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quinta-feira, 25 de abril de 2019
Do registo onírico #6: Algures no tempo, à sombra das laranjeiras
Esta noite sonhei com o meu avô.
De todos os avós, foi a morte deste, pai do meu pai, a que mais me custou. Muito provavelmente por ter sido o primeiro dos avós a partir.
É que aos olhos dos netos os avós têm uma espécie de idade misteriosa: são sempre velhos, já o eram quando nascemos, e são-no ao longo de toda a nossa vida. Mas a velhice é sempre abstracta, e só nos apercebermos que a vida é finita, quando esta finda. E nesse momento apercebermo-nos que não estávamos preparados, nem olhámos para a velhice como uma pista do que, eventualmente, iria acontecer um dia.
De vez em quando sonho com o meu avô, e são sonhos bons. Tão bons que quase tenho a certeza de sorrir enquanto durmo. Estes sonhos invadem-me de uma paz tremenda, uma alegria serena, as mesma sensações que sentia quando estava com o meu avô em vida.
Um dos motivos porque gostava tanto dele e sentia uma imensa conexão, era porque o meu avô não era de muitas palavras.
Quando estávamos só os dois, trocávamos meia dúzia de frases e um par de sorrisos, para depois nos quedarmos num silêncio confortável.
Ele enrolava um dos seus cigarros, eu puxava um dos meus, e lá ficávamos embalados naquela calma quase meditativa, naquele silêncio que aproxima.
terça-feira, 14 de agosto de 2018
Do registo onírico #5: Quando se sonha com gelados.
Aqui há um par de dias sonhei que estava a passar férias no Brasil. E enquanto o grupo se dedicava a outras actividades, decidi explorar o local.
Eis que me apetece comer um gelado, e após passar por algumas gelatarias, decido entrar numa cuja fachada apresentava fotos apetecíveis de banana split's e outras composições coloridas.
Estava com fome e calor portanto aquele gelado parecia mais e mais apetecível a cada minuto. No entanto o empregado que me atendeu ao invés de preparar o meu pedido, falava. Falava que se desunhava, e estava tão absorto no próprio monólogo que ignorava as tentativas de lhe interromper o discurso.
A minha irritação com o empregado falador parecia tão real, que acho que foi um dos factores que me levaram a acordar. E sem ter conseguido comer o tal gelado!
sexta-feira, 23 de junho de 2017
Do registo onírico #4: Viagens no espaço e tempo...
... pelo eixo Goa-Katmandu, há cinquenta anos.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Do registo onírico #3: Do sonho para a recordação, ou a mulher de barbas falsas.
Há umas semanas tive um sonho assim um bocado para o estapafúrdio: era repórter de guerra, e lá estava eu, na companhia do meu repórter de imagem, em pleno coração de uma qualquer cidade do Médio Oriente a fazer um directo. Envergava roupas de homem e umas barbas falsas, e a reportagem começava comigo a explicar que, por uma questão de segurança, tinha que andar disfarçada. Foi algo cómico e fez-me recordar o icónico "It is I, Leclerc" do " Allô, Allô".
O resto do sonho foi tipo um filme de acção com violência à mistura. A adrenalina e o medo eram palpáveis.
Para além de todos os riscos que alguém presente no centro de um cenário bélico enfrenta, sentia que o nosso pavor residia em sermos jornalistas ocidentais, com a agravante de um ser do sexo feminino, e o que nos aconteceria se fossemos capturados pela facção radical. A nossa sobrevivência dependia directamente da nossa capacidade de sermos discretos, portanto não envergávamos nada que nos identificasse como repórteres, optando pelo que disfarçasse ao máximo tudo o que pudesse atrair atenções indesejadas sobre nós, como a nossa ocidentalidade.
Após a recolha de imagens e a transmissão do directo à frente do tradicional cenário de tempestade balística, o grande desafio era regressar à base, que partilhávamos com mais uns quantos jornalistas: um abrigo subterrâneo cuja entrada era por um alçapão escondido nas traseiras de um edifício. O bunker estava ligado por um sistema de túneis cuja entrada era através de alçapões disfarçados em vários pontos da cidade. Para não sermos descobertos ninguém usava duas vezes seguidas a mesma entrada.
O nosso grupo de jornalistas, ao contrário do que é esperado, andava armado e tinha treino militar.
No caminho para o bunker, pelas vielas apertadas, entre paredes cor de areia, matei um soldado. Espreitei antes de dobrar aquela esquina, e vi a forma como se aproximava, armado, de uma rapariga de burka que choramingava, sentada no chão, costas encostadas à parede, encurralada. Levava a metralhadora a tiracolo. Aproximava-se, mãos a tocar na fivela do cinto. Confiante e desprezível. Aproximei-me por trás. Golpeei a carótida. Mal este caiu de joelhos no chão e olhos muito abertos, o repórter de imagem lançou-se sobre a rapariga. Com um indicador encostado à boca pediu-lhe silêncio. Ela meneou a cabeça afirmativamente. Ajudou-a a levantar-se e mandou-a para casa na Língua dela.
Arrastou o corpo para o interior de algo parecido com uma tulha, e prosseguimos caminho antes que aparecesse a próxima patrulha.
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Do registo onírico #2
Um sonho em versão "filme de animação":
Ponto de vista lá em cima, como se a câmara apontasse para a coroa da cabeça da personagem. Ela, uma mulher de cabelos longos vermelhos, dança rodopiando. Do tal ponto de vista vejo os cabelos e os braços que se movem de uma diferente perspectiva. Parece uma mandala em movimento.
Movimento contínuo: o ponto de vista, nunca deixando de observar a personagem, move-se até a vermos olhos nos olhos. Ela vai rejuvenescendo.
Quando pára de rodopiar é uma criança ruiva, ainda de cabelos longos. Reparo que estamos no alpendre de uma casa, num dia bonito de céu limpo. A miúda corre para os braços da mãe.
Sempre movimento contínuo: até chegar aos braços da mãe a miúda vai sempre rejuvenescendo. Quando alcança o seu colo está naquela idade em que mal se dão os primeiros passos. A mãe senta-se numa cadeira de baloiço. O bébé vai diminuindo de tamanho. Num passe de magia não há bébé: voltou para dentro da barriga da mãe. A barriga diminui, assim como a própria mãe. Recolhe-se até não existir nada mais que um ponto negro no plano. Uma pequena e luminosa explosão dá origem a uma ave. Levanta vôo e sai do alpendre para se juntar a um bando de cegonhas no céu límpido.
Curta pausa...
Plano escuro. Não há nada.
Existem duas entidades sobre uma cama. Não se vêem, mas estão lá. Começa por aparecer somente o coração de ambas. Máquinas imóveis.
A vontade é tudo: ambos os corações começam a bater. O sangue que é bombeado é feito de luz.
As veias de dois braços são irrigadas dessa luminescência e tornam-se visíveis no breu. Dão as mãos e entrelaçam os dedos.
Pouco a pouco nota-se o contorno de dois corpos, desenhados a luz, num cada vez mais iluminado e completo sistema circulatório. Beijam-se, abraçam-se, fundem-se.
As mãos sempre entrelaçadas, os braços esticam-se e apontam para cima. Da combinação dos dois indicadores esticados sai um raio de luz em direcção ao cosmos. O céu nocturno é vasto e fértil em pontos iridescentes.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Do registo onírico #1
Porque talvez seja um exercício interessante registar a memória que trago dos sonhos.
Esta noite foi assim:
Estou sentada em almofadões bordados num azul egípcio, numa divisão que estaria totalmente em penumbra, não fossem os raios de sol que chegam do exterior. Não há portas nem janelas. Apenas colunas e arcos num edifício todo feito de arenito.
Fumo de incenso sobe lentamente pelo ar. A atenção prende-se no jogo de luz e sombra desenhado pelos sol que bate nas colunas.
Muito lentamente levanto-me e caminho, pé ante pé, descalça, até ao grande pátio. É um pátio interior, enorme, totalmente ladeado de colunas. Monocromático. Deserto.
Cada passo dado é quase teatral pela sua morosidade. Sabe bem sentir o chão de pedra morna na planta dos pés.
Sente-se uma leve brisa. Os véus brancos do vestido oscilam gentilmente e destapam os tornozelos. Um cheiro adocicado a calor, temperado com um toque de maresia.
Os braços desnudos. Pulseira douradas, como as dos legionários romanos, cobrem metade do antebraço. Os braços caídos, levemente afastados do corpo. As palmas das mãos abertas, olhos fechados e rosto levantado para o sol. Inspirações longas e ar expirado em suspiros de satisfação. Felicidade. Apenas a passagem de uma ave de rapina quebra o silêncio.
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