quinta-feira, 28 de julho de 2016

Quando os homens falam de amor #70






coisas que gosto: Das boas surpresas



Nestes últimos dias telefonei a uma amiga e tivemos uma boa conversa. Cruzei-me por casualidade com outra amiga que não via há uma vida, e ainda recebi a visita de uma terceira amiga, o que faz com que tudo tenha sido bom ao cubo!

Nem todas as surpresas são boas, mas destas gosto e muito! Esta troca de abraços deu-me uma energia! Upa upa!

Uma das coisas maravilhosas de reencontrar amigos que conhecemos há uma vida é que a nossa idade não interessa. Bastam dois minutos para estarmos a gargalhar e a mandar piadas como se estivéssemos de volta aos nossos 15 ou 20 anos.



quarta-feira, 13 de julho de 2016

cromices #132: Minudências, incertezas e introversão ou "radio silence"



Já é, no mínimo, a terceira vez hoje que olho especada para o telemóvel.

Apetece-me ligar a uma amiga. Já passou algum tempo e tenho saudades de lhe ouvir a voz. Mais saudades tenho de a apertar num abraço, de a ver à minha frente. Mas de momento contentava-me com a voz.

Sinto-me estúpida nesta incerteza se lhe ligo ou não. Ou melhor, quando lhe devo ligar.
Olho para o relógio e sem perceber coisa alguma, questiono-me se será hora de trabalho, de refeição, banho, infantário, penico e sei lá, todas as quinhentas mil atribulações diárias de quem tem filhos.

A verdade é que com filhos pequenos nunca há boas alturas, momentos parados. Mesmo que não se veja, dá para ouvir e sentir toda aquela correria, o zunzum em pano de fundo que nos começa a contagiar. Como não queremos mesmo incomodar, nem parecer aquela amiga que parece não compreender as implicações e atribulações de se ter crias, troca-se a habilidade de outrora de manter um diálogo sereno e ruminado, por telegramas cantados compostos por frases curtas, verdadeiros textos de contracapa do livro da vida. Resumo resumido sintético.

É nestas pequenas coisas da vida que os filhos da puta dos extrovertidos nasceram com o cuzinho virado para a lua: quão mais leve deve ser a puta da vidinha quando nem nos ocorre ralar com minudências como horários, e se é uma boa hora, e se vamos incomodar, e se vamos acordar a criança, e se, e se, e se, e se...

É que nós, os introvertidos, somos um bocado à moda antiga. Temos falta dos modos que caíram em desuso há já muito tempo. Que cada vez que entramos a medo, com pezinhos de lã, pois detestamos incomodar, expirando um "É uma boa altura?" do outro lado surja um vigoroso, extrovertido e reconfortante "Por quem sois?! Claro que sim!", mesmo que seja mentira.

Portanto, cá para estes lados, meus amigos, ler o silêncio como desamor é perder o mundo numa pobre tradução.









terça-feira, 12 de julho de 2016

coisas de opinar: Anita comenta o Euro 2016



Quem me conhece minimamente sabe que, usualmente, sou daquelas pessoas totalmente avessas à cultura futebolística. Não sou de tal forma entusiasta que nem tenho um clube favorito e mal conheço os desportistas.
Basicamente é porque não tenho um pingo de pachorra para com discussões ou conversas sobre rivalidades clubísticas, ou para com a forma como há quem aproveite o contexto da festa desportiva para extravasar através de comportamentos excessivos e negativos, que vão desde a agressão física e verbal, ao consumo excessivo de álcool. O hooliganismo é dos comportamentos que mais nojo me mete.

No entanto abro uma excepção quando se trata da selecção nacional.

Quando um qualquer indivíduo ou equipa representa, numa qualquer competição internacional, as cores do seu país, não só incorpora os valores associados a essa prática desportiva, como se torna um símbolo nacional, tal como a bandeira, o hino, a figura do Presidente, etc.

Tendo sido a França o país anfitrião deste Euro, país de acolhimento de mais de 1 milhão de portugueses e onde reside a maior comunidade de emigrantes portugueses, foi impossível não perceber, através das imagens colhidas pelos repórteres, a grande importância dos símbolos nacionais, especialmente para os nossos emigrantes.

A nossa diáspora é imensa. Duvido que haja mais que uma mão de famílias portuguesas que não tenha ou não teve alguém emigrado. Logo, a empatia para com aqueles que se encontram fora do território nacional é muito fácil e poderosa.

Embora não perceba rigorosamente nada de futebol - sei o que é um penalti e ficamos por aí, - atrevo-me a apresentar-vos uma lista dos pontos negativos e positivos deste Euro, segundo moi-même.

Do que gostei:

- Cada discurso da nossa selecção servia para dar ênfase ao valor da equipa e do trabalho em grupo. Quando era mais que comum ver um qualquer jogador a dirigir elogios aos colegas. Da crença na vitória.

-  Das boas claques, como a irlandesa e a

- Da nossa vitória, como é óbvio, e da imensa festa de celebração.

- De ter sido uma época fantástica para o desporto nacional, também com grandes vitórias no atletismo, na canoagem, no ciclismo.


Do que não gostei:

- De como os adeptos ingleses e russos personificaram o que de pior existe no futebol. Os ultras polacos também foram repugnantes, e os franceses não foram melhores.

- Do mau jornalismo. O exemplo francês não foi o único, mas o uso da expressão "dégueulasse" ficará na memória como um momento muito infeliz e pouco profissional da parte de quem se diz ser um jornalista.

- Do mau perder dos franceses. Eu que não percebo nada de futebol, lá fiquei à espera que, após a final, os jogadores franceses engolissem as emoções por uns momentos, se endireitassem e fossem cumprimentar o adversário, numa demonstração, por mim esperada, de fair-play, cordialidade e profissionalismo. Nunca aconteceu. Uma pena.


Nunca encontrei utilidade no futebol. Desta vez pensei de forma diferente.

O nosso Presidente, o Professor Marcelo, disse, no dia da vitória da equipa portuguesa que no dia seguintes os emigrantes iriam para os seus locais de trabalho "20 centímetros mais altos", imunes à sobranceria com que são olhados, há décadas, pelos cidadãos franceses.
Há comentadores experientes e entendidos que se recusam, e muito bem, a retirar elações para além do jogo, mas na verdade houve muito boa gente que se apropriou dos acontecimentos do Euro como uma analogia da vida real.
Como se o futebol fosse a vida, e houvesse quem, olhando para nós, se lembrasse de nos adjectivar como "dégueulasse", nojentos, asquerosos, pequeninos, irrelevantes.

Depois foi um momento tipo David e Golias. Talvez um dia aprendam que dégueulasse é não saber perder, é a ausência de fair-play, de desportivismo, de humildade.

E como os pequeninos afinal são grandes, imensos, não haveria imagem mais perfeita e simbólica de tudo isto do que o pequeno miúdo português a consolar o adepto francês.






E hoje, em que a festa deu lugar ao tema de novas sanções a Portugal e Espanha, gostaria que continuássemos em jogo, a trabalhar como equipa, a elogiar o colega, a acreditar na vitória, e a mostrar uma tremenda empatia para com todos aqueles que se cruzam connosco, mesmo que nos olhem de cima. Especialmente quando nos olham de cima. Esta é a grandeza de ser pequeno.




quarta-feira, 6 de julho de 2016

cromices #131: O cromo toca sempre duas vezes ou o elogio à besta



Ontem, passado um dia que começou ainda antes das 4h da manhã, depois de jantar estávamos mais mortos que vivos, prontinhos para um serão descansado e uma noite de sono reparadora.

O relógio marca 22h quando tocam à campainha.

Na verdade nem era necessário estar a pé desde madrugada para isso ser visto como um inconveniente. Quem me conhece, inclusive que visita aqui o estaminé, já sabe que se há coisa que acho maçadora é ser abordada em casa, especialmente quando se tratam de vendedores porta à porta, ou pessoas que devem pensar que o prédio tem porteiro.

Se noutros contextos sou amável e cordial, neste sou totalmente o oposto. Simplesmente por falta de paciência. De vez em quando ainda surge um ou outro momento em que penso, cá para os meus botões, que me devia esforçar um bocadinho por ser menos besta. Mas depois aparecem-me umas criaturas particulares que me fazem pensar que ser besta não é assim tão mau. Quando muito é um mal necessário.

Onde íamos? Ah sim. Pois bem, tocaram à campainha, e o cão desata a ladrar desenfreadamente como acontece sempre que tocam à porta.
Abro a janela e chamo a atenção da figura à frente da porta do prédio a quem só vejo os sapatos:

- "Sim? Faça o favor de dizer!"

O homem olha perdido para a fila de janelas.

- "Estou aqui, senhor! Boa noite. Faça o favor de dizer."

- "O senhor Fulano?"

Demorei uns segundos a reconhecer quem procurava.
- "Enganou-se na campainha. Não é aqui que mora o sr. Fulano."

Ficou a olhar para mim com cara de tacho. Suspiro.
- "Qual é a do sr. Fulano?"

- "O sr. Fulano mora no X." - Despeço-me rapidamente e ia voltar para dentro quando...

- "E qual é a campainha?"

Suspiro novamente: " Oh senhor, é a que diz X."

- "Ah, não sei qual é!"

- "Não tem que saber, fica  ... da minha. Onde tocou por engano. É só procurar."

- "Mas eu já não sei onde toquei." - lamuria-se, e eu a revirar os olhinhos, a pensar que só me faltava esta agora.

- "Oh senhor, é a campainha do lado ... na fila ....." - E ele a olhar para mim ao vez de olhar para o intercomunicador, o que me estava a dar cabo dos nervos" - "Siga as minhas indicações, campainha X na fila Y!"
Lá se dirigiu finalmente à geringonça. Volta a tocar na minha campainha, o cão desata outra vez a ladrar e eu já com vontade de largar umas caralhadas, - "Ao lado, senhor, ao lado!"

Depois cheio de lata sai-se com "Se me abrir a porta é mais fácil."

- "E o senhor por acaso sabe qual é a porta da casa do sr. Fulano?"

- "Não. Mas depois eu bato às portas."

- Olhe, sabe que mais? Continue a experimentar as campainhas". E voltei para dentro. Definitivamente. Ignorando as duas ou três vezes que aquele "senhor" ainda voltou a tocar à minha campainha.


Juro-vos que já estive mais longe de desligar a minha campainha. Silêncio absoluto. Não fosse o carteiro e a chegada de algumas encomendas...