segunda-feira, 23 de janeiro de 2017
cromices #143: O que fizeste no primeiro mês do ano?
Na manhã de Natal acordei doente. Uma gripe com direito a todos os tradicionais sintomas, das dores no corpo à garganta irritada.
"Fruta da época" - chamei-lhe eu, na brincadeira. Afinal temos passado por dias excepcionalmente frios e não havia canal de televisão que não noticiasse o quanto o vírus andava por aí em força.
Muni-me de agasalhos extra, sopinhas e chás quentes, dose reforçada de alimentos fonte de vitamina C, aspirina para ajudar a amenizar os sintomas, e acima de tudo muita paciência e sentido de humor, essenciais para quem, como eu, tem um organismo que demora a curar-se destas coisas.
Andei com todos os cuidados a desinfectar com maior frequência a casa na tentativa de não a pegar ao marido. Mas o que ele não apanhou em casa, apanhou no trabalho.
Dois doentes em casa. Com a passagem dos dias ele ia melhorando, felizmente, e eu nada. Não estranhei porque, normal ou não, o meu organismo demora mesmo mais tempo a restabelecer-se. Nem estranharia, não acordasse numa manhã num estado perfeitamente lastimoso, em que qualquer leve menear de cabeça provocava-me mau estar e dava-me vómitos, em que tremia de frio mesmo debaixo de grossas camadas de edredons e mantas.
"Queres que te leve ao hospital?" - perguntava ele.
"Credo! Nem pensar!" - respondia eu, só de pensar em fazer uma viagem de carro com tanto enjôo e frio, para depois enfrentar uma espera de 3 ou 4 horas, na melhor das hipóteses. Vinha-me à mente a notícia que reportava há pouco tempo períodos de espera na ordem das 13 horas, e parecia-me o pior dos infernos dantescos.
"E ao centro de saúde?" - insistia o marido. Voltei a recusar pelos mesmos motivos.
No entanto precisava mesmo de ser vista por um médico, que isto não ia ao sítio só com chá e aspirina. A brilhante solução residiu em marcar uma consulta ao domicílio, e foi realmente o melhor: numa hora e meia, assim como prometido por telefone, tinha à porta a figura amável e zen do Dr. Arlindo.
Eu que nunca tinha utilizado esta coisa das consultas ao domicílio fiquei fã. Fui examinada com todos os cuidados e amabilidades, sem pressas. O doutor diagnosticou-me uma faringite, passou-me um receita com antibióticos, xarope e paracetamol. Ainda me deu o número de telemóvel para que lhe pudesse ligar em caso de surgir alguma dúvida ou qualquer outra questão.
O marido foi incansável: veio à hora de almoço, trouxe-me almoço, foi passear o Kiko e foi à farmácia aviar a receita. Durante dias foi ele a tratar do nosso jantar, das compras, da louça e de tudo o que houvesse para fazer, inclusive de todos os passeios matinais e nocturnos com o cão, estando ele próprio ainda em recuperação.
O Kiko foi excepcional: parecendo conhecer o meu estado, deixou de ser o espalha-brasas mexilhão do costume, e passou todos os dias deitado ao meu lado, a guardar-me.
Os meus pais, idem: a minha mãe ligava-me todos os dias a oferecer-se para tudo e mais alguma coisa, e eu, como sempre, ciosa das minhas bactérias, a reforçar a ideia que o pior que lhes poderia acontecer é apanharem o mesmo que eu. Que nem pensar em correr o risco de lhes pegar, que isto podia até ser fruta da época, mas não era pêra doce.
Passado quase um mês sinto-me de regresso ao mundo dos vivos, embora ainda não esteja a 100%. Imensamente grata por ter quem cuide de mim nestas alturas. Pela recuperação da saúde. Pela eficácia dos medicamentos.
Pelo sim, pelo não, continuarão a ver-me na rua com trajes que mais parecem de alguém que vai para a neve. Podia ser pior: confesso que só não ando de balaclava por vergonha, que vontade não me falta.
Espero não apanhar nada durante os próximos tempos. Honestamente, tendo em conta que já passei 1/12 do ano doente, acho que merecia estar imune a tudo e mais alguma coisa nos próximos dois anos, no mínimo!
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