segunda-feira, 27 de março de 2017

cromices #148: "Canificação" involuntária



Devido à quantidade de tempo que passo na companhia do meu cão, temo verdadeiramente que da próxima vez que brinque com uma criança me dê o reflexo de lhe atirar uma bola e dirigir-lhe um "busca!".

cromices #147: Truques de magia para cães



Nem sei o momento exacto em que me ocorreu começar a fazer uma espécie de "truques de ilusionismo" para entreter o Kiko. Tenho a certeza que foi num daqueles dias em que o clima não ajuda aos passeios, os brinquedos não o cativam, e ele fica especialmente maçador.

O fantástico dos cães é que nos basta fazer qualquer coisa inesperada com uma dose generosa de entusiasmo e o maravilhamento é garantido. Para ambos, devo confessar.

Pois bem, preparem-se, que aqui a maga vai revelar um dos seus truques!

Escondam algumas bolinhas nas mangas. Mexam as mãos com teatralidade, adicionem uns efeitos sonoros e vão "espremendo" as bolinhas, uma a uma, para fora do esconderijo. Garanto-vos que é a loucura total! Por aqui o Kiko fica em puro êxtase e até me devolve as bolas como que a pedir um encore!





quarta-feira, 22 de março de 2017

coisas de pensar: O feng shui, a religião e o bicho papão.



Feng Shui surgiu há cerca de 4000 anos. De forma muito sucinta, o objectivo desta corrente de pensamento é ser uma ferramenta para dotar os espaços físicos de equilíbrio, harmonizar as energias, potenciar a influência positiva destas e minimizar a influência negativa sobre estes.
Dizem os chineses que actua nos espaços físicos da mesma forma que a acupuntura age no organismo. Segundo esta filosofia oriental, a busca da harmonia com as forças benéficas da Natureza aumentarão a prosperidade, a saúde e a boa sorte.

Há anos senti-me especialmente curiosa acerca do Feng Shui e comprei um livrinho sobre o tema.
Muitas das dicas mais básicas desta filosofia estão relacionadas com o manter a casa limpa, organizada e sem tralha.
Diz que uma casa de banho suja, com a tampa da sanita levantada e porta aberta gera más energias, assim como ter os armários da cozinha desorganizados, com louça escavacada e produtos presentes que estejam estragados, fora da validade, é mau para a prosperidade. Que a presença de tralha no quarto, de aparelhos eletrónicos próximos na cama, de objectos relacionados com o trabalho, são inimigos do descanso.
São apenas alguns dos exemplos. Coloquemos só por uns momentos os óculos de cepticismo e veremos coisas que qualquer pessoa considerará tão banais que não precisa que exista um livro ou uma corrente filosófica que ensine: que se andamos a deixar comida estragar-se, passar de validade, então é óbvio que acaba por ser mau para a prosperidade, que é o mesmo que deitar dinheiro ao lixo; que uma casa limpa será um espaço propício à saúde, que num espaço cheio de tralha onde de dois em dois passos se dá uma canelada algures a pessoa não se sentirá cheia da tal boa sorte, não é?
A intenção não é de forma alguma desprimorar esta antiga corrente, mas utilizá-la como adjuvante a um raciocínio.
Diz o filósofo que há primeiro que aprender a gatinhar para depois aprender a andar. Isto aplica-se tanto ao indivíduo como em relação à evolução da espécie.
Acho que até a mais céptica das pessoas achará imenso valor numa filosofia que incita a hábitos de organização e higiene, mesmo que seja necessária a utilização de chamarizes como prosperidade e sorte para tal. Duplica, triplica, quadriplica o seu valor se tentarmos imaginar o que seria corrente em hábitos de limpeza e higiene há 4000 anos atrás. Olhem que a minha imaginação não pinta um quadro nada auspicioso!

Voltando às palavras do filósofo, quando somos crianças e os adultos sentem que estamos ainda numa idade em que não nos vão conseguir fazer compreender através do diálogo a importância de comer a sopa, a fruta, o peixe, de dormir cedo, de lavar os dentes, de estudar, de arrumar o quarto, usam-se outros métodos, nem que a de ameaçar chamar o bicho papão caso não se sigam as regras impostas.
Tudo com uma relativa paz de espírito, porque os adultos sabem que é temporário, que passados uns anos todos iremos compreender os benefícios de todas as regras que nos incutiam, e que nos vamos rir do bicho papão. Que certamente utilizaremos as mesmas artimanhas para educar os nossos filhos.

Proverbialmente, onde há duas, há três. Serviram o Feng Shui e o bicho papão para me trazer à religião.
Quero olhá-la com os mesmos óculos de cepticismo que coloquei há pouco.

Imagino-me na era e no papel de quem escreveu textos religiosos, que se tornaram regras para tantos.
Imagino o contexto histórico, geopolítico, social. A espécie humana com os ímpetos que conhecemos mas com menos uns milhares de anos de evolução, progresso, educação e literacia. Não me é difícil imaginar a necessidade global de inventar sistemas de crenças com o objectivo de incutir princípios morais e regras de comportamento mais elevados, mesmo que o preço fosse edificá-los sobre um modelo arcaico e dualista de castigo/ recompensa. Mas lá está, falamos de outros tempos, ou gosto de pensar que foram outros tempos.

Imagino-me como um desses escritores religiosos, (é o termo que prefiro), com uma relativa paz de espírito, a pensar que é temporário, que passados uns anos a Humanidade compreenderá por si mesma o porquê de não matar, de não roubar, de não cobiçar, de amar, perdoar, servir, e rir-se-á das estórias com bichos papões.

Mas e quando o bicho papão habita na religião? Quando esta defende a pedofilia através do casamento de homens velhos com meninas, quando se defende a existência de escravas sexuais como solução para o adultério, entre outras pérolas do mesmo calibre?
Quem é que desata agora este nó?




domingo, 19 de março de 2017

Vida de cão: Atenção à lagarta do pinheiro


Na povoação onde vivem os meus pais existe um parque canino, e ao pé deste um ou outro pinheiro. Não seria um facto em nada relevante não estivesse esse pinheiro a servir de morada à nefasta praga que é a lagarta do pinheiro. Ao que parece um dos cães que se passeiam pelo parque, curioso como todos os cães, sofreu na pele a consequência da presença destes bichos. Teve que levar quase meia dúzia de injecções devido às toxinas que a processionária injecta nas suas vítimas e perderá parte da língua devido a uma necrose dos tecidos.

Esta lagarta não é só perigosa para animais, mas também para as pessoas, em especial para as crianças, e até para as próprias árvores.
Esta espécie ataca pinheiros e cedros, e é comum em Portugal. Por isso decidi partilhar convosco um texto que retirei da página do ICNF, e onde poderão ver fotos destes insectos nas suas várias fases de desenvolvimento.


"1 - O que é a Processionária ou Lagarta do Pinheiro?

A processionária ou lagarta-do-pinheiro (Thaumetopoea pityocampa Schiff.) é um inseto desfolhador que afeta as espécies dos géneros Pinus e Cedrus. Este inseto é endémico em Portugal e a severidade dos ataques depende do nível populacional, o qual é por sua vez profundamente influenciado pelas condições meteorológicas (temperatura e insolação), pelo conjunto de inimigos naturais ativos em cada estádio de desenvolvimento da praga (aéreo ou subterrâneo) e pela qualidade e quantidade de alimento, dos quais depende a fecundidade das fêmeas.
O nome processionária vem da procissão formada pelas lagartas quando abandonam a parte aérea da árvore e se dirigem para o solo, onde se enterram para iniciarem a fase de pupa que pode durar de 1 a 3 anos.


2 - Quais as espécies hospedeiras mais comuns em Portugal?

Em Portugal os hospedeiros principais deste inseto são os pinheiros, qualquer que seja a sua espécie.


3 - Que sintomas se podem associar à Lagarta do Pinheiro?

Os sintomas mais conhecidos são os ninhos, que constroem na ponta dos ramos, onde se refugiam quando não se estão a alimentar durante o Inverno.
No entanto, entre julho e novembro podem observar-se tufos de agulhas avermelhadas, ligadas por fios sedosos, nos ramos expostos ao sol, sendo visíveis lagartas dos primeiro e segundo instares. Os ninhos grandes, em forma de bolsões, constituídos por fios brancos e sedosos, na parte apical dos ramos expostos ao sol, aparecem a partir do Outono.


4 - A Processionária pode ser perigosa para pessoas e animais?

Sim. As lagartas da processionária-do-pinheiro a partir do terceiro instar (novembro-dezembro) desenvolvem pêlos urticantes que provocam alergias na pele, nos olhos e no aparelho respiratório dos seres humanos e podem provocar os mesmos sintomas nos animais.


5 - O que fazer quando se encontram lagartas de processionária?

a)    Se encontrar em área florestal (que não seja sua propriedade) afaste-se;
b)    Se encontrar em espaços públicos em áreas urbanas:
a.    Afaste-se e entre em contacto com a Proteção Civil, Câmara Municipal ou com os serviços regionais do ICNF I.P. http://www.icnf.pt/portal/icnf/contact/serv-desc
b.    Nas escolas e outros locais onde estejam presentes crianças, impedir, sempre que possível, o seu acesso à zona das árvores atacadas sobretudo na altura em que as lagartas descem da árvore.
c.    Em caso de aparecimento de sintomas de alergia, consulte de imediato o posto médico mais próximo.
c)    Se encontrar na sua propriedade, deve tomar as medidas necessárias e recomendadas para controlar ou eliminar a presença do inseto, evitando a sua dispersão.


6 - Como se dispersa a processionária?
O inseto pode dispersar-se de forma natural através do voo dos adultos ou através da circulação de plantas ou partes de plantas hospedeiras. As fêmeas podem voar alguns quilómetros para selecionar um hospedeiro e aí efetuarem as suas posturas. Como elas se dirigem para as silhuetas dos pinheiros, as posturas concentram-se nas árvores de bordadura ou naquelas que se encontram isoladas.


7 - Que medidas de controlo podem ser tomadas?
Existem diversos meios de controlo que podem ser aplicados:
janeiro a maio: destruição das lagartas em procissão e pupas no solo

Aplicar cintas adesivas nos troncos das árvores embebidas em cola à base de poli-isolbutadieno  para captura das lagartas aquando da procissão de enterramento;
  • Proceder à recolha manual e queima das lagartas encontradas no solo (cuidado com os pelos urticantes!);
  • Mobilizar o solo, nos locais onde se suspeita de enterramento, para destruição das pupas.

  • junho a setembro: uso de armadilhas
    • Instalar armadilhas iscadas com feromonas sexuais (1 a 3 por hectare), para captura de machos (borboletas).

    setembro a outubro/novembro: tratamentos bioquímicos
    • Através de inibidores de crescimento, hormonas de muda dos insetos e inseticidas microbiológicos à base de Bacillus thuringiensis (apenas eficaz no estado de ovo ou nos primeiros instares de desenvolvimento larvar 8-10 mm de comprimento) - até outubro;
    • Através de microinjeção no tronco (lagartas até 30 mm) - normalmente eficaz entre setembro e novembro.

    outubro a dezembro: destruição de ninhos
    • Proceder à remoção manual dos ninhos seguida de queima ou injeção de um inseticida piretróide de síntese nos ninhos (ação a executar durante o dia, quando as lagartas se encontram no ninho).
    8 - Quem deve proceder aos tratamentos para controlo da processionária?

    As medidas de controlo para a processionária devem ser tomadas pelos proprietários/gestores das árvores afetadas. No caso da aplicação de inseticidas devem ser observadas as normas de higiene e segurança e só podem ser aplicados inseticidas aprovados pela DGAV, seguindo os requisitos legais de comercialização e aplicação de produtos fitofarmacêuticos, pelo que deve sempre consultar o sitio digital da DGAV antes de qualquer aplicação:
    http://www.dgv.min-agricultura.pt/portal/page/portal/DGV/genericos?actualmenu=3665921&generico=3669837&cboui=3669837 "

    quinta-feira, 16 de março de 2017

    coisas de opinar: A gentil arte de fazer inimigos.



    A caminho dos 38 anos, a pessoa que sou hoje é uma versão muito distante da miúda que deixava as questões por resolver, que optava, (pelo menos na maioria das situações, até porque há limites), por fugir de possíveis confrontos, e ficava calada.

    O que se passou esta manhã foi um óptimo exemplo:

    Ao pé da minha casa há um café, e muitos dos seus clientes cumprem a secular tradição nacional de querer estacionar o mais próximo possível da porta do estabelecimento, mesmo que isso implique ocupar o passeio, dificultando a vida aos peões, e até correndo o risco de os atropelar, pois decidem subir com os veículos numa zona onde o passeio é mais baixinho, mas que não tem qualquer visibilidade, e toca de avançar por cima do passeio, por vezes a toda a brida, surpreendendo quem vai a pé que só não é passado a ferro se tiver bons reflexos.

    A desculpa de não haver estacionamento disponível simplesmente não é desculpa, pois a 10 metros de distância há toda uma rua com imensos lugares à espera de serem usados. Trata-se simplesmente de uma questão de preguiça e egoísmo, uma daquelas situações em que se pensa só na própria comodidade e que se lixem os outros. Às vezes nem é por maldade, é porque vamos pela vida em piloto automático, em que a variável "outro" nem sequer chega a entrar na equação das nossas vidas, nem é um factor considerado.

    Esta situação não é de agora, arrasta-se há anos. Mas em cada manhã que vou passear o Kiko e me confronto com o passeio ocupado, ou que quase somos atropelados, é mais uma gota no copo, e inevitavelmente chega o dia em que o copo transborda.

    Hoje foi o dia.
    Há umas semanas que o passeio tem sido ocupado por três ou quatro carrinhas, do transporte de pessoal da construção civil que vão ao café antes do trabalho.
    Já no regresso para casa, tivemos mais uma vez que optar por contornar uma das carrinhas pelo lado da estrada e corrermos o risco de sermos atropelados, (que os condutores que por aqui passam demonstram cada vez mais uma conduta perigosa, desatenta e até criminosa), ou passar pelo lado de dentro, num corredorzinho com cerca de 30 cm de largura entre a carrinha e muros, em que implicaria eu levar com folhagem e ramos de sebes na cara. Optei pela segunda.

    Após libertar-me daquele emaranhado de verde que tive que furar com a cabeça, dei de caras com um aglomerado de pessoas que presumi e bem serem os ocupantes das carrinhas. E pensei que de hoje não passaria, e lá fui dar-lhes uma palavrinha.
    Perguntei a um senhor se era o condutor da carrinha que acabara de contornar, disse que não. Mas logo apareceu um senhor solícito, que embora também não fosse o condutor, se mostrou disponível para me ouvir.
    Com educação e gentileza, usando até um por favor pelo meio, pedi-lhes se lhes seria possível passarem a estacionar 10 metros mais atrás. Que ali havia toda uma rua com "quilos" de estacionamento, e assim não bloqueavam o passeio. Que é perigoso ter que passar pela estrada, e havendo estacionamento não há necessidade de tal.
    Um dos senhores concordou de forma enfática comigo. Os outros não sei, pois mal expus o meu pedido agradeci e segui caminho.

    Quando chegámos a casa e contei ao marido, meneou a cabeça e soltou um "lá estás tu a fazer inimigos".
    É nestes momentos que me sinto como o Sheldon do Big Bang em termos de aptidões sociais. Disse-lhe veementemente que achava que não. Se tinha sido educada e gentil, se usei um tom amigável e até um "por favor", se expus de forma breve um bom argumento, e apresentei uma melhor solução que respeita as necessidades de ambos, não há motivo para encarar esta abordagem como uma entrada em guerra.
    Eu sei, eu sei... As pessoas, na grande maioria, não gostam nem um pouco de ser contrariadas e aceitam pessimamente as críticas, venham elas com pregos ou paninhos de pelica.

    Neste momento sobressai a minha esperança no poder da argumentação, da diplomacia, e simplesmente da boa vontade entre as pessoas. Amanhã de manhã, em mais um passeio matinal com o Kiko, logo tirarei uma conclusão sobre se o diálogo vence, ou neste mundo estamo-nos mesmo a cagar para os outros.

    Depois conto-vos.





    sexta-feira, 3 de março de 2017

    cromices #146: Dos "super-poderes" pouco úteis



    Quem é que nunca desejou ter super-poderes como os personagens de filmes, séries e bandas desenhadas?

    Ter o dom da invisibilidade, da regeneração, correr como o Flash, ter a força de um Hulk ou as capacidades telepáticas do Professor Xavier...
    São todos tão cativantes que se me pedissem para escolher um só poder a escolha seria difícil.

    Exageros à parte, o que tenho de mais parecido com um "superpoder" pelos vistos é a capacidade de adivinhar o que o meu marido almoçou. Coisa que acontece com tal frequência que até já gozamos com a situação.

    Ontem durante a tarde, comecei a pensar no jantar, e ocorreu-me hambúrgueres ou salmão. O marido chega a casa, e como de costume pergunto-lhe o que almoçou: hambúrguer de salmão.
    Goza comigo, e eu respondo-lhe que mais uma piadinha e sirvo-lhe é couves de bruxelas. Descamba tudo: o acompanhamento do tal hambúrguer de salmão havia sido couves de bruxelas. Claro.

    Anteontem, pensei em costeletas. Chega o marido, repete-se o ritual, o que é que almoçaste e tal: costeletas.

    Não dá antes para acertar na chave do euromilhões?!