sábado, 29 de novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Saudades do meu Alentejo
O Cante Alentejano foi eleito Património Imaterial da Humanidade, como sabem. É uma notícia feliz, que nos orgulha.
Inevitavelmente é uma notícia que me faz pensar no Alentejo, no "meu" Alentejo.
Este é uma amálgama de memórias felizes. Imagens, cheiros, sons, sabores, emoções.
Primeiro e acima de tudo, são os meus Avós.
E hoje, por causa do Cante, penso no "meu" Alentejo, e sem querer emociono-me. Tenho tantas saudades dos meus Avós!
Passaram-se uns bons anos desde o momento em que os meus Avós partiram até que voltei a estas terras, desta vez na companhia do meu marido.
É uma daquelas coisas que nem tento explicar, talvez eu seja uma mariquinhas e pronto, não há nada a fazer, mas há sempre uma lágrimazinha fujona que tento disfarçar, quando me encontro diante daquelas planícies.
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
coisas que gosto #20: Telepatia
De acordar a pensar numa amiga com quem não falava há já algum tempo, e de nesse mesmo dia receber um telefonema dessa mesma amiga.
Opá, tão bom!
E ainda há quem julgue que a telepatia é matéria de ficção!
cromices #58: Não dar cavaco...
A expressão portuguesa "não dar cavaco" significa "não responder, não prestar ou não dar atenção, ignorar, não contemplar alguém ou alguma coisa, não estabelecer ou recusar o diálogo".
Ora, é que nem de propósito!
Temos um Presidente da República, de seu nome Cavaco, que tem como hábito não dar cavaco.
Temos um Presidente da República, de seu nome Cavaco, que tem como hábito não dar cavaco.
Já li muito sobre a importância da escolha dos nomes, da sua influência na personalidade da pessoa, mas sinceramente nunca esperei dar de caras com um exemplo tão literal!
Isto é caso para aconselhar os futuros pais a escolherem nomes como Justo, Honesto, Honrado ou Meritório.
Pelo sim, pelo não, é coisinha para justificar os vinte e tais nomes próprios de qualquer Alteza Real, e dar azo a que a moda pegue.
Eu cá imagino algo tipo "Amável Saudável Honrado Salvador da Pátria Eficaz Trabalhador Talentoso Criativo Sortudo Meritório Atlético Inteligente Bem Sucedido Respeitador Ecologista Amado Feliz Visionário Sábio Longa Vida" - João para os amigos.
Assim era tudo muito mais fácil, a partir do momento que qualquer cidadão saberia à partida que era um estúpido do caraças se votasse num indivíduo de seu nome "Trafulha Off Shore".
Mas já estou a divagar...
O que eu queria mesmo dizer é que, o nosso mui querido Presidente, como é seu apanágio, calou-se caladinho aquando a detenção do Sócrates.
Ora, eu tenho a mania de me tentar colocar no lugar do outro, de reflectir sobre o que faria na sua posição. É assim que construo as minhas expectativas em relação ao próximo.
E, a minha expectativa em relação à pessoa que ocupa o cargo de Presidente da República, Cavaco ou não Cavaco, era que se chegasse à frente, que emitisse, o quanto antes, um parecer a partir de Belém.
Que despendesse de cinco minutinhos para afirmar a Portugal e ao Mundo que a Justiça é basilar em qualquer nação que se queira chamar de civilizada, que todo o cidadão é inocente até prova em contrário, mas que não existe absolutamente ninguém que esteja acima da lei.
Que todo o crime cometido por qualquer cidadão é grave e condenável e deve ser punido de acordo com a sua severidade, mas que um crime cometido por um cidadão que se movimente dentro da esfera política e em nome do Estado é duplamente mais sério, pois este, pelo cargo que assumiu, tem o dever perante milhões de cidadãos, de se comportar de forma escrupulosamente idónea.
Que o papel da Justiça é agir. E quando existe acção por parte desta, a mensagem que o País e o Mundo devem reter, é que Portugal está decidido em focar-se no Bem Comum, em expurgar-se de toda a corrupção e vilania que atrasam o progresso, a evolução e o bem estar de todos cidadãos.
Que o papel da Justiça é agir. E quando existe acção por parte desta, a mensagem que o País e o Mundo devem reter, é que Portugal está decidido em focar-se no Bem Comum, em expurgar-se de toda a corrupção e vilania que atrasam o progresso, a evolução e o bem estar de todos cidadãos.
Just saying...
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Ai, andas tão caladinha e tal...
E não é que não tenha nada para vos contar, que me faltem temas sobre os quais opinar e assim.
Pelo contrário!
O problema é mesmo esse, estou tão eléctrica, com tanta coisa a passar-me pela cabeça ao mesmo tempo, que bloqueei.
Vou tomar um cafézinho a ver se acalmo.
sexta-feira, 21 de novembro de 2014
Inspirações / Aspirações
Desejos #3: O primeiro livro
Ainda me lembro de um dos primeiros livros que recebi. É uma memória forte, vincada, tão boa, de quando ainda era demasiado pequena, de quando ainda faltava muito para aprender a ler.
Era um livro enorme, de capa dura: "As Viagens de Gulliver" de Jonathan Swift.
Era um livro belissimamente ilustrado. E, mesmo sem saber ler, adorava passear os dedos e os olhos pelas suas páginas, num estado de absoluto maravilhamento.
O amor à primeira vista acontece, e é um momento que jamais se esquece. É indelével essa minha memória de há trinta e tais anos atrás: foi o momento que me apaixonei irreversivelmente pelos livros, e tudo o que estes nos permitem.
Um livro tem o poder, especialmente junto de uma criança, de ser um portal mágico para a Imaginação. E não há magia como a própria Imaginação!
E se a descobrirmos em tenra idade, existe uma grande chance que, mesmo na vida adulta, nunca percamos a capacidade de imaginar, de criar, de nos maravilharmos, o que é em si uma das maiores dádivas da vida, algo digno de preservar por toda a existência, custe o que custar.
Esta memória é tão feliz e tão forte, que a revivo em forma de filme, a cores, e com todos os sentidos. Parece que me vejo a agarrar aquele enorme e lustroso volume, com as minhas mãos pequeninas, de lhe sentir o peso e a textura. Sinto de novo a emoção da novidade, da descoberta, de gostar daquela coisa nova, e sorrio.
Relembrei-me deste momento delicioso quando pensei nos filhos das minhas amigas, nesses sobrinhos-emprestados-lindos-que-a-tia-doida-adora, e de repente soube que tia quero ser para eles.
Ainda são demasiado pequeninos, mas quando chegar a altura, quero ser a tia que lhes oferece o primeiro livro, o primeiro de muitos.
Reclamo para mim esse privilégio! Quero que tenham uma memória tão mágica e feliz quanto a minha.
Os livros trouxeram tanta coisa boa para a minha vida, que quero partilhar isso com eles.
Ainda bem que não é para já, preciso de tempo para escolher o "livro perfeito".
caixa de ressonância
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
coisas de pensar: Para turista ver
Todos sabemos que o Turismo tem uma importância fulcral para a nossa economia, diz que o seu contributo para o P.I.B. tem para nós mais impacto do que para outro qualquer país do Mundo, (aqui ).
Contudo, quando ouço sobre as estratégias deste sector, quando falam "do investimento para o turismo" há um arrepio que me percorre a espinha, e não é de prazer.
Odeio quando enchem a boca para falar de estratégias para o turismo, de construir isto, aquilo e aqueloutro para turista ver. É que me fazem lembrar os resorts 5 estrelas em destinos de terceiro mundo, ou a Cuba pré Castro, playground dos americanos: beber, fumar e ir às putas. As putas tristes.
Podem dizer os de fraca memória, que não somos Cuba.
A esses refresco a memória sobre como era o Algarve há poucas décadas atrás. Onde quase tudo o que existia relacionado com o turismo era direccionado para o turista estrangeiro, em que o visitante nacional chegava a ser tratado com desdém e maus modos, relegado porque havia sempre que estar, primeiro e acima de tudo, disponível para os que não pagavam em escudos.
As putas podiam estar na Cuba de outrora, mas ali era-se recebido por alguns dos seus filhos.
Mais tarde, motivados por uma crise, compreenderam que era inviável depender somente do visitante estrangeiro, e tiveram um momento epifânico, aprenderam a valorizar o turista nacional e com base nessa nova atitude houve progresso e evolução, com ganhos para todos os envolvidos.
Muitos até ganharam "amnésia" em relação ao velho Algarve. Eu gosto de recordar, não para constranger, mas para lembrar o resultado de quando se mete "palas nos olhos" e se ignora o quão fundamental é saber produzir e servir, em primeiro lugar, para os da "casa", para nós.
Não quero viver num parque temático. Sobretudo não quero que aumente a disparidade da qualidade entre o que existe para o cidadão e para o turista.
Não quero que as nossas aldeias, vilas e cidades não sirvam para viver, só para visitar. Em que porta sim, porta sim, hajam hostels, e hotéis de charme e espaços design rónhónhó, lojinhas gourmet, estabelecimentos pseudo-tradicionais com ementas em inglês, francês e alemão, com preços proibitivos, e monumentos nacionais que nem todos os cidadãos conhecem e poucos visitaram mais de uma vez, porque os preços dos bilhetes, também esses são para turistas.
Quem me conhece bem, sabe que quando critico é porque tenho na manga mais do que a crítica.
E a minha sugestão é:
- Olhem para as localidades na óptica dos cidadãos.
Invistam em infraestruturas, em remodelações, que aumentem a qualidade de vida destes: segurança, espaços verdes, ciclovias e pedovias, transportes públicos de qualidade.
Reabilitem os tantos edifícios moribundos que sobejam por todo o lado, (quantos destes verdadeiros tesouros arquitectónicos), e transformem-nos nos tais hostels, mas também em habitações, em espaços para a cultura, para a prática de desporto, para a saúde e a educação.
Não foquem no turismo. Foquem-se em tornar um sítio feliz, vibrante, acessível para todos, e os turistas virão.
Se os cidadãos encontrarem nas suas terras um espaço convidativo, apelativo, pessoas de todo o mundo quererão comungar dessa experiência.
E essa é a única "estratégia para o turismo" que defendo, sem ghettos, sem eles e nós.
caixa de ressonância
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
fashion coisa #3: O traje que melhor nos assenta
Quer sejamos homem ou mulher, independentemente da nossa altura, peso, idade, raça, da forma do nosso corpo, há um traje especial que assenta a todos que nem uma luva.
É a nossa pele.
Tivesse eu poderes, e uma das primeiras coisas que faria era erradicar do pensamento humano os complexos para com o próprio corpo, os preconceitos em relação à nudez, a falta de amor próprio.
Não vos estou a incentivar à prática do nudismo, (mas se vos der na gana, força!), nem à exibição gratuita do vosso corpo. Por favor, não distorçam esta mensagem.
O que eu gostaria é que todas as pessoas se sentissem, na sua nudez, tão elegantes, confiantes, graciosas, exuberantes e felizes como se estivessem a envergar o mais belo conjunto Dior, Valentino ou Armani.
Porque ao contrário do que algumas mentes doentes e perversas querem fazer crer, não há nada de ordinário, obsceno, feio e pecaminoso nos nossos corpos nus.
Aí sim, os trajes que se adquirem nas lojas, serviriam para adornar, aquecer e não para camuflar e esconder. Porque se dizem que a moda é bela, uma forma de arte e afins, é uma pena que sirva para isso.
Mais importante, é um desperdício de tempo e de vida não sermos felizes na nossa pele.
caixa de ressonância
terça-feira, 18 de novembro de 2014
cromices #57: A preparar-me para o Inverno...
Cá por casa usa-se muito a expressão "ursa na gruta" em relação à minha pessoa.
Eu nem discuto. Já me rendi ao facto que sou um animal. Que tantas e tantas vezes, os meus instintos animalescos estão muito mais despertos e saem-me com maior naturalidade, do que propriamente isto de ser pessoa, humana, e a necessidade de às vezes pensar antes de agir como tal, como se fosse algo novo, uma lição ainda não assimilada totalmente.
E eu sou um animal que hiberna.
E como os animais que hibernam, chegado o Outono, aumenta a letargia e o apetite. O corpo pede calorias, calor, aconchego, não está virado para práticas desportivas nem grandes aventuras.
Confirma-se: "ursa na gruta" assenta-me que nem uma luva.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
caixa de ressonância
Quando falo de Amor #6: O papel de anti-herói
Acreditem em mim quando vos digo que as pessoas com pior feitio são as que mais (vos) amam.
Sei do que falo. Tenho um feitio execrável, épico de tão bera, sustentado por uma capacidade de amar nunca menor.
Deduzo que aos olhos de alguns, eu devo parecer uma louca, porque só os loucos e os tolos são desprovidos da capacidade de serem diplomáticos, de dizer e fazer o que lhes vem à cabeça sem a consideração pela opinião alheia que tantas vezes nos constringe.
É claro que sei ser diplomata. E bem.
A grande questão reside no papéis que decidimos assumir. A Vida é como uma grande peça, que necessita, para se desenrolar e acontecer que, todos nós subamos ao palco. Cada um veste o papel que quer, ou que acha que deve vestir.
E, tal como nas melhoras peças, nem tudo o que parece, é.
Eu decidi vestir o papel de anti-herói. Mais por obrigação do que por vocação, talvez. Por saber que não é um papel desejado. Que assim sendo, mais vale assumi-lo do que correr o risco de ninguém lhe pegar, ou de este peso recair sobre as costas de alguém que quero ver protegido.
E, como todos estes papéis, também este é necessário.
É fácil antipatizar com esta personagem. O anti-herói quando entra em cena, não nos vai passar a mão pelo pêlo, não nos vai facilitar a vida concordando com tudo o que dizemos e fazemos, não vai ignorar o que é errado com um sorriso e uma palmadinha nas costas. Não é um "enabler".
O anti-herói não precisa de ser pessimista, nem desprovido de emoções. Poderá abraçar-vos, falar-vos da luz no fundo do túnel, do copo meio cheio ou da bonança após a tempestade.
Pode até ser bastante empático e pragmático, sentir o mesmo que vós, quem sabe até de uma forma muito mais profunda do que vos é possível, enquanto procura, qual cão pisteiro, uma solução para os problemas.
Mas vai fazê-lo cumprindo o seu papel, o melhor que souber, não sem antes, com uma frontalidade quase caústica, sem usar paninhos quentes nem ser delicodoce, vos dizer na cara que fizeram merda, que erraram, vai-vos apontar o que seria esperado de vós, confrontar-vos, questionar e debater, fazer de advogado do diabo e simultaneamente de encarnação da Justiça, vai-vos moer o juízo, andar em cima de vós, enumerar as consequências dos vossos actos, exigir que aprendam a lição, que façam melhor da próxima vez.
Tudo por Amor. Porque só se rala quem quer bem. Só quando somos indiferentes a alguém é que os deixamos acelerar no erro, até se espetarem violentamente contra um muro.
cromices #56: Anita e os acidentes domésticos
O marido diz que eu sou "muita bruta", e eu dou a mão à palmatória. Também admito que sou meio descoordenada e que é com a maior das facilidades que a cabeça se me descola do pescoço, para ir pairar, feito balão, no "mundo da lua".
Conheço-me bem, mais vale admitir a verdade!
Ora esta mistura é meio caminho andado para alimentar uma propensão à ocorrência de acidentes domésticos.
De vez em quando, lá se ouve um "pum catrapum zás pás". É uma daquelas coisas que ocorrem com uma regularidade não assim tão frequente, mas as vezes suficientes para deixar o homem da casa "vacinado". Já não vem a correr, sobressaltado, como há uma década atrás. Já evoluimos para o estado em que isto, tendo em conta que raramente ocorre algo sério, dá material para "private jokes".
- "O que é que partiste?!" - berra ele de outra divisão. E eu respondo, entre risos, que "Está tudo bem! Nada, não foi nada... de especial". Ao que ele replica, gozão como só ele, "Já tinha saudades!"
E ele sabe que se for algo sério, eu trato de dar o alarme. Como no outro dia, em que calhou mal estar distraída enquanto lavava o maior e mais afiado facalhão cá de casa.
Cortei dois dedos. Nada de especial. Pareciam aqueles cortes de papel. Durante dois segundos pensei "Meh, coisa pouca. Está tudo bem", e continuei com o que estava a fazer.
Até que um dos dedos começa a sangrar. Muito. E eu entro no modo "drama queen": é de ver todo aquele sangue. Porque com queimaduras até me porto bem: água fria, pomada com fartura, e siga a marinha.
E acabamos na casa de banho, com ele a fazer-me o curativo, e eu a fazer beicinho e a queixar-me que tenho um "dói dói".
sexta-feira, 14 de novembro de 2014
coisas de pensar: Sobre isso da Legionella
Avançam os meios de comunicação sobre a possibilidade do surto de Legionella ser resultado de um crime ambiental.
(ler aqui)
Pergunto eu: caso se verifique a veracidade dessas alegações, e tendo em conta que deste surto resultaram 7 mortos, para além das centenas de infectados, a acusação de crime ambiental não deveria vir acompanhada de outra acusação, a de homicídio por negligência?
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
cromices #55: das minhas taras e manias
Na última vez que me dirigi ao centro de saúde, no início de Março, avisaram-me que tinha uma vacina em falta, que deveria ter sido tomada há anos.
Na verdade não sei do meu boletim de vacinas praticamente desde que me mudei da casa dos meus pais, e nunca mais me tinha lembrado disso. É o que acontece por norma às coisas que tento "arrumar melhor", na tentativa de não as perder. A emenda é sempre pior que o soneto. Sou assim despassarada.
Como estava doente, não a pude levar naquele dia.
Pedi uma segunda via do boletim, e avisaram-me que tinha que agendar a toma da vacina. Tudo muito bem, pensei eu. Se o objectivo é a eficácia, há que respeitar o modelo de organização escolhido.
A viagem até ao meu centro de saúde, embora não fique a uma grande distância da minha casa, é um pesadelo para quem, como eu, anda de transportes públicos. Requer um elevado grau de mentalização o facto de saber à priori que me espera o desperdício de duas ou mais horas, (somando ida e volta), à espera numa paragem.
Então, decidi por uma questão de eficiência, (já vos disse que adoro eficiência?!), e para me poupar a paciência (que não abunda por estes lados), juntar dois em um. Marcar a toma da vacina e levantar o boletim no mesmo dia.
Quando me restabeleci, procurei o número de telefone na internet e liguei para marcar a dita. Durante cerca de duas semanas seguidas, liguei, liguei, liguei dezenas de vezes por dia. Nunca ninguém me atendeu.
Fui investigando se aquele número era o correcto, e obtinha sempre o mesmo número. Continuei a tentar, sem qualquer resultado.
Em cada um desses dias, desistia quando me sentia a perder terreno na batalha contra a ira, quando estava por um fio, prestes a atirar o telefone contra a parede. Isto depois de chamar, a quem estivesse do lado de lá, tudo e mais alguma coisa.
Passados meses, decidi fazer como a avestruz, ignorar a questão. Só de pensar na mesma, deixava-me um peso no peito, a inspirar e a expirar pausada e forçadamente como as senhoras em trabalho de parto, que é como eu fico quando estou a meio de uma batalha pessoal, a tentar tudo por tudo para que não me dê um amok.
Um momento muito semelhante às cenas em que o Bruce Banner tenta impedir, à força toda, a sua transformação em Hulk.
Junte-se ao facto de eu ser a mulher Hulk, de perder a cabeça com demonstrações de ineficácia, (isto deve ser genético, porque já o meu pai também fica prestes a ter um colapso nervoso diante da ineficiência), o meu medo de agulhas e uma subtil paranóia com germes, doenças e afins.
Esta última, adjectivo-a de subtil porque não lhe autorizo que ganhe uma dimensão que lhe permita dominar a minha vida. A sua influência depende dos dias e das ocasiões, e meço-a conforme a energia que o meu lado racional tem que investir para que esta se mantenha pequena, subtil, imperceptível.
Como descrever esta minha "tara e mania"?
Ela ganha maior força quando estou na presença de pessoas doentes. Estas deixam-me desconfortável.
Fico apreensiva e nota-se na minha expressão facial, quando alguém espirra ou tosse na minha presença, sem o devido cuidado de tapar a boca. O tal "mínimo dos mínimos" que nem toda a gente segue.
O meu desconforto aumenta exponencialmente quando isso acontece num qualquer lugar fechado, tipo autocarro, carruagem de comboio, escritório, enfim qualquer lugar fechado em que nos vejamos forçados a respirar o mesmo ar. O meu reflexo é suster a respiração, mesmo tendo a percepção de que nada me vale, a não ser que tivesse a capacidade sobre-humana de o fazer durante toda a minha presença lá.
Há anos, quando éramos utentes de um health club ocorreu uma situação que, em certo grau, também contribuiu, (embora não fosse a causa principal), para que deixasse de frequentar ginásios.
Nestes espaços, quando vamos usar as máquinas de treino, é-nos dada uma toalhinha que devemos usar para limpar o nosso suor da máquina, deixando-a em condições para a próxima pessoa.
Um dia, em amena cavaqueira, os personal trainers disseram-me que já tinham comentado entre si que me achavam "muito gira e muito fofinha" por ter tanto cuidado a limpar as máquinas, o que não era muito usual.
Fiquei assim meio enojada ao saber que a maioria dos clientes não tinham o mesmo cuidado. Parei de usar as máquinas.
Quando o meu centro de saúde era o de Sintra - um edifício velho, onde os pacientes se amontoavam numa exígua sala de espera - muitas vezes optei por esperar pela minha vez na rua, atenta às chamadas. Entrava diversas vezes para observar o número da senha que aparecia no placard, sustendo a respiração até voltar à rua.
Sim, já me sentei diversas vezes na sala de espera, com outros utentes. E faço-o com mais facilidade se estiver acompanhada, logo distraída.
Esta "tara" faz-me desconfiada. Ou melhor, sempre desconfiei que a grande maioria das pessoas, na grande maioria dos sítios, não têm os cuidados que deveriam ter, que não sabem fazê-lo ou estão-se a cagar para a coisa, que os cuidados com manutenção, higiene e desinfecção dos espaços não se aproximam sequer dos níveis adequados. A verdadeira consequência desta "mania" é que me faz ralar com isso, uns dias mais que outros.
Que não há excepções, que se vê disto em todo o lado: locais de trabalho, transportes, restaurantes, cafés, hóteis, mercados, centros de saúde e hospitais...
A minha "tara" tem uma vozinha interior.
Quanto à falta de cuidado que acabei de descrever, e juntando-se-lhe esta coisa da Legionella, a vozinha empertigada diz-me "vês como tenho razão?!".
Esforço-me por não lhe dar ouvidos. Se o fizesse estava bem tramada da vida. Mas isso faz com que seja uma pessoa de Fé.
Fé que, no restaurante, tenham tido os cuidados suficientes para não me matarem com uma salmonella, que no consultório o médico tenha desinfectado o estetoscópio entre utentes, que a pessoa que me prepara o pequeno-almoço tenha lavado devidamente as mãos, e por aí fora. Acho que já deu para compreender.
Em conclusão, passados 8 meses ainda não fui tratar da puta da vacina nem levantar o boletim, pardon my french.
Tirando as nossas férias, essa minha "voz" arranjou sempre uma desculpa à altura. "Olha que há greve de médicos, não vais lá fazer nada"; "Olha, agora foram os enfermeiros, estás fodida!"; "Em Agosto é que te lembras? Deves ter cá uma sorte!"; "Já ouviste falar de ébola?! O seguro morreu de velho!"; "Olha mais uma greve, estás cá com uma pontaria! Já jogaste no euromilhões?"; "Experimenta ligar. Ninguém atende?! Ah "profissionais do sexo", porque não atendem?! Ide todas para o falo!"; "Olha, agora é a legionella! Tens a certeza que queres arriscar?"
terça-feira, 11 de novembro de 2014
coisas que gosto #19: Portas com Arte
Hoje, na minha deambulação pela blogo-vizinhança, encontrei no espaço da D. Rainha do blog "A Rainha e a Ervilha", algo que me deixou inspirada.
Tratava-se de uma porta pintada de azul, povoada por um cardume de sardinhas que ao invés de escamas vestiam padrões típicos de azulejos. Para coroar esta obra, versos de Vitorino Nemésio, da sua "Correspondência ao Mar". Podem ver como é linda, aqui.
De cada vez que vejo uma porta assim interrogo-me porque não somos recebidos por Arte e Poesia em todas as moradas!
Eu, que passo 90% da minha vida a pensar, muitas vezes imagino como seria, aos meus olhos e sentidos, o melhor local para se viver. Entrego-me à fantasia dos pormenores e, garanto-vos, nesse meu lugar imaginado, as casas receberiam-nos com portas com arte, como se todas elas fossem um portal para um sítio, quiçá, mágico.
Tenho a crença profunda que o lugar da Arte é também, e sobretudo, nas ruas. Por todo o lado. Não só em livros, galerias e museus.
Mal comecei a estudar Publicidade, já tinha a certeza que, se um dia tivesse que escrever uma tese, esta seria como a Publicidade poderia desempenhar também um papel na democratização das Artes, ser um veículo destas. Imaginava outdoors e mupis a suportarem obras de Vermeer, Rubens e Van Gogh, e muitos outros, aumentando o apelo visual de locais, tantas vezes tão desinteressantes.
Porque o Mundo seria melhor se em todas as esquinas, a Alma humana encontrasse alimento. Porque acima de tudo a Beleza, que nos chega através da expressão artística, é isso mesmo: alimento espiritual que nos eleva e faz de nós melhores. Não é coincidência que a Beleza seja uma das Três Graças!
Já chega de verborreia! Deixo-vos com portas com Arte, e de como estas têm o poder de melhorar um pedaço de mundo.
O top "Bored Panda" das portas mais bonitas do mundo, aqui!
coisas que gosto #18: A lenda de S. Martinho
Desde criança que gosto muito desta tradição outonal do Magusto, em especial da lenda de S. Martinho.
Fica aqui então a história de S. Martinho segundo as palavras de Rita Cipriano, num artigo que fui buscar ao site Observador.pt.
"São Martinho, ou Martinho de Tours, nasceu em cerca de 316 na antiga cidade de Savaria na Panónia, uma antiga província na fronteira do Império Romano, na atual Hungria. Filho de um comandante romano, cresceu na região de Pavia, em Itália, no seio de uma família pagã. Criado para seguir a carreira militar, foi convocado para o exército romano quando tinha quinze anos, viajando por todo o Império Romano do Ocidente.
Apesar de ter recebido uma educação pagã, foi em adolescente que Martinho descobriu o Cristianismo. Mas foi só mais tarde, em 356, depois de ter abandonado o exército que foi batizado. Tornou-se discípulo de Santo Hilário, bispo de Poitiers (na zona oeste da atual França), que o ordenou diácono e presbítero, regressando de seguida a Panónia, onde converteu a mãe. Mudou-se depois para Milão, de onde terá sido expulso juntamente com Santo Hilário. Isolado, terá passado algum tempo na ilha da Galinária, ao largo da costa italiana.
De volta à Gália, foi perto de Poitiers que fundou o mais antigo mosteiro conhecido na Europa, na região de Ligugé. Conhecido pelos seus milagres, o santo atraía multidões. Foi ordenado bispo de Tours em 371 e fundou o mosteiro de Marmoutier, na margem do rio Loire, onde vivia na reclusão. Pregador incansável, foi também o fundador das primeiras igrejas rurais na região da Gália, onde atendia tanto ricos como pobres. Morreu a oito de novembro de 397 em Candes e foi sepultado a onze de novembro em Tours, local de intensa peregrinação desde o século V.
É na data do seu enterro, três dias depois de ter morrido em Candes, que se comemora o dia que lhe é dedicado. Acredita-se que, na véspera e no dia das comemorações, o tempo melhora e o sol aparece. O acontecimento é conhecido pelo “verão de São Martinho” e é muitas vezes associado à conhecida lenda de São Martinho.
A lenda de São Martinho
Num dia frio e chuvoso de inverno, Martinho seguia montado a cavalo quando encontrou um mendigo. Vendo o pedinte a tremer de frio e sem nada que lhe pudesse dar, pegou na espada e cortou o manto ao meio, cobrindo-o com uma das partes. Mais à frente, voltou a encontrar outro mendigo, com quem partilhou a outra metade da capa. Sem nada que o protegesse do frio, Martinho continuou viagem. Diz a lenda que, nesse momento, as nuvens negras desapareceram e o sol surgiu. O bom tempo prolongou-se por três dias.
Na noite seguinte, Cristo apareceu a Martinho num sonho. Usando o manto do mendigo, voltou-se para a multidão de anjos que o acompanhavam e disse em voz alta: “Martinho, ainda catecúmeno [que não foi batizado], cobriu-me com esta veste”.
As tradições do dia de São Martinho
O dia de São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa, mas as celebrações variam de país para país. Em Portugal é tradição fazer-se um grande magusto, beber-se água-pé e jeropiga. Esta é também uma altura em que se prova o novo vinho, produzido com a colheita do ano anterior. Como diz o ditado popular, “no dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”.
De acordo com alguns autores, como José Leite de Vasconcelos e Ernesto Veiga de Oliveira, a realização dos magustos remonta a uma antiga tradição de comemoração do Dia de Todos os Santos, onde se acendiam fogueiras e se assavam castanhas. Em outros países, como na Alemanha, acendem-se fogueiras e fazem-se procissões, e em Espanha matam-se porcos, tradição que deu origem ao ditado popular “a cada cerdo le llega su San Martín” (“cada porco tem o seu São Martinho”).
Também no Reino Unido existe a expressão “verão de São Martinho” que, apesar de já raramente utilizada, está também ligada com a crença de que o tempo melhora nos dias que antecedem o feriado."
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
A desigualdade aprende-se em casa ou, o grande pecado maternal
Retrocedamos por breves momentos até ao passado longínquo da nossa espécie, digamos aos tempos da Idade da Pedra.
Vivêssemos nesta época e qualquer um de nós teria que saber caçar, fazer fogo, conhecer que plantas e frutos seriam comestíveis e os que teriam propriedades medicinais, fazer ferramentas a partir de pedra e muitos outros utensílios a partir dos materiais encontrados na natureza, como cestos, construir abrigos, fazer vestuário a partir das peles dos animais, etc.
Este contexto é um óptimo exemplo para perceber que todos estes conhecimentos são essenciais, e pessoa que não os detivesse seria inapta para a sobrevivência. Tão simples quanto isso.
Depois, em algum momento da nossa evolução (?) começaram, sabe-se lá porquê, a serem criadas distinções sobre que tarefas seriam mais "apropriadas" para homens e mulheres.
E começaram-se a formatar todos os seres humanos segundo uma lista de estereótipos que viraram norma social.
Uma das grandes consequências para além da desigualdade, é a incompetência, a inaptidão.
(Há muito para dizer sobre esteréotipos e desigualdade, e por isso mesmo vou tentar não me dispersar, senão perde-se o fio à meada.)
Hoje, pelo menos na nossa sociedade, as tarefas que definem o nosso quotidiano e nos são indispensáveis, terão o mesmo fim que tinham na Idade da Pedra, (alimentação, abrigo, etc), mas evoluíram na forma. Vamos às compras, não vamos à caça. Não fazemos utensílios, compramo-los.
Saber cozinhar, tratar da roupa, limpar a casa, gerir o orçamento e fazer compras, são algumas das tarefas rotineiras que qualquer pessoa deve dominar para ser considerado um indivíduo capaz e autónomo.
Não se espera que todos saibam desempenhar todas as tarefas com mestria, mas espera-se certamente que nos saibamos desenrascar minimamente.
Um dos títulos deste post é "o grande pecado maternal", e a escolha foi propositada, pelo seguinte:
Sempre me causou espécie as mães que distinguem os filhos das filhas.
Vem-me à memória uma colega de escola, de quando tinha cerca de 11 ou 12 anos, a imagem dela a passar a ferro com a mãe, e de como já dominava essa tarefa e muitas outras, enquanto o irmão mais velho estava protegido de todos esses afazeres.
Assim como esta lembro-me de tantas outras histórias e pessoas.
De uma mãe, trabalhadora, e de como ficava até de madrugada a passar a roupa do marido e filhos, pilhas imensas, a cozinhar almoços para o dia seguinte. Que insiste em se levantar da mesa, durante a refeição, para ir buscar tudo o que alguém se lembre de pedir.
Há mães que quando ouvem opiniões sobre a divisão igualitária das tarefas domésticas entre homens e mulheres, ficam horrorizadas. "Era só o que faltava! Ai, nem pensar!". Ainda as há assim.
Há mães, que se dirigem à casa dos filhos para limpar, tratar da roupa e cozinhar.
E que vontade que inibo com um enorme esforço de, quando me deparo com mãezinhas destas, de lhes perguntar, qual o grau de deficiência do rapaz, coitadinho. Não tem bracinhos? Sofre de algum tipo de paralisia ou algo assim, que o impeça de fazer as coisas?
De outra, que, aos dois empregos que tem fora de casa, some-se um terceiro: o de cuidar do filho, homem já feito, levando-o nas mãozinhas, fazendo-lhe tudo. Anda exausta. Diz que gosta, faz cara feia às críticas. E eu nada digo. Mas causa-me espécie.
Diz-se que a vida é de cada um, que cada um é que sabe de si. Tudo muito bem e bonito, não fossem as repercussões irem muito além da sua vida, do seu espaço.
Para começar, a longa história da desigualdade entre géneros e os seus frutos não são um mistério para ninguém. Não há mulher no mundo que não a tenha sentido na pele, pelo menos uma vez.
Por isso, das mulheres, mães de filhos, o que eu espero é que promovam a Igualdade em casa, pois está nas mãos delas quebrar este ciclo, educando meninos que quando forem homens se saibam comportar fora das limitações impostas durante tanto tempo, da formatação dos estereótipos.
No entanto, há mães que pelo seu comportamento estão a promover a continuidade da desigualdade.
Um menino que seja ensinado a cozinhar, a passar a ferro, a arrumar, a lavar a louça, a participar de todas as tarefas domésticas não será menos homem por isso. Exactamente da mesma forma que uma mulher que saiba o suficiente de mecânica e bricolage para se desembaraçar sozinha, nunca será menos mulher.
Pelo contrário, serão seres humanos mais bem preparado para a vida, capazes e independentes. Que na minha cabeça, é algo que todo o pai e mãe desejam para os seus filhos.
Não ensinar a um filho essas capacidades básicas de sobrevivência só porque é do sexo masculino não é protegê-lo, é criar um imbecil, um incapaz.
É adiar a igualdade entre géneros, a concórdia, a harmonia, o entendimento, a evolução, por mais uma geração.
É habituá-lo à ideia que o papel das mulheres é serem criadas dos homens, servi-los, fazerem-lhes a papinha toda e lavar-lhes o cú com água de rosas, porque é o exemplo que mãezinha lhes deu. É alimentar-lhes a crença que um dia vão casar com uma mulher tal e qual a santa da mãezinha, que nunca na vida terão que mexer uma palha, que tudo em casa aparece feito como se de magia se tratasse.
Felizmente, nem todos os filhos destas mães caem no pior cenário. Alguns criam na vida de adulto uma realidade diferente, porque nunca gostaram nem se reviram no ambiente em que cresceram.
Outros, darão continuidade à misoginia. Nem que fosse só um, já era demais.
Minhas senhoras, aceitem a grande importância do vosso papel enquanto mães e educadoras, compreendam que as vossas escolhas têm grandes repercussões. Eduquem os vossos filhos no espírito da Igualdade, e certamente teremos um mundo diferente e mais evoluído no espaço de duas gerações.
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Hooliganismo - tolerância zero!
Hooliganismo é uma expressão derivada do inglês "hooligan" que significa "vândalo". É usada geralmente para descrever um comportamento destrutivo e violento por parte de adeptos desportivos.
Por acaso, é até bastante adequado que se use uma palavra de origem inglesa para apelidar este problema, visto que o hooliganismo teve a sua origem naqueles lados e, ainda hoje, os adeptos ingleses mantêm a pior reputação à escala global, bem justificada diga-se.
Eu odeio hooliganismo. Este tipo de comportamento perverte e conspurca o desporto, qualquer que este seja.
Nem todos os adeptos são hooligans. E eu diria que os hooligans não são verdadeiros adeptos, embora gostem de se considerar os maiores fãs do seu clube.
Na minha opinião, são bestas, que encontram dentro do desporto, um espaço onde expressar o seu apetite pela violência, destruição e caos, destruindo o próprio desporto que dizem amar.
Um amigo contou que, na noite de ontem, após o jogo entre o Sporting e Schalke 04, equipa alemã de Gelsenkirchen, (que a equipa portuguesa ganhou, com um resultado 4-2), estava ele num estabelecimento do Bairro Alto, quando foi surpreendido por vários carros que circulavam em sentido contrário porque tentavam escapar de uma manada de adeptos alemães, que à sua passagem atiravam "pedras, garrafas, tudo...". O resultado foram estragos, muitos. Carros vandalizados, com vidros partidos, amolgados.
Se não aconteceu algo ainda pior, digo eu, é porque entretanto a polícia perseguiu-os à bastonada.
Para quem me considerar pessimista - afinal, que mal tem demonstrar um amor fervoroso pelo seu clube, não é?! - deixo-vos com um breve vídeo sobre o trágico dia de 29 de Maio de 1985, onde o jogo entre o Liverpool e a Juventus, no estádio Heysel na Bélgica, terminou, graças ao hooliganismo, em 600 feridos e 41 mortos.
(Atenção que este vídeo tem algumas cenas que podem ferir a susceptibilidade dos mais sensíveis, mas partilho-o porque acho tremendamente necessário dar a conhecer a verdadeira expressão do hooliganismo, para que finalmente se compreenda que isto não é uma questão menor.)
Acho que por aqui somos demasiado brandos a lidar com esta situação. Que, como todos os problemas, também a cura para o hooliganismo passa por atacar o problema na raíz, e não só focar nos sintomas.
Acredito que as sanções para este tipo de comportamento deveriam ser tão penosas e brutais que os fizesse realmente pensar duas vezes antes do acto. Deixá-los mesmo bambos das pernas só de pensar nas consequências, como decerto devem ficar os correios de droga quando se imaginam a passar por Singapura. Isto, sem a pena de morte, como é óbvio.
À turba de adeptos alemães que ontem à noite provocaram estragos em Lisboa, era prendê-los. Em troca da liberdade teriam que pagar a factura. Esta incluiria não só os estragos que causaram, como todas as despesas que resultaram das suas acções, inclusive processos judiciais, horas de trabalho das forças de segurança pública e todos os outros envolvidos, e todos os gastos que o Estado Português teve com a sua detenção, ao cêntimo, desde refeições, duches, electricidade, tudo.
Depois era escoltá-los, algemados, até embarcarem com destino à terra deles, ficando identificados como "personas non gratas" em território nacional, por um período de tempo, ou para sempre, conforme a gravidade das suas acções.
Para deter o hooliganismo é absolutamente necessária uma concertação entre Estado, Sociedade, clubes desportivos e restantes adeptos.
Acredito que só acções drásticas como um adepto culpado de hooliganismo ser considerado "persona non grata", repudiado pelo próprio clube; identificado numa base de dados, uma espécie de lista negra, e ver-se impedido de se associar a qualquer outro clube e de participar em qualquer evento desportivo, poderão contribuir para erradicar este problema.
Se o problema é o consumo excessivo de álcool e estupefacientes nos eventos, proíba-se o consumo deste nos recintos. Sejam impedidos de entrar aqueles que já lá chegam sob o efeito dos mesmos.
Os clubes participariam destas acções? Sem dúvida, mesmo que tivessem que ser coagidos.
- Hooligans como sócios? Ninguém joga até se resolver a situação.
- Venda de álcool no recinto? Multa pesada. Não há actividades neste enquanto esta não for paga, e a situação resolvida. Quanto mais demorarem, mais juros pagam. Não voltará a haver jogos acompanhados de cerveja fresquinha enquanto o hooliganismo não for erradicado.
- A equipa ganhou, e os adeptos festejam fervorosamente nas ruas, deixando uma onda de destruição e vandalismo? Vitória anulada. Assim talvez todos percebessem que ser hooligan não é sinónimo de amar o desporto e o seu clube, pois este tipo de comportamento significaria ser o responsável directo pela sua derrota.
Para concluir, o hooliganismo pesa no bolso de todos os contribuintes. Para cada jogo que ocorre, são tomadas medidas extraordinárias por parte das forças de segurança pública, e isso sai-nos do bolso. É dinheiro dos impostos que poderia ser direccionado para coisas de jeito, como saúde ou educação, ou tantas causas que bem precisam de um investimento, mas que por causa da bestialidade de alguns tem que ser utilizado para este fim.
Pois então, que sejam os clubes desportivos a pagar esta factura. Se se recusarem, não há jogos para ninguém.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2014
cromices #54: Da infalibilidade da Lei de Murphy
Um dos principais corolários de Murphy, dita tão simplesmente que "se existe a probabilidade de algo correr mal, essa mesma probabilidade se tornará numa certeza."
E quem é que já não sentiu o efeito do caos na sua vida que o levasse a pensar que, afinal este engenheiro aeroespacial, de seu nome Edward Murphy, é que a sabia toda?!
Se se quiserem rir um pouco com os diversos adágios da Lei de Murphy, é ir aqui, ao último parágrafo.
Ao longo da vida já passei pelas mais diversas situações, que me tornaram uma crente nesta filosofia.
O corolário que eu acrescentaria à longa lista já existente, seria algo tipo "se não te sabes rir de ti mesmo, a vida tratará disso."
Das várias situações possíveis que poderia utilizar para ilustrar a presença, mais ou menos constante, de Murphy na minha vida, escolho esta:
Há anos, num certo dia em que íamos receber visitas em casa, (e que naturalmente houve a preocupação de ter tudo muito arrumadinho), no curto espaço de tempo em que nos tivemos de ausentar para ir comprar uma coisa qualquer, (pouco tempo antes da sua chegada), um dos nossos gatos, (o Zeus), teve um ataque súbito e descomunal de... diarreia.
O pobre do bicho bem foi aliviar-se à caixa de areia, onde é suposto fazê-lo. O grande mal residiu no facto dos gatos terem a mania de dar com as patas no areão, para cobrir os dejectos. Ao fazê-lo, o Zeus não cobriu dejecto algum. O gesto apenas serviu para sujar as patas e fazer voar o "produto", tipo o que acontece quando se mete algo numa liquidificadora a trabalhar sem tampa.
Quando chegámos deu-nos um treco! Havia impressões de patinhas por todo o chão, porcaria na zona em redor do wc felino.
Contudo, não havia mesmo tempo para perder com chiliques.
E, tudo ficou normalizado, casa e gato limpos, nem um segundo antes de tocarem à campaínha.
cromices # 53: Neste exacto momento morro de inveja de quem...
... tem jeito para o bricolage. Porque eu nessa matéria não tenho jeito para nada de nada, nicles batatóides, rien de rien.
Safo-me no desenho e na caligrafia, tirando isso as minhas mãozinhas parecem dotadas de um talento maior para destruir do que para arranjar.
Invejo quem se desenrasca sozinho em tudo o que for necessário, quem tem o talento para se desenvencilhar, e bem, haja o que houver.
Fosse eu assim, e teria sido capaz de ter uma reacção de jeito, que não fosse ficar com cara de tacho a olhar para os estores de uma janela que, hoje de manhã, ao invés de subirem, descambaram totalmente, desprenderam-se da caixa.
Nestas situações as pessoas dividem-se entre quem vai à procura da caixa de ferramentas, e quem, como eu, anda à caça de um técnico de reparações. Oh vida!
terça-feira, 4 de novembro de 2014
Quando os homens falam de amor #41
(mas lembrem-se, touradas só no quarto, sim?)
coisas da casa #11: A casa de meio milhão de euros
Como muitas outras pessoas, presumo que na sua maioria mulheres, de vez em quando dão-me umas ganas de visitar imóveis que estejam assim à mão de semear, em exposição, de porta aberta...
A última vez que o fiz foi aqui pelo burgo já há uns tempos. Tratava-se de uma casa novinha, com um preço que se aproximava do meio milhão de euros.
Eu, que adoro Arquitectura e Design, e que não moro numa casa de meio milhão de euros, quis ver o que haveria de fabuloso lá dentro que justificasse tal valor.
Como gosto muito de Arquitectura, tenho ideias próprias, muito bem definidas, sobre a minha visão de uma "boa casa", do que esta deve comportar, ainda mais para custar tamanha exorbitância, (embora seja tremendamente fácil encontrar casas bem mais caras, eu sei), e estava sobretudo curiosa para ver se os meus conceitos estavam de acordo com os parâmetros seguidos naquela construção.
Para mim numa "boa casa" encontra-se um bom casamento entre forma e função, um uso inteligente do design. Acredito que uma casa pode e deve ser altamente funcional e bonita, e que ambos os conceitos devem estar presentes, pois se o primeiro nos dá conforto e nos facilita as rotinas, o segundo inspira-nos e eleva-nos.
Funcionalidade e estética, quando bem trabalhadas, aumentam em muito a qualidade de vida de qualquer pessoa, acredito piamente nisso.
São-me especialmente importantes as seguintes particularidades numa casa, que considero basilares: construção de elevada qualidade (em caso de se ter que optar, prefiria sempre sacrificar o orçamento dos revestimentos, pavimentos e decoração, mas nunca cortar na qualidade dos materiais de construção), intemporalidade, eficiência energética e ecologia, aproveitamento da luz natural, design inteligente, praticidade, polivalência e carácter.
Por meio milhão de euros, esperava a existência de duas salas. Uma formal, e a outra familiar e aberta, na qual poderia estar presente uma cozinha tipo americana. Se estivessem divididas por enormes painéis de correr ao invés de uma parede, poderiam transformar-se numa enorme e única sala sempre que desejado e necessário.
A cozinha deveria ter como apoio uma copa, a chamada "butler's pantry", uma despensa e idealmente, uma mud room (em breve falar-vos-ei em detalhe de todas estas divisões).
Por meio milhão de euros, esperava uma "master suite" com closet. Ficaria positivamente surpreendida se o quarto pensado para as crianças pelo construtor/ engenheiro /arquitecto também tivesse closet, mesmo que pequeno, pois denotaria uma grande compreensão pela necessidade, raramente correspondida, de espaços pensados para a organização.
Por meio milhão de euros esperava, em algum ponto da casa, encontrar um pormenor arquitectónico bem executado que lhe atribuísse carácter, que seduzisse.
Por meio milhão de euros, encontrei uma casa de vários andares, (pois o lote não era muito grande), onde a escala era 8 ou 80. Uma enorme sala e varanda a combinar, (desculpem, "sun deck"como me disseram, que estava muito bem), e uma garagem, no nível mais inferior da casa, do tamanho de todo o piso.
Para contrastar, tudo o resto era à Portugal dos Pequeninos: cozinha minúscula, despensa nem vê-la, casas de banho miniatura, os quartos idem.
O quarto ensuite não era excepção, era micro mesmo. Tão, mas tão pequeno que é bom que o casal que a compre não se imagine numa cama maior que 1,40m, que não se zanguem por terem de partilhar o roupeiro embutido de duas portinhas, que também não havia espaço para qualquer cómoda ou outra peça. Para quem goste de se exercitar logo pela manhã, podem sempre guardar a roupa na enorme garagem e descerem dois lances de escadas sempre que precisarem de algo.
Ah, e que consigam tomar duche sem descolar os bracinhos do corpo, pois seria a única forma de lá caberem.
Não me agradou. Achei-a pouco funcional e nada memorável. Tivesse eu essa quantia para gastar num imóvel, (quem me dera!), e não seria aquela a minha nova casa.
Esta é a minha opinião, e esta é o produto de uma percepção bastante subjectiva.
Mas serei a única a pensar que quem desenha estas casas perdeu um bocadinho o tino?!
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
A lição dos quatro patas
Um dia quando morrer, e digo-o sem qualquer morbidez, (e que seja daqui a muitos e bons anos!), imagino-me perante uma plateia, que assiste comigo ao filme da minha vida e me questiona, curiosa, sobre o que andei por aqui a fazer.
Não me é difícil imaginar que a maioria das cenas a que assistiremos nesse grande ecrã celestial, me deixem meio embaraçada, de mão na testa, corada, e a soltar um repetido "tótó do caraças!" entre risinhos nervosos.
E a multidão rirá comigo, benevolente, porque saberão que a cada vida que recomeça há que reinventar a roda, partir sempre do zero.
Também no meu filme haverão momentos em que o constrangimento de não ter sabido fazer melhor é trocado por um sorriso.
Alguns dos momentos não existiriam sem os patudos.
Alimentar um animal que não era "meu" foi das coisas mais decentes, correctas e "de jeito" que já fiz na vida.
Quando o comecei a fazer, fi-lo sem pensar em nada. Somente reagi, nada mais. Pensei na possível fome daquele par de animais, e reagi. Não foi nada de extraordinário, não foi feito para ser notado nem reconhecido, para ficar "bem na fotografia", nem coisa alguma. Estava totalmente estéril de pensamentos, não fosse um único, o de fazê-lo sempre, pois a confiança de um animal não deve ser defraudada, não se pode começar a dar e depois parar de o fazer.
Descobri nessa altura que ao fazê-lo, me incluia num grupo alargado de pessoas que sem se conhecerem inicialmente, concertavam os seus hábitos para ajudarem os mesmos animais, e isso é coisa de alimentar a nossa fé no próximo, e de que maneira!
E quando pensava que a lição residia nisso mesmo, fiquei siderada com o que ainda havia por vir.
A lição maior veio em forma de um pequeno cão amarelo, um velhinho charmoso de dentes tortos, baptizado de Kamala por uns, de Pirilampo por outros, que no fim de cada refeição vinha ao meu encontro. Fechava os olhos e ficava de cabeça encostada às minhas pernas, numa expressão de gratidão incondicional que era avassaladora, tocante e palpável, de deixar um nó na garganta.
Veio em forma da sua companheira, a Preta, uma cadela sénior, em todas as suas expressões de genuína alegria e companheirismo.
Veio em forma de um gato. Cabeça enorme para aquele magro corpo. Fugídio e desconfiado. Que após duas semanas de lhe levar alimento, e de me ter habituado a manter a distância enquanto ele comia, ignorou a gamela e dirigiu-se a mim. Decidido e alegre como nunca o tinha visto, veio roçar-se em mim, ronronando.
Aquela reciprocidade, que nunca esperei, em forma de extrema confiança e meiguice, tocou-me imensamente. Fiquei imóvel. Durante um par de minutos não consegui ter qualquer reacção. Fiquei muito comovida e as lágrimas escorriam-me pela cara.
Aprendi a ser grata por todos os meus amigos animais, que de uma forma ou outra vão aparecendo na minha vida. Que a nossa troca é desigual, ou começa assim. Em troca do que lhes levo, eles dão-se, a si próprios, sem meias medidas. São eles que me alimentam, me matam uma fome que eu nem sabia que tinha.
coisas de ver #48
Hoje trago-vos um dos reality shows do mediático chef Gordon Ramsay: Hotel Hell.
Cá por casa partilhamos da opinião que este escocês de mau feitio é um psicólogo do caraças.
Ver o Gordon em formatos como este Hotel Hell ou Kitchen Nightmares, em que se este se dirige a estabelecimentos reais de forma a diagnosticar e a resolver os problemas que os impedem de ser um sucesso, impressionou-me mais do que vê-lo no ambiente do Hell's Kitchen.
Acabei por me enjoar do Hell's Kitchen. Pensava como seria difícil trabalhar com alguém com aquele feitio especial, embora desse para entender que em algumas das situações aquelas explosões eram necessárias, para além que cheguei a um ponto em que já não conseguia assistir à preparação de vieiras nem de lombo à Wellington pela enésima vez.
Fora desse contexto percebemos como esse mau feitio, frontalidade e o uso linguagem sem filtro são uma excelente ferramenta. Em qualquer um dos episódios do Hotel Hell, dá para apreciar isso.
Os estabelecimentos hoteleiros visitados pelo Ramsay têm problemas, muitos problemas. São falhas óbvias. Não é preciso nenhum génio para num curto espaço de tempo concluir os motivos do seu fracasso, qualquer pessoa com dois dedinhos de testa o consegue fazer.
Mas, o Gordon é o Gordon, e por ser quem é, as pessoas ouvem-no.
E quando não ouvem, quando continuam a viver uma ilusão, presas a maus hábitos, o Gordon mostra-nos quão eficaz é como "psicólogo": usando da sua peculiar linguagem e método, deita-os abaixo, chama-lhes nomes, derruba-os. Porque é preciso destruir antes de voltar a construir. E resulta.
sábado, 1 de novembro de 2014
cromices #52: Pão por Deus
Eu gosto do Pão por Deus, deste hábito de ter os miúdos a bater à porta em alegre algazarra. E quando digo que gosto deste dia e deste ritual, falo muito a sério. De tal forma que até o meu marido goza comigo, porque não se percebe quem por cá vibra mais com a coisa, se eu, se os miúdos que recebem rebuçados às mãos cheias.
Eu confesso, vibro mesmo! Toda eu sou um sorriso de orelha a orelha, a receber estes "meus" pirralhos.
E hoje fiquei inchada. No meio de um grupo destes pigmeus, avança uma pequenita que se vira, com um ar todo empertigado para os amiguinhos e saí-se com um "eu cá venho todos os anos a esta senhora!"
Soube-me a atestado, a selo de qualidade! Pimbas, tomem lá, vão buscar! Pirralhitos lindos!
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