terça-feira, 10 de março de 2015

cromices #74: O pardal e a coruja



Um casal pode, em sentido lato, ser visto como um organismo devido à simbiose entre as suas metades.
No entanto, não quer dizer que estas metades sejam iguais. As diferenças são inevitáveis.

Por cá, uma das maiores diferenças entre a minha pessoa e a do meu excelso marido é algo que está, em grande parte, fora do nosso controlo. Trata-se do relógio biológico.

Enquanto ele é uma espécie de pássaro madrugador, eu sou uma coruja. Sempre fui.

Na prática, o que é que isto significa?
Que quando me chega o sono, em muitos dos dias, já ele foi atacado pelo João Pestana há horas.
Que quando desperta, ainda eu estou a meio do meu ciclo de sono. Com a agravante que, para me sentir minimamente funcional, preciso sempre de mais uma hora ou duas de sono do que ele. Que, se não durmo aquele X de horas, seguidas, sem interrupções nem intervalos, acordo um trapo: exausta, e sem qualquer destreza ou coordenação, tanto física como verbal.
Daí a importância do ritual do pequeno-almoço, que deverá seguir sem percalços nem mudanças de rotina, e sobretudo com muita paz e tranquilidade.
(Hoje em dia fico absolutamente incrédula com a quantidade absurda de directas que já fiz, e a facilidade com que as fazia!)

Ao longo dos anos, temos ambos trabalhado para concertar os ponteiros destes nossos relógios. Embora, acredite que o maior esforço exista da minha parte, visto o ritmo noctívago ser assumidamente o contra-natura.
Aprendi a apreciar mais as manhãs, de tal forma que este se tornou também o meu horário favorito para um rol de actividades.

Mas, sem exageros...

Um dia, ainda noite, sou violentamente acordada de um sono ainda profundo com abanões e uma voz demasiado enérgica para aquela hora.
- "Acorda! Acorda!" - dizia-me ele.
Dei um pulo na cama, sobressaltada. Vejo pela janela que ainda está escuro que nem breu, e imediatamente penso que aconteceu alguma coisa. Pergunto-lhe se se sente bem, o que é aconteceu - é mal-estar? É fogo?
Não. Era o estupor do gajo que queria ir tomar o pequeno-almoço a ver o nascer do sol.
Fomos. Só porque depois do susto não ia conseguir voltar a adormecer tão cedo. Fui feita trapo, porque havia dormido uma fracção das horas que ele descansou. Não sem antes o agredir com as almofadas, chamar-lhe todos os nomes que me vieram à mente, e prometer-lhe que da próxima vez que repetisse a gracinha lhe vazava um olho.

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