quinta-feira, 20 de novembro de 2014
coisas de pensar: Para turista ver
Todos sabemos que o Turismo tem uma importância fulcral para a nossa economia, diz que o seu contributo para o P.I.B. tem para nós mais impacto do que para outro qualquer país do Mundo, (aqui ).
Contudo, quando ouço sobre as estratégias deste sector, quando falam "do investimento para o turismo" há um arrepio que me percorre a espinha, e não é de prazer.
Odeio quando enchem a boca para falar de estratégias para o turismo, de construir isto, aquilo e aqueloutro para turista ver. É que me fazem lembrar os resorts 5 estrelas em destinos de terceiro mundo, ou a Cuba pré Castro, playground dos americanos: beber, fumar e ir às putas. As putas tristes.
Podem dizer os de fraca memória, que não somos Cuba.
A esses refresco a memória sobre como era o Algarve há poucas décadas atrás. Onde quase tudo o que existia relacionado com o turismo era direccionado para o turista estrangeiro, em que o visitante nacional chegava a ser tratado com desdém e maus modos, relegado porque havia sempre que estar, primeiro e acima de tudo, disponível para os que não pagavam em escudos.
As putas podiam estar na Cuba de outrora, mas ali era-se recebido por alguns dos seus filhos.
Mais tarde, motivados por uma crise, compreenderam que era inviável depender somente do visitante estrangeiro, e tiveram um momento epifânico, aprenderam a valorizar o turista nacional e com base nessa nova atitude houve progresso e evolução, com ganhos para todos os envolvidos.
Muitos até ganharam "amnésia" em relação ao velho Algarve. Eu gosto de recordar, não para constranger, mas para lembrar o resultado de quando se mete "palas nos olhos" e se ignora o quão fundamental é saber produzir e servir, em primeiro lugar, para os da "casa", para nós.
Não quero viver num parque temático. Sobretudo não quero que aumente a disparidade da qualidade entre o que existe para o cidadão e para o turista.
Não quero que as nossas aldeias, vilas e cidades não sirvam para viver, só para visitar. Em que porta sim, porta sim, hajam hostels, e hotéis de charme e espaços design rónhónhó, lojinhas gourmet, estabelecimentos pseudo-tradicionais com ementas em inglês, francês e alemão, com preços proibitivos, e monumentos nacionais que nem todos os cidadãos conhecem e poucos visitaram mais de uma vez, porque os preços dos bilhetes, também esses são para turistas.
Quem me conhece bem, sabe que quando critico é porque tenho na manga mais do que a crítica.
E a minha sugestão é:
- Olhem para as localidades na óptica dos cidadãos.
Invistam em infraestruturas, em remodelações, que aumentem a qualidade de vida destes: segurança, espaços verdes, ciclovias e pedovias, transportes públicos de qualidade.
Reabilitem os tantos edifícios moribundos que sobejam por todo o lado, (quantos destes verdadeiros tesouros arquitectónicos), e transformem-nos nos tais hostels, mas também em habitações, em espaços para a cultura, para a prática de desporto, para a saúde e a educação.
Não foquem no turismo. Foquem-se em tornar um sítio feliz, vibrante, acessível para todos, e os turistas virão.
Se os cidadãos encontrarem nas suas terras um espaço convidativo, apelativo, pessoas de todo o mundo quererão comungar dessa experiência.
E essa é a única "estratégia para o turismo" que defendo, sem ghettos, sem eles e nós.
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