quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Coisas que me irritam #13: Morra o telemarketing e o d2d! Morra! Pim!





Hoje quedo-me em remorsos e embaraçada pela minha conduta de ontem.


Acontece-me sempre que perco as estribeiras, que me salta a tampa. Mas, bolas, por vezes parece que não descansam enquanto isso não acontece!
O que só contribui para me deixar ainda mais irritada, porque sinto que de alguma forma me forçaram a passar da marmita.




Eu explico.


Tenho uma tolerância incrivelmente baixa para com acções de telemarketing e porta à porta, porque considero estas práticas tão invasivas quanto um exame à próstata.


Um dos motivos é que um dos traços mais marcantes da minha personalidade é não gostar de me repetir, e sobretudo não achar piada nenhuma a que não façam caso daquilo que digo, aquela sensação de estar a falar para uma parede. Neste caso é ainda mais grave porque parece que sou obrigada a aceitar que me invadam o domícilio e o telefone pessoal, o que não admito.


Em minha defesa garanto que no contacto com entidades comerciais estou sempre a frisar que não autorizo que os nossos números sejam usados para esse fim. O que equivale a não dizer coisa alguma e isso enfurece-me.
Também já tentei, ínúmeras vezes e usando o melhor comportamento, atender o telefone e a porta, e pedir ao comercial que ouça o meu pedido com muita atenção, e que tome as medidas necessárias para retirar o meu número ou morada da lista de contactos. Igualmente, o meu pedido é ignorado vezes sem conta. Literalmente como falar com uma porta!


Ao longo de uma meia dúzia de anos, a quantidade de comerciais que já vieram bater à porta aproxima-se, sem qualquer exagero, da meia centena.


É um ciclo que, para mal dos meus pecados, se repete. Quando me passo da marmita ficam um par de meses sem dar à costa. Depois reaparecem.
E no início de cada ciclo eu recito uma espécie de mantra antes de abrir a porta: que são pessoas como eu, que estão a fazer pela vida, que é um trabalho de merda, que trabalhar à comissão é contra a ética e a moral, e eu vou despachá-los de uma forma cordial, com um sorriso genuíno e um aperto de mão.


E no primeiro par de visitas consigo fazê-lo, e sinto-me bem por isso. Afinal que me custa perder meia-dúzia de minutos, mesmo que tenha o jantar ao lume e não me apeteça nada estar a ouvir as mesmas tretas, sobre o mesmo produto, pela centésima vez?


O trato com base na empatia e na cordialidade é fácil quando a postura da pessoa que se nos apresenta é "normal". Quando tem o bom senso de não insistir quando percebe que o interlocutor não está interessado.
Mas esses, pelo que pude apurar das minhas experiências, são a excepção.


A maioria insiste e persiste, fala por cima, atropela, faz ouvidos moucos e continua a debitar o discurso. Percebe-se claramente que ali há a convicção que hão-de conseguir vencer pelo cansaço. E acabam por levar o troco na exacta medida.


Alguns, mesmo depois de avisados que não existe qualquer interesse, que pelo amor da santa retirem a nossa morada do circuito, que escrevem uma nota no bloco que carregam sobre isso, chegam a voltar no dia seguinte. Esses levam o "quase-pior" de mim.
Há uns tempos, espreitei pela janela quem tocava à campainha do prédio, e quando vi que se tratavam dos mesmos comerciais do dia anterior, passei-me do tipo:
- "Podia abrir a porta?"
- "Não! Só podem estar a gozar! Dois dias de seguida?! Mas que merda é esta? Tenho que gramar convosco todos os dias? Eu já disse ontem o que tinha a dizer, que é não, agora ponham-se a andar!"




Fui dura? Rude? Exagerada? Temos pena! Mas pelos vistos não o suficiente porque continuam a voltar.


Viessem somente uma ou duas vezes por ano, para verificar se o meu interesse em relação ao produto se havia alterado, e nem levaria a mal.




Após uma semana de chamadas por parte de um número "disfarçado como número de telemóvel", que andava a melgar o marido, para o qual era impossível ligar de volta porque dava um aviso qualquer, que me desligou uma vez na cara.
Após baterem à porta o par de pessoas mais despreparadas que já vi na vida, que diziam vir da parte da EDP, que nem se sabiam explicar mas que sabiam ser insistentes, enquanto fazia o jantar, a meio da refeição toca o telefone.
Óbvio que já ia inflamada quando agarrei no aparelho. "Estou? Tou? TOU?" - Nada. Começa-me então a sair uma catadupa de impropérios, quando ouço uma vozinha masculina do outro lado, que se identifica.
Mas já é tarde demais, eu sou um foguete com o rastilho já aceso, e só consigo repetir, num tom quase histérico que já tinha pedido que não contactassem aquele número para telemarketing. A vozinha desculpa-se e despede-se. E eu livro-me do homem mas não dos remorsos.
Furiosa. Por que me irritam a este extremo?!










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