenvolver algum traço de machismo ou misoginia.

Feliz dia da Mulher a todas. Celebrai hoje, que amanhã é dia de voltar a arregaçar as mangas, para que as crianças que nascem hoje, sejam no futuro, adultos melhores que nós.










segunda-feira, 7 de março de 2016

coisas de opinar: O imposto sobre o tabaco


Há muitos anos atrás, no tempo da Maria Cachucha, quando era uma miúda e fumava às escondidas, se me dissessem que um dia pagaria quase mil escudos por um maço de tabaco nunca teria acreditado em tal profecia.

Mil escudos equivaliam a duas semanadas naquela época. Sim, que eu recebia 500 escudos por semana. Não era muito, mas dava para ir tomar café todos os dias com as amigas.

Lembrei-me disto quando se começou a falar do Orçamento de Estado e de como se esperava mais um agravamento no imposto sobre o tabaco.

Sim, o fumo é um vício nojento, como todos os vícios. Faz mal à saúde, tanto à própria como à alheia, e à carteira. Obviamente que concordo que, na obrigatoriedade de aumentar os impostos que estes incidam sobre aquilo que é supérfluo, não tocando na lista de bens que são realmente essenciais.

Contudo, como fumadora, estou fartinha que sempre que haja uma revisão dos impostos, se opte por mais uma violação à minha carteira, deixando incólumes muitos outros produtos que são igualmente supérfluos e que fazem tanto ou mais mal que o tabaco.

Esta coisa do IVA e do Imposto sobre o Tabaco sempre teve contornos que me deixam cismada.

Há coisas que para mim são incompreensíveis, como o facto das publicações periódicas pertencerem ao escalão mínimo de imposto, (6% no continente), e um caderno não. Segundo este prisma um jornal sobre futebol ou uma revista cor-de-rosa cheia de mexericos é um bem mais essencial do que um caderno para levar para as aulas.

Os refrigerantes, que todos sabem que são só gás e açúcar, estão na lista do bens essenciais, enquanto por exemplo, uma massa recheada ou um peixe fumado são considerados, em comparação, bens de luxo.

Volto a dizer, impostos sobre vícios, sim senhor, moralmente é muito correcto. Desde que se incluam todos os vícios. Quero ver o álcool e o jogo a levarem o mesmo tratamento que o tabaco. Não dizem que umas das intenções destes elevados impostos é incentivar os fumadores a largarem o vício?
E desde quando e com que bases é que o tabagismo é ou pode ser considerado um vício mais maléfico que o alcoolismo?!
Que eu saiba nunca ninguém, por fumar um cigarro a mais, começou uma cena de pancadaria num bar, ou deixou de estar em condições para conduzir, ou foi para casa bater na mulher e nos filhos.

Não são situações destas, tão comuns que já são consideradas património sociológico e cultural, muito mais dignas de um discurso de incentivo à moderação e até à erradicação do vício?!

Ide-vos mas é foder, pá!



terça-feira, 1 de março de 2016

coisas de opinar: Sobre o assalto do outro dia...



Tenho a sorte de viver numa pequena localidade onde as pessoas se conhecem e se cumprimentam, onde trato todos por "vizinhos", pois sinto que é o que somos, mesmo que moremos a ruas de distância.
Distribuo e colho sorrisos e dedos de conversa com pessoas de todos os géneros e idades, num contexto de pacatez que para mim é sinónimo de qualidade de vida, refúgio, segurança e felicidade.

Num mundo infelizmente tão fértil em cenários de guerra e violência dantescos, é um absoluto e verdadeiro privilégio ser a protagonista de uma vida onde me possa dar ao luxo de me ralar com caca de cão nas ruas, pensamentos filosóficos e coisas assim. É sinal que a vida me corre de uma forma brilhante, especialmente quando comparada com a realidade de infortúnio de muitos milhões por este planeta fora. Tenho a plena consciência do quanto sou abençoada, e raro é o dia em que não me sinta grata. Mil vezes grata.

Nos meus melhores dias, desejo a todos o fim das suas tormentas, uma vida como a minha onde possam encontrar paz, alimento para o corpo e espírito.

Domingo passado não foi um bom dia.
Esta pequena e tranquila localidade foi palco de um assalto a uma carrinha de valores por parte de um grupo armado, triplo carjacking e homicídio. Cena com contornos de violência pouco habituais no nosso país, e que resultou na perda de uma vida.

Entre o politicamente correcto e a franqueza, escolho a segunda, e devo admitir o seguinte:
Qualquer ser humano, e eu não sou excepção, possui um instinto de sobrevivência e uma necessidade de ver as suas pessoas protegidas, de tal forma primal que, quando algo acontece à nossa porta, todos os outros males do mundo empalidecem e passam para segundo plano.

Não há nada mais importante que a nossa segurança e a dos nossos. Abomino tudo e todos que a coloquem em causa. De tal forma que a racionalidade, a empatia, o discernimento e a sensibilidade que devo ter demorado umas quinhentas vidas para adquirir e apurar, se evaporam em menos de nada quando a ameaça existe e é real.

Embora não aprove, consigo entender que existam pessoas, cuja vida lhes corra tão mal e se sintam tão esmagados pelas circunstâncias, tão incapazes de providenciar o básico aos seus, que possam sentir a determinada altura que não tenham alternativa à via da criminalidade. Sublinho que mesmo nas situações de maior desespero o recurso à violência é sempre uma opção. Optar pela violência, pelo terror, ceifar vidas inocentes, não é nem nunca será sinal de necessidade, mas somente de má índole. E para com estes não consigo ter nem uma réstia de piedade ou compaixão. Somente um desejo, também ele sanguinário, de retribuição.
Dizem que em nós vivem dois lobos: um ser de luz e um de sombra. Domina aquele que decidimos alimentar. Em mim, são estas situações que fazem a minha sombra tomar conta da ribalta.

Não estive lá, mas podia ter estado. Podia perfeitamente ter sido eu, uma das minhas pessoas, algum dos meus vizinhos a ter sido baleado.
E eu, que não sou boa pessoa nem nunca o afirmei ser, já comentei que, estivesse eu na A16 naquele momento provavelmente teria acelerado a fundo para os passar a ferro. Que foi uma pena terem saído ilesos do despiste. Que se tivesse sido uma das minhas pessoas a vítima mortal, que se tivessem feito de mim a viúva, a minha missão pessoal passaria a ser persegui-los até aos confins da Terra se necessário, para às minhas mãos, lhes dar um tratamento digno de Vlad, o Empalador.

Sem paninhos quentes, com toda a franqueza.