domingo, 31 de janeiro de 2016

Felicidade é... #1



... ser a primeira a acordar, ainda antes do sol nascer. Despertar tranquila e com as energias repostas.

Ficar na cama até o sol raiar, num estado de pura preguiça embalada pelo som da respiração do marido e do Kiko.
Colocar o braço em cima do lombo do nosso porquinho, que se aninha entre nós, e ouvi-lo soltar um suspiro de satisfação.

Um estado de quase-silêncio que perdura. O silêncio é de ouro, e há horas que precisamente por causa da ausência de ruído tudo luz, tudo brilha, tudo se torna precioso.

Nas ruas desertas, os únicos sons são do vento a trespassar a folhagem de uma qualquer árvore e de duas rolas tagarelas, curiosas como todas as rolas com que me cruzo, que vão voando de poste em poste, atentas a nós.

Felicidade é a curta hora em que o mundo parece ser só meu. Sem ruído.


sábado, 30 de janeiro de 2016

Vida de cão #46: Ode ao diálogo




Sou daquelas pessoas a quem "bate forte, mas passa rápido".

Noto que, com o passar dos anos, cada vez me "bate mais forte", ou talvez o que se passa é que prefiro ver-me livre dos maus sentimentos através de uma catarse imediata. Não é bonito de ver, mas é essencial gastar logo toda aquela energia gerada pela irritação.

Ontem quando fui passear o Kiko, tivemos mais uma cena dessas.
Passamos diariamente por uma rua, que é das melhores da localidade para passear o cão, por ser longa, ter um relvado que se estende por todo o seu comprimento, e árvores.
Em frente a uma das casas estão sempre restos de comida, colocados displicentemente em cima da relva, que podem ir de bocados de pão, massa, batatas com sabe-se lá o quê, ossos a latas de atum.

Ontem, no cardápio havia, para além de um resto de batatas com acompanhamento mistério encostadas ao muro da habitação, espinhas de peixe espalhadas pela relva e camufladas por esta.

Nada do que por ali aparece é benéfico para qualquer cão. Tanto que o Kiko embora levado pela gula tente alcançar os restos, sabe que na grande maioria das vezes, essa teimosia só resultará num "Não!" bem audível e se necessário puxões na trela.

Andamos a treinar o comando "dá", que serve tanto para brincar com bolas, como para estas ocasiões em que ele agarra qualquer coisa que não deve. Resulta algumas vezes, nem todas.

 Então, lá estava eu, com um saquinho dos cócós a servir de luva a tirar-lhe as espinhas da boca. Não foi nada fácil, mas consegui. Fiquei foi com um dedo a sangrar, porque ou me espetei com as espinhas ou da pressão dos dentes do Kiko. Nada de especial.

Tentei prosseguir o passeio, embora já furiosa, porque sendo o miúdo certinho que nem um relógio, era importante que ele fizesse um nº2. Que não fez porque andava totalmente desaustinado, parecia querer abocanhar tudo o que aparecia e eu, cada vez mais possessa, achei preferível levá-lo para casa o quanto antes.

Decidi que, após mais de um ano a encontrar restos de comida ali, de ontem não passaria e que iria abordar os donos daquela casa.

Assim fiz. Não sem antes ir tomar um café e fumar um cigarro. Porque até eu, dada a amoks, tenho um nível de inteligência emocional que me permite saber que nunca se deve abordar ninguém quando estamos furiosos.

Como não encontrei nenhuma campainha, coloquei-me ao portão da casa a chamar. Apareceu um senhor com alguma idade e uma senhora mais idosa, que deveria ser sua mãe.
Disse-lhes que precisava de lhes dar uma palavrinha, de lhes pedir um favor. Que lamentava abordá-los na sua casa, mas que depois da aventura de ter que arrancar espinhas da boca do meu cão, coisa que poderia ter acabado numa ida ao veterinário, tinha que lhes pedir que fizessem o favor de não deixar restos de comida na via pública.
O senhor não fazia a mínima ideia do que se passava. Eu voltei a explicar que todos os dias estão restos de comida na outra entrada da casa, a que dava para a rua X. Que em algumas ocasiões até latas de atum abertas, que podem cortar o focinho de um animal mais curioso.
A senhora admitiu que punha lá pão, e tinha lá posto batatas com qualquer coisa, mas nunca latas de atum nem espinhas. Talvez isso fosse da responsabilidade dos vizinhos do lado.

Trocámos pedidos de desculpas pelo incómodo e prometeram-me que não voltaria a acontecer.

E eu terminei a minha tarde com a esperança renovada no poder do diálogo. Que a solução passará sempre, e em primeiro lugar, por abordar com o melhor dos espíritos e das atitudes aqueles que por um qualquer motivo nos incomodam com alguma atitude ou acção.






sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Dúvidas que me atormentam #2



Quando falamos de mobilidade há muito meio de transporte por onde escolher, desde o automóvel, à bicicleta, à moto, etc.

Mas antes de sermos automobilistas, ciclistas ou motards, somos peões e seremos sempre peões independentemente dos outros meios de transporte que utilizemos.

Alguns de nós nunca serão ciclistas, nem motards e talvez nem automobilistas. Mas, sublinho que todos somos e seremos peões. Esse é o denominador comum que nos une a todos. E por tal, entender as necessidades dos peões não deveria ser um exercício muito complicado e abstracto de empatia, bom senso e lógica, visto que é algo que também nos toca a nós, e não só ao vizinho do lado para quem normalmente nos estamos a marimbar. Logo, neste caso, ser daquelas pessoas que só sabem olhar para o seu umbigo não é desculpa.

Aposto que mesmo aqueles que passam a maior do tempo em deslocações sobre rodas já experimentaram o quão difícil é andar a pé. Decerto já encontraram passeios ocupados por veículos estacionados, passeios em mau estado, ou até já tiveram que fazer um qualquer percurso onde ao invés de passeio existia uma valeta ou nem isso, fazendo-vos olhar para os carros que passam como um perigo bem real, que sair dali ileso é coisa próxima de um milagre. Já para nem falar dos muitos automobilistas, motards e ciclistas que passam a toda a brida pelas passadeiras, desrespeitando lei e peões, exemplos da tal falta de empatia e civismo.

Ontem, dei conta da fantástica notícia sobre a construção de uma ciclovia a ligar Ouressa à Portela de Sintra. É realmente uma notícia fantástica, e é um primeiro passo no meu sonho de ver as localidades do meu concelho ligadas entre si através de pedovias e ciclovias. Desejo que este primeiro projecto seja um tremendo sucesso para que veja chegar a mesma inovação à minha localidade.

Sendo a notícia sobre a construção de uma ciclovia, houve quem, (e na minha singela opinião, muito bem), questionasse sobre se a obra incluiria uma pedovia, porque os passeios existentes estão longe de ter as condições mínimas para se caminhar com segurança e saúde.
Na minha opinião era coisa para se fazer já, ciclovia e pedovia lado a lado, que fazê-lo mais tarde apenas levará mais tempo e dinheiro.

Na mesma caixa de comentários um ciclista queixava-se já que os peões serão pouco cívicos e acabarão por utilizar esta ciclovia, da mesma forma que o fazem com outras, que para quem caminha existem os passeios.
Acho que este ciclista enfurecido teria toda a razão se existissem boas condições para quem anda a pé. Aí fazer uso de uma ciclovia seria expressão da falta de civismo pura e dura, ao invés de uma transgressão por falta de alternativas.

A dúvida que me atormenta é, se somos todos peões, porque é que são estes os que ficam sempre para último lugar, esquecidos, seja quando se implementa algo a nível urbanístico seja na atitude das pessoas quando se deslocam sobre rodas?!


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

As pessoas de quem gosto #5






coisas de opinar: Sobre o racismo, #1.



Os Óscares deram origem ao mais recente conflito sobre o racismo. Tal deu origem a uma troca de opiniões a nível global, diria eu.
Debater um tema é sempre positivo, na minha opinião. Embora não tenha ainda encontrado uma opinião alheia na qual me reveja totalmente, valorizo-as a todas e respeito-as, sobretudo porque me fazem reflectir sobre os meus próprios pontos de vista. Sempre defendi que num debate a divergência de opiniões não é defeito. Aliás, é a diferença que nos faz crescer, alargar os nossos horizontes.
Também há que aceitar que, para um ponto de vista ser válido e correcto não implica que todos os outros estejam errados. Várias premissas podem ser simultaneamente válidas e verdadeiras, mesmo sendo diferentes.
Por fim, gosto de ter a honestidade de admitir que as minhas certezas são muito poucas, que não há vergonha alguma, pelo contrário, em confessar que não sei, que não detenho todas as respostas, mas que estou disposta em perscrutar o que sinto ser a minha perspectiva, que mesmo quando tenho uma opinião já formada esta não está escrita em pedra, não é imutável.
Sou permeável aos bons argumentos porque quero crescer e evoluir. Aos que gentilmente debatem comigo, só peço reciprocidade quanto a esta mesma conduta.

Decidi escrever e partilhar a minha "viagem" em relação a este tema.

A única certeza que possuo em relação a este tópico é o objectivo: sonho, desejo e anseio viver num mundo onde qualquer forma de discriminação e preconceito seja coisa do passado. Acredito que as pessoas devem unicamente ser julgadas pelas suas acções e carácter, nunca pela raça, etnia, género, nacionalidade, religião, orientação sexual ou qualquer outro traço similar.

Acredito piamente na Meritocracia, na Igualdade, como base do Novo Mundo que desejo ver surgir.

Uma pessoa, cuja opinião valorizo bastante, ainda dentro deste celeuma com origem nos Óscares, partilhou um dia algo sobre o quão importante é para as crianças das minorias verem-se representadas em eventos desta magnitude. Não retiro nenhuma validade, verdade ou valor ou a esta afirmação. Também eu quero que qualquer criança se sinta imbuída de poder, do tal "Yes we can!", que acredite em si e tenha uma vontade e uma garra de perseguir os seus sonhos, sem considerar por um único momento que a cor da sua pele, o seu background socioeconómico, o seu género ou qualquer outra característica a possa limitar, seja de que forma for.

Nesta aldeia global, temos que acreditar que, de certa forma, todas as crianças são nossas, e temos que fazer acontecer o que for necessário para que cresçam capazes e felizes.

Mas quando me dizem que o caminho passa também por transformar a cerimónia cinematográfica numa "cena por quotas" torço o nariz. A Meritocracia não vê cor, é daltónica. Merece ou não merece? Ponto final.
Se existirem jurados que escolhem os nomeados com base no preconceito, é despedi-los. Simples.
Não me venham é com argumentos que lá por serem "homens velhos brancos" as suas escolhas e votos não terão por base uma opinião profissional, mas serão sempre toldadas pelo preconceito.
Afirmações tais tiram-me do sério!
Assumir que determinada pessoa terá determinado comportamento apenas com base na cor da sua pele, género e idade é altamente discriminatório e racista! E é algo que condeno veementemente.
Sim, meus amigos, que o racismo é um conceito que se aplica a todas as cores de pele e raças, ou julgavam que não?!

Mas falarei mais sobre isto dos óscares noutra altura.

Quero voltar à questão das crianças e da importância dos exemplos, e ao produto da minha reflexão.
A nossa verdade é sempre nossa, porque é inevitável a subjectividade, irmos beber às nossas experiências.

Tentei lembrar-me de várias figuras que me inspiraram de alguma forma (não gosto do termo ídolos) ao longo da vida, desde a mais tenra infância aos dias de hoje. Ocorreram-me nomes como Buda, nascido no Nepal. Jesus, judeu nascido na Judeia, hoje Israel. Zeca Afonso, português. Che Guevara, argentino. Natália Correia, portuguesa. Madre Teresa, nascida na Macedónia. Platão, ateniense. Thomas More, nascido em Londres. Rosa Parks, nascida no Alabama. Oprah Winfrey, nascida no Mississippi. Júlio Verne, francês. Nikola Tesla, croata. Marie Curie, polaca. Carolina Beatriz Ângelo, portuguesa. Florbela Espanca, portuguesa. Nietzsche, alemão. Leonardo da Vinci, italiano.

E a lista é tão mais longa, mas as figuras já enumeradas servem para ilustrar que é possível encontrar um sem número de pessoas inspiradoras sem que a nossa escolha se baseie na raça, nacionalidade, género, religião. Para mim, educar ou sequer esperar que uma criança só se consiga rever ou inspirar em pessoas da mesma raça, género ou afins é educar para o preconceito, é alimentar o racismo. É limitador, é triste e um tremendo entrave à construção do mundo igualitário e meritocrático com que sonho.




terça-feira, 26 de janeiro de 2016

coisas de opinar: As despedidas são como as sobremesas.



Um qualquer chef experiente e capaz conhece o poder de uma boa sobremesa. Esta tem o poder de redimir a memória que se leva de uma refeição menos perfeita.

Um qualquer filósofo saberá que as metáforas são universais.

Cavaco Silva não é chef nem filósofo, nem experiente nem aprendiz. Apontavam-lhe ser economista, aquém do seu tempo. A forma como decidiu despedir-se da função de PR, havendo tantos caminhos possíveis e todos mais nobres, capazes de elevar um pouco a memória de uma Presidência que foi "fraquinha", demonstram que afinal é apenas mau. E ser mau é muito pior que ser ultrapassado ou incapaz.


Mais aqui.


segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Dúvidas que me atormentam #1



A primeira lâmpada Led que entrou cá em casa foi adquirida numa loja do chinês, com o intuito de desenrascar e, também para testar esta mais recente tendência em iluminação.

O destino da tal lâmpada foi o candeeiro de pé alto da sala, que usamos muito para luz ambiente. A nível de luminosidade não era má. O problema era sonoro. É que o raio da lâmpada zumbia. De início pensámos que seria só durante os primeiros minutos, que estivesse a "aquecer" ou algo assim. Mas não.
O raio da lâmpada sibilava, fazia um zunzum constante, um murmurar não gritante mas que ia entrando cabeça adentro e dando cabo dos nervos.

Pensando que seria característica geral desta tecnologia, pensava que por mais respeito que tenha ao meio ambiente e tal nunca seria capaz de ter lâmpadas zumbidoras em toda a casa.

Até que precisámos de trocar esta e mais lâmpadas. Decidimos dar mais uma hipótese às Leds, e ainda bem porque afinal as únicas que zumbem são as made in China.

Este caso fez-me lembrar, entre muitos outros, quando, há imenso tempo atrás, calhou comprar mais umas camisas para o marido, numa loja nacional onde já havíamos comprado boas camisas clássicas de algodão, e estando eu a passá-las a ferro, achei tão estranho estas parecerem tão ranhosas e de pior confecção e corte que fui confirmar a origem: made in China.

Como é que possível que, sendo a China uma das maiores forças produtivas do tempo presente, conseguem que o made in China seja sinónimo de produto mau, rasca, de má qualidade e pouca durabilidade?!




Faltou dizer isto, e é importante.



Gosto de Reciprocidade.
Da mesma forma que defendo que o Voto deveria ser obrigatório, existindo sanções para os não-cumpridores, também defendo que o Estado, quando não garante a todos os cidadãos o exercício deste Direito primordial numa Democracia que se diz Participativa, deveria ressarcir os lesados com o mesmo ênfase. Porque votar tem que ser para todos!

Mais aqui.



Por aqui também se deixa um comentário sobre as Presidenciais.




Não votei em Marcelo, mas nunca tive grandes dúvidas que o Professor seria eleito. A questão, para mim, residia se a vitória seria alcançada à primeira ou à segunda volta.

Acredito que o nosso novo Presidente possui a capacidade para desempenhar bem o seu papel. Torço para que haja também vontade para isso, por todos nós, pois bem precisamos de todas as mãos dispostas a fazerem-nos avançar.

Também não votei Tino, mas vejo na sua candidatura um dos pontos mais positivos destas Presidenciais. É que defendo há muitos anos que a existência de uma Democracia real e frutífera depende da participação de todos na Política. A Política não deve ser exclusiva aos "políticos de carreira", deve incluir todos os cidadãos que sintam vocação para tal, sejam estes professores ou calceteiros. Tino, com o seu jeito algo peculiar, veio demonstrar que isso é possível.
Acho tremendamente positivo que comecemos a expurgar do nosso consciente colectivo, da nossa cultura, a noção que certas portas só se abrem à elite. Os cargos políticos, a participação activa na governação do país não pode nem deve ser exemplo disso, como tem sido.

Afinal, não é suposto a República ser diferente da Monarquia?!

Outro ponto positivo foi a participação de duas candidatas nestas eleições. Num país onde ser mulher ainda é visto como um handicap, também isto é sinal de um futuro mais auspicioso em termos de igualdade de género.

Também não votei em Maria de Belém. Ao contrário do que esta possa julgar, não acredito que o seu insucesso se deva às outras candidaturas. Pessoalmente risquei-a da minha lista imediatamente após aquilo das subvenções vitalícias dos políticos. Eu que defendo a Igualdade, como poderia dar o voto a alguém que demonstra confundir privilégios com direitos, especialmente quando pertence a uma classe de si já tão mais privilegiada que o cidadão comum?!

O terceiro e último ponto positivo foi a expressão de candidatos independentes: 7 em 10.
Eu, que não me revejo em nenhum partido o suficiente para me tornar militante, considero que ideologias partidárias, doutrinas e a imposição de perspectivas, códigos e afins que fazem parte da militância, só servem para poluir e toldar. O Presidente da República tem que transcender todas as limitações que possui enquanto membro de um qualquer partido, por uma questão ética e moral.

Por fim, considero que o grande ponto negativo continua a ser a elevada expressão do abstencionismo, quer este aconteça por falta de interesse ou decisão do eleitor, seja por culpa do Estado não garantir, especialmente no estrangeiro, as condições que permitam o voto.
Como disse o Tino: "metam alguém para atender o telefone!"

Como é algo que se repete em todos os actos eleitorais, defendo que o voto deveria ser obrigatório. Qualquer pessoa tem a liberdade de escolher em quem vota, ou até se vota em branco, ou nulo. E é uma liberdade que deve ser mantida a qualquer custo. Mas, creio que se justifica tornar obrigatória a participação eleitoral pela importância que a repercussão do abstencionismo, falta de interesse e alheamento de metade da população têm na realidade do país, para todos os portugueses.
Para mim, quem não cumprisse o seu dever, e já que é tão fácil saber de quem se trata, pagaria multa. Vendo o seu valor agravar por cada acto eleitoral em que não participasse.




sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

cromices #109: Uma pérola de sabedoria a pensar especialmente nos homens.



Politicamente correcto seria eu dizer que esta é uma dica para todos, independentemente do género. Mas, quem queremos nós enganar?!

Meus queridos,

Se em casa, a refeição vos aparece à frente, prontinha a comer, só há duas coisinhas que vos é admitido verbalizar. A primeira sendo "obrigado", e a segunda "está muito bom".

Mesmo quando não está.

Guardem as críticas gastronómicas para os restaurantes e para o masterchef.

Se querem ver determinado item ausente do cardápio, saibam que há um mundo de diferença entre dizer que "não são grande apreciadores de tal receita" e outras quaisquer afirmações mais coloridas.

Os mais soltos de língua poderão perder a fala quando um dia lhes aparecer um fardo de palha à frente.

De nada.

Sobre as subvenções vitalícias dos políticos



Privilégios não são direitos.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Vida de cão #45: Desculpa Kiko, mas vais continuar a ser filho único.


Todos os animais que vieram parar cá a casa foi por insistência minha.

Primeiro o gato Ulisses. Gato de uma ninhada nascida no mato.
Depois os manos Eros e Zeus, vindos da casa de uma família de acolhimento temporário, porque insisti que faria bem ao Ulisses ter companheiros da mesma espécie.
Quando, na visita à FAT descobrimos que ao invés de um gato à nossa espera, haviam dois, foi o marido que se saiu com "quem cuida de dois, cuida de três". E eu feliz da vida!

Nunca os teríamos trocado por nada deste mundo, nem por milhões de euros, garanto-vos. Mas, como tudo na vida, nem sempre foi pêra doce, e houve até momentos que nos questionámos sobre se realmente a vida não seria mais fácil se tivéssemos ficado por um animal.
Os momentos positivos e as alegrias foram sempre em maior número e intensidade que os pontos negativos, mas dizer que não existiram momentos de frustração e cansaço seria mentir.

Mesmo assim, a sua falta foi tão sentida e deixou um vazio tão grande que, passado algum tempo voltei a insistir para termos mais animais. E foi assim que o Kiko veio cá parar.

Quando andava a melgar o marido a ver se lhe dava a volta, deixei a escolha da espécie em aberto. Precisava tanto de um bichinho que já estava por tudo: hamsters, tartarugas, galinhas, porquinhos, alpacas, cabras... Opá, qualquer coisa!
Menos peixes. Aquários é que não! Não tenho pachorra para cuidar de um aquário, é demasiado minucioso para a minha personalidade.
Ah, e pássaros também não. Não suporto ver pássaros sozinhos, em gaiolas, que me parecem sempre demasiado pequenas e claustrofóbicas.

Voltar a ter gatos foi algo posto de parte pelo marido. Fez-lhe impressão ter gatos num apartamento, que só saíam de casa para ir ao veterinário ou à varanda, sem um jardim, (devidamente vedado, como é obvio), onde brincar e explorar toda a dimensão do seu ser.
(Se bem que não acredito que os felinos estejam fora de questão, porque o marido é o primeiro a parar o carro se lhe parece ver um gatinho de rua. E lá vou eu a correr atrás do sacaninha até este me trocar as voltas e deixá-lo de ver.)
Preferiu um cão, e eu achei fenomenal.

Passado um pouco mais de um ano, continuo a achar fenomenal. O Kiko deixa-me maravilhada e só penso como pude chegar aos 35 anos sem nunca ter tido um cão. Às vezes sonho com enormes ninhadas de Kikos, onde os agarro e beijo-lhes as pancinhas e acordo sorridente.

Desde que o Kiko era bébé que falamos sobre arranjar-lhe uma companheira. Uma menina com quem brincar.
Sim, teria que ser uma fêmea. A minha casa é um lugar de paz onde dispenso cenas stressantes à conta da testosterona e desejo de dominância. E porque o Kiko dá-se tremendamente bem com todas as fêmeas. É um cavalheiro que nunca, mas nunca, mostra a menor agressividade mesmo quando elas são respondonas e lhe dão umas dentaditas.

Sem qualquer dúvida, um dia o Kiko terá a sua companheira. Contudo, quando há pouco tempo o marido mostrou ganas de seguir esse impulso, fui eu a puxar o travão.

Clareei a mente, afastando o filtro cor-de-rosa que faz tudo parecer fofinho e delicioso, e imaginei a nossa rotina com mais um cão.

É claro que adoraria ver aumentada a dose de estrogénio cá por casa, ter mais uma pança para beijar, que quem alimenta um, alimenta dois, e o mesmo se aplica às idas ao veterinário, ao grooming, aos banhos, etc. Que a felicidade do Kiko quando brinca com uma amiga é também nossa.

Mas, depois penso nos passeios. Que não me imagino, medricas e ansiosa como sou, com motivos para tal também por causa dos outros donos e animais da zona, a sentir-me à vontade para passear dois cães em simultâneo. Os quatro passeios diários passariam a oito, o que significaria entre cinco a seis horas por dia. Confesso que não estou disposta a abdicar de tanto tempo e sentir que vivo unicamente em função dos passeios dos patudos.

Ainda ontem uma senhora abordou-me para comentar que nunca viu um cão sair tanto à rua como o Kiko. Expliquei-lhe que vivendo nós num apartamento sentimos essa obrigação, e mesmo assim por vezes gostaríamos de ter disponibilidade para mais. Para além das questões óbvias de higiene, é importante que ele faça exercício, que apanhe ar, que gaste energia e se sinta feliz.

Durante um café expus esta mesma perspectiva ao marido. "Como faríamos com os passeios?" - perguntei-lhe.
Ele concluiu que já não seria possível a divisão de tarefas que temos feito até agora. Por exemplo, temos dividido irmãmente a responsabilidade de o levar a rua de manhã cedo. E, podem crer que bem que sabe a qualquer um de nós, ter uma folga e poder ficar mais um bocadinho na cama. Com mais um cão, teríamos que sair sempre os dois de manhã e à noite, e durante o dia eu teria que dobrar os meus passeios.

Imaginar este cenário serviu, também a ele, para lhe esfriar o entusiasmo.

Agora sou eu que considero essencial o tal jardim!
Tivéssemos nós uma casinha com jardim e até me imagino com mais do que dois cães. Porque é bem diferente ir-lhes abrir a porta de manhã e à noitinha para usarem o espaço exterior da casa para fazer as necessidades do que as obrigações existentes para quem vive em apartamento, ter um espaço onde podem brincar e gastar as pilhas o dia todo se lhes apetecer, e sentir a obrigação de os levar a passear somente uma ou duas vezes por dia.







quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A minha maior regra de vida é...



... nunca, mas nunca duvidar do meu instinto.

Aprendi, a meu próprio custo, que duvidar deste ou ignorá-lo só resulta em asneira.


Hoje, na volta da hora de almoço com o Kiko, passou por nós um indivíduo que me deixou qualquer coisa cá dentro a remoer.

Embora não tivesse um aspecto muito cuidado, não foi isso que agitou as minhas borboletinhas. Aliás, quem sou eu para julgar pela aparência se saio à rua para passear o cão nuns preparos em estilo indigente chic, com uns toques de hipster e lumberjane?!

Também não foi da barba crescida e por aparar.

Mas havia qualquer coisa ali...

Quando regressávamos pelo mesmo caminho, o que passa em frente da casa da D. M., uma das minhas octogenárias favoritas de todos os tempos, vi-o sair do pátio da senhora.

Voltei a olhá-lo nos olhos, que é assim que olho para as pessoas, e voltei a dar-lhe os bons dias. Desta vez respondeu, com uma voz meio sumida.
Prosseguiu caminho e eu fiquei à frente do portão da casa a tentar perceber qual a pecinha ali que não se enquadrava bem. Qual o pormenor que tinha mexido com o meu instinto?

Aí, fez-se luz. Tinha sido o capuz. Da primeira vez que nos cruzámos, em que o olhei nos olhos e o cumprimentei, como faço com toda a gente, ele não me respondeu, colocou o capuz e baixou os olhos.

Vim pôr o Kiko em casa e saí directamente até à casa da D. M.

Quando me abriu a porta, contei-lhe o sucedido, disse que só queria ver se estava tudo bem, que preferia correr o risco de julgar alguém erradamente pela aparência do que ignorar o meu instinto.

Ela agradeceu-me a preocupação e o gesto. Realmente tratava-se de um rapaz da localidade, toxicodependente, com um historial um bocadinho complicado, que volta e meia tem por hábito lá passar para pedir para o vício, embora já tenha sido avisado por familiares da D. M. que não o deveria fazer.


cromices #108: Não há remédio como... a lei?!



Há dias, depois de mais um episódio a.k.a. figura triste, desabafei com amigos, (às vezes desabafar é preciso porque faz um bem danado!), que esta coisa das pessoas deixarem os cães andarem à solta, sem supervisão, estava a piorar tanto a minha ansiedade que começava a ter ataques de pânico de cada vez que via algum animal sem trela nas proximidades.

A J. perguntou-me se não deveria fazer algo para me ajudar a ultrapassar este problema.

Respondi que sim, que a primeira coisa que iria fazer seria procurar saber quem são os donos e ter uma palavrinha com eles, e de uma forma pacífica pedir-lhes que cumpram a lei.

A J. insistia em terapia, e eu respondia que, para começar, a melhor das terapias, no meu caso, é o cumprimento da lei. (Sim, eu sei que sou casmurra!).

Há dias que não me cruzo com um cão à solta. Há dias que o meu nível de ansiedade está maravilhosamente baixo, não tive outro ataque de pânico, e os passeios com o Kiko têm sido formidáveis. Até noto que ando com uma postura mais descontraída.



terça-feira, 19 de janeiro de 2016

cromices #107: Os filhos da mãe e as filhas do pai.



Nunca tive tantos trabalhos temporários como quando andei a estudar na faculdade, alguns através das típicas agências.

Nem sempre a coisa corria bem. Aliás, a coisa correu mesmo para o torto, quando através dessa mesma agência dei por mim num biscate para uma empresa de bebidas alcoólicas que precisava de mão de obra para o preenchimento de questionários sobre gestão de stocks junto dos seus clientes.

Bastou-me um dia para mandar esse cliente às urtigas. Não fui a única. É como no baseball - "3 strikes and you're out!"

Strike nº1 - Deixou-me plantada à espera, para além do aceitável. Profissionalmente, sempre fui exemplar na minha assiduidade e pontualidade. Não espero nada menos que o mesmo tratamento, independentemente de ser Fulano ou Sicrana e não faço por esconder o meu desagrado.

Strike nº2 - O primeiro membro da equipa a desistir foi uma rapariga de semblante frágil, completamente amedrontada e desagradada com o facto do seu itinerário incluir um spot em Santos de ar muito duvidoso e rasca. Fulaninho, com quem eu já estava pelos cabelos, por sua vez comenta o seu desagrado pela desistência. Não resisti a comentar que nem todas as mulheres se sentem bem em bares de alterne.

Strike nº3 -  Depois de ter sido confundida com uma fiscal das Finanças, o que até achei imensa piada, calhou-me na rifa o dono de um restaurante finório cheio de falinhas mansas e insinuações.

Quando saí disse para mim mesma "Bardamerda! Tostões a recibos verdes não pagam para aturar disto!". Liguei para a agência e dei por terminada a minha colaboração com aquele cliente.


Nesse dia cheguei a casa piursa. Quando o meu pai me perguntou sobre o que tinha corrido mal durante o dia, contei-lhe.
Acontece que o meu pai conhecia tanto o restaurante como o fulano armado em conquistador. "Tenho que lhe dar uma palavrinha."

É que às vezes os filhos da mãe precisam de ser lembrados que, mesmo as filhas dos outros têm pai.

Quando falo de Amor #8



Amor (também) é quando o marido se oferece para limpar os meus ténis, quando depois de andarmos pela casa à procura da origem daquele pivete, nos demos conta que afinal tinha sido eu que tinha pisado uma bosta.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

100 coisas que diria a uma criança #1



Talvez o abecedário se devesse chamar abracadabra, ou algo assim. Porque há algo de realmente mágico em conhecer as vogais e as consoantes, em aprender a escrever e a ler. Cada letra é como uma runa mágica e saber dar-lhes uso é realmente algo digno de um universo de encantamento e feitiços.

Vou começar por te contar um segredo: a Magia é real e existe na mesma medida em acreditas nela.
Se acreditares com muita força, ela revela-se. Se duvidares da sua existência, ela, tímida, esconder-se-á.

Ao longo da vida, espero que tenhas a oportunidade de descobrir os muitos dons e poderes mágicos que possuis. Podem ainda ser só uma semente, mas se fores cuidadosa e os alimentares, tornar-se-ão grandiosos e fortes, e o seu poder será teu, sempre que quiseres ou precisares.

O que comem as sementes? As da Imaginação, Raciocínio, Pensamento Crítico e Conhecimento, por serem tão especiais não se alimentam nem de chuva, nem de adubo, como as plantas que vivem no solo. Preferem sopa de letras, daquelas que vivem nas páginas dos livros.

Criança, se já sabes emparelhar as letras e saborear os sons que resultam desse jogo, estás pronta para mais um segredo. Vou-te ensinar como tratares bem dos teus poderes.

Vou dar-te uma missão: vai a uma livraria ou biblioteca e escolhe um livro.
Vai confiante. Nunca temas um livro, muito menos por este ter muitas páginas, com muito texto e poucas ou nenhumas ilustrações. Não tenhas medo de não perceber o significado de todas as palavras, ou do tempo que demorará a sua leitura.
De palavra em palavra, de página em página, os teus poderes aumentarão e, em menos de nada conseguirás cheirar, tocar e sentir todos os vocábulos. Saberás quais as palavras que sabem a sal, ou as que cheiram a tarte de maçã.
Como que por artes mágicas verás a história contada por todas aquelas letras transformar-se em filme, dentro da tua cabeça. É a tua Imaginação que germinou!

Há muito por onde escolher, mas aconselho-te a começares por Júlio Verne com as suas "Vinte mil léguas submarinas", Rudyard Kipling com o seu "Livro da Selva" ou Daniel Defoe com "Robison Crusoe", Mark Twain e o seu "Tom Sawyer", ou ainda "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll...

Começa pelos clássicos. Guarda para depois tudo o que tenha nascido neste novo século.

Como todas as demandas dos universos mágicos, esta também terá as suas contrariedades. Poderás encontrar dificuldades ou até não conseguires descobrir o encantamento que reside nos livros logo à primeira. Mas vale a pena continuar a tentar. Lembra-te dos teus poderes e nunca desistas!

Desistir é ceder à preguiça mental. Uma mente preguiçosa é um local escuro, onde o sol nunca brilha, e onde as sementes nunca germinam para se tornarem árvores frondosas, carregadas de frutos e folhagem viçosa.



domingo, 17 de janeiro de 2016

coisas que gosto: Ode aos Domingos de Inverno.



Se há altura em que se torna especialmente convidativo ficar por casa é num Domingo invernoso.
Para muitos, só quando o clima se torna menos simpático é que estar entre quadro paredes ganha uma dimensão de refúgio, se torna acolhedor e desejado, ao invés de ser um castigo.

Eu, que sou caseira e retiro um especial prazer dos dias passados na tranquilidade do lar, sinto que esta é a única altura em os ponteiros do mundo abrandam o suficiente para se alinharem com o meu relógio. É como um eclipse. Algo que não acontece todos os dias.

E são dias com sabor a chocolate quente, macios e quentes como os pijamas, casaquinhos e mantas, que cheiram a chá de menta, incenso, a bolo de maçã com canela.

Que todos os Domingos se movam a este ritmo, Inverno ou não!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Quando falo de amor #7


E num instante passaram 16 anos.




Coisas de comer: Qual é a ementa da vossa vida?



Imaginem que vos pediriam para esboçar uma ementa com aqueles pratos que, por um qualquer motivo, sentem uma ligação emocional, vos trazem memórias. Quais seriam?

A minha ementa seria esta:

 1 - Sopas de tomate com cação, porque era algo que a minha Avó Felizarda fazia sempre que íamos visitar os meus Avós ao Alentejo. Que saudades! Nunca voltei a comer sopas tão boas como as feitas pela minha Avó.

2 - Chouriças de mel de Trás-os-Montes. Esta memória gastronómica remete-me para os meus Avós maternos, especialmente para a minha Avó Teresa. Desde pequenina que me perdia por estas chouriças doces que, embora há quem coma como sobremesa, sempre as comi acompanhadas de batata cozida. Divinal! São tão raras, que a última vez que a minha mãe as conseguiu encontrar, (embora não fossem tão boas como as da minha Avó), até me vieram as lágrimas aos olhos.

3 - Aletria à moda antiga. Para a minha Mãe não existe Natal se não houver Aletria à mesa. Faz parte das suas memórias de infância e tornou-se uma das nossas poucas tradições familiares. Uma que partilho com gosto.

4 - Arroz doce. Adoro arroz doce e ninguém o faz tão bem como o meu Pai.

5 - Sopa de feijão verde. Temo repetir-me, mas realmente a melhor é a da minha Mãe! Nunca fiz birra para comer a sopa, pelo contrário, e esta sempre foi uma das minhas favoritas.

6 - Pargo no Forno com Bacon e Batatas, cozinhado em dueto pelos meus pais. Daquelas receitas que me fazem lembrar os almoços de Domingo ao longo da minha vida, assim como as reuniões familiares em nossa casa.

7 - Peach Melba. Esta sobremesa clássica tornou-se também um clássico familiar nosso. A sobremesa predilecta dos meus pais para apresentar nas muitas ocasiões em que partilhávamos a mesa com convidados.

8 - Cozido à Portuguesa. Para mim, o expoente nacional máximo de "Comfort food". Por ser daquelas receitas tão típicas, toda a gente o sabe fazer, mas toda a gente o faz da sua maneira. Concordo a 100% com a minha Mãe quando diz que o melhor cozido tem que ter várias qualidades de couve, que em especial não pode faltar a couve portuguesa, que deve ter abundância de vegetais, carnes e enchidos de boa qualidade.
Lembro-me de chegar a casa, vinda da faculdade, por volta da 1h da manhã, esganada de fome, e a minha mãe levantar-se para me servir um bom prato de cozido, com beijinhos.

9 - Ovos mexidos com batatinhas aos cubos. Esta memória vem mesmo lá de trás, da minha infância. Quando era pequena a minha mãe servia-me este prato que consistia em batatas fritas aos cubinhos, que depois colocava na frigideira e despejava os ovos por cima. E não havia nada que eu gostasse mais!
Aliás, até levava a minha mãe a revirar os olhos de exaustão porque estava sempre a pedir-lhe ovos com batatinhas. Aliás, acho que vou voltar a pedir-lhe para me fazer uns ovinhos!

10 - Sopas de pão e leite. Antes de ter idade de ir para a escola primária, quem cuidava de mim enquanto os meus pais trabalhavam era a minha ama Gertrudes. A Gertrudes foi para mim muito mais que uma ama, e considero-a a minha terceira Avó. Como tinha que acordar muito cedo, e andava ensonada, dar-me o pequeno-almoço não era fácil. (O truque do meu pai, por exemplo, era dizer que havia uma surpresa no prato que só conseguiria ver se comesse o Nestum todo.)
Até que um dia me deu a provar sopas de pão e leite. E caramba, como eram boas!


Existem muitas mais memórias gastronómicas, mais comidas do coração. E é uma ementa que não é só composta por iguarias de um passado mais ou menos distante, mas que também inclui as memórias que vamos criando hoje, também na nossa casa, com o meu marido.
Mas isso fica para a próxima, que já vamos em duas mãos cheias.




quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

coisas da casa: Nota mental para quando remodelar a cozinha...



A nossa cozinha é branca. Toda ela, dos revestimentos, aos pavimentos, aos armários. E foi, desde o início, um dos pontos positivos desta casa.

Porque o branco é luminoso, cria uma sensação de amplitude especialmente necessária em espaços que não sejam generosos em dimensão. O branco é neutro e intemporal, logo não é uma tendência passageira, não passa de moda, não cansa, o que é importante quando falamos de algo que se trocará para aí uma ou duas vezes na vida.

Como é como uma tela em branco são os detalhes que lhe dão personalidade, dependendo da nossa escolha de acessórios. Por exemplo, com apontamentos em ferro forjado, faiança e padrões botânicos e florais ficamos com uma cozinha rústica, um ambiente mais campestre. Se optarmos pelo inox criamos um ambiente mais moderno.
A vantagem é que, tratando-se simplesmente de acessórios, podemos variar com a frequência que desejarmos. Isso faz com que continue a gostar de cozinhas brancas.

Uma das modificações que fizemos e que mais me agradam, foi trocar o vidro da chaminé que era fosco, incolor e sensaborão, por um azul forte. Os restantes apontamentos são em verde maçã e madeira de bambu, uma mistura que me transmite vitalidade e jovialidade, uma espécie de cocktail vitamínico que se toma pelos olhos.

Um dia que a cozinha seja remodelada manteria o branco, mas gostaria de fazer algumas modificações.
Porque também é possível brincar com os brancos, escolheria azulejos de várias dimensões e texturas para dar ao espaço uma pitada de "design", carácter e sofisticação.

Mas, a nota mental, aquilo que realmente me quero lembrar quando chegar a altura é de optar pelo máximo de pormenores que sejam práticos, que facilitem o dia-a-dia e a manutenção do espaço. Particularmente importante num espaço branco, onde uma simples migalhinha ou gota de qualquer coisa salta à vista.

A começar pelos armários.
Tudo bem que não fui eu que escolhi este modelo, já cá estavam. Mas, só vos digo, portas de armários trabalhadas, com rococós e mariquices nunca mais! O tempo que passo à volta dos pormenores de uma só porta daria para limpar toda uma fila de armários lisos!

A escolha do acabamento dos mesmos também é importante, porque um dos grandes defeitos dos armários brancos é que tendem a amarelar com a passagem do tempo, e é efeito que não passa por mais que se limpe. Penso que, se entretanto não saírem novos materiais, a melhor escolha neste momento são os lacados de alto brilho.

Ainda a pensar de forma pragmática, os próximos armários de parede terão que ir até ao tecto. Aquele espaço intermédio para além de ser um desperdício de espaço, só serve para acumular sujidade e a sua limpeza lembra-me um número arriscado de circo, comigo a empoleirar-me em cima do escadote, ou em cima da bancada, a esticar-me até à pontinha dos dedos para chegar ao fundo.
Não, muito obrigada! Dispenso! Especialmente depois de um dia em que escorreguei do escadote e aterrei de costas no chão.
Outra grande mudança que faria seria colocar um tecto falso, com focos de luz embutidos. Talvez em madeira de bambu porque gosto mesmo da sua tonalidade, acho que combina muito bem com o branco e transmite-me aquele conforto que só a madeira consegue, sem ser demasiado escura, antiquada, opressiva.
A grande vantagem dos tectos falsos é que permitem personalizar a iluminação, colocando tantos focos de luz quanto desejarmos e nos pontos que acharmos bem. A sua manutenção é bem simples.
Lavo o tecto falso do corredor com detergente próprio para madeiras e passo um ou outro produto e este fica brilhante como um espelho.

Por fim, os lava-louças mais práticos, na minha opinião, serão sempre os de cuba dupla com escorredor.






vida de cão #44: Um cão ensonado...



... quando levanta a pata para fazer o chichizinho cai de lado.


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Ideias de negócio #1


Em menina as histórias, fábulas e fantasias começavam por "era uma vez...". Como mulher, as fantasias são outras e muitas iniciam-se com "Se eu tivesse dinheiro para...".

Pego nos conceitos "produção local", "comunidade" e "ecologia". Coloco-os na misturadora e, este é um dos resultados possíveis:

Imagino uma quinta. Onde se cultiva um pouco de tudo, de acordo com as leis da Natureza e das estações do ano, onde se pratica Agricultura Biológica sem recursos a pesticidas e com respeito pelo meio ambiente e pela saúde, tanto de quem trabalha a terra como de quem irá consumir os produtos. Onde o resultado são produtos viçosos, fresquinhos e saudáveis.

As portas da Quinta estariam sempre abertas: com frequência seriam ministrados workshops para ensinar a arte de cultivar a todos os que quisessem aprender.
Parte da Quinta seria dividida em pequenos lotes, que seriam utilizados por várias pessoas e famílias para cultivarem o seus alimentos em troca de um pagamento em dinheiro ou trabalho, ou ambos. Como uma horta comunitária. É de espantar a quantidade e diversidade de alimentos que se podem obter em escassos 10 metros quadrados!
Também as portas da Quinta estariam abertas aos consumidores. Imaginem-se a passear com a família num espaço verde, e a regressar a casa com uma cesta carregada de vegetais e frutos acabados de colher!

À entrada da Quinta, existiria o Restaurante da Quinta, onde a ementa iria variando conforme as estações do ano, as colheitas, utilizando somente produtos da época, da própria quinta e de outros produtores locais. Imaginem: produtos sempre frescos, de origem conhecida, amigos do ambiente e da saúde!

Também neste espaço seriam ministrados diversos workshops com as mais variadas temáticas, desde cozinha vegetariana, a como fazer pão, uso de ervas medicinais, doçaria conventual, entre tantos outros.

Falar de Saúde #3: 1098 ou apresento-vos o Toxocara Canis.



Um cão é o motor de uma espécie de revolução social na vida de uma pessoa. Desde que tenho o Kiko o mais comum é que as pessoas nos venham abordar durante as saídas, seja para lhe dar festas, seja para conversar.

De vez em quando o tema gira em redor de um dos meus ódios de estimação, os cócós na rua. Por incrível que pareça, nem sempre sou eu a abordar o tema.

Seja qual for a opinião de quem me aborda, quase automaticamente saco do rolinho de sacos para cócós que trago no bolso, e quase como quem vende o produto e a ideia saio-me com um "Vê? Não custa nada! Até são baratinhos, e se todos fizermos a nossa parte as nossas ruas andam sempre limpinhas. Não é uma questão de trabalho, é de atitude!"
Que já ninguém corre o risco de sujar os sapatos, diminui-se o risco de transmissão de doenças como a parvovírose, deixam de haver enxames de moscas que se alimentam das fezes e propagam doenças, e que existem tantos microorganismos patogénicos nos dejectos caninos, imunes aos tratamentos que damos às águas, que inquinam a mesma.

Já me apresentaram várias vezes o argumento, (ainda há dias, um senhor se saiu com esta!), que o cócó serve para estrumar os espaços verdes, que não faz mal nenhum, que eles, (leia-se os jardineiros e canteiros ao serviço da câmara municipal), depois passam aí e limpam. Eu, tentando ser o menos antagonista possível, digo que gosto do meu sistema, que não tenho feitio para fazer dos outros meus criados, e encolho os ombros enquanto me recolho nos pensamentos deambulando pelos corredores da mente à procura de uma forma de tentar esclarecer as pessoas sobre algo que a maioria desconhece.

É que o cócó dos cães não funciona como fertilizante ao contrário que muita gente pensa. Nas fezes dos bichinhos, (especialmente daqueles que não se encontram desparasitados internamente como deve ser e que são mais do que possam pensar, pois há aí tanto dono que nem um regime de vacinas consegue cumprir de forma responsável), vive o Toxocara Canis.
Estes parasitas podem sobreviver até 10 anos no solo e são imunes a desinfectantes e ao frio. Cada fêmea pode depositar cerca de 700 ovos por dia, e só são visíveis ao microscópio. Quando ingeridos por um ser humano podem levar a infecções do sistema nervoso, pulmões, fígado e olhos. Se não for devidamente disgnosticado e tratado pode levar à cegueira.

As toxinas presentes nos dejectos caninos envenenam o solo e a água, e são prejudiciais ao meio ambiente e a outros animais. Se estes forem deixados em pastagens, facilitando o contacto entre rebanhos e os parasitas presentes nas fezes, os animais não ficarão visivelmente doentes mas tornar-se-ão portadores de doença que passará para os humanos através do consumo da sua carne e se denotará através da formação de quistos no fígado e nos pulmões, que terão que ser removidos cirurgicamente.

O Toxacara Canis está longe de ser o único parasita presente nos dejectos. Pelo menos, mais de uma dezena de bactérias e parasitas proliferam neste ambiente. Estima-se que numa grama de cócó canino estejam presentes 23 milhões de bactérias coliformes fecais. Todas elas inimigas da saúde humana e dos animais!

Também se estima que a matéria fecal produzida por 100 cães em 2-3 dias é mais que suficiente para produzir bactérias suficientes para levar ao encerramento de uma praia, baía, ou qualquer corpo de água num espaço de 30 km, tornando-a temporariamente perigosa demais para haver contacto com esta ou consumir bivalves dela provenientes. O efeito dos dejectos caninos na água é o mesmo que o dos esgotos não tratados.
As bactérias presentes levam à proliferação de determinadas algas que consomem o oxigénio presente e dessa forma matam muita da vida marinha.

Em 1991, a EPA, (a Agência de Protecção Ambiental Norte Americana), declarou que os dejectos caninos são um poluente ambiental ao mesmo nível que os herbicidas, insecticidas, petróleo, crude e diversos resíduos tóxicos.

Estudos conduzidos pela mesma entidade concluíram que a água potável, aquela que sai dos canos e bebemos, possui mais matéria fecal que a desejada.


Percebem agora a minha obsessão com esta questão?!

Tudo evitável se as pessoas deixarem de ser preguiçosas e usarem os saquinhos para apanhar os cócós dos seus animais.

Porque pensem assim: o meu Kiko faz, em média, 3 cócós por dia. Ao fim de uma semana são 21. Ao fim de um mês são 90 ou 93. Ao fim de este ano bissexto serão 1098. Já viram se eu não os apanhasse?!
100 donos irresponsáveis contribuem anualmente com mais de 100000 bostas por apanhar, onde em cada grama vivem mais bactérias altamente prejudiciais à nossa saúde e ao meio ambiente que mais cidadãos em Portugal.

Pensem nisso!


Podem ler mais aqui e aqui.




segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Desejo de ano novo #3: Direccionar a minha raiva a quem a merece.



Ontem à noite chateei-me com o Kiko. Hoje de manhãzinha cedo voltei a chatear-me com o Kiko.

E se há coisa que eu não gosto mesmo nada é de me chatear com ele. É um bom cão, adoro-o e odeio que hajam momentos em que demonstre algo menos nobre que esse amor que lhe tenho.

Mas é inevitável passar-me dos carretos. Assim como é inevitável ficar triste e de consciência pesada por tê-lo feito. Porque embora me expresse emocionalmente com a mesma subtileza que o Hulk, até sou bastante racional e sei que feitas as contas, se não fossem as pessoas não teria que me chatear com o meu cão nem um décimo das vezes.

Ele não tem a culpa que as pessoas sejam porcas. Que as ruas estejam minadas de dejectos caninos, lixo de toda a espécie e restos de comida. Que são tudo coisas que o atraem pelo olfacto e que ele quer explorar. A ele, não lhe passa pela cabeça, que não deve meter tal objecto na boca porque é cortante, que deve resistir a ir aos restos de comida que alguém deixa supostamente para os animais abandonados, mas que não se quer dar ao trabalho de os deitar no lixo após algum tempo e lá ficam meses.
Não entendo esta gente que se acha muito solidária e generosa por deixar restos na rua para os animais, mas que, por deixar a coisa a meio e nunca mais se ralarem com os saquinhos que deixam esquecidos pelas ruas, podem muito bem ser os grandes causadores do envenenamento de um qualquer animal. Porque senhores, caso não saibam, a comida estraga-se e torna-se imprópria para consumo! Imaginem que bem deve fazer a um qualquer ser vivo, um esparguete à bolonhesa há meses na rua!
Sim, há que matar a sede e a fome dos animais errantes. É um dever moral, e um acto de generosidade e amor com o próximo, mas há formas correctas de o fazer.

Não fossem as pessoas com os seus hábitos, o seu lixo, os seus animais à solta, os nossos passeios seriam um deleite. Bastaria um puxão ocasional pela trela para lembrar o Kiko que não deve ir para a estrada ao invés dos mil e quinhentos a que sou obrigada para que não abocanhe uma qualquer porcaria. Que inevitavelmente ele acabará por ser bem sucedido, e acabarei, como esta manhã, com os dedos na sua boca, a berrar-lhe que largue, com um nó na garganta e lágrimas nos olhos porque o que é demais também cansa, e há dias que estamos assim e pronto.

Acho que após um ano disto, 2016 será o ano em que perderei totalmente as estribeiras e a vergonha e começarei a interpelar as pessoas quando apanhar alguém em flagrante numa destas situações.




sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

coisas de comer: Os meus almoços vegetarianos



Actualmente, não somos nem vegetarianos, nem veganos. As proteínas de origem animal ainda fazem parte da nossa dieta. Talvez um dia abdiquemos das mesmas, mas hoje falta-me tempo e vontade para dedicar o meu discurso a esta temática, com a consideração, empenho e atenção que merece.

Hoje venho simplesmente falar-vos dos meus almoços.

Embora goste de cozinhar, quando tenho que o fazer só para mim opto por uma abordagem muito mais prática, rápida e simples.

Como não sou das pessoas mais pachorrentas deste mundo, poupo a minha paciência para a execução do jantar. Junte-se o facto de eu gostar da iniciativa "Segundas Feiras sem Carne". De acreditar que, mesmo que não sejamos nem vegetarianos nem veganos, a redução do consumo de proteína animal é uma acção que nos traz benefícios tanto em termos de saúde como em relação à protecção do meio ambiente. Que não custa absolutamente nada. Que se olharmos para a história da alimentação humana, o consumo desenfreado de proteína animal é algo extremamente recente.

Pois bem, junte-se tudo isso e o resultado foram os meus "almoços vegetarianos".

As receitas, tantas vezes improvisadas, dependem do apetite, do que me dá na telha no momento. O meu almoço pode ser uma sopa e uma peça de fruta, que não leva tempo nenhum a preparar, pois regra geral, há sempre sopa feita no frigorífico.

Por vezes apetecem-me tostas. E só vos digo que bem que sabe uma bola de pão de centeio ou de milho, ou outro qualquer que apeteça, barrado com manteiga e mostarda, polvilhado com orégãos, recheado com queijo, (ou até dois tipo de queijo), umas rodelas de tomate, e uma mão cheia de agriões, rúcula, ou uma mistura de salada daquelas que se compram já lavadas e ensacadas.

Outras vezes, apetecem-me saladas. Mais uma vez as combinações possíveis são infindáveis. E quem continua a julgar que as saladas não satisfazem e são desprovidas de sabor e suculência é porque vive num mundo à parte! Basicamente basta abrir um daqueles sacos de salada já preparada, (dá para notar que sou fã, não?!), adicionar, por exemplo, pêra rocha, queijo aos cubos, nozes, uns croutons.

Ou umas massas! Com legumes salteados na frigideira, por exemplo. Como uns tomates cherry e uma courgette. Ou beringela. Ou qualquer outro. É questão de andar a brincar com os tachos, inventar, experimentar. Como ontem, que me deu para saltear grão de bico com espinafres, com um pouco de sal, alho e azeite e ficou simples, mas tão saboroso.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

vida de cão #43: Maldita testosterona!


Confesso que antes de começar este texto tive que ir googlar sobre testosterona. A minha dúvida era sobre os seus benefícios seriam ou não maiores do que as chatices provocadas por esta hormona.

A testosterona é uma hormona que se encontra em todos os animais, sendo produzida em muito maior escala pelos machos, sendo a principal hormona sexual destes e essencial para o desenvolvimento dos órgãos reprodutores masculinos e o desenvolvimento de características diferenciais dos machos da espécie como maior musculatura, maior pilosidade e massa óssea.

Quando falo de chatices em relação a esta hormona refiro-me aos seus efeitos comportamentais. Esta tem um grande efeito no comportamento social das espécies, (humanos incluídos), e manifesta-se através de impulsividade, agressão, competitividade, dominância, raiva.

Sinceramente não me sinto grande defensora da testosterona. Dou por mim a imaginar que, se esta hormona não existisse estaria encontrada a solução para a paz mundial.

Em relação aos cães, estes comportar-se-iam como "puppies" a vida toda e muitos dos problemas que me apoquentam estariam resolvidos. O início da puberdade é também, no caso dos "filhos caninos", o fim da paz e do sossego para os "pais".
É que, independentemente da raça e do porte, são todos tão queridos, fofinhos e meiguinhos quando são pequeninos, e depois começa a idade da parvalheira e com esta tornam-se inevitáveis os episódios em que a relação com os outros deixa de ser pautada só pelo desejo de brincar, mas também pela necessidade de ser armarem em alfas da matilha, de marcar território, de provar quem é que tem o pipi maior, quem é que é muito macho. Lá está, tal e qual os humanos.
Uma maçada só vos digo, uma maçada!

Contou-me o marido, ontem à noite, quando chegou do último passeio com o Kiko, que foram surpreendidos pela chegada de outro cão quando estavam no relvado. Conheço-o bem, é um podengo médio cerdoso que também se chama Kiko, que por ser daqueles cães que andam à solta por aí já me obrigou a uma das minhas figuras tristes.
Naquele momento estava com o dono.
Cheiraram-se e deram início a um ritual em que corriam pelo relvado e pela rua, parando para marcar território. Um fazia chichi num ponto, o outro fazia por cima, o primeiro voltava atrás para remarcar território e andaram nisto uma vida.
O dono do outro Kiko soltou algo como "O seu é cão? Engraçado! Parecem estar-se a dar bem e o meu não se costuma dar bem com cães!" - (E deixa o animal andar à solta sem supervisão! Até me benzo, senhores! Começo a perceber porque há por aqui quem vá passear o cão de cajado de mão!). O meu marido explicou-lhe que aquilo não era, de forma alguma, "darem-se bem", que estavam a tentar estabelecer uma hierarquia entre eles, a perceber qual dos dois era o dominante.

Como o ritual do chichi não os satisfez, houve um momento em que desataram a rosnar e a mostrar as dentolas. Teria havido bulha na certa não decidisse o marido achar por bem dar por concluída a experiência social, meter-se no meio e agarrar no Kiko.
Pelos vistos o nosso gostou tanto da experiência que depois andava a abanar o rabo, feliz da vida, e fez um nº 2 digno de uma menção honrosa no Guiness. Adolescentes!

Embora o nosso tenha metade do tamanho do outro, é bastante destemido com alguns cães, (ainda não percebi como é que ele os escolhe). Parece que houve um momento em que se levantou nas patas traseiras e inchou o peito para conseguir olhar o outro Kiko ao mesmo nível, olhos nos olhos.

Começamos a acreditar que o Kiko sabe, na maioria das vezes, distinguir os cães que estão "em níveis semelhantes" mesmo que sejam maiores, e aqueles que são "areia demais para a sua camioneta".
Com estes últimos ele, em menos de nada, submete-se. Às vezes ladra a seguir, mas não é um ladrar agressivo, parece soar a algo como "Pronto, és tu que mandas! És o maior! Agora podemos ir brincar?". Só se o outro cão não alinhar na brincadeira é que o tom do Kiko muda. Presumo que seja para lhe chamar uma carrada de nomes.
Mas, há outras situações em que o Kiko, para além de se submeter, encolhe-se, retrai-se e recua com medo. Deve pressentir que existe ali uma verdadeira situação de perigo.
Infelizmente, a última situação destas aconteceu com aquele que foi o seu primeiro grande amigo, antigo colega de escola, que foi o primeiro cão com que o Kiko socializou e que tinha uma paciência de santo para o nosso miúdo.
Entre ambos existia uma amizade, um brilho nos olhos quando se viam, uma alegria desmedida que dava gosto ver!

Depois veio a mudança da idade e a maldita testosterona.
Fiquei tão triste quando o marido me contou que, na última vez que se encontraram, o Kiko correu para o amigo com a alegria do costume. Este não brincou, simplesmente tolerou-o, e passado uns instantes começou a soprar pelo nariz de uma forma muito audível. O Kiko esparramou-se no chão, em posição de submissão e recuou.

No outro dia cruzámo-nos com esses nossos amigos, e há medida que boxer e dono avançavam, não consegui esconder o medo e recuava com o Kiko. Trocámos um breve dedo de conversa e seguimos o nosso caminho, especialmente depois de ambos repararmos que o Kiko estava a tremer de medo só de estar na presença do outro cão. E como tremia o meu menino!

Tão triste! Maldita testosterona!







quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

caixa de ressonância






Desejo de ano novo #2



Ver, com estes olhinhos, as mais diversas e nobres causas solidárias receberem METADE da atenção, energia e dinheiro que a nossa sociedade dedica ao futebol.

Só metade dos 400 milhões de euros que a NOS gastou na compra dos direitos televisivos do Benfica, somada à metade dos 500 milhões que se pensa que a mesma entidade pagará ao Sporting, daria para realizar verdadeiros milagres.

coisas sobre mim #3: Algumas das minhas excentricidades.



Com o passar dos anos fui adquirindo algumas excentricidades. Chamemos-lhe assim.

Por exemplo, há anos que deixei de conduzir, porque é algo que me deixa os nervos em frangalhos. Honestamente, em nome da segurança rodoviária, há por aí um mar de gente que deveria seguir o meu exemplo.
Na realidade, até não era das piores condutoras que andam por aí. Talvez inexperiente, sim, mas cumpridora e com bom senso. Que até passei nos exames à primeira, e nem sequer foi numa daquelas "escolas de condução" onde há quem pague para tirar a carta num fim de semana.
Mas, houve um momento em que me apercebi que já não tinha estaleca para entrar no modo de condução defensiva que acredito ser necessário para nos proteger dos maus exemplos de muitos condutores com quem partilhamos as estradas, e as más condições de algumas das mesmas.

O que perdi em autonomia e mobilidade, ganhei em paz de espírito. Só por isso valeu a pena.
Se penso voltar a conduzir? Em princípio não. Mas se mudar de ideias, garanto-vos que invisto num curso de condução defensiva e evasiva antes de regressar às nossas estradas.

Outra excentricidade que devo assumir, é que, no contexto de uma qualquer reunião social passei a preferir almoços a jantares. Tornou-se uma preferência tão vincada que já nem lembro da última vez que aceitei o convite para um jantar que não fosse com familiares. Muito provavelmente nem volto a alinhar em nenhum, a não ser que aconteça num dos muitos spots existentes num raio suficientemente próximo da minha casa para me deixar confortável.

Que diferença faz ser almoço ou jantar? Para mim, senhores, desculpem o trocadilho, mas é do dia para a noite!

É que, tendo em conta que o local escolhido para a grande maioria destes jantares de grupo fica invariavelmente em Lisboa, ir exige rebelar-me contra a minha natureza. Seja porque tenho que obrigar o marido a ir, o que para ele é geralmente uma seca, e não tenho feitio para isso, ou para aceitar que ele me vá buscar, coisa que mesmo quando ele oferece eu recuso porque não tenho feitio para isso.
Também não tenho feitio para aceitar que alguém me dê boleia para casa, porque é chato, pesa e é um incómodo, especialmente quando falamos de algumas dezenas de quilómetros. Nada que já não tivéssemos feito por outras pessoas, mas não me deixa à vontade. Coisa que está absolutamente fora de questão depois um jantar bem regado, assim como enfiar-me num transporte público a essas horas ou pagar a astronómica tarifa de táxi. Tenho melhores coisas para fazer ao dinheiro.

Um almoço permite-me autonomia e tranquilidade. Se for daqueles eventos que o marido dispensa ou não possa atender, chegar a Lisboa não me implica mais que uma viagem de comboio que em pouco ultrapassa a meia hora.

Pronto, está confessado o motivo porque nunca alinho em jantares. Organizem antes um almoço e terei todo o gosto em rever colegas, amigos e amigas, familiares distantes...
Podem contar comigo para meter a conversa em dia, distribuir sorrisos e abraços, mas só em almoços!



terça-feira, 5 de janeiro de 2016

coisas de opinar: Sobre o ciúme



Há tanto que me passaria ao lado não fossem as redes sociais e a blogosfera!

Pelos vistos, o tópico quente do minuto é a cena de ciúmes protagonizada por Ivete Sangalo, que parou de cantar durante um concerto para chamar a atenção do marido que se demorava numa conversa com uma mulher.

Em instantes o tema virou viral, assim como o vídeo da cena. As pessoas dividem-se, como é costume, desta vez entre quem admite ser ciumento e quem não se revê e até fica embaraçado com estas demonstrações.

Pertenço ao clube de pessoas para quem as relações são mais aprazíveis, saudáveis e felizes se não existirem ciúmes.
Para mim o ciúme é sinónimo de insegurança, sentimento exacerbado de posse, narcisismo mas nunca de amor. "É um temperozinho para apimentar a relação", dizem alguns. Eu, que não gosto de nada temperado com vinagrete de nitroglicerina e xanax, lembro que há mil e uma maneiras de chegar ao mesmo destino sem passar pelo ciúme.

Nunca relação amorosa saudável existe confiança e estabilidade. Na ausência destes atributos, a solução nunca estará no ciúme como forma de controlo e vigilância do outro, nem noutra qualquer forma de controlar entenda-se. Isso seria como tentar curar uma gripe com uma pneumonia.

Somos humanos, imperfeitos e frágeis, e todos nós sentimos inseguranças. Mas, a magia das boas relações é que, após passar algum tempo, o suficiente para ambos se conhecerem, transformam-se num porto seguro, num refúgio onde podemos em segurança despir todos os medos e incertezas. Tanto aquelas em relação a nós como ao outro.
Se não houver essa magia, se calhar também não há futuro para a relação.

Sempre olhei para os ciúmes como um deal breaker, um quebra-relações. E com isto refiro-me tanto às pessoas que fazem cenas de ciúme como às que apreciam ser o foco dessa atenção.
Para mim, só há uma única resposta digna de dar a um parceiro ciumento: "Põe-te nas putas! A tua mãezinha que te ature!"

É que fico sempre cismada com as pessoas ciumentas. O que no inicio da relação pode parecer aquela "pimentinha" pode progredir até para violência doméstica e acabar, no pior dos casos, como crime passional.
E mesmo que não chegue a tanto, quem é que, estando no seu juízo perfeito, se imagina feliz numa relação em que, sem dar motivo, tem que gramar com interrogatórios sobre as pessoas com que se conversa, com que se trabalha, sobre a roupa que se veste, os hábitos, tudo e mais alguma coisa! De haver dramas e apontares de dedo por se chegar um pouco mais tarde... É caso para bater na madeira, chiça penico! Vade retro!

Por tudo isso, defendo que ciúme nunca será amor, mas doença. Que mói e por vezes também mata.






coisas sobre mim #2: Sementes de cordialidade



Não sei se me defina como introvertida ou extrovertida. Acho que metade de mim pende para cada lado. Se, por um lado, preciso de uma dose diária de isolamento como de pão para a boca, por outro, a interação com o próximo é-me tão natural quanto respirar.

Levo muito a sério a filosofia de ser cordial com todos os que se cruzam no meu caminho, estranhos ou não. Estranhos que deixam de ser estranhos. E há algo de recompensador em ver um estranho deixar de nos ser assim tão desconhecido, quase como ver uma semente germinar. Também há algo de cómico, quase próprio de um sketch televisivo, como ir de Sintra a casa a pé e fazer esses quilómetros a sorrir e a acenar , qual rainha de Inglaterra, para responder aos cumprimentos dos conhecidos, que passam por mim, carro sim, carro não.

Sentido de humor à parte, são coisas que gosto, que me fazem sorrir. Talvez nem todos entendam o meu ponto de vista, mas tenho a certeza que a cordialidade compensa, de uma forma tangível até, quando determinada pessoa, outrora carrancuda, abre um sorriso e apressa-se a ser o primeiro de nós os dois a desejar bons dias e um bom ano.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

cromices #106: E o prémio para produto inovador vai para...



Chama-se, (preparem-se!): Le trompe l' oeil à faire caca. O anúncio é mais que explícito e completo na apresentação deste "sistema de camuflagem" para aquelas ocasiões em que ficamos tão aflitinhos que não dá para esperar até chegar ao próximo wc disponível.

Aos que ficaram mesmo tristes por já ter passado o Natal, lembrem-se que a troca de presentes ainda é válida até ao dia de reis!




cromices #105: Como desmontar uma noção "politicamente correcta" em 3 segundos...



Ou, como me vieram as lágrimas aos olhos no instante em que vi um rottweiler a correr para o areal, solto.


cromices #104: Desejo de ano novo #1



Pouco passa das 7h da manhã quando o Kiko dá sinal que quer ir à rua.

Viro-me para o lado da janela e abro os olhos. O cenário está tudo menos convidativo. O vento uiva e o dia ainda não nasceu.
Levanto ligeiramente o pescoço, o suficiente para ver para lá da grande muralha de almofadas e espreitar as horas. "Oh Kiko, aguenta só mais uns minutos. Só mais cinco minutinhos, prometo!"
Ele volta a subir para cima da cama e ataca-nos, à vez, com lambidelas numa avidez de ver qualquer um de nós levantar-se. Como bons pais que somos vamos jogando ao jogo do empurra: "Oh Kiko, vai chatear a tua mãe"; "Oh Kiko, vai ter com o pai".

Mais uns guinchinhos lamurientos do menino, e sai um "Ahhhh, porque é que não sabes ir à sanita?! Isso é que era!"


domingo, 3 de janeiro de 2016

Antropoformização involuntária #6



O Kiko tem a sorte de pertencer a um grupo de animais verdadeiramente abençoado. Aqueles que desconhecem a violência, os maus tratos, o abandono, o frio, a fome. Que dormem na cama dos donos ou numa caminha confortável, ao invés da rua, acorrentados a uma casota, ou numa varanda. Que têm companhia, passeiam muito, e todos os dias são acarinhados.

São inúmeras as histórias de animais menos afortunados que enchem as redes sociais. Infelizmente são uma gota de água na realidade tão triste que assola tantos bichinhos.
De cada vez que dou de caras com uma destas histórias o meu coração fica apertado. Desde que o Kiko faz parte da família, ganhei o reflexo de o procurar com o olhar. É um sentimento agridoce: se por um lado conforta-me um pouco sabê-lo bem, ignorante de toda a malícia, dor e desalento que atinge tantos da sua espécie, por outro dói não poder fazer estender esse bem a todos os outros.

Por vezes e, ainda há pouco assim foi, sai-nos um "Não sabes a sorte que tens!". E lembrámo-nos que ambos ouvimos essa mesma frase tanta e tantas vezes da boca dos nossos pais.

sabedoria dos intas em 10 segundos #39


Depois de chegar a casa marido comentou, com uma expressão de desagrado, sobre ter visto um dos nossos vizinhos mais novos a ser respondão e malcriado com a avó, quando esta, pela janela, lançou o aviso que não se joga à bola no meio do estacionamento.

É claro que não tardou a haver resposta na figura do avô, que deu por encerrada a brincadeira e o levou para casa sob o aviso que tinham que conversar.

Eu, que sou daquelas pessoas horríveis que muitas vezes não se conseguem conter e metem o bedelho onde não são chamadas, tive, de certa forma, pena de não ter sido eu a assistir à cena, ao invés do meu marido.

Não sei se o miúdo já tem idade suficiente para compreender, mas gostaria de o ter chamado à minha beira. Dizer-lhe que um dia, daqui a muitos anos, quando ele tiver a minha idade, provavelmente já não terá avós. Que os adultos podem parecer uns grandes chatos, mas um dia irá sentir muita saudade, e vai desejar nunca ter sido torto nem respondão, e ter-lhes dado mais mimos e abraços.

Que qualquer um de nós será mais feliz ao aprender a ser tolerante e amável, especialmente com aqueles que nos querem bem, por mais chatos que possam ser.

sábado, 2 de janeiro de 2016

cromices #103: O porquinho mealheiro



O Kiko com a sua pele cor-de-rosa, as pernas curtas, o peito pronunciado e aquela barriga de lontra, faz mesmo lembrar um leitão.

Uma das suas guloseimas são umas moedinhas de frango.

Não conseguimos deixar de achar piada e gozar com o "nosso porquinho", então de cada vez que lhe vamos dar um desses treats, dizemos que vamos pôr uma moeda no porquinho mealheiro.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

cromices #102: Logo a mim, que nunca me engano e raramente tenho dúvidas.



Talvez eu tenha finalmente cruzado o ponto de não retorno nisto da senilidade e esteja oficialmente xexé.

Ia jurar que no primeiro dia do ano era costume o comércio encerrar. Que as bombas de gasolina e algumas salas de cinema eram a excepção.

Andou o marido a insistir comigo para irmos dar uma volta praticamente desde manhã cedo. Eu, resoluta em ficar por casa, especialmente depois de ter ido levar o Kiko à rua com frio, chuva e uma ventania que fazia voar lixo e folhas à nossa volta e, parecia querer arrancar toldos e tudo o que estivesse à mão de semear, inclusive o meu gorro, tentava desmontar essa vontade. "Mas não sabes que hoje está tudo fechado?! Queres ir onde fazer o quê?! Ainda por cima com este tempo!".
Não sentia vontade de sair para o frio só para constatar que estava tudo fechado.

A meio da tarde havia sido vencida pelo cansaço e lá fomos com o Kiko até à praia. Pelo caminho foi um fartote de riso e gozação pois em todas as ruas haviam restaurantes, cafés, esplanadas em funcionamento.

E o trânsito para a praia?! O estacionamento cheio. A quantidade de pessoas que partilharam a mesma ideia!
Mas foi bom e valeu a pena, mesmo com frio e vento.

A ver se para o ano me lembro que, afinal, agora os costumes são outros. Que há o que fazer e onde ir. Só espero é que para o ano não me troquem as voltas.