quarta-feira, 6 de julho de 2016

cromices #131: O cromo toca sempre duas vezes ou o elogio à besta



Ontem, passado um dia que começou ainda antes das 4h da manhã, depois de jantar estávamos mais mortos que vivos, prontinhos para um serão descansado e uma noite de sono reparadora.

O relógio marca 22h quando tocam à campainha.

Na verdade nem era necessário estar a pé desde madrugada para isso ser visto como um inconveniente. Quem me conhece, inclusive que visita aqui o estaminé, já sabe que se há coisa que acho maçadora é ser abordada em casa, especialmente quando se tratam de vendedores porta à porta, ou pessoas que devem pensar que o prédio tem porteiro.

Se noutros contextos sou amável e cordial, neste sou totalmente o oposto. Simplesmente por falta de paciência. De vez em quando ainda surge um ou outro momento em que penso, cá para os meus botões, que me devia esforçar um bocadinho por ser menos besta. Mas depois aparecem-me umas criaturas particulares que me fazem pensar que ser besta não é assim tão mau. Quando muito é um mal necessário.

Onde íamos? Ah sim. Pois bem, tocaram à campainha, e o cão desata a ladrar desenfreadamente como acontece sempre que tocam à porta.
Abro a janela e chamo a atenção da figura à frente da porta do prédio a quem só vejo os sapatos:

- "Sim? Faça o favor de dizer!"

O homem olha perdido para a fila de janelas.

- "Estou aqui, senhor! Boa noite. Faça o favor de dizer."

- "O senhor Fulano?"

Demorei uns segundos a reconhecer quem procurava.
- "Enganou-se na campainha. Não é aqui que mora o sr. Fulano."

Ficou a olhar para mim com cara de tacho. Suspiro.
- "Qual é a do sr. Fulano?"

- "O sr. Fulano mora no X." - Despeço-me rapidamente e ia voltar para dentro quando...

- "E qual é a campainha?"

Suspiro novamente: " Oh senhor, é a que diz X."

- "Ah, não sei qual é!"

- "Não tem que saber, fica  ... da minha. Onde tocou por engano. É só procurar."

- "Mas eu já não sei onde toquei." - lamuria-se, e eu a revirar os olhinhos, a pensar que só me faltava esta agora.

- "Oh senhor, é a campainha do lado ... na fila ....." - E ele a olhar para mim ao vez de olhar para o intercomunicador, o que me estava a dar cabo dos nervos" - "Siga as minhas indicações, campainha X na fila Y!"
Lá se dirigiu finalmente à geringonça. Volta a tocar na minha campainha, o cão desata outra vez a ladrar e eu já com vontade de largar umas caralhadas, - "Ao lado, senhor, ao lado!"

Depois cheio de lata sai-se com "Se me abrir a porta é mais fácil."

- "E o senhor por acaso sabe qual é a porta da casa do sr. Fulano?"

- "Não. Mas depois eu bato às portas."

- Olhe, sabe que mais? Continue a experimentar as campainhas". E voltei para dentro. Definitivamente. Ignorando as duas ou três vezes que aquele "senhor" ainda voltou a tocar à minha campainha.


Juro-vos que já estive mais longe de desligar a minha campainha. Silêncio absoluto. Não fosse o carteiro e a chegada de algumas encomendas...








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