terça-feira, 28 de abril de 2015

vida de cão #21: Por um triz!



Às vezes temos a grande sorte de estar no sítio certo no momento certo.

Ontem, quando me pus a caminho do supermercado, nem me passava pela cabeça que estaria prestes a vivenciar um desses momentos.

Do outro lado da estrada observo um casal de idosos acompanhado de uma jovem beagle sem trela.
Acontece que o cão não era deles, (como vim a saber), e em menos de nada, naquele espírito infantil que habita todos os cachorros, a patuda atravessa a estrada à maluca para vir ter comigo. Ia sendo atropelada.
Sem me dar tempo de reagir convenientemente, volta a atravessar a estrada mais duas ou três vezes, obrigando ao todo quatro carros a travar bruscamente.
Eu de mãos na cabeça, coração na boca, a repetir uma série de -  "Ai meu Deus!" - enquanto bendizia mentalmente os excelentes reflexos dos condutores que estiveram tão, mas tão perto de passar por cima da cadela. Daqueles momentos que parecem fazer aparecer mais um dúzia de cabelos brancos numa questão de segundos.

Atravessei a estrada, também meio à maluca, para evitar que ela voltasse a fazer do mesmo.

Aos passantes perguntava se eram os donos, ou conheciam o dono do animal.

Tive a imensa sorte de me cruzar com uma senhora que sabia exactamente a que casa o animal pertencia.
Lá fomos as duas entregar a cadela. Um dos portões tinha ficado aberto, por lapso, e por muito pouco essa falta de atenção teria tido um preço demasiado alto.





domingo, 26 de abril de 2015

cromices #78: Que las hay, las hay



Pois bem, meus amigos, hoje trago-vos mais uma publicação de cariz metereológico / geológico / geográfico, etc e tal.

No passado, já vos havia confessado, aqui    e  aqui, que de cada vez que sinto um desejo de viajar para qualquer lado, pimbas, acontece uma catástrofe qualquer por lá.

Sinto que entre vós ainda possam existir alguns cépticos. Afinal, algo que acontece por duas vezes, aos olhos da ciência não é mais que uma mera coincidência.

Mas, e uma terceira ocorrência?

Ora bem, na véspera de tão malogrado sismo no Nepal, apanhei no canal Discovery um programa que documentava a viagem de um mágico por terras nepalesas em busca de magia real.

Tudo culminou com o encontro com um monge que acedeu levitar perante os seus olhos e câmaras.




E dei por mim a pensar que o Nepal seria um local mesmo, mas mesmo giro, para visitar.



sexta-feira, 24 de abril de 2015

coisas de pensar: Os benefícios salariais de uma dona de casa.



Tornar-me dona de casa foi, acima de tudo, uma espécie de viagem espiritual.

Eu explico:

Um dos principais motivos que me levou a enveredar por determinado curso superior foi a perspectiva de um bom salário. A arrogância, a imaturidade e sobretudo a santa ingenuidade dos meus 19 anos fizeram, que ainda caloira, já tivesse uma ideia fixa de como seria a minha vida, quase até ao final dos meus dias.

Iria trabalhar muito, imenso, que nem uma desalmada. Cumprir prazos extraordinariamente curtos. Fazer quantas directas fossem necessárias. Teria café a correr-me nas veias. Seria um burro de carga, um cavalo de batalha. Iria correr mundo em trabalho, do Japão aos Estados Unidos, e a dezenas de outros destinos. Voltaria mais ou menos fluente em não sei quantas línguas, com disciplina de samurai, samba no pé e um chapéu de cowboy.
Construiria uma reputação imaculada, daquelas que fazem com que os melhores empregadores enviem headhunters para nos acossar com mais e melhores propostas.
Seria apaixonada pelo meu trabalho, mesmo que me tivesse que forçar a tal, que tivesse que me contentar com orgasmos laborais fingidos - se serviu a Fernando Pessoa, seria mais que suficiente para mim, era o mantra de ordem.
Ter a noção que talvez não sobrasse nem tempo nem energia para nada mais que não trabalho. Alegrar-me com o facto de se trabalhar em dupla. Com sorte, uma das melhores amigas seria a outra metade do binómio, ou alguém capaz de o ser, e a energia emocional positiva da relação bastar-nos-ia, pelo menos por uns tempos.
Sempre com a esperança que todo o esforço seria compensado, como numa das leis de Newton. Para começar, um leão de Cannes seria capaz de tocar, certeiro, no "ponto g" profissional.
Em troca queria também e, não esperava nada menos que reconhecimento e uma pipa de massa.

Ênfase na pipa de massa. Sempre me horrorizaram os salários de três dígitos. Acho desumano e uma imensa falta de respeito que uma pessoa, uma qualquer pessoa em qualquer área, viva para trabalhar por um salário que somente dá para sobreviver, e quantas vezes à justa. Que o grosso da colheita que todos semearam vá toda para um "fat cat".

Queria prosperar o suficiente para não só ter construído uma vida com um alicerce confortável para mim mesma, como para poder mimar os meus pais. Imaginava-me a oferecer-lhes férias em cruzeiros de luxo, por exemplo. Acima de tudo, a cumprir com distinção a visão que tenho do papel de filha, garantindo-lhes uma velhice com assistência e cuidados de primeira categoria, do melhor que o dinheiro pode comprar. Porque eles merecem. Os nossos merecem sempre o melhor.

Haver acumulado o suficiente para bater nos entas e sair disparada de cena, feita Cinderela. Reinvidicar tempo para a auto-descoberta, para o ócio e toda uma bucket list.
Seguiria o exemplo de muitos dos meus professores, e também eu daria uma meia dúzia de aulas por semana num par de universidades, um ou outro seminário, três ou quatro workshops e colóquios. Pontualmente, uma ou outra participação como consultora - paga pelas empresas, em regime pro bono para as causas do coração.

Aos 19 anos, por arrogância, imaturidade e sobretudo ingenuidade, queremos tudo. O mundo e mais além. O mundo é uma maçã e parece estar ali à mão, pronta para colher. É natural e salutar. Que mal estaria o Mundo e a Humanidade se os jovens não tivessem uma energia desmedida, revelada também nos seus sonhos e vontades. Mesmo que essas visões nos pareçam, a nós adultos, estapafúrdias e nos façam revirar os olhos como se fosse código para "Pois sim! Deve ser deve!".

E eu que dava ênfase à pipa de massa e ao reconhecimento, lidei com a minha dose de "fat cats", auferi descontentes salários de três dígitos, até que me o meu corpo e a minha psique se rebelaram e se recusaram a mais do mesmo. Então, fui de certa forma Cinderela, salva das empresas madrastas, para reinar em castelo próprio. Metade de um binómio.

"Estranha-se, depois entranha-se."
Há uma primeira fase em que se estranha. Que se sente a falta de algumas rotinas laborais, do cheque ao final do mês, como se se tratasse de um membro amputado. Afinal, somos programados desde o início das nossas vidas para acreditar que não há vida que não seja dedicada ao trabalho, que somos o que fazemos, que valemos o que ganhamos.
Talvez por isso sejamos algo misóginos, injustos e usemos até de um tom paternalista quando nos referimos a donas de casa, corriqueiramente conhecidas como domésticas, como as aves de capoeira, que erradamente, por serem das mais humildes das aves, são consideradas estúpidas.

Ser dona de casa é uma carreira como qualquer outra, com rotinas, prazos, tarefas. Também há dias menos bons, "segundas-feiras", como em qualquer escritório. E dias verdadeiramente bons, acompanhados da sensação de cumprimento, de superação, de sucesso.
De todas as milhentas hipóteses de carreira em que me tentei imaginar, aquando miúda, creio que de todas, esta pode bem ser a que possibilita vivenciar-se algo mais próximo ao verdadeiro conceito de liberdade. É uma excelente sensação de poder pessoal decidir o que fazer, como e quando.

Parte do meu salário recebo-o em raios de sol nas esplanadas, horas de sono, uma vida livre de despertadores, trânsito e greves dos transportes públicos, de tempo, que longe de chegar para tudo - por incrível que possa parecer! - dá para muito, inclusive para ser e aprender mais.



terça-feira, 14 de abril de 2015

vida de cão #20: Sou a única "dona de cão" a sentir a falta disto?



Pergunto-vos.

Antes de mais, o que é "isto" que me traz hoje aqui? Em menos de nada, a resposta. Já já a seguir a mais um cafézinho, que sinto o depósito desta minha frágil maquineta a entrar na reserva.



Ah, muito melhor! (Sabiam que hoje é dia do café?)
Ok, vamos então desenrolar este novelo que me vai na cabeça...


Eu retiro dos passeios com o Kiko somente uma fracção do prazer que poderia e é suposto retirar.
Eu sei que em parte se deve à minha incapacidade de descontrair, mas nem tudo se deve a isso e muitas vezes essa incapacidade não é vã de motivos.

Pois imaginem-me com o meu puto pela trela, com uma atenção desmesurada aos pedaços de chão que ele vai pisando, a scannear com os olhos todos os metros quadrados de relva, calçada ou alcatrão. A fazê-lo desviar-se dos dejectos caninos, dos mil e quinhentos bocados e bocadinhos de lixo "humano", a ter que lhe dar outros mil puxões na trela para evitar que ele abocanhe de tudo, desde beatas, pastilhas elásticas, papéis vários, plásticos, parafusos e outras parafernálias, vidrinhos...
(E não é que as ruas que palmilho sejam extraordinariamente sujas. São iguais às de todos os outros locais.)

A escolher o itinerário das passeatas, que tantas vezes é ditado pelo facto de ter que evitar determinada rua por estar alguém a passear um cão sem trela. E estes são sempre tão maiores e mais brutos que o Kiko.
Ou ainda porque em determinada casa, a vedação é demasiado baixa e passar por lá significa ficar com a cabeçorra de um cão agressivo e irrequieto a uma distância que não nos deixa, a nenhum de nós os dois, minimamente confortáveis.

A vociferar em voz alta coisas tremendamente mal educadas de cada vez que tenho que meter os dedos na boca do miúdo para que este não engula algo que passou despercebido, apesar de toda a minha atenção.
Como hoje, consegui apanhar a tempo um pedaço de vidro, castanho, muito provavelmente de uma garrafa de cerveja, que por sorte não era cortante. E lá começo eu a soltar dizeres indignos, nada mas nada simpáticos e completamente contrários ao espírito cristão que fomos ensinados ter para com as demais pessoas com quem partilhamos este planeta.

Agora que vos servi o contexto, já vos posso revelar qual a coisa que me faz uma falta tremenda enquanto "dona de um cão":

- Um espaço bem vedado, limpo, com relva ou ervas que não fossem de forma alguma tóxicas ou nocivas, onde pudesse soltar o Kiko e deixá-lo cheirar, correr, brincar a seu bel prazer, sem qualquer preocupação.

Houvesse um espaço assim, (que eu baptizaria de Paz de Espírito), e estaria disposta até a pagar uma quota, (dentro de valores razoáveis, obviamente), para usufruirmos deste.

Há por aí tanto terreno vazio, sem propósito, abandonado. Não haverá nenhum proprietário que se chegue à frente com algo assim?


sexta-feira, 10 de abril de 2015

vida de cão #19: Este fim de semana vai ser assim...







Trata-se de um Seminário de Flyball, desta vez organizado pela No Stress Team - a escola de treino canino onde o Kiko tem aulas de Obediência.

Se isto não gastar as pilhas ao puto, não sei o que o fará!





quinta-feira, 9 de abril de 2015

cromices #77: Um acordar à Hitchcock



A janela da divisão que serve tanto de escritório como de quarto do Kiko dá para uma moradia. Nas traseiras desta existe um pombal, ladeado pelas árvores de um pequeno pomar.

Um dos passatempos do Kiko é sentar-se no sofá e observar todo o cenário que lhe chega pelas vidraças. Olha com especial interesse e atenção a rotina dos pombos. É uma atenção que existe de ambas as partes, embora, até hoje, sempre à distância.

Hoje de manhã ouço um estrondo. Levanto-me num ápice para ver o que se trata e dou com o cão de pé, com as patas dianteiras apoiadas no parapeito. Do outro lado do vidro um pombo curioso e atrevido passeava-se no parapeito, toda a sua atenção centrada na cabeça do meu rodinhas baixas - a única parte da sua fisionomia que chega ao nível das vidraças. Impossível não me desmanchar a rir!
Ainda bicou o vidro, levantou vôo e aterrou uma segunda vez (daí o estrondo - alguém lhe tire o brevet, faz favor!).
Pareceu-me andar à procura de uma fresta por onde entrar. Então é que haveria de ser um regabofe!

Qual seria a intenção do pombo?

Cá para mim era um bombardeiro kamikaze enviado para invadir a base do inimigo, e retaliar com umas bombas de mau cheiro, como vingança por todas as vezes que o Kiko os tenta perseguir durante os passeios.


quarta-feira, 1 de abril de 2015

vida de cão #18: Prevenção da Leishmaniose



Já conheço as médicas veterinárias que acompanham o Kiko há uma dúzia de anos. Gosto verdadeiramente da I. e da C.. Mais importante do que gostar, confio no seu profissionalismo, empenho e nos seus conselhos.

Na última consulta, há algumas semanas, voltámos a falar da Leishmaniose. Embora exista já uma vacina, o que é uma tremenda evolução, esta por vezes causa reacções bastante adversas em cães de raças menores. Acaba por se gastar dinheiro na vacina, dinheiro no tratamento do animal à reacção adversa que este teve. Mais importante ainda, o stress de o ver a passar mal, de ter que o fazer passar por processos clínicos. E por fim acaba-se na mesma por se ter encontrar uma alternativa à prevenção da leishmaniose.

Então, foi-nos aconselhado o Leishgard. (Atenção que o que faço por aqui é descrever o que se passa connosco e com o Kiko, as nossas rotinas e aventuras. O bom senso dita que cada animal é um caso, e nada substitui a ida ao veterinário e o aconselhamento do profissional de saúde. Adiante...)

Iniciámos hoje o tratamento preventivo. Este consiste em dar-se uma dose do remédio por via oral,(como tem 7 quilos, são 0,7 ml exactos medidos com uma pequena seringa que vem na embalagem), diariamente durante todo o mês. Procedimento que se repetirá no mês de Junho.

A única recomendação que deixo aqui sobre este tema é que apostem na profilaxia desta doença. A Leishmaniose tem tratamento, mas não tem cura. E poderá significar a morte do animal.