quinta-feira, 12 de março de 2015
vida de cão #15: São cardos, senhores, são cardos!
Feitas as contas, até somos uns sortudos. Na nossa localidade nem tudo é betão, calçada e alcatrão.
Na nossa maior caminhada diária, que dura cerca de hora, hora e meia, eu e o Kiko vamos explorando todos os cantinhos desta terra.
Nos últimos dias, tenho-o levado para os limites da localidade, onde existem menos casas e uma boa porção de terra em estado natural e selvagem, mato mesmo.
O som dos carros é a cada passo substituído pelo chilrear dos pássaros. Muitos em alerta pela nossa presença, até um par de rolas que nos perseguem. Cruzamo-nos com coelhos que, mal nos topam, fogem para as tocas. Com sorte ainda temos o privilégio de avistar um par de aves de rapina a cruzar os céus.
É nesse tipo de trilhos que ambos somos mais felizes. Se por vezes as caminhadas junto das zonas mais urbanizadas nos stressam, ali é diferente. Até eu consigo aceder a um raro estado zen, que reconheço prontamente pela facilidade com que consigo respirar, pela maior quantidade de ar que consigo inspirar de uma só vez. Embora ainda não tenha o à-vontade necessário para o deixar vaguear sem trela quando estou sozinha, (com o tempo irei adquirir essa confiança), ali não tenho que me preocupar com o que ele mete na boca. O que nos rodeia é verde, fruto da natureza e não lixo humano.
Cá em casa somos todos bichos do mato, figurativa e literalmente, está mais que visto e não há nada a fazer!
Por coincidência ou não, a nossa caminhada leva-nos até às ruínas de uma ermida, tão mas tão antiga que por lá encontraram vestígios das épocas romana e pré-histórica. Acho-o um local maravilhoso, com uma vista a condizer, ou não fosse eu uma espécie de dona de casa eremita.
Na volta, tive a triste ideia de fazermos corta-mato por um terreno. A intenção era o poupar o Kiko do ladrar dos cães presentes em todas as moradias, e deixá-lo pisar mais verde ao invés de alcatrão.
À primeira vista, parecia uma boa ideia: só vislumbrava ervas fofinhas. Depois de alguns metros os tufos de ervas fofinhas deram lugar a cardos. Um mar de cardos.
Voltar para trás estava fora de questão: tinha uma pressa alarmante ditada pelo facto de estar aflitinha para ir à casa de banho.
E lá fui eu, com o Kiko nos braços, a atravessar o terreno o mais depressa que podia, ora em passo de corrida ora aos pulinhos, provocados pelas picadelas dos cardos, a ruminar que afinal tinha sido uma péssima ideia.
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