quinta-feira, 24 de julho de 2014
coisas que gosto #10: Da minha janela.
Vou à cozinha e preparo uma chávena de qualquer coisa.
Faço-o tantas vezes quanto os cigarros que fumo.
Abro a janela. Acomodo-me no banco junto ao parapeito que tenho para o efeito.
Acendo o cigarro e começo por analisar as nuvens e as suas formas. Não existem dois momentos de céu igual.
O tempo de um cigarro dá para muito.
Observo as crianças da casa em frente nas suas brincadeiras. Elas acenam-me e eu retribuo.
Nos dias em que o tempo não permite brincadeiras na rua, vejo aquelas três cabecinhas emolduradas numa janela. Acenam-me, incitam-me à brincadeira escondendo-se e reaparecendo, com caretas e mais acenos. E eu retribuo.
É Verão, os petizes andam mais entretidos, e eu aproveito a calma para me encantar com um casal de andorinhas que fez ninho naquele alpendre.
Fascina-me o quanto são pequenas e frágeis, e que tenham percorrido tanto céu para cá chegar.
Tirando as asas, são iguais às crianças da casa em frente que me acenam.
Olham-me de cima de um cabo qualquer, enquanto ajeitam as asas e meneiam as cabeças, como que para me ver melhor. Partem de seguida, numa velocidade trepidante, para brincadeiras e acrobacias celestiais.
E eu tenho a certeza, de todas as vezes que apago um cigarro, que vou ter saudades de as ver por aqui, depois de voltarem a migrar.
(Mais sobre as migrações das andorinhas, aqui )
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