terça-feira, 22 de setembro de 2015
cromices #89: Sobre as tampas ou visita ao passado
Nada mais justo do que falar também sobre as tampas que levei. Sobre estas o que tenho a dizer é que deveria ter levado muitas mais, ao quadrado, ao cubo!
É que passados todos estes anos não são as tampas que recordo - aliás, ou estou a ficar totalmente esclerosada ou estas acabam por ser tão irrelevantes que preciso de um esforço hercúleo para recordar e mesmo assim sem grande sucesso.
O que me vem à cabeça é um ou outro nome de quem, enquanto miúda, nunca tive coragem de convidar nem sequer para um café.
Eventualmente ultrapassei o medo das tampas. Um medo, que como qualquer outro, depois de ultrapassado torna-se risível.
Mesmo assim, imagino-me a viajar até ao passado, numa visita aquela jovem estudante de liceu de cabelos longos, botas da tropa, jeans justos, camisa de flanela aos quadrados e blusão à motard, tipo e.t. a entrar-lhe pelo quarto dentro no meio da noite, ao melhor estilo sci-fi.
Assegurar-lhe-ia que não se deveria ralar com o futuro, que o futuro vai de boa saúde, risonho e até vem com marido e cão incluídos, os melhores do mundo.
Que trate melhor do seu presente, o meu passado. Que boas notas e decidir uma carreira profissional acabam por ter, com o passar dos anos, uma importância menor que aquilo que nos define como pessoa. Que não há que ter medo algum de levar uma tampa, quando muito esta ensina-nos a ser mais gentis com quem no futuro estiver no mesmo lugar que um dia ocupámos e, que eu saiba isso é tremendamente positivo.
Que a partir da manhã seguinte fosse corajosa que convidasse "aquele alguém" para um café e aproveitasse a oportunidade para o conhecer melhor, os seus gostos, sonhos, ambições, o que têm em comum e as diferenças. Que fizesse o mesmo, todos os dias, até conhecer todos os colegas de turma, todos os outros alunos do liceu. Que escrevesse sobre a experiência, que a abraçasse como um projecto. Todas as pessoas são genuinamente interessantes a partir do momento que as olhamos com genuíno interesse.
Garanto-te, miúda, que será incrível! - diria eu, com um piscar de olho, enquanto voltaria para a minha máquina do tempo.
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