sexta-feira, 7 de setembro de 2018

coisas de pensar: Da Lógica #4


Perdi a conta ao número de anos e de pessoas que, sabendo ou tendo notado que não temos filhos, pareciam imbuídos de uma espécie de missão divina, a tentarem-nos convencer que procriar é que é.
Não estou aqui para me espraiar sobre o quanto isso chegou a ser chato, irritante, e até inapropriado, mas sim para abordar este ponto na perspectiva da lógica.


Consideremos o seguinte:
Só em caso da espécie humana estar em perigo de extinção é que existiria validade em pressionar  casais a terem filhos, porque de resto não consigo simplesmente visualizar uma consequência que advenha da decisão de não procriar que seja tão negativa que mereça ou justifique uma intervenção.

Já o contrário não é bem assim… Infelizmente o mundo está repleto de crianças nas mais variadas situações de risco, e de adultos que carregam consigo uma tremenda bagagem emocional (e não só), que comprovam que embarcar na viagem da parentalidade sem o mínimo de noção, vocação, perfil e ferramentas adequadas pode dar merda da grossa.

Em nome do raciocínio lógico vamos aceitar a premissa que as pessoas que abordam terceiros sobre as suas decisões reprodutivas, o fazem porque gostam tanto de crianças que se deixam levar pelo entusiasmo. 
Não teria muito mais lógica que as pessoas que abordam os casais sem filhos, e não conseguem nada com isso a não ser tornarem-se eventualmente um aborrecimento, investissem toda essa energia nas pessoas que querem ser pais, provocando-lhes a reflexão sobre as múltiplas facetas dessa realidade?



O intuito não é amedrontar ou fazer desistir de ter filhos, mas ter a noção que se todos embarcassem na parentalidade plenamente conscientes de tudo o que isso significa, o mundo seria um lugar bem melhor.
E que nada de bom resulta se continuar a haver meio mundo a tentar vender ao outro meio a fantasia que a parentalidade, para além de ser a melhor coisa do mundo, é a coisa mais natural e fácil, onde só habitam unicórnios, mercaditos cutxi-cutxi, fotos adoráveis e altamente instagramáveis de barrigões pintados e bebés sorridentes, e onde a maior dificuldade será a escolha dos temas para a decoração das festas de anos.

O meu lado racional sempre se sentiu incomodado com este facto, com o porquê dos alvos serem os casais sem filhos, o que para mim é tremendamente ilógico.
Gostam assim tanto de crianças ao ponto de vos parecer totalmente lícito e normal abordar pessoas não íntimas e meter o bedelho na vida reprodutiva alheia? Então ide, mas fazei algo de útil em nome desse amor. Se com a vossa intervenção conseguirem que haja menos uma criança a nascer num contexto de miséria, (seja esta material, psicológica, afectiva, emocional), então já valerá a pena.

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