quarta-feira, 28 de maio de 2014
A importância de saber justificar
Lembram-se de quando éramos miúdos, na escola, e os professores insistiam para "justificarmos as nossas respostas"? Já pensaram na razão de ser dessa insistência?
Acompanhem-me, por favor, neste exercício:
Imaginem que vos pedem para elaborar qualquer coisa: uma refeição, um projecto, um objecto, uma ideia. A sério, isto aplica-se mesmo a qualquer coisa.
E vocês reflectem sobre como elaborar o que vos foi pedido e fazem-no.
Quando apresentam a vossa "coisa" dizem-vos que não gostam, que não concordam. Mas não se justificam. Não vos apresentam nem as razões que sustentam a sua discordância, e muito menos de como responderiam ao desafio proposto no vosso lugar, que alternativas sugeriam, quais os objectivos e como pensam lá chegar.
Digam lá que não sentiriam que é como estar a falar para uma parede!
Não confundir com a situação que é um debate entre pessoas que têm opiniões formadas, embora totalmente distintas sobre um tema. Como adultos sabemos que existe uma imensa validade em concordar em discordar. Além disso, um diálogo entre pessoas com perspectivas diferentes cria uma oportunidade para todos alargarem os seus horizontes.
Falo da frustração que é ir para uma troca de ideias munida dos amigos "O quê", "Quando", "Como", "Porquê", "Quem" e calhar com quem acha que uma mão cheia de "Nãos" é um Royal Flush.
Recentemente cometi o erro (oh para mim a bater com a cabeça na parede!) de tentar trocar impressões com quem defendia a abstenção nestas últimas eleições.
O discurso era de festa: viva a democracia, fora a partidocracia, está na hora de apresentar novas soluções, os que não foram votar é são os bons e espertos, e por aí fora...
Epá, sim senhor, desejo por um novo paradigma de sociedade, mais evoluído em todo o seu semblante? Também partilho. Afinal, quantos mais cidadãos activos no seu papel, com o intuito de melhorar a nossa sociedade, melhor para todos.
Então quais são mesmo essas "novas soluções", o que têm em mente? - perguntam vários, num misto de curiosidade e esperança que houvesse por ali um projecto, ou no mínimo um esboço, fruto de reflexão e planeamento estratégico, uma visão coerente.
"Mudamos a Constituição. As alterações deverão ser discutidas por todos nós". Não houve aprofundamento sobre a questão, mesmo a pedido de várias famílias.
Da minha parte, desejo-lhes sorte. Talvez consigam reunir 6 178 640 indivíduos, (nº de eleitores portugueses que se abstiveram), no próximo pic nic com o Tony Carreira, e possam aproveitar para redesenhar a Constituição da República.
Estas situações não são pontuais, e estão longe de ocorrer somente entre nós, "cidadãos comuns", treinadores de bancada da política.
Por volta de 2011, entrava-se numa qualquer livraria, e todos os destaques incidiam em milhentas publicações sobre a crise. Foram tantos os políticos, economistas, sociólogos, antropólogos, etc, que decidiram publicar a sua visão sobre o novo contexto macro-económico que viria assolar a Europa.
Cheguei a ler alguns. Tantas as capas que prometiam no seu interior, não só uma análise aprofundada sobre a crise, as razões do seu aparecimento, mas também uma visão pessoal de como a solucionar.
Ora, tratando-se de profissionais da coisa, uma pessoa pensa que há-de sair de ali uma coisa com cabeça, tronco e membros, tim-tim por tim-tim. Mas não.
A incapacidade para a justicação é transversal. Digamos que somos todos mestres em preliminares, mas muito poucos conseguem levar a coisa até ao fim. Digamos que as trocas de ideias são muito como coitos interrompidos.
Para esta gente apresentar possíveis soluções não é diferente de constatar o óbvio e enumerar exigências:
- Queremos uma sociedade justa; queremos o Serviço Nacional de Saúde a funcionar bem; and so on...
Sim, sim, já sabemos isso tudo e é tudo muito lindo, mas como?! Não dizem. Nunca dizem!
E eu depois de ler algumas destas publicações e ficar irritada, (que apenas sou o que sou, mas que não gosto de ser só garganta, e não estou à espera que façam tudo por mim), meti mãos à obra:
Por exemplo, em relação ao Sistema Nacional de Saúde e os seus imensos problemas financeiros, fui ler um Orçamento de Estado. A observação desses dados permite concluir que grande parte da despesa é para com fornecedores.
Quem são os fornecedores? Laboratórios farmacêuticos. O tipo de empresas que alcançam dividendos astronómicos, que praticam uma política de preços com umas margens de lucro brutais, e moralmente discutíveis, tratando-se da área da saúde.
Uma das medidas possíveis: Promover a existência de laboratórios do Estado que forneçam aos Hospitais o maior número possível de produtos e medicamentos, com uma margem de lucro mínima.
O investimento para tal é menor do que se espera, visto já existir o Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos, que poderiam ser uma das infraestruturas utilizadas para este fim.
Tal possibilitaria igualmente fazer chegar medicamentos a um preço muito mais baixo, ou at´gratuitamente, às camadas de utentes mais fragilizadas, como os idosos que auferem pequenas reformas, ou utentes que estejam dependentes de apoio financeiro do Estado para a aquisição de medicamentos.
Acredito que tal fomentaria uma melhor gestão de recursos, diminuiria o buraco financeiro dos hospitais, pouparia dinheiro ao Estado, e facilitaria o acesso ao medicamento e à saúde por parte de toda a população.
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