quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Vida de cão #35: Dizem que as mulheres são intrometidas e desbocadas...
... e eu não sou excepção.
Quer dizer, muitas vezes fujo a esta "regra", que está longe de ser exclusiva ao sexo feminino. Quantos de nós já meneámos a cabeça com um sorrisinho amarelo, sem emitir qualquer som, simplesmente porque depois de ouvir uma qualquer alarvidade, preferimos deixar a coisa morrer na praia a dar-lhe corda? Talvez tantas ou mais vezes em que fomos nós a lançar baboseiras para o ar e, disto ninguém se livra. Faz parte.
Contudo há ocasiões em que ficar calada, mesmo quando não nos diz respeito, não é opção.
Há dias cruzei-me com Pessoa X num dos meus passeios com o Kiko aqui pelo burgo. Estava com cara de quem não estava nos seus melhores dias, o que deu inicio à conversa.
Na véspera, tinha levado para sua casa o cão da Pessoa Y e não me parecia muito convicta.
Começou-me por dizer que Y tinha há tempos arranjado uma cadela, de porte bem menor, e que temia que o cão a engravidasse, o que seria muito perigoso para a saúde da bicha pela diferença de tamanho. E, que por isso, muito impulsivamente, aceitou ficar com cão. Decisão que andava a remoer naquele momento.
Franzi o sobrolho e sem que me pudesse controlar sai-me um "Ouve lá, isso é uma estupidez, mas porque é que Y não leva a cadela ao veterinário para ser esterilizada?"
Esbugalhei os olhos quando de troco levo um "Ah pois é, isso tinha resolvido a situação", e volto a fechar a expressão quando, logo a seguir levo com "Ah e tal... diz que não quer gastar mais dinheiro... blá blá... a cadela... blá blá... fazer criação."
Nesse momento, juro que não foi por mal, mas passou-me uma coisinha à frente da vista e antes que conseguisse fechar a boca já tinha arremessado algo como "Conseguiu dar-te a volta e passar-te a batata quente! Se mudaste de ideias, o melhor que tens a fazer é devolveres o cão ou encontrares alguém que realmente o queira."
Em menos de nada estavam lançados todos os torpedos. Gastei todas as munições na enunciação de todos os trabalhos, responsabilidades e despesas que envolvem cuidar de um cão, que vão desde apanhar cocó e catar pulgas, a ter todas as vacinas em dia, assim como a enumeração das alegrias, que é possível um cão ser feliz e dar-se bem num apartamento, mas se era para o ter na varanda que não tivesse, arranjasse antes um peluche.
Quis o destino, que no dia seguinte me cruzasse com Y que me contou que X tinha ficado com o cão e que os filhos deveriam estar em êxtase com o bichinho.
E eu, (que maldição pá!), podia ter ficado calada, não o fiz. Disse-lhe que já tinha ouvido a novidade através de X, que poderia ser do período de adaptação mas que não me parecia assim tão satisfeita com a decisão. Perguntei-lhe porque não tinha esterilizado os animais. Pelo menos a ele, que até poderia ficar mais calmo e tudo.
Assegurou-me que tinha deixado X à vontade para lhe devolver o bicho caso mudasse de ideias. Que se isso acontecesse o iria castrar. Sorri, despedi-me e prossegui o meu passeio na direcção oposta.
Fui-me a vergastar mentalmente por ser intrometida e desbocada, mas na verdade, e digo-o agora depois de olhar nos olhos do Kiko que me observa, dengoso, deitado no sofá, quando é por eles é perdoável e valerá sempre a pena.
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