segunda-feira, 30 de março de 2015
cromices #76: Sim, eu falo sozinha...
... desde sempre e todos os dias.
Há quem diga que é coisa de gente doida. Eu cá avanço que é reflexo dos filhos únicos.
E que digo eu?
Hoje o tema anda muito (demasiado até!) em redor do "onde raio é que meti aquilo?!"
Pior que doida, só mesmo cheché...
coisas da casa: Entregas ao domicílio - pormenores que fazem diferença
Acabaram de entregar o colchão novo.
Correu razoavelmente bem. Tivesse que pontuar daria 4 pontos em 5. Ou 3,75 se me apetecer ser picuínhas.
A partir do momento em que tocaram à campainha foi coisa para se fazer em menos de nada. A ligeireza com que acartaram o colchão pelos lances de escadas foi fenomenal. Mereceram sem dúvida a boa gorjeta que lhes dei.
Só não lhes dou nota máxima por dois motivos:
O primeiro refere-se ao facto dos senhores que nos tratam da entrega da nespresso e da tiendanimal me terem habituado ao facto de, não só avisarem por telemóvel o dia e o período deste em que ocorrerá a entrega, como me contactam algum tempo antes da mesma para confirmarem com exactidão o momento em que esperam chegar à minha morada.
Neste caso, recebemos uma única mensagem alertando que o período de entrega seria entre as 8h e as 14h. É um sistema insuficiente e antiquado, que espero que caia em desuso com todos os prestadores deste tipo de serviços. Porque senhores, se soubessem o jeitão que dá aquele telefonema ou mensagem "Está por casa? Daqui a 20 minutos estamos aí!"
O último motivo também tem a ver com falta de comunicação, mas desta vez entre quem faz as entregas e quem trata das papeladas.
É que tivemos que pagar 15 euros pela entrega e outros 15 pela recolha do colchão antigo. A sorte foi essa informação estar presente na factura que tinha em minha posse.
Recebi o colchão novo, assinei a guia de entrega e, como de costume, lancei a piadinha seca, que sou daquelas pessoas irritantes que o faz:
- Ora então muito obrigada por tudo, especialmente por levarem o trambolho daqui para fora!
Um dos senhores ficou a olhar para mim com cara de caso, e eu a apontar para o colchão velho que havíamos já deixado encostado a uma das paredes do corredor desde manhãzinha:
- Mas é para recolher?! É que não tenho aqui nada!
- Mas eu paguei pela entrega e pela recolha! Pode confirmar aqui pela factura!
O senhor comparava papéis, e repetiu um par de vezes que o papel dele não trazia tal informação, não com o tom de quem se tentava esquivar, pelo contrário, mas só numa de constatar o obvio.
Rematei:
- Pois, isso é para o senhor dar na cabeça lá de quem faz a papelada. Eu cá não tenho nada a ver com isso.
quinta-feira, 26 de março de 2015
vida de cão #17: Já escolhemos a cama permanente do Kiko
Quando comprámos a sua primeira cama, foi já a pensar que esta apenas nos serviria temporariamente, apenas por um par de meses.
Comprámo-la barata numa loja de artigos para a casa por uma fracção do preço que produtos similares, (se não iguais), custam em qualquer loja de produtos para animais.
Mas sempre a pensar que a haviamos de trocar por uma boa cama, que uma cama de plástico, (chamo-lhe alguidar), mesmo com a mais fofa da mantas não é leito decente a longo prazo.
Mas, precisávamos de conhecer melhor o Kiko, entender as suas necessidades, fazer pesquisa de mercado, e tal requer tempo. Então a tal cama-alguidar ia dando para o gasto.
As mil e uma coisas para o Kiko vão sendo compradas em vários locais, desde a clínica veterinária, a várias lojas de animais, ou até online, na tiendanimal.
E foi nesta última que encontrei a cama que sabia ser a ideal: uma cama ortopédica em que a base é um colchão de espuma com memória e propriedades visco elásticas. Dizia a descrição do produto que tal era para distribuir o peso do animal de forma uniforme, evitar o acúmulo de pressão nas articulações, proteger a coluna vertebral assim como proporcionar o máximo de conforto. Em conjunto com o facto de ser tudo protegido por capas que podem ir à máquina, fiquei convencida que tinhamos ali uma boa opção.
O marido não se convenceu imediatamente, mas deu o braço a torcer. É que palmilhámos tantos locais, vimos tantas camas, e nenhuma nos convenceu. Particularmente, a relação qualidade-preço ficava aquém aos nossos olhos.
Esta cama ortopédica custa cerca de 45 euros. A base é mesmo um colchão, tem um bom tamanho, parece super confortável. Ou seja um produto de gama alta. Pelo mesmo dinheiro, nas lojas que visitámos conseguiriamos adquirir camas cuja base era uma almofada, mais estreitas, algumas onde só a almofada tinha capa lavável. Numa escala qualitativa diria que se tratavam de produtos razoáveis, de gama média.
Podem-me chamar forreta se quiserem, mas quando gasto dinheiro gosto de sentir que o faço da melhor maneira possível.
E com este argumento quaisquer dúvidas que existissem dissiparam-se.
Chegou ontem a encomenda da tiendanimal. Da nossa parte a cama está aprovada. O Kiko também parece aprovar.
quarta-feira, 25 de março de 2015
Como um homem...
Hoje veio à tona uma das memórias de infância, de quando os meus avôs nos vinham visitar.
Vinha um de cada vez, por uma quinzena. Pelo simples motivo que alguém tinha que ficar a deitar um olho pela quinta. Senão quem trataria da Bonita e da Mimosa, (as vacas), ou do Rantanplan (o cão), das culturas e de todas as outras coisas?
A minha avó aproveitava sempre a viagem para visitar amigas, algumas cuja ligação datava de há décadas atrás. Eu acompanhava-a.
Eram tardes de conversas acompanhadas de chá e biscoitos, onde o meu papel era mais de observadora. Nunca me incomodou. Pelo contrário, sempre tive curiosidade e gosto em ouvir sobre o "antigamente". Silenciosamente observava-lhes tudo: os rostos, os jeitos, as expressões, e usava a minha imaginação para limpar do rosto da minha avó todas as rugas e marcas da idade. Deixar-lhe só os cabelos negros, compridos, lisos e brilhantes, e aqueles olhos verdes. Imaginá-la gaiata e ver, no cinema da minha mente, o filme das histórias que a minha avó e as amigas narravam quando falavam sobre o "antigamente", acompanhadas de chá e biscoitos.
Um dia, uma dessas senhoras dirigiu-me algumas palavras sobre a minha avó. Disse-me, com admiração espelhada no rosto, que a estimasse, que como ela não havia outra. Que a senhora minha avó, (em tempos idos num contexto difícil de entender por uma miúda dos dias de hoje), comia como um homem, mas trabalhava como um, e melhor que muitos.
Durante anos aquilo ficou-me a remoer. Muito mais tarde é que soube digerir e apreciar tamanho elogio. É que ser-se "como um homem", capaz de substitui-los nos trabalhos mais duros e exigentes fisicamente, (coisa necessária em época de guerra mundial e fascismo), e ainda destacar-se dos demais fazia da minha avó, aos olhos dos seus pares, uma supermulher.
coisas da casa: Um dos santos desta casa
Um dos santos da nossa casa é sem dúvida o meu sogro e, como tal, para além dos agradecimentos que faço sempre questão em proferir, merece também reconhecimento pelo tanto que faz por nós.
Eu explico: por falta de gosto, de jeito, de paciência, de tempo, de tudo e de nada, eu e o marido somos ambos uma espécie de azelhas no que toca à bricolage, aos arranjos domésticos, a toda essa cena do DIY.
O meu sogro adora todas essas coisas. Tanto que é profissional do ramo, com mais anos de experiência do que nós de vida. Deixa-me sempre boquiaberta porque parece que não há nada nesse contexto que ele não entenda e saiba fazer, sempre com laivos de perfeccionismo. Traço que cultiva em nós uma grande admiração pelo meu sogro.
Ainda me lembro da primeira vez que veio em nosso "resgate". Foi mesmo no início de termos comprado casa. Estávamos decididos a meter mãos à obra e pintar nós mesmos a casa.
Calhou o sogro passar por cá, quis dar uma vista de olhos, ver como estavam a correr as coisas. Quando viu o nosso jeitinho para as pinturas, aquilo deve-lhe ter mexido com os nervos, soltou um "Não é assim que se faz! Assim não fica nada de jeito!" e em menos de nada passámos ao papel de observadores e ajudantes, tipo "passem-me aí esse pincel".
No início da nossa aventura doméstica a dois, o marido evitava pedir ajuda ao pai para estas coisas, por uma questão de constrangimento, de não lhe querer pesar. "Coitado do meu pai" - dizia ele - "Já trabalha tanto... Não lhe quero dar mais trabalho. E já sabes que ele nunca se recusa." (Para mim, mais uma evidência, entre mil outras, que tenho um homem à maneira. Mas adiante.)
Hoje em dia, não hesitamos em rezar ao santo sogro, e imediatamente lá vem este em nosso auxílio.
Nestes últimos dias foi o esquentador. A maquineta andava a pingar água e a chama piloto teimava em continuar acesa mesmo com as torneiras fechadas.
Trocar de esquentador, especialmente se for um modelo ventilado, significa ter que investir para cima de 300 euros. Se tiver que ser, que remédio, mas que valeria a pena ver primeiro se aquilo tinha arranjo.
Pois ao meu sogro, entendido na matéria, bastou-lhe apertar umas coisas, trocar um o-ring, e voilá, maquineta como nova.
Ora digam lá se não é um verdadeiro salva-vidas digno de reconhecimento?!
segunda-feira, 23 de março de 2015
Programa de segunda-feira...
As segundas-feiras são uma espécie de sogras dos dias de semana. Têm uma péssima fama, quantas vezes desmerecida.
Por aqui está a ser um bom dia: o Kiko preguiça, eu vou intervalo limpezas com momentos de brincadeira. Hoje, ao som de bossa nova. Com a leveza de espírito e ao ritmo que a música dita. Por aqui, as segundas também são bem amadas.
cromices #75: Às vezes, surpreendo-me a mim mesma
Quem acordou às 6h da manhã bem disposta, quem foi?
terça-feira, 17 de março de 2015
Vida de cão #16: O ninja do chichi
Amanhã o Kiko faz seis meses.
Já pesa 6.600 kg. Só de pensar que, aquando a nossa primeira consulta veterinária a balança marcava 3kg certinhos!
Nesta altura, acho que o objectivo mais importante de todos foi atingido com sucesso: a ligação emocional.
Não me (nos) imagino sem o meu pirralho e sente-se, da parte dele, também uma intensa ligação connosco. Há lá coisa melhor que ser recebida com uma cauda a abanar a mil à hora e uma excitação louca, mesmo depois de uma ausência de apenas dez minutos?!
Ele continua esperto que nem um alho, para algumas coisas.
No treino de obediência, por exemplo, há coisas que ele aprende à primeira. O mesmo acontece com alguns truques que o marido lhe ensina em casa.
A maior dificuldade reside, ainda, na questão dos chichis e afins.
Temos lido tudo e mais alguma coisa sobre o tema, a experimentar dezenas de métodos e teorias.
Torna-se um bocado frustrante, confesso. Especialmente quando ele consegue aprender coisas à primeira, mas não isto.
Mal o trouxémos para casa experimentámos uns resguardos específicos, absorventes como as fraldas dos bébés. Foi um fracasso. Ao invés de lá fazer as necessidades, usava-os como espaço de brincadeira. Desistimos dos resguardos quando os começou a estraçalhar. Ficaram de reserva à espera de uma segunda oportunidade.
Passámos para uns tapetes de algodão, daqueles coloridos para a casa que se encontram em qualquer superfície comercial por tuta e meia. Durante algum tempo pensámos que a coisa ia funcionar.
Agora a opção é um misto de folhas de jornal espalhadas pelo chão, mais uma base de plástico para os ditos resguardos colocada no sítio definitivo onde queremos que ocorram as micções, (aquela mesmo que eu não queria comprar no início porque achava que era um desperdício de dinheiro!), com um jornal por cima onde o Kiko já urinou para o atrair, com a ajuda extra de umas gotinhas de um produto que supostamente serve para estimular os cães a fazerem naquele local e, chão lavado com um produto enzimático para eliminar totalmente os odores (ao nível do olfacto apurado dos cães) que cheira maravilhosamente bem mas custa os olhos da cara.
Resultados?
Bem, anteontem à noitinha, estávamos ambos em coma no sofá. Há filmes que surtem tal efeito.
O sacaninha conseguiu fazer um chichi na ponta do sofá sem que ninguém desse por isso.
Como foi do meu lado, marido fartou-se de gozar comigo, por não ter notado. O que seria difícil visto que estava num sono profundo.
Ontem, (que o karma não dorme em serviço e age rápido), estava o marido no sofá, entretido com o tablet enquanto esperava pelo jantar. Em menos de nada o Kiko pula lá para cima, e consegue fazer um chichi quase nas barbas do meu gajo, sem que este desse conta.
Pagam as máquinas de lavar e secar que não têm tido descanso com os cinquenta cobertores, mantas e cobertas que uso com o fim de proteger o sofá e de nos taparmos.
Não tivemos escolha senão esfregar-lhe o focinho no chichi e fechá-lo no quarto dele. O castigo escolhido foi estar afastado de nós o resto da noite.
O grande objectivo é fazê-lo entender que tem um sítio, a tal base de plástico, onde pode fazer as necessidades à vontade.
É um acessório que comprámos tendo em vista a rotina que queremos criar a longo prazo. Talvez soe estranho e completamente o oposto do que a maioria das famílias com cães pretendem, mas não queremos um cão que só faça as necessidades na rua. Não quero ser acordada às 6h da manhã, ou ter que ir lá fora numa noite invernosa só por causa das necessidades. Prefiro mil vezes limpar o tabuleiro, (o que até é tremendamente fácil), mas não sentir que a nossa vida gira em redor da obrigação de ir à rua de duas em duas horas.
Saímos muito, damos bons passeios, brincamos na relva, na serra, na praia. As nossas saídas têm sobretudo um carácter lúdico e servem para nos exercitarmos. Gosto que assim sejam, e que o continuem a ser, muito mais do que idas ao wc ao ar livre.
sexta-feira, 13 de março de 2015
coisas de comer: Às vezes, sabe tão bem fazer batota.
O que eu chamo de batota são os pratos que geralmente cozinho em doses que dão para mais de uma refeição, tipo carne assada, lasanha, cozido à portuguesa, empadões e por aí fora.
Não me maça minimamente, enquanto comensal, repetir o cardápio dois jantares seguidos.
Sou específica em relação ao jantar, porque é, por norma, a única refeição em que me dou ao trabalho de cozinhar "a sério".
Como almoço sozinha, pelo menos durante a semana, fico satisfeita com uma sopa ou uma salada, uma peça de fruta e um iogurte. É saudável, leve, satisfaz e até faz bem à linha. Se me apetecer outra coisa qualquer, faço. Ás vezes, até mais do que apetite é vontade de "brincar com os tachos", fazer experiências. Tão simples quanto isso.
Voltando um pouco atrás, há certamente quem ache uma maçada isto de comer o mesmo prato num curto espaço de tempo. Podem haver excepções, mas creio que, regra geral, são pessoas que não se ralam com pensar e executar refeições 365 dias por ano. Ou isso ou nutrem uma paixão assolapada por esta coisa dos tachos.
Eu gosto de cozinhar. O suficiente para o continuar a fazer, com satisfação na grande maioria dos dias, mas não ao ponto de querer seguir carreira disso, ou até de sentir que não me faz falta uma folga dessa rotina.
Daí, saber-me tão bem estas "batotas" de vez em quando. Saber que naquele dia, ganhei um par de horas que posso usar para outra coisa qualquer, porque é só reaquecer o jantar, dispender de uma fracção do tempo que utilizo normalmente para variar o acompanhamento, não ter de ir às compras nem dar voltas à cabeça sobre o que fazer, e voilá, feito!
quinta-feira, 12 de março de 2015
vida de cão #15: São cardos, senhores, são cardos!
Feitas as contas, até somos uns sortudos. Na nossa localidade nem tudo é betão, calçada e alcatrão.
Na nossa maior caminhada diária, que dura cerca de hora, hora e meia, eu e o Kiko vamos explorando todos os cantinhos desta terra.
Nos últimos dias, tenho-o levado para os limites da localidade, onde existem menos casas e uma boa porção de terra em estado natural e selvagem, mato mesmo.
O som dos carros é a cada passo substituído pelo chilrear dos pássaros. Muitos em alerta pela nossa presença, até um par de rolas que nos perseguem. Cruzamo-nos com coelhos que, mal nos topam, fogem para as tocas. Com sorte ainda temos o privilégio de avistar um par de aves de rapina a cruzar os céus.
É nesse tipo de trilhos que ambos somos mais felizes. Se por vezes as caminhadas junto das zonas mais urbanizadas nos stressam, ali é diferente. Até eu consigo aceder a um raro estado zen, que reconheço prontamente pela facilidade com que consigo respirar, pela maior quantidade de ar que consigo inspirar de uma só vez. Embora ainda não tenha o à-vontade necessário para o deixar vaguear sem trela quando estou sozinha, (com o tempo irei adquirir essa confiança), ali não tenho que me preocupar com o que ele mete na boca. O que nos rodeia é verde, fruto da natureza e não lixo humano.
Cá em casa somos todos bichos do mato, figurativa e literalmente, está mais que visto e não há nada a fazer!
Por coincidência ou não, a nossa caminhada leva-nos até às ruínas de uma ermida, tão mas tão antiga que por lá encontraram vestígios das épocas romana e pré-histórica. Acho-o um local maravilhoso, com uma vista a condizer, ou não fosse eu uma espécie de dona de casa eremita.
Na volta, tive a triste ideia de fazermos corta-mato por um terreno. A intenção era o poupar o Kiko do ladrar dos cães presentes em todas as moradias, e deixá-lo pisar mais verde ao invés de alcatrão.
À primeira vista, parecia uma boa ideia: só vislumbrava ervas fofinhas. Depois de alguns metros os tufos de ervas fofinhas deram lugar a cardos. Um mar de cardos.
Voltar para trás estava fora de questão: tinha uma pressa alarmante ditada pelo facto de estar aflitinha para ir à casa de banho.
E lá fui eu, com o Kiko nos braços, a atravessar o terreno o mais depressa que podia, ora em passo de corrida ora aos pulinhos, provocados pelas picadelas dos cardos, a ruminar que afinal tinha sido uma péssima ideia.
caixa de ressonância
quarta-feira, 11 de março de 2015
caixa de ressonância
terça-feira, 10 de março de 2015
cromices #74: O pardal e a coruja
Um casal pode, em sentido lato, ser visto como um organismo devido à simbiose entre as suas metades.
No entanto, não quer dizer que estas metades sejam iguais. As diferenças são inevitáveis.
Por cá, uma das maiores diferenças entre a minha pessoa e a do meu excelso marido é algo que está, em grande parte, fora do nosso controlo. Trata-se do relógio biológico.
Enquanto ele é uma espécie de pássaro madrugador, eu sou uma coruja. Sempre fui.
Na prática, o que é que isto significa?
Que quando me chega o sono, em muitos dos dias, já ele foi atacado pelo João Pestana há horas.
Que quando desperta, ainda eu estou a meio do meu ciclo de sono. Com a agravante que, para me sentir minimamente funcional, preciso sempre de mais uma hora ou duas de sono do que ele. Que, se não durmo aquele X de horas, seguidas, sem interrupções nem intervalos, acordo um trapo: exausta, e sem qualquer destreza ou coordenação, tanto física como verbal.
Daí a importância do ritual do pequeno-almoço, que deverá seguir sem percalços nem mudanças de rotina, e sobretudo com muita paz e tranquilidade.
(Hoje em dia fico absolutamente incrédula com a quantidade absurda de directas que já fiz, e a facilidade com que as fazia!)
Ao longo dos anos, temos ambos trabalhado para concertar os ponteiros destes nossos relógios. Embora, acredite que o maior esforço exista da minha parte, visto o ritmo noctívago ser assumidamente o contra-natura.
Aprendi a apreciar mais as manhãs, de tal forma que este se tornou também o meu horário favorito para um rol de actividades.
Mas, sem exageros...
Um dia, ainda noite, sou violentamente acordada de um sono ainda profundo com abanões e uma voz demasiado enérgica para aquela hora.
- "Acorda! Acorda!" - dizia-me ele.
Dei um pulo na cama, sobressaltada. Vejo pela janela que ainda está escuro que nem breu, e imediatamente penso que aconteceu alguma coisa. Pergunto-lhe se se sente bem, o que é aconteceu - é mal-estar? É fogo?
Não. Era o estupor do gajo que queria ir tomar o pequeno-almoço a ver o nascer do sol.
Fomos. Só porque depois do susto não ia conseguir voltar a adormecer tão cedo. Fui feita trapo, porque havia dormido uma fracção das horas que ele descansou. Não sem antes o agredir com as almofadas, chamar-lhe todos os nomes que me vieram à mente, e prometer-lhe que da próxima vez que repetisse a gracinha lhe vazava um olho.
sexta-feira, 6 de março de 2015
Vida de cão #16: O que se consegue com paciência e uma banana
O Kiko tem sobretudo dois medos: de cães presos em quintais e do movimento e barulho dos carros na estrada.
Quanto ao primeiro, não é que ele tenha medo de outros cães. Pelo contrário, até hoje sempre demonstrou ter um espírito do mais sociável e afável, que procura brincadeira com todos os cães que encontra, indepentemente do seu porte ou de serem mais ou menos amistosos para com ele.
Mas, quando ele não os vê, apenas ouve aquele ladrar agressivo típico dos cães presos em quintais, passa-se. Não mostra qualquer agressividade, quer é fugir dali o mais depressa possível.
A reacção com os carros era similar: ou dava-lhe para querer fugir a sete pés, ou estacava por completo.
Andamos a trabalhar nisso, um medo de cada vez.
Demos prioridade ao medo dos carros, pois se por um qualquer motivo a trela nos escapa das mãos, (bate na madeira!), e ele por medo tem uma reacção estúpida pode acontecer o pior de todos os cenários.
Comecei por ir diversas vezes com ele para uma paragem de autocarro numa das vias mais concorridas da minha localidade. Com a ajuda de uma banana, (fruta que ele adora e não lhe faz mal nenhum se dada em quantidades equilibradas), procurei que, através de recompensa, ele se sentasse ao meu lado, focando a sua atenção em mim, olhando-me nos olhos e assim, fosse capaz de ignorar o trânsito e todos os seus ruídos.
Deu frutos. Já não estaca em pânico tantas vezes, e é-nos mais fácil direccionar-lhe a atenção para outra coisa.
Mas é um trabalho que tem que ser continuado numa base diária se queremos que dê os frutos pretendidos.
Nunca mais fui para a paragem de autocarro com a banana, mas nos nossos passeios diários fazemos alguns minutos de treino com os comandos que aprendemos nas aulas de obediência. Para tal, escolhi propositadamente um espaço relvado que fica pegado a outra das artérias mais movimentadas.
Absolutamente tudo o que se pretenda atingir com um cão, desde as coisas mais simples às mais complexas, requer paciência, carinho, disciplina e insistência. Portanto torna-se duplamente recompensador e motivador ver resultados positivos.
No segundo ou terceiro dia em que fizemos o tal "treino com a banana", já conseguimos atravessar uma dessas ruas na passadeira, de forma razoavelmente organizada.
Ainda não estamos perfeitamente afinados, mas foi especialmente bom ver, no outro dia, após uma reacção de pânico à passagem de um camião, que bastou baixar-me, abraçá-lo e dizer-lhe que estava tudo bem, para voltar a abanar a cauda e prosseguir caminho.
Vida de cão #15: Amo-te mas, às vezes não gosto nada de ti!
Kiko, tiras-me do sério quando, por tua causa, vou passar o dia entre máquinas de lavar e secar roupa, porque decidiste fazer um chichi no sofá, (que raio de mania nova é essa, seu porcalhão?!).
Quando, nas idas à rua, abocanhas (ou tentas) toda a trampa que encontras e eu passo a vida a enfiar os dedos na tua boca. Ou ainda, aquela vez que te apanhei a tomar banhos de sol com um cagalhão preso às barbas?!
Às vezes és impossível. O incrível é que nada disto diminui o meu amor. Mas, por mais te que adore, às vezes não gosto nada de ti.
quinta-feira, 5 de março de 2015
cromices #73: Como o mundo nos influencia...
Com o passar dos anos passei a revirar os olhos como reacção a muito do que me rodeia. Passei de não praticante a quase profissional da coisa. Mais um par de anos e consigo espreitar a minha nuca.
domingo, 1 de março de 2015
cromices #72: O meu outro pet chama-se Flash Espinafre.
Há umas semanas, numa rotina que se repete inúmeras vezes, volto da mercearia carregada com a matéria-prima para uma sopa.
Abro o saco de folhas de espinafre e coloco-as de molho para as lavar. De repente, noto qualquer coisa na água: era um caracolito, coisinha tão pequena que foi uma sorte ter dado por ele.
Apresso-me a retirá-lo com a ajuda de uma folha de espinafre para cima da bancada.
Não foi por nojo que não lhe toquei, mas por receio de não conseguir ser suficientemente delicada com ele.
Até hoje mora na casinha que improvisei: um pequeno tupperware, (sem tampa, é claro), no parapeito da janela da cozinha. Com uma tampinha de uma garrafa de água a fazer de bebedouro, ou melhor, piscina, e folhas verdes frescas sempre ao dispôr.
Chamo-lhe Flash, porque é um vadio de uma rapidez alucinante. De vez em quando ora o encontro dentro da caixa, como fora, a investigar o parapeito ou os vidros.
Espinafre porque, lá está, foi encontrado no meio destes.
Volta e meia o marido pergunta-me quando é que o solto. Nos primeiros dias a desculpa era que estava um frio tremendo, que ele tinha a concha um bocadinho danificada e precisava de se recuperar antes de poder ir para a rua.
Agora não tenho desculpas, mas a verdade é que já me habituei a tê-lo por ali, aquele vadio sacaninha. E nem me parece que se esteja a dar mal visto que até já cresceu um pouco.
Ele é que já deve estar fartinho de me ouvir com o "caracol, caracol, põe os corninhos ao sol"!
Sou mesmo tolinha!
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