quinta-feira, 31 de julho de 2014
Sou um farol
Hão-de haver sempre tempestades.
Eu, que já me conheço assim-assim, sei que durante uma tempestade sou um farol.
Nem todas as tempestades são inevitáveis. Mas havendo quem tenha mais alma de vento, de onda e corrente, de rocha ou gaivota, elas acontecem.
Eu serei sempre um farol. Pelo menos enquanto houver um dos meus a navegar.
Por eles a luz nunca se apaga. Estará sempre presente, essa chama que alumia, que guia e conforta, que não se deixa derrubar por mar algum. Essa chama há-de parecer eterna e invencível, mesmo nas alturas em que o faroleiro já se desfaz da mobília para alimentar a chama.
cromices #27: Hoje conheci a Musa
A vida tem realmente outro encanto, quando na fila do Banco somos abordados por uma senhora que diz ser a "Musa" e nos pergunta se sentimos a aura poética.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Uma das grandes questões da vida que me atormenta...
... é a seguinte:
- Porque é que sobra sempre para os mesmos?!
Aos responsáveis duplicam-se as responsabilidades, dos cumpridores exige-se mais, aos trabalhadores dobra-se a carga de trabalho.
Permite-se que a outra metade navegue pela vida, ao colo dos outros, descansados. Esquecem-se que a leveza do seu fardo significa obrigatoriamente uma sobrecarga nas costas de outrém. Mas como não lhes sai do lombo...
E isto acontece nas escolas, nos empregos, e basicamente em todos os contextos em que exista mais de uma pessoa envolvida.
Não digo isto com o intuito de vos trazer azedume. Fala-vos alguém que é uma enorme advogada do prazer que é a preguiça. Aliás, é um prazer tão grande que todos a deveriam experimentar por igual.
E que tal seria perfeitamente possível se todos cumprissem com as suas obrigações, que trabalho dividido custa menos.
Ando há anos feita "Santa Antónia" a pregar aos peixes. Qualquer dia é dia de sardinhada.
terça-feira, 29 de julho de 2014
coisas de pensar: Quebrar a corrente
Sempre gostei da disciplina de História. Ganhei-lhe amor redobrado quando ouvi algures que um dos principais motivos para a sua existência, era a crença, a fé, em que se conhecendo os erros cometidos no passado, estes não se voltassem a repetir. E assim, de geração em geração, se construiria um estado de Paz definitivo no mundo.
O meu amor pela História diminuiu consideravelmente. Vejo os erros a repetirem-se, sem descanso, num ciclo interminável.
A História da Humanidade é longa. Tão longa que, na sua extensão, todos os povos foram oprimidos e opressores. Sem excepções.
E o ciclo continuará, interminável. Uma fogueira que não cessa de arder, porque há sempre quem a alimente com justificações para a violência, para a iniquidade.
A Paz exige a maior das coragens. A Paz exige que sejamos mais que humanos. Que sejamos como as águias, que voam acima das tempestades. Que sejamos maiores que a necessidade de ter razão, que a sede de vingança.
Como me transtorna e me parece ridículo perpetuar este estado de inferno na Terra, especialmente porque tantas vezes se teima em lutar em nome daqueles que já pereceram há muito, em nome de tempos e acontecimentos que não nascemos a tempo de viver. A guerra é uma besta esfomeada, e há tantos que se servem numa bandeja, para a satisfazer, em jeito de sacrifício humano.
Ainda tenho esperança de ver a nossa geração, ou a dos nossos descendentes, a quebrar o ciclo.
Alguém tem de o fazer.
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Coisas de aprender #2: Correntes marítimas - conhecê-las pode salvar vidas!
Hoje, o tema são correntes marítimas.
Estamos em plena época balnear e a disseminação desta informação faz todo o sentido.
Todos os anos há quem morra por afogamento.
As correntes marítimas são dos fenómenos mais perigosos para quem entra no mar, banhista ou desportista.
Conhecê-las é fundamental, e pode certamente ajudar a salvar vidas. Todas as pessoas deveriam deter estes conhecimentos!
Trago-vos o link ( aqui ) de uma formação, onde em menos de 30 minutos, e de forma muito explícita e simples, com aúdio, imagens e texto, vos ensinará a reconhecer correntes, e ainda informa do que fazer caso estejam nessa situação, ou tiverem que salvar alguém.
Lembrem-se, conhecimento é poder, e com o mar não se brinca!
cromices #26: Topfreedom
Desde que me conheço que a observação tem sido uma ferramenta preciosa na construção do meu ser, da minha identidade.
Observamos os outros e existe uma reacção da nossa parte, que nos ajuda a identificar os pontos dos quais nos aproximamos, e aqueles que nos afastam, os bons e os maus exemplos segundo a nossa percepção.
Ora em miúda, olhava para as raras senhoras que faziam topless na praia com admiração.
Admirava-as porque delas não emanava nem uma energia lúbrica nem libidinosa, mas uma aura de naturalidade, de confiança, de imenso à-vontade e respeito para com o próprio corpo. E essa atitude, essa energia, transparecia de tal forma, (sem a necessidade de emitir qualquer palavra nem gesto), que honestamente não me lembro de assistir a um único episódio em que uma dessas senhoras tenha sido incomodada.
Contrastavam fortemente com a grande maioria das mulheres. Infelizmente, somos demasiado duras e injustas na relação com os nossos corpos.
Então, ainda miúda, fiz uma nota mental, (tenho essa mania), que no futuro, quando crescesse, me esforçaria por ser uma mulher confiante como aquelas. Entedia que o topless era apenas um pormenor, facultativo, mas "what the hell!" também haveria de experimentar um dia!
Esse dia aconteceu quando tinha cerca de 18 anos.
Eu e uma das minhas melhores amigas, e a praia só para nós. Ocorreu-me que se estava decidida a experimentar, teria que aproveitar a rara conjunção de factores ideais daquele momento.
Falei com a minha amiga, e ela não se sentiu desconfortável com a ideia, e ainda me apoiou. Porque é o que nós, mulheres, temos de fazer umas pelas outras: ajudarmo-nos mutuamente na libertação dos imensos "macaquinhos no sótão" com que temos sido formatadas.
Olhei em volta, respirei fundo, fiz uma contagem decrescente e aqui vai disto.
Senti-me tímida. Mas como estava decidida a tirar o maior partido da situação, fui até à água, forçando-me numa postura direita. Repetia mentalmente, numa espécie de mantra, que é "tudo muito natural", "que tenho o direito de ser livre".
Quando estava a banhos, aparece vindo do nada um casal de turistas ingleses a meter conversa.
O mantra anterior desvaneceu-se e foi substituído por "Raios partam! Não haverá nenhuma regra de etiqueta sobre não interpelar uma mulher em tronco nú?! Era só o que me faltava agora!"
Eu vermelha que nem um tomate, visivelmente embaraçada, com os braços cruzados em frente ao peito. A minha amiga ria-se , e eu conseguia ver a comicidade da situação. Ah, se não fosse comigo!
Em menos de nada, despachei-os e voltei para a toalha. Passei boa parte da tarde com uma t-shirt vestida, repartida entre a vontade de rir da situação, e amuada com os turistas que me estragaram a experiência.
Pode não ter sido a melhor das experiências. E honestamente não me deu grande vontade de repetir.
No entanto, defendo o direito à liberdade de o fazer, por tantos motivos como: igualdade de direitos entre géneros, porque defendo que temos que aprender a olhar para o corpo com mais dignidade, respeito, abolir os complexos e os preconceitos, as ideias redutoras que recaiem sobre os géneros e que não contribuem para nada de positivo, nem nos honram.
(mais sobre Topfreedom aqui )
sábado, 26 de julho de 2014
coisas de aprender #1: Ondas e Marés
O ser humano detém ao longo de toda a sua vida a capacidade de aprender, e ao contrário do que alguns possam crer, esta não se perde nem se desvanece com o avançar da idade.
Posto isto, apetece-me criar uma nova rúbrica.
Vamos então dar-lhe início aprendendo sobre ondas e marés. É um conhecimento que serve a todos, não apenas a praticantes de desportos naúticos.
sexta-feira, 25 de julho de 2014
caixa de ressonância
Existissem sereias, e seria assim a sua canção.
coisas de ver #31
Quem não se lembra de Jacques Costeau?
cromices #25: Amor de mãe
Temos muita sorte com a nossa família.
Os nossos pais foram "avós de gatos" exemplares. Embora nunca nos ausentássemos por muito tempo, sempre estiveram disponíveis para passar diariamente pela nossa casa e tratar do Ulisses, do Eros e do Zeus.
Serei sempre grata por isso. Não só pelo dinheiro que nos pouparam em hóteis para animais, mas sobretudo porque não há nada que se compare ao deixar os animais, especialmente felinos, no seu habitat, onde se sentem confortáveis, e ao cuidado das pessoas que mais nos merecem confiança no mundo.
É ainda de salientar a pachorra que tiveram connosco, (cough cough, comigo especialmente...), que foi santa!
É que eu era uma mãe galinha para com os meus meninos, e eles, uns autênticos meninos da mamã.
Só para que entendam a dimensão da coisa, o Eros, (um Bosque da Noruega que cresceu tremendamente, passando de caganito, que precisava da protecção do irmão Zeus, a uma fera enorme e majestosa), olhava-me com tanto, mas tanto amor, que entortava os olhos e babava-se enquanto ronronava.
(Eu, que havia sido uma miúda com medo de gatos (tudo depende da personalidade do primeiro gato que se conhece), dava beijinhos e fazia "brummmmmmm" na barriga dos meus meninos, sem qualquer temor.)
Como em tudo, as primeiras vezes são as mais complicadas.
De vez em quando, dávamos por nós a falar deles, que esperávamos que não sentissem a nossa ausência, que estivessem bem.
Da primeira vez, parti muito mais descansada para o aeroporto depois de deixar um documento redigido com especificações sobre cada um deles, notas sobre alimentação e detalhes sobre a saúde de cada um. Que ia tudo correr bem, claro! Mas só para o caso de o avião cair, nunca se sabe...
Ligavam-nos uma vez por dia, "só para picar o ponto" como dizia a minha sogra. E não interessa a confiança que se tenha com alguém, há-de sempre ser estranho, perguntar sobre a qualidade e quantidade dos cócós.
quinta-feira, 24 de julho de 2014
coisas que gosto #10: Da minha janela.
Vou à cozinha e preparo uma chávena de qualquer coisa.
Faço-o tantas vezes quanto os cigarros que fumo.
Abro a janela. Acomodo-me no banco junto ao parapeito que tenho para o efeito.
Acendo o cigarro e começo por analisar as nuvens e as suas formas. Não existem dois momentos de céu igual.
O tempo de um cigarro dá para muito.
Observo as crianças da casa em frente nas suas brincadeiras. Elas acenam-me e eu retribuo.
Nos dias em que o tempo não permite brincadeiras na rua, vejo aquelas três cabecinhas emolduradas numa janela. Acenam-me, incitam-me à brincadeira escondendo-se e reaparecendo, com caretas e mais acenos. E eu retribuo.
É Verão, os petizes andam mais entretidos, e eu aproveito a calma para me encantar com um casal de andorinhas que fez ninho naquele alpendre.
Fascina-me o quanto são pequenas e frágeis, e que tenham percorrido tanto céu para cá chegar.
Tirando as asas, são iguais às crianças da casa em frente que me acenam.
Olham-me de cima de um cabo qualquer, enquanto ajeitam as asas e meneiam as cabeças, como que para me ver melhor. Partem de seguida, numa velocidade trepidante, para brincadeiras e acrobacias celestiais.
E eu tenho a certeza, de todas as vezes que apago um cigarro, que vou ter saudades de as ver por aqui, depois de voltarem a migrar.
(Mais sobre as migrações das andorinhas, aqui )
quarta-feira, 23 de julho de 2014
caixa de ressonância
coisas que gosto #9: Bosão de Higgs
Adoro ciência.
Acho a Ciência profundamente Espiritual.
Aos seus olhos, somos energia, átomos e quarks. Somos pessoas, pedras e pássaros, estrelas e cometas, todos feitos do mesmo barro. Somos feitos de Universo e o Universo é feito de nós.
Descobriram a nossa essência, e que essa nos une não só enquanto espécie, mas a todas as espécies, a Tudo o que existe, muito para além do que a vista alcança e o nosso conhecimento imagina.
Para mim nada há nada mais Espiritual! Nem nunca houve nenhuma religião que conseguisse o mesmo.
(Infografia sobre o Bosão de Higgs, aqui )
terça-feira, 22 de julho de 2014
coisas de comer: Não acredito em dietas.
Não acredito em dietas, acredito em fazer algumas mudanças no nosso estilo de vida, para que seja mais saudável. Sem fanatismos nem exageros.
Porque enquanto seres humanos, referindo-me especialmente a mim, somos hedonistas, gostamos do que nos dá prazer, somos muitas vezes preguiçosos, e incapazes de grandes sacrifícios durante muito tempo.
Também não sou apologista de perdas de peso em tempo recorde. Ninguém me convence que é algo seguro e saudável. Para mim, emagrecer deve acontecer gradualmente.
Quando quis perder aquela meia dúzia de quilos que me faziam sentir desconfortável, implementei algumas mudanças no meu regime alimentar.
O meu objectivo não era apenas perder peso, mas sobretudo ter um maior cuidado com a minha saúde. Acredito que o bem que fizer ao meu organismo hoje, será recompensado no futuro.
O facto de ter diabéticos na família também contribuiu para a minha decisão.
Ninguém sabe o dia de amanhã, mas gostaria mesmo de viver uma vida longa e saudável q.b.
O que fiz então?
- Informei-me melhor sobre o que comemos. Comecei a prestar mais atenção à informação que vem nos rótulos das embalagens, logo a fazer melhores escolhas quando vou às compras.
- Reduzi, (quase que aboli), o consumo de alimentos processados, porque estes abusam nos açúcares, nas gorduras, sal, conservantes, e são muitas vezes geneticamente modificados (GMO's).
- Não uso caldos de cozinha, daqueles cubinhos e pózinhos que se encontram à venda.
- Aumentei o consumo de frutas e vegetais.
- Já usava pouco sal, passei a usar sal iodado. Quase que cortei totalmente com o uso de gorduras - basicamente só uso azeite, em poucas quantidades, manteiga muito de vez em quando. Prefiro usar e abusar de ervas aromáticas para dar vida e gosto aos alimentos, como tomilho, ervas de provence, oregãos, salsa, coentros, alecrim, etc.
- Reduzi o consumo de açúcar:
Não consumimos refrigerantes: optamos por sumos naturais feitos com fruta fresca na liquidificadora, muita água e chás.
Comemos bolos, mas nem pensar fazê-lo todos os dias. Mesmo quando feitos em casa, corto sempre na quantidade de açúcar que vem nas receitas, e opto por açúcar amarelo.
Chocolate, só negro, e apenas uns quadradinhos de cada vez.
- No Inverno abuso das sopas, no Verão das saladas. Gostamos das últimas sem qualquer tempero.
- Adequar as doses: como até ficar saciada, não empanturrada. Por vezes acontece, mas é a excepção, não a regra. Se não abusarmos das quantidades podemos comer de tudo.
- Deixou de haver maionese ou natas cá em casa. Por exemplo, por cá o molho do strogonoff é feito com uma redução de cerveja ou vinho branco, ervas aromáticas, picante e mostarda, e uma pequena noz de manteiga. E fica muito bom.
Também abdico do bechamel na lasagna, e faço o bacalhau com natas de forma alternativa.
- Cortei com a torrada besuntada de manteiga do pequeno-almoço. Passou a ser uma daquelas coisas excepcionais. Se tiver fome prefiro pedir uma sandes mista sem manteiga.
- Praticamente não faço fritos em casa: nem batatas, nem croquetes, rissóis, nada disso. Quando existem apetites por batata frita, (que surgem!), compra-se um pacote das da Titi, que são as melhores de todas! E não são para ser devoradas como snack, mas sim à refeição, como parte dos acompanhamentos, em conjunto com salada.
Mesmo as azevias no Natal, são por cá feitas no forno, desde sempre.
- Adequo o meu consumo de calorias às minhas necessidades. Nem pensar que sou uma maluquinha de contar calorias, nada disso! Se o meu dia não for muito puxado, basta-me um almoço leve. Por exemplo, uma tosta ou sopa, um chá ou sumo, e fruta.
- Não se mistura arroz com batata. Ou um, ou outro. Juntos são uma bomba calórica.
- Redução no consumo de batata. Mesmo nas sopas, sempre usei pouca batata. Gosto de cremes com muita variedade de legumes na sua composição, de preferência, de cores diversas.
- Fast food só muito de vez em quando, ou como se diz, quando o rei faz anos.
Gosto de comer. Como de tudo: pão, queijo, doces, you name it. Sou uma boa boca, com um bocadinho de bom senso. Se dou uma no cravo, sei que terei que compensar, dando uma na ferradura.
Sublinho que acima de tudo é um investimento em saúde, não em estética.
Para mim, a estética pela estética tem pouco valor, ao passo que a saúde não tem preço.
cromices #24: Como se vai chamar o bébé?
Aqui, há uns aninhos, estava com mais meia dúzia de quilos.
Pode não parecer muito, mas para quem mede menos de 1,70m, (só um bocadinho, tá?!), é o suficiente para ficar com umas bochechas tipo "esquilo que está a armazenar nozes para o inverno", e um belo de um pneu (é sempre bom ter um suplente!).
Um dia cruzámo-nos com um casal de amigos que já não víamos há algum tempo num shopping.
Até esse momento nunca achei que estivesse gorda o suficiente para me confundirem com uma grávida.
E para falar a verdade, até nem estava. Mas essa amiga, (boa pessoa e muito querida), tinha uma espécie de obsessão vincada pela maternidade.
Mal tinhamos acabado de trocar cumprimentos, ela ataca-me com a destreza de um gato e a velocidade de uma metralhadora:
"Ai, estás tão linda!", "A mim não me enganas!", "Estou tão contente por vocês!", "É para quando?".
Depois, não foi de modas, aproxima-se de mim, toca-me na barriga e pergunta-me se já sabemos se é menino ou menina.
Eu e o marido, boquiabertos, surpresos, de olhos esbugalhados a olhar um para o outro. Sobre nós pairava um balão de pensamento partilhado, com um enorme "Awkward!" em letras garrafais.
Acto contínuo, à mesma velocidade alucinante, questiona-me sobre o nome.
Sorri, com algum ar de gozo, e respondi: Banha.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Peão vs Automobilista
Gosto muito de caminhar, da mesma forma que há quem seja apaixonado por andar de bicicleta, ou conduzir, ou surfar, ou whatever...
Tal faz com que esteja frequentemente num cenário peão vs automobilista.
Tenho uma mania, que é de tal forma parte de mim que o gesto sai naturalmente: sorrio e aceno levemente, em forma de agradecimento, aos condutores que páram nas passadeiras que atravesso.
Sim, já me disseram que não tenho que o fazer, que é obrigatório parar, e tudo isso.
Também já me perguntaram por que o fazia.
A resposta é simples. É de conhecimento geral que parar nas passadeiras pode ser obrigatório, e quem não o faz pode sujeitar-se a uma sanção. Mas por mais leis que existam, agir bem ou agir mal será sempre uma escolha pessoal.
Não imagino melhor forma de fomentar as boas escolhas que reconhecer e recompensar quem as faz.
Da minha parte, enquanto pedestre, nada mais posso fazer do que ser gentil.
E gosto muito do facto que quase todos aqueles com que me cruzo retribuem o aceno e o sorriso!
E ao contrário, como ajo?
Digamos que, na época em que tinha que atravessar a 24 de Julho todos os dias, gota a gota, o copo foi-se enchendo com as más atitudes de tantos e tantos condutores. Tanta desatenção, falta de cuidado e respeito para com os peões, mesmo numa passadeira, e com o sinal vermelho!
Um dia o copo transbordou.
Um veículo de alta cilindrada vinha de tal forma depressa, que ignorou a sinalização, e ia albarroando um grupo de pessoas que naquele momento atravessava na passadeira.
Travou a fundo, ficando a meio da mesma e a escassos centímetros de mim.
Com o coração na boca, não fui de modas. Peguei no chapéu de chuva com ambas as mãos e desatei a bater no capot, a vociferar como estava farta daquela merda, que todo o santo dia era a mesma coisa, os mesmo imbecis, perante o olhar perplexo do condutor.
Depois segui caminho. E sim, estava muito mais aliviada. O facto de ser um carro xpto também ajudou à terapia.
Etiquetas:
gosto,
manias,
mau feitio,
memórias,
opiniões
E com duas palavrinhas apenas...
Já trabalhei numa sapataria.
Por norma, quando apareciam clientes "estrangeiros" as minhas colegas iam-me chamar.
Numa dessas ocasiões dei por mim diante de uma família, com quem comunicar parecia uma missão impossível.
Tentei os óbvios "do you speak english", "parlez vous français", "habla español", "parla italiano".
Sem sucesso.
Atirei-me com medo ao "sprechen sie deutsch", (sou a nódoa das nódoas em alemão).
Nada.
Ouvi-os a falar entre si, e pareceram-me de leste.
Eu que não sei falar russo, atirei na mesma expressão todas as palavrinhas russas que me ocorreram: "russki gorbatchev vodka perestroika?"
Sucesso! Efusiva demonstração de alegria por parte dos clientes!
Gosto muito de uma das características do povo português: somos desenrascados como poucos.
E foi assim que usando só "da" e "nyet", (sim e não), apontando para os sapatos, usando gestos para "pequeno" e "grande", e o polegar para cima usado para indicar que era mesmo aquele par ou perguntar se estava ok, conseguimos comunicar.
cromices #23
As minhas desculpas à pessoa que me acordou com uma chamada.
É que tenho uma reacção incomum: a de conseguir atender o telefone a dormir. E embora a minha dicção seja boa mesmo a dormir (é um dom, eu sei!), a verdade é que não faço a mínima ideia do que estou a ouvir, muito menos do que estou a dizer.
sábado, 19 de julho de 2014
cromices #22
A pessoa mais optimista do mundo foi, de certeza, aquela que achou que pisar merda lhe traria boa sorte.
Eu sou aquela que anda a ziguezaguear pelos passeios, a contornar os imensos montinhos de boa sorte que para aí andam. É que no final de contas, até sou feliz e grata, e deve haver quem precise mais de bons augúrios.
As minhas lições: Nullius in verba!
Uma das grandes demandas da minha vida tem sido a busca de conhecimento. Se preferirdes, podeis chamar-lhe uma espécie de busca pela iluminação.
Tal não me distingue de nada ou ninguém, pelo contrário. É um trilho que, a cada passo percorrido, nos aproxima, independentemente de todas as diferenças que nos pareçam separar.
Na minha "caixa de ferramentas" não poderia faltar, naturalmente, a curiosidade. Nada se aprende sem curiosidade. E claro, a liberdade, crucial para se ser curioso.
A minha levou-me também ao estudo das grandes religiões mundiais, de filosofias.
Na medida da minha humanidade, fiz os possíveis para evitar julgamentos fundados em preconceitos. A minha consciência seria a minha bússola. O meu objectivo, apreender o que na minha percepção era "trigo", deixar de parte "o joio".
Em resumo, a grande conclusão, (a minha, cada um deve buscar a sua), a que cheguei é a "essência de todas as coisas", chamemos-lhe assim. Existe uma centelha na raíz de tudo o que existe, um ponto comum, uma espécie de coração universal que nos une.
Como explicar?!
Como estamos a falar em religião, quando procuramos a essência das mesmas, o fundamental, o basilar, a sua centelha divina, verificamos que não existem diferenças, apenas semelhanças. É que o coração de todas as religiões bate pelos mesmos princípios elevados, como o Amor, a Compaixão, a Solidariedade, etc. E o mesmo coração bate em todas as coisas vivas.
Apenas a "forma" nos distingue, não a "essência". Este é o primordial elo de ligação entre tudo e todos.
A "forma" das religiões foi construída em redor da "essência", como as paredes de um templo, ou as camadas de uma cebola, em volta do sanctum sanctorum.
E ao longo do tempo, "a mensagem vem-se perdendo com a tradução": a "forma" não honra a "essência".
Para mim, neste contexto, a "forma" é religião, a "essência" é espiritualidade.
Pessoalmente considero-as díspares. Sou pela espiritualidade.
A espiritualidade, é pura, atemporal, é a demanda pessoal e livre de todos pelo reconhecimento desses princípios raíz do qual o Amor é pedra basilar.
A religião é, no seu pior, um produto dos homens para controlar os seus semelhantes. Muitos dos seus aspectos não nos honram. Talvez tenha começado como uma boa intenção.
Não demonizo as religiões, nem quem nelas se encontra. (Guardo isso para o fanatismo.) Encontrei tanto de valor em cada uma delas, ensinamentos e pessoas!
Porque há-de sempre haver gente de bem, em todo o mundo e em todas as crenças, que consegue conciliar numa expressão harmónica e luminosa a forma e a essência. Ainda bem. Serão estas gentes os seus guardiães.
Não sou religiosa, sou espiritual. O meu amor pela liberdade não me deixa abdicar do meu poder pessoal, aceitando cegamente que me digam em que acreditar, o que fazer e como, nas questões da alma; que me sirvam uma versão já mastigada do que é certo e errado, que existam hierarquias em matérias de espírito. Não consigo.
Para mim não existem dogmas: Nullius in verba!
Esse é por enquanto o meu caminho, nem melhor nem pior que o vosso.
sexta-feira, 18 de julho de 2014
As minhas lições
Se tivesse que partilhar um conselho de valor com o mundo, seria o seguinte:
- Ouçam sempre o vosso instinto.
Todos temos a tal vozinha interior, o chamado "sexto-sentido". A grande lição reside em aprender a não ignorá-lo. E é uma lição que se aprende à nossa própria custa, garanto-vos eu.
Todos sabemos que o senso comum e a inteligência são grandes aliados na vida, mas junte-se o valioso instinto, e seremos ainda mais bem sucedidos.
Essa "vozinha" é uma grande aliada, e pode evitar-nos alguns dissabores, grandes e pequenos.
Deixem que vos conte um episódio, em que a minha "vozinha" me salvou do que poderia ter sido um acontecimento grave.
Um dia, a pedido do meu chefe, fiquei no escritório até mais tarde do que o habitual.
Saí para apanhar o comboio já passavam das 20 horas.
Não ia contente, (isto de ser mulher, andar sozinha de transportes públicos depois de escurecer, linha de Sintra, vocês sabem...), mas relaxei mal vi que a composição ia cheia de gente, homens e mulheres, com roupa normal de trabalho.
Sentei-me num lugar junto à janela, e saquei do mp3 como de costume. Ouvir música depois de sair do escritório era a minha forma de me despir do stress laboral.
A minha estação de saída era a Portela de Sintra.
De estação em estação o comboio descarregava pessoas, praticamente ninguém entrava. Após passar por Rio de Mouro e Mercês a carruagem ficou definitivamente vazia, não fosse eu e um fulano que havia entrado nessa estação.
Naquela longa carruagem, com tantos lugares à disposição, o fulano sentou-se exactamente atrás de mim.
A minha nuca eriçou-se. Não sou paranóica, mas já tinha aprendido a ouvir o meu instinto, e se este me gritava que algo se passava ali, eu não iria cometer o erro de duvidar.
Aproveitei o facto das janelas reflectirem o interior da carruagem para o mirar, discretamente, usando a minha visão periférica. O seu aspecto não reflectia nada de extraordinário, mas estava decidida, mesmo assim, a jogar pelo seguro.
Fingi-me descontraída, trauteando vagamente a música que ouvia (quase sem som, pois já tinha baixado o volume), fazia de conta que não estava atenta à sua presença. Tratando-se de uma ameaça, acreditei ser importante que me julgasse distraída.
Comecei a levantar-me lentamente e a dirigir-me a uma das portas na outra extremidade da carruagem. Com a cabeça a mil, tentei antever os possíveis cenários. Mentalmente, tentei acordar o meu corpo, (sempre discretamente, a fingir que ia "curtindo" a minha música), afastar o cansaço, chamar toda a adrenalina e pôr-me alerta, no caso de ser preciso reagir.
Pensei que se ele fizesse o mesmo, seria um sinal claro de más intenções. O fulano, também lentamente, levantou-se do lugar e seguiu-me.
Neste segundo agradeci ao meu instinto, e numa pose ainda o mais discreta possível, prendi o casaco em volta de um dos braços para o caso de me ter de defender de um ataque com arma branca, e chamava toda a minha energia para as pernas, para que se chegássemos a vias de facto, eu lhe desse um pontapé nos genitais com a maior força possível.
Fui ainda recordando outros possíveis golpes como usar a palma da mão para lhe empurrar a cana do nariz para dentro, ou até dedos nos olhos, pisar os dedos do pé com toda a força ou uma joelhada no plexo solar.
É o que dá ver muitos filmes de acção, mas foi o que me ocorreu. E o comboio que nunca mais chegava à Portela!
A estação da Portela estava mais próxima. Mal as portas se abriram saí a correr, primeiro para a direita, depois travei bruscamente, e desatei a correr para o lado contrário.
Fiz bem. Quando o fiz, olhei para o fulano de relance e pareceu-me haver efectivamente uma arma branca, para além que ele estava a ter a reacção de me seguir para a direita. O facto de ter mudado subitamente de direcção fez com que ele voltasse para o interior do comboio.
Os nossos olhares cruzaram-se brevemente. Fiz-lhe cara de má e o olhar mais intimidante que consegui. Estava nervosa, muito mesmo, mas tive que lhe passar a mensagem de que não sou uma presa!
Em muito graças à minha vozinha interior!
quinta-feira, 17 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
caixa de ressonância
As lições da crítica gastronómica
Há muito tempo atrás, num outro blogo-tasco (abençoada cabeça que pensou nesta deliciosa expressão!) resolvi comentar sobre os restaurantes que me deixavam feliz.
Revelou-se uma má ideia, porque pouco tempo depois deixei de ser feliz nesses restaurantes.
É que a "crítica gastronómica" tem uma armadilha. Assim como no linguajar legalmente correcto se deve aplicar a expressão "alegadamente" a torto e a direito, também no campo dos comes se deve ter a precaução de precisar que se comeu "adicionar descritivo qualitativo" naquele determinado dia, naquela determinada ocasião.
Não vá ser como a passagem de um cometa , e tal não se repetir durante uma vida!
Não me vejo como uma comensal picuínhas. Não procuro o excelente, mas insisto no bom!
Para mim, um bom restaurante há-de ter bom ambiente, boa comida, bom atendimento, bom rácio preço/ qualidade.
Ah, e bons ouvidos. Porque se especifico querer que me tragam café com a sobremesa, é isso que espero que aconteça.
Há dias voltei a um desses restaurantes, e dei por mim a matutar sobre como fui e deixei de ser feliz por ali.
A comida continua boa, simplesmente boa, nem mais nem menos.
Lembrei-me que o problema era, e continua a ser, o atendimento. Caso peculiar aquele, dado o sucesso do estaminé, especialmente não sendo um local particularmente barato.
Lembrei-me que éramos clientes assíduos na época em que era permitido fumar no interior. Depois, impedidos de puxar do cigarro, apercebemo-nos do quão doloroso era o ritmo do serviço, mesmo em horários mortos.
Que não admirava que entre os pratos devorássemos meio maço entre os dois. Que era do mais irritante a dificuldade em conseguir atenção, e o facto daquele empregado de mesa nunca mostrar boa cara foi a gota de água.
Aliás, acho que nunca o tinha visto sorrir até o ver atender uma famosa actriz da nossa praça...
Noutro caso, em outras paragens, tudo era bom, inclusive o serviço e tinhamos a certeza que haviamos finalmente acertado na escolha. Tornámo-nos clientes regulares.
Depois a cozinha começou a abusar da gordura e do sal. O dia em que abusaram também do tempo, (mais de uma hora para servirem um bife), foi o dia em que cortámos relações.
Também já lá voltámos. Ao contrário do primeiro caso, estes voltaram ao caminho da redenção.
Conclusão: A felicidade em mesa alheia não é certa nem segura.
terça-feira, 15 de julho de 2014
coisas de pensar: a Escola que imagino
Defendo que a Escola necessita de novos currículos, novos métodos. Algo dentro do verdadeiro espírito humanista, de verdadeira integração na vida, em todos os seus aspectos.
Por mim, não haveria miúdo que saísse da escola sem antes aprender a:
- nadar; cultivar os próprios alimentos; preparar uma refeição completa e nutritiva; os básicos da costura como pregar um botão, fazer uma bainha, um remendo; mudar um pneu; prestar os primeiros socorros; meditar; conhecer as plantas e as suas propriedades medicinais; gerir um orçamento familiar; tocar um instrumento musical; argumentar; empatizar; participar; limpar o que sujou.
Imagino uma Escola onde existiriam disciplinas como Voluntariado, levadas tão seriamente quanto a Matemática e o Português. Acredito que faria bem aos miúdos, e ao Mundo.
cromices #21
Não sou religiosa, sou espiritual.
Ainda dos tempos em que era uma miúda numa escola de freiras, (excelente em todos os aspectos, grandes memórias).
Aos 10 anos tinha uma secreta teoria sobre as igrejas serem a casa de Deus e o facto destas serem usualmente tão faustosas, com tanta talha dourada e afins.
É que essa escola ficava numa quinta, enorme e de um verde luxuriante. Embora fosse uma miúda certinha, todos os dias, eu e uma colega infrigiamos as regras, e íamos comer o lanche num ponto da quinta que tinha uma vista soberba.
Então convenci-me que, o único facto plausível para as igrejas serem tão ricamente decoradas, era para convencer Deus a ir para casa. E que os adultos não se estavam a sair bem nisso, e que seria muito mais inteligente da parte destes irem encontrar-se com Deus no meio da Natureza.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
coisas que gosto #7
De oferecer flores ao meu marido.
Todas as pessoas deveriam receber flores, inclusive os homens.
Hoje
É um dia de coração cheio!
"Pessoas da minha vida", esta é para vós:
cromices #20
O talento para a cromice já vem de longe. O real cromo (ou croma, neste caso), é cromo a vida toda. Não é algo que simplesmente desabroche sem aviso prévio, chegando-se a uma certa idade.
Pode acontecer, mas nunca será a mesma coisa.
Fiz o ciclo preparatório numa escola de freiras. Nesses dois anos assisti a mais missas do que durante a minha vida toda.
Numa dessas ocasiões, estava na fila para a hóstia quando tive uma branca, e me esqueci totalmente do que era suposto dizer ao padre quando este me estendesse a mesma.
Chegada a minha vez, pensei em receber a hóstia e escapulir-me em silêncio. O padre insistiu em ouvir algo da minha parte. Inspirada pela formalidade da coisa, respirei fundo e saiu-me um "obrigada pela bolachinha.".
sábado, 12 de julho de 2014
Praia Grande
Há muitos anos que uma das "minhas praias" é a Praia Grande.
Continua a ser uma das minhas favoritas.
Tenho é saudades da barraquinha de pão com chouriço que existiu por lá durante tanto tempo.
Se havia forma brilhante de terminar uma ida à praia, era a trincar um daqueles pães, quentes, acabados de sair do forno.
Tão bons, que saudades, que falta fazem! Honestamente, muito mais que o par de lugares de estacionamento que ganharam com a sua ausência.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
caixa de ressonância
cromices #19
Continuo resoluta em relação à decisão de me iniciar numa arte marcial.
Conto assistir a uma aula já para a semana.
Não, não estou assustada.
Ou pelo menos não estava. Até ver a imagem de um soutien para desportos de combate.
aqui
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Tratamento vip
Trabalhei diversas vezes no atendimento ao público.
O meu primeiro "salário" ganhei-o, ainda miúda, na companhia de uma amiga e colega de liceu, a fazer embrulhos durante umas férias de Natal, no velhinho Jumbo de Cascais.
Foram, sem dúvida, uns dias bastante preenchidos e ricos em experiências: discuti com um segurança que apanhei a ser mal-educado e arrogante com uma funcionária da limpeza com idade para ser sua mãe, discuti com uma das nossas "responsáveis" que adorava armar-se ao pingarelho, tive pedidos muito estranhos por parte de clientes, como embrulhar bicicletas e tábuas de engomar, e claro, um dos maiores desafios, lidar com os "vip's", (ênfase nas aspas).
Orgulho-me tanto daquela miúda de 16 anos, por não ter sido mais uma entre tantos, no atendimento ao público, a cair no erro crasso de mudar de atitude conforme o cliente.
Verdade seja dita, pessoas do atendimento ao público, é tão feio, tão pouco profissional, sinal de tão fraca personalidade quando mostram preferência, quando rejubilam na presença de um qualquer menos anónimo, e se desdobram em sorrisos e salamaleques.
A figura ridícula de quem o faz só serve para lhes alimentar o ego e continuar a ilusão de que o mundo lhes deve tratamento especial.
Não me refiro a uma atençãozinha, um pormenor carinhoso, um sorriso mais aberto ou um discreto elogio se se trata de alguém cujo trabalho admiramos. Critico sim, aqueles que só exibem a sua melhor performance profissional na presença dos "tais", e os "tais" que esperam e exigem que tal aconteça.
O meu "tratamento especial" era, naquela ocasião, reservado sobretudo às avós. As que esperavam pela sua vez em silêncio, e isso é de valor, porque, para mim, continua a não haver nada mais parecido com uma multidão esfomeada de zombies do que pessoas às compras no Natal. As que compravam pacotinhos de meias para os netos. As sem caganças. A essas esforçava-me por lhes fazer um embrulho absolutamente perfeito, embora me tenha esforçado sempre para com todos os outros.
Lembro-me de um caso particular.
Uma senhora que, chegando com um carrinho cheio, à meia noite e meia, hora de encerramento, insistia em ser atendida. Justificou-se com um "sabe quem eu sou?!".
Decidi alinhar na brincadeira e dar-lhe corda, enquanto continuava a arrumar o meu estaminé de embrulhos, para me ir embora.
- "Sou prima do Mário Soares!"
Abri o sorriso e estendi-lhe a mão em forma de cumprimento:
- "Muito gosto. Eu sou a Ana".
Retribuiu-me o sorriso até ao momento em que a informei, que até poderia ser prima do Papa, que isso não faria o Jumbo encerrar mais tarde.
Ofereci-lhe todo o papel de embrulho e fita que conseguisse transportar. Recusou. Informei-a que poderia voltar no dia seguinte, que seria atendida com todo o préstimo. Nada. Queria à força toda que ficasse ali à sua disposição, independentemente da hora. Deixei-a a falar sozinha.
No dia seguinte fui chamada a um gabinete. Tinha feito queixa de mim. Sorri. Soube-me a medalha de mérito, daquelas que os escoteiros recebem por boas prestações.
caixa de ressonância
Sabedoria dos intas em 10 segundos #30
Enquanto crescia, o foco de parte da minha atenção e energia incidia sobre a escolha de uma carreira, o sucesso profissional, a sua natural e esperada consequência material.
Hoje, penso no meu legado. Ficarei mais que satisfeita se, o que ficar de mim, for a lembrança do sorriso, de um ou outro ponto luminoso do meu carácter, e que o Mundo encontre utilidade em alguma das minhas ideias.
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Coisas de uma virginiana #2
Caro pessoal dos Recursos Humanos, Headhunters e afins, não me querendo armar em Maya, saibam que há valor em conhecer o signo do entrevistado.
Que sendo este um alvo desejado, e por coincidência, nativo virginiano, informo-vos que pouca coisa tem o poder de nos deixar as pernas bambas como incluir um escritório com wc privativo no dote.
É coisa para nos acelerar o coração e deixar as mãos suadas quase ao ponto de nos fazer esquecer os contras. Quase.
caixa de ressonância
terça-feira, 8 de julho de 2014
caixa de ressonância
segunda-feira, 7 de julho de 2014
cromices #18: paixonetas de adolescência
Sobre isto, dizem os psicólogos, que é tudo muito natural e saudável.
Por acaso encontrei um artigo muito interessante sobre isso. Podem lê-lo aqui.
E anos mais tarde, quem não se ri quando recorda as suas paixonetas de adolescente?!
Portanto, no espírito do "it's all very natural", ainda que na categoria das cromices, aqui seguem as minhas afeições platónicas de quando andava na fase do armário. A minha reacção divide-se entre "cruz credo!" - (por exemplo, no caso do Axl Rose), e um "sim senhora, a miúda até nem tinha mau gosto!".
Sem mais demoras, senhoras e senhores, aqui estão:
Jim:
Axl:
Eddie:
James:
e Matt:
Já agora, ainda se lembram das vossas? ;)
PS: Ia-me esquecendo do Anthony:
sábado, 5 de julho de 2014
to do list #2: É desta caramba!
Ando há anos, (nem vos confesso quantos!), para ganhar coragem de me iniciar numa qualquer arte marcial.
Sempre me contive por causa da minha inaptidão para o desporto, (que o meu marido jura que é mais um entrave psicológico que outra coisa, mais um dos macaquinhos que habitam o sótão).
Conforme vou ficando mais velha, tendo-me vindo a forçar a fazer coisas fora da minha zona de conforto. Não muitas, mas algumas daquelas que sempre desejei conseguir.
Para não haver desculpas, estou a ver a oferta perto de casa.
Agora é só escolher entre Aikido, Krav Maga e Muay Thai. Até partilho isto convosco para me incitar ainda mais à acção. É desta, caramba, é desta!
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Se fosse um fruto...
... seria decididamente uma noz.
Porque sou uma "casca-grossa".
Porque chegar ao miolo implica trabalho e empenho, e sobretudo fé no facto de que este existe, embora escondido.
As pessoas mais importantes da minha vida, as "minhas pessoas" são-no por merecimento. Viram para além da casca e fizeram por chegar ao miolo.
O melhor de mim é delas, incondicionalmente.
quarta-feira, 2 de julho de 2014
cromices #17
Um dos milhentos pontos em comum com o meu marido, é que ambos embirramos com quase todos os musicais.
O facto de gostarmos igualmente de desenhos animados cria um problema: é que há sempre momentos cantantes, então se for da chancela Disney é um pesadelo.
Só para dizer que não conseguimos acabar de ver o Frozen. A overdose musical era tanta que já espumávamos da boca, e só se via o branco dos olhos.
Desemprego: IEFP, solução ou parte do problema?
Se a memória não me falha, foi entre o bacharelato e a licenciatura, a primeira vez que me dirigi a um Centro de Emprego. Na minha ingenuidade, pareceu-me que se os organismos existem, e pressupondo que funcionam, que seria uma forma tão válida quanto outra para procurar emprego na minha área de formação.
Dias depois da minha inscrição, recebo uma convocatória pelo correio. Uma missiva de discurso grave, exigindo a minha presença no dia e à hora tal, sem atrasos or else.
Foi assim que fiquei a perceber o porquê de meio mundo fazer fila à porta daquele edifício muito antes deste abrir as portas. Qual Cândido de Voltaire, o meu optimismo irradiava no meio daquele mar de gente estremunhada.
Pois se me tinham contactado, com tanta rapidez e gravidade, é porque tinham algo para mim, e isso era bom, muito bom! - Ah, ingenuidade!
As portas abrem-se finalmente, mostro a minha documentação e convocatória a quem de direito e sou encaminhada, com mais algumas pessoas, para uma sala de reuniões num piso superior.
Ninguém faz ideia do que esperar.
A técnica que nos acompanha, (meia dúzia de gatos pingados), para o interior da tal sala, começa a debitar questões:
- quem não tem a escolaridade obrigatória ponha o braço no ar; quem está interessado em frequentar um qualquer curso que lhe dê a equivalência à escolaridade obrigatória ponha o braço no ar; e que tal uma formaçãozita para ensinar a redigir um currículo?
E eu paciente, sem tugir nem mugir, à espera da minha vez, observadora da forma como a técnica despachava todos os outros, com um à-vontade magistral em fazer mais do que orientar, pois tomava as decisões por eles, encaixava-os onde lhes era mais conveniente.
- " E você, não está interessada em nada do que acabei de apresentar?"
Tinha ficado claro que toda a informação que se cede aquando a inscrição não serve na prática para nada. Tivesse lido o meu processo, até na diagonal, e saberia que não.
Reapresentei-me.
Foi a emenda pior que o soneto: após segundos de reflexão, saca de um dos montinhos de papéis que havia trazido consigo, e tenta impigir-me à força toda o pacote de "criação da própria empresa". E eu a explicar-lhe que seria, no meu caso e naquela altura, um colossal erro da minha parte enveredar por algo assim.
O mesmo que falar para uma parede! Porque se Deus e todas as soluções do mundo estavam naqueles montes de papéis, de soluções pré-formatadas a que as pessoas se moldam para que estas sirvam sempre mesmo que não solucionem nada, então como recusar?
Acabei por trazer a legislação só para me ver livre dela. É que a senhora já derrapava na maionese, a meter os carros em frente dos bois, a falar-me dos benefícios em empregar pessoas, especialmente se estas fossem portadoras de deficiência. Fosse impressa em papel higiénico e teria tido mais utilidade.
De seguida fui enviada à presença de um senhor cuja função é encontrar a nomenclatura e o código da profissão do candidato, pelo menos foi essa a sensação que tive. Basicamente é alguém sentado num micro escritório tipo bengaleiro, rodeado por todos os lados de imensos volumes que faziam lembrar as páginas amarelas.
- "Área profissional?" - "Publicidade"
- "Propaganda?", retorque sisudo. - "Não. Publicidade."
- "Tem a certeza?" - "Por acaso até tenho, o curso que frequento até é de marketing e publicidade."
- "Função?" - "Copywriter"
- "Ah! Desculpe lá mas isso não existe! Não encontro nada disso aqui."- vocifera enquanto folheia freneticamente os tais livros - " Isso não existe! Você está enganada. Chegam aqui e nem sabem o nome da profissão!"
Mais tarde, tive a minha última experiência com o IEFP, desta vez enquanto estagiária. A ideia de seguir o pacote estabelecido pelo organismo tinha sido do meu empregador, e na minha ingenuidade, pareceu-me bem que houvesse entre nós uma espécie de mediador. Que tal poderia assegurar que ambos cumpríssemos as nossas obrigações, segundo uma conduta já estabelecida. Ah, ingenuidade, raios te partam!
Por vários motivos, sendo o IEFP um deles, foi das piores experiências da minha vida. Transtornante até mais não. Daquelas coisas em que a pessoa deseja de todo o coração, voltar atrás no tempo e partir uma perninha no momento em que toma aquela ínfame decisão de vida.
Decidi cortar permanentemente a minha ligação a este organismo. Da minha experiência concluí que, sobretudo por incapacidade humana, esta é uma ferramenta que ao invés de ser utilizada para resolver um problema, adensa-o.
Anos depois, quando o universo de pessoas que conheço, muito ou pouco, e que estão ligadas ao IEFP pelos motivos mais infelizes é maior do que alguma vez poderia imaginar ou desejar, e ouço os seus relatos a minha conclusão mantém-se. Um dia falo um pouco mais disto.
Etiquetas:
actualidade,
desemprego,
opinião,
pensar
Subscrever:
Mensagens (Atom)