domingo, 23 de junho de 2013

Ir às compras de braço dado com D. Consciência...



Tenho a impressão que isto de ser consumidor já foi bem mais fácil. Aliás, voltando ao meu hábito de citar provérbios, diz o velho adágio que "a ignorância é uma benção", e é bem verdade!

Porque ir às compras munidos de uma consciência, aviso já, é de certa forma como tomar o mesmo comprimido que o Neo tomou no Matrix. Muda tudo de uma forma irreversível.

E aí começa o pesadelo do consumidor! Uma das implicações directas na minha experiência enquanto consumidora, é que já nem me lembro da última vez que comprei algo por impulso. Acho que é algo que aboli do meu léxico de consumo.

via audcole
 

Digamos que começam uma dieta, e que é esse é o primeiro passo que vos leva a procurarem mais informação sobre nutrição, alimentação saudável, as vantagens dos produtos orgânicos e não processados.
Garanto-vos que as primeiras vezes que voltarem ao hiper ou ao super do costume vão andar às aranhas! Vão começar a ler os rótulos das embalagens, vão chocar-se com os ingredientes esdrúxulos, e andar às voltas com o carrinho num quase total desânimo, rodeados de muitos milhares de produtos e quase sem nada para comer.

Digamos que querem apoiar a produção e a economia nacional, adquirindo o máximo de produtos made in Portugal.
Mais uma dor de cabeça colossal, pois é impossível só com essa denominação ter a garantia que as matérias-primas são de origem nacional, ou até se foi produzido em Portugal, ou por uma empresa portuguesa.

Digamos que querem apoiar o comércio tradicional, e até isto requer a perspicácia de saber distinguir aqueles com fornecedores portugueses e locais que merecem realmente o nosso apoio, daqueles que vão abastecer aos enormes armazéns grossistas, e nos cobram preços exorbitantes por uma alface desmaiada ou uma qualquer treta, que afinal acaba por ser de fabrico asiático.

Digamos que querem comprar um qualquer aparelho - um aspirador, um telemóvel, qualquer coisa. Como consumidores conscientes que são, e ainda mais se deterem algumas noções básicas de marketing, irão com toda a certeza passar dias a pesquisar artigos sobre o produto desejado na internet, a ver reviews (abençoados aqueles que se dão ao trabalho de as fazer), a ler quinhentas análises, a procurar a loja com o melhor preço e o melhor rating em termos de serviço pós-venda.
Porque querem um bom produto a um preço razoável - não querem pagar uma quantia obscena só porque a marca X gasta um balúrdio em campanhas publicitárias, nem querem apoiar uma empresa que tenha atitudes que achem desprezíveis.

Digamos que são contra os testes de produtos em animais. Parece-vos especialmente cruel sacrificar vidas por lábios cheios ou por um rabo com menos celulite? Se sim, somos do mesmo clube!
Então preparem-se para a epopeia que é encontrar produtos de beleza livres de crueldade! Garanto-vos que é bem mais fácil abraçar um look natural e andar de cara lavada.

Digamos que são contra as empresas cuja política para redução de custos e consequente aumento das margens de lucro, é subcontratar outras pseudo-empresas em países de "terceiro mundo" para fabricarem os seus produtos.
Pseudo-empresas que acabam por ser notícia pelos piores motivos, como aconteceu em Daca. Onde as pessoas trabalham muito em troca de muito pouco, nas piores condições, e cujas marcas clientes que fomentam a proliferação desta realidade são tantas e tão conhecidas de todos nós, que um consumidor com consciência arrisca-se seriamente a andar nú.

Digamos que acham injusto que sendo o agricultor o único a produzir, seja o elo mais fraco da cadeia de consumo. Aquele que, do total pago pelo consumidor final, leva a fatia mais magra. Então procuram produtos "fair trade", e encontram um paralelismo inquietante com o segmento "made em Portugal" - o de que ambos ainda têm que crescer muito, porque nem só de café e chinelos, ou de azeites, potes de mel gourmet, ou sabonetes em caixas bonitas a preços grotescos vive o Homem.

Ainda há quem me fale do enorme prazer em ir às compras...






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