segunda-feira, 17 de novembro de 2014
Quando falo de Amor #6: O papel de anti-herói
Acreditem em mim quando vos digo que as pessoas com pior feitio são as que mais (vos) amam.
Sei do que falo. Tenho um feitio execrável, épico de tão bera, sustentado por uma capacidade de amar nunca menor.
Deduzo que aos olhos de alguns, eu devo parecer uma louca, porque só os loucos e os tolos são desprovidos da capacidade de serem diplomáticos, de dizer e fazer o que lhes vem à cabeça sem a consideração pela opinião alheia que tantas vezes nos constringe.
É claro que sei ser diplomata. E bem.
A grande questão reside no papéis que decidimos assumir. A Vida é como uma grande peça, que necessita, para se desenrolar e acontecer que, todos nós subamos ao palco. Cada um veste o papel que quer, ou que acha que deve vestir.
E, tal como nas melhoras peças, nem tudo o que parece, é.
Eu decidi vestir o papel de anti-herói. Mais por obrigação do que por vocação, talvez. Por saber que não é um papel desejado. Que assim sendo, mais vale assumi-lo do que correr o risco de ninguém lhe pegar, ou de este peso recair sobre as costas de alguém que quero ver protegido.
E, como todos estes papéis, também este é necessário.
É fácil antipatizar com esta personagem. O anti-herói quando entra em cena, não nos vai passar a mão pelo pêlo, não nos vai facilitar a vida concordando com tudo o que dizemos e fazemos, não vai ignorar o que é errado com um sorriso e uma palmadinha nas costas. Não é um "enabler".
O anti-herói não precisa de ser pessimista, nem desprovido de emoções. Poderá abraçar-vos, falar-vos da luz no fundo do túnel, do copo meio cheio ou da bonança após a tempestade.
Pode até ser bastante empático e pragmático, sentir o mesmo que vós, quem sabe até de uma forma muito mais profunda do que vos é possível, enquanto procura, qual cão pisteiro, uma solução para os problemas.
Mas vai fazê-lo cumprindo o seu papel, o melhor que souber, não sem antes, com uma frontalidade quase caústica, sem usar paninhos quentes nem ser delicodoce, vos dizer na cara que fizeram merda, que erraram, vai-vos apontar o que seria esperado de vós, confrontar-vos, questionar e debater, fazer de advogado do diabo e simultaneamente de encarnação da Justiça, vai-vos moer o juízo, andar em cima de vós, enumerar as consequências dos vossos actos, exigir que aprendam a lição, que façam melhor da próxima vez.
Tudo por Amor. Porque só se rala quem quer bem. Só quando somos indiferentes a alguém é que os deixamos acelerar no erro, até se espetarem violentamente contra um muro.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário