O nosso ritual de pequeno-almoço enquanto casal inclui debater as notícias do dia.
Hoje, grande parte da nossa atenção incidiu sobre as parangonas que anunciam a descida da taxa de desemprego para 14%, registando-se em comparação homóloga, (ou seja, quando se compara com mesmo período do ano passado), uma quebra de 2,3%.
Estatística que nos coloca em quinto lugar, no pódio dos países da União Europeia, dos bem sucedidos e comportados no combate efectivo ao desemprego.
(podem ler mais aqui )
Se fosse isto fosse verdade seria óptimo. Mas não é, por dois motivos:
Em 1º lugar, nem todos os desempregados estão inscritos no IEFP.
Em 2º, o próprio IEFP é o responsável por estas ondulações nas estatísticas sobre desemprego, que em boa verdade não reflectem uma real diminuição do número de desempregados, mas sim uma incorrecta e falaciosa forma de manipular os dados.
De certa forma, a manipulação de dados parece ser prática comum na função pública. Alegadamente existem até centros de saúde que usam dados de antigos utentes, até dos que já faleceram, para embelezarem os resultados.
Nada de novo, um cidadão morto sempre foi de grande utilidade, até para participar "activamente" em eleições várias.
Esperem! Falta a palavrinha mágica quando se fala destas coisas: alegadamente. Pronto, já está!
Adiante.
Para quem não saiba, um cidadão inscrito no IEFP é forçado a participar em acções de formação. Se se recusar corre o risco de perder o direito ao subsídio de desemprego.
Os utentes quando estão inscritos num qualquer curso ou acção de formação deixam de estar inscritos no IEFP, deixando temporariamente de existir enquanto desempregados. Então os números que nos são apresentados não são per se de pessoas bem sucedidas no seu objectivo de retomar uma carreira profissional, mas de indivíduos que continuam desempregados, mas a receber formação.
Esta realidade não é segredo. Aliás, só a desconhece quem nunca esteve desempregado, ou quem nunca teve um conhecido, amigo ou familiar nessa situação. Coisa tão rara hoje em dia, diga-se de passagem.
E era que comentávamos hoje ao pequeno-almoço.
Então chego a casa, ligo o pc, e dou de caras exactamente com um artigo em que uma corajosa formadora denuncia esta exacta situação:
"Carla, nome fictício, é uma das formadoras, disse à Renascença que os dados são manipulados. “Quem está a frequentar acções de formação não é contabilizado como desempregado. Portanto, isso vicia toda a lógica de contabilização do desemprego em Portugal”, esclarece."
Podem ler o artigo na totalidade aqui.
Para concluir avanço com o seguinte:
Sempre defendi a importância da formação ao longo da vida.
Acho muito bem que, especialmente a quem se encontra em situação de desemprego, seja dada a oportunidade de se munir de melhores ferramentas que lhe possibilitem o regresso ao mundo laboral. Acho que a formação pode preencher lacunas de conhecimento e tornar o utente do IEFP um melhor profissional.
Contudo, e com todo o respeito possível, as formações do IEFP são para encher chouriços.
Deveriam existir para servir a pessoa desempregada, por tudo o disse no parágrafo anterior, e não o faz. São, na grande maioria dos casos, uma imensa perda de tempo e de recursos.
Sei de casos bastante reais e verídicos de pessoas a quem uma formação específica, por exemplo, em Inglês ou Informática, faria a diferença do mundo para conquistar um novo emprego na sua área, naquela que conhecem, que dominam e têm experiência. E que, como tantas outras, foram empurradas, obrigadas a escolher entre as únicas opções de Geriatria, Agricultura ou Talhante, sem qualquer interesse pelo que são, o que fazem ou fizeram, o que lhes é útil e o que querem.
A questão mais importante que devemos levantar é, quem lucra com esta situação?
Não serão propriamente as pessoas que dão formação, se estas auferem mil euros brutos e a recibos verdes.
Então, a que nomes sonantes pertencem as empresas de formação, contratadas pelo Estado para prestarem este serviço no IEFP, e a quem lhes chega o dinheirinho que vem de Bruxelas? Esse é o cerne da questão!
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